Em que
condições a generalização poderia ser considerada
legítima ?
- O raciocínio indutivo:
nada impede que se possa partir de uma lista finita de
proposições singulares para se chegar a uma lei universal.
- Legitimidade das
generalizações
1. o número de proposições de observação
que forma a base de uma generalização
deve ser grande;
2. as observações devem ser repetidas sob uma ampla variedade
de condições; e
3. nenhuma proposição de observação deve conflitar
com a lei universal derivada.
- Princípio
da indução: Se um grande número de As foi
observado sob uma ampla
variedade de condições, e se todos esses As observados
possuíam sem exceção a propriedade B, então
todos os As
têm a propriedade B.
- A explicação e previsão na concepção indutivista
- Versão probabilística
do princípio da indução: Se um grande
número
de As foi observado sob uma ampla variedade de condições,
e se todos
esses As observados possuíam sem exceção a propriedade
B, então
todos os As têm a propriedade B.
- Como lidar com o
problema da probabilidade zero ?
"A probabilidade de uma generalização universal ser
verdadeira
é, desta forma, um número finito dividido por um número
infinito,
que permanece zero por mais que o número finito de proposições
de
observação, que constituem a evidência tenha crescido"
(Chalmers,
p. 42)
O contexto da descoberta e o contexto da justificação
A alternativa dos indutivistas para responder
às críticas delineadas acima é a de
estabelecer uma clara diferença entre a lógica da investigação
e a psicologia do
investigador. Por esta via, o indutivista recuaria um pouco e passaria
a admitir que o
conhecimento científico não comecaria com a observação,
evidentemente. Além disso,
o problema de como ocorrem as novas descobertas ou de como se constroem
as teorias
fugiriam inteiramente do escopo da filosofia da ciência e seria
absorvido pela disciplina
psicologia dos cientistas. Apesar deste recuo estratégico a
posição indutivista continuaria
numa situação bastante difícil, principalmente
se considerarmos que ela não apresenta
respostas convincentes para o argumento de que os relatos observacionais
se encontram
inteiramente determinados pelos termos da teoria.
Alternativas ao indutivismo
Os autores vinculados a uma orientação denominada
de falsificacionismo procuram
demonstrar as dificuldades do indutivismo, especialmente aquelas decorrentes
da
admisão da primazia da observação sobre a teoria.
Para os falsificacionistas, as teorias
deveriam ser concebidas como especulações criadas pelo
espírito humano. Não seriam
nada além de conjecturas ou suposições elaboradas
com a finalidade de superar os
problemas e dificuldades de outras teorias ou de fornecer uma interpretação
mais
adequada do universo.
Apenas depois de enunciadas é que as teorias poderiam
vir a ser submetidas a teste
pela observação e, principalmente, pela experimentação.
As que não sobrevivessem ao
teste seriam descartadas e substituídas por novas especulações
que seriam novamente
testadas e outra vez descartadas caso sucumbissem uma vez mais aos
testes empíricos.
O progresso da ciência, a se considera esta interpretação,
manifestar-se-ia por tentativa
e erro, ou nos termos propostos por Karl Popper, por conjecturas e
refutações. Nenhuma
teoria seria definitivamente verdadeira, apenas ela poderia ser considerada
melhor do que
outras disponiveis no momento.
Como as teorias podem ser falsificadas ?
Uma das premissas básicas do falsificacionismo
é a de que as afirmações universais
podem ser falsificadas com base em deduções obtidas a
partir de afirmações singulares
disponíveis. Eis o raciocínio dedutivo apresentado por
Chalmers para demonstar este
princípio:
Premissa: Um corvo, que não
era preto, foi observado no local x no momento y.
Conclusão: Nem todos os corvos
são pretos.
Ora, de acordo com o exemplo, podemos admitir que a ciência
deveria ser entendida
como um conjunto de hipóteses propostas com a finalidade de
explicar um determinado
aspecto do universo. A questão é que nem todas hipóteses
são iguais, uma vez que
algumas delas são testáveis, enquanto outros estão
muito longe disso. A ciência
restringir-se-ia exclusivamente a considerar as hipóteses que
poderiam ser testadas. Eis
o exemplo de algumas hipóteses testáveis e não
testáveis:
|
|
Nunca chove em Juiz de Fora | Está chovendo ou não está chovendo em JF |
Todo solteirona deseja se casar | Todos os solteiros não são casados |
Observe que as hipóteses não-testáveis
nada nos dizem sobre o mundo em que vivemos.
Pensando assim, para ser dotado de algum conteúdo informativo,
a teoria deve ser
necessariamente falsificável e para isso ela tanto necessita
ser clara naquilo que pretende
retratar, quanto precisa na indicação das condições
em que o teste empírico pode ser
realizado. Para Popper, a ciência deveria ser entendida como
um processo que envolve a
apresentação de hipóteses falsificáveis
e a tentativa posterior de falsificá-las. Se um grande
número de teorias de uma determinada disciplina foi falsificada,
isto indica que aquela área
do conhecimento encontra-se em período extraordinário
de desenvolvimento.
Como ocorreria o progresso na ciência ?
De acordo com a concpção falsificacionista
o progresso do conhecimento científico
poderia ser descrito nos seguintes termos:
1. a ciência começa com problemas
a respeito de algum aspecto do universo;
2. os cientistas propõem hipóteses
falsificáveis para solucionar o problema;
3. as hipóteses são testadas:
algumas são elimindas, outras sobrevivem;
4. as hipóteses bem sucedidas são
submetidas a novos testes, bem mais rigorosos;
5. surge então um novo problema, bem
diferente do original;
6. novas hipóteses são apresentadas
como soluções provisórias para este problema;
7. novos testes são planejados e executados;
8. as teorias que sobrevivem aos testes que
falsificaram as anteriores podem ser
consideradas superiores
às suas concorrentes.
Dificuldades do falsificacionismo
A concepção falsificacionista do conhecimento
científico não está imunes a problemas.
Eis algumas destas dificuldades:
- Uma teoria científica pode ser considerada
como um conjunto complexo de afirmações
universais e não apenas uma afirmação isolada
tipo "Todos os cisnes são brancos". Isto
torna a situação de teste mais complexa que a concebida
pelos falsificacionistas;
- Nenhuma teoria pode ser conclusivamente falsificada.
Algum fator no planejamento do
teste pode escapar ao controle do investigador impedindo a falsificação
da teoria;
- O modelo falsificacionista da ciência é
incapaz de retratar com clareza a gênese e o desenvolvimento do conhecimento
científico.
III. As posições racionalista e relativista
A diferenciação entre estas duas perspectivas
relaciona-se diretamente com a
possibilidade de se estabelecer critérios capazes de fornecer
uma avaliação adequada e
precisa das várias teorias rivais que predominam em uma dada
área de estudos.
Para o racionalista, seja ele indutivista ou falsificacionista,
este critério deve ser
universal e não-histórico. Pensando assim a diferença
entre a boa e a má ciência pode
ser claramente estabelecida, desde que se admita que qualquer teoria
científica deve se
circunscrever aos critérios universalmente aceitos.
O relativista, ao contrário, não aceita
qualquer formulação que envolva considerações
universais e não-históricas. A verdade de uma teoria
científica dependeria das circunstâncias
de época e de lugar nas quais ela está sendo avaliada.
O que determinaria o conhecimento,
não seria busca da verdade em si, mas a procura daquilo que
é importante naquela
circunstância específica. A crítica relativista
ao conhecimento científico é ainda mais
extremada e atinge a própria nocão de que o conhecimento
científico poderia ser
considerado superior às outras formas de conhecimento.
IV. O que podemos concluir ?
Em primeiro lugar, não podemos perder de
vista o nosso objetivo, que é o de preparar
um anteprojeto que servirá de base para o monografia de conclusão
de curso. Em princípio,
não existem restrições para este trabalho. Ele
pode ser uma peça literária, pode ser até
mesmo um ato de fé religioso. Mas duvido que os membros da banca
fiquem satisfeitos
com uma abordagem desta natureza. O meio acadêmico valoriza bastante
o conhecimento
científico. Se o seu trabalho não tiver uma base científica,
por mais frágil que ela seja,
provavelmente ele não será visto com bons olhos.
Contudo, você deve ter observado, com base
nas discussões anteriores, que não temos
uma definição universalmente aceita de ciência
e deve se perguntar, como um excelente
crítico que é, de que vale isto tudo, se nem mesmo aqueles
que se dedicam diuturnamente
a este tipo de atividade tem clareza sobre o que seja o conhecimento
científico. Se esta é
realmente uma questão grave, ela não nos exime do rigor
e do cuidado nas nossas
formulações. Pensando assim, somos obrigados a reconhecer
que as maiores críticas à
ciência são feitas pelos próprios cientistas. Esta
correção interna de rumos, inerente à própria
condição de se fazer ciência, talvez seja a principal
conclusão desta nossa discussão. Você
deve estar atento (a) todo o tempo para a qualidade do trabalho que
irá apresentar. Isto
significa que está na hora de começar a se preocupar
com a teoria com que irá trabalhar, em
formular a hipótese que orientará o seu trabalho e em
encontrar as condições em que esta
hipótese poderá vir a ser testada. É verdade que
teremos tempo para isto tudo, mas não
podemos nos esquecer que o primeiro passo já foi dado e que
nos dias de hoje tudo anda
muito rápido.