Texto do Filme - "Encontro com a verdade"


Sendo todo o homem igual, oriundo da mesma espécie, tendo necessidades semelhantes, olha-se à volta e o que vemos? Um profundo abismo de diferenças, traduzidas em gigantescos desnivelamentos sociais, culturais, econômicos, de justiça e até de direitos. Formam-se então dois grupos de seres, que embora iguais na essência, tornam-se distintos na forma de viver e ser, e até antagônicos nas suas diferenças. Geram-se conflitos e posicionamentos políticos, já emergentes, que conduzem a uma rivalidade impregnada de ódio, de sentimentos irracionais, que o tornam infeliz e até destrutivo. Este panorama contemporâneo é tão antigo quanto a história da humanidade. E o que se vê de ambos os lados? Os primeiros, detentores do poder, das necessidades plenamente satisfeitas, da riqueza acumulada e ambições sem limite, procuram ainda mais, mas para tanto necessitam cada vez mais de controlarem e até reprimirem um enorme universo, onde predominam os mais fracos, os injustiçados, os carentes de oportunidades e que apesar de contribuírem para o enriquecimento dos dominadores, nem sequer têm assegurada a satisfação das necessidades de primeira ordem. É óbvio o descontentamento deste vasto universo que vive abaixo do limite de sobrevivência, bem como, a sua ira provocada por tão amplo descaso – o resultado expressa-se muito claramente no caos e na ruptura de nobres ideais.

Enquanto isso, o progresso científico e tecnológico avança num ritmo jamais visto, inteiramente dominado pelos poderosos, praticamente únicos usuários desse “progresso” e, em contrapartida, a impossibilidade do grupo dominado usufruir de melhores condições de vida. Uma busca desenfreada e irracional por lucros absurdos, promovem uma desmesurada ganância responsável pela falta de visão, pela superficialidade estampada na solução de problemas sociais e um egoísmo ímpar na consciência individual, solidificando uma cultura deturpada, injusta, e por vezes até sanguinária. A procura por um excessivo bem estar pessoal, do ponto de vista material, perde os limites, anula o bom senso, desvia retas intenções, frustra a justiça, inibe os escassos defensores da verdade, não tolera dificuldades, dá largas às paixões e, pior que tudo, perde-se a capacidade de pensar, aniquilando valores universais. Na melhor das hipóteses, os valores reduzem-se a uma expressão teórica, insignificante, utópica e de conveniência, dando lugar a outros, como – corrupção, roubo, miséria de todo o tipo, guerra e violência.

Em uma cultura assente nestes valores, perde-se a paz interior e social, e afasta-se definitivamente a possibilidade de se ser feliz. Assim sendo, a verdade passa a ser inconveniente, atemorizante e nefasta ao sistema vigente. O que deveria então desejar o homem? Mais que tudo, o conforto obtido pela verdade, onde encontraria paz como resultante de grande harmonia interior. Para tanto, há que pensar em valores que proporcionem sentido à vida, que lhe sirvam de meio e fim para a obtenção desse bem estar, duradouro, definitivo e repousante. Mas a verdade não se pode impôr, a não ser pela sua própria força. A verdade exige procura e reflexão, que nem sempre é fácil, depende de força, para que sirva de impulso a um ideal e desejada acima de tudo. O que vem a ser então a verdade? A verdade já vem incorporada ao ser, é o núcleo fundamental da consciência, da noção intuitiva de bem e mal, de certo e errado, de reta intenção, que antes de qualquer ação, ainda no pensamento, provoca um juízo de valor. A verdade assim vista, conduz instântaneamente à liberdade, porém condicionada à própria verdade. Por sua vez, a verdadeira liberdade exige o domínio das paixões, que vencidas nos confortam com o total domínio da força de vontade, tornando-nos verdadeiramente livres. A aproximação a este ideal de liberdade pressupõe reta intenção, senso de justiça e fortaleza, que consiste em assumir riscos e enfrentar as dificuldades subseqüentes. O domínio das paixões, em razão da sua força, fazem prevalecer os propósitos firmes dos quais já nos convencemos. Se  além disso, houver ainda uma consciência profunda dos erros, então acharemos os verdadeiros valores da vida, dos quais a verdade e a liberdade são peças fundamentais, e que sem elas, os valores deixam de existir por falta de condições (virtudes) cardeais. Há ainda, para se acharem esses valores, que se observar determinadas atitudes essenciais, como: respeito, fidelidade, senso de responsabilidade, veracidade e bondade.

Quando estes princípios fizerem parte do ser e forem colocados em prática, viver-se-á em harmonia. Harmonia esta, tanto maior, quanto maior for a possibilidade de esquecermo-nos de nós próprios, projetando-a nos outros. Uma felicidade ideal e maior, consistiria em sermos felizes com a felicidade alheia. Esta realização no nosso semelhante, reforçaria a nossa própria convicção de bem ser, confortando-nos e nos fazendo acreditar que uma felicidade verdadeira dependeria da possibilidade de outros a auferirem através de nós mesmos, fazendo-nos maiores, porquanto esse bem existir nos outros, fará parte de nós, justificando no mínimo o sentido da co-existência pacífica e evolutiva.

 

                                                                                Fernando Figueirinhas

  


Volta Home-Page