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Idéias


Diários de Delacroix



Os tempos revolucionários impregnaram sua arte, também em seu aspecto político, sem que ele se desse conta.

Comovido com os acontecimentos políticos de julho de 1830, pinta, em 1831, uma alegoria à liberdade, à França e ao seu povo, que apresenta em suas diferentes classes sociais: melancólicos jovens barbudos, operários em mangas de camisa, tribunos do povo com cabelos esvoaçantes, rodeados pela liberdade com sua bandeira tricolor ( A liberdade guiando o povo ).

A política, porém, nunca o impressionou. Tinha até mesmo uma certa aversão por ela. 'Os moralistas, os filósofos, eu os considero como os verdadeiros, tais como Marco Aurélio (...) jamais falaram de política. A igualdade de direitos e vinte outras quimeras não os ocuparam, eles não recomendaram aos homens outra coisa que resignar-se ao destino, não aquele obscuro fatum dos velhos, mas aquela necessidade eterna que ninguém pode negar... de se submeter aos caprichos da natureza. A doença, a morte, a pobreza, os sofrimentos da alma, são eternos e atormentarão a humanidade sob todos os regimes, seja na forma democrática ou monárquica' (diário).

Fatalista sem ser conformista, não conseguia conter uma certa desilusão com o profundo estado de mediocridade em que vivia grande parte das pessoas nos anos pó-revolucionários.

Concluiu que 'a inércia, a ignorância, a situação onde a sorte os joga, transformam quase todos os homens em instrumentos passivos das circunstâncias. Não conhecemos jamais o que podemos obter de nós mesmos'.

O novo movimento nas artes, a começar pelo Realismo literário, não lhe traria outras respostas. Romântico que sobreviveu à sua época, Delacroix via com amargura a chegada do que denominou 'o antípoda da arte'.

'Qual é o objetivo de todas as artes se não for o efeito? Que encontro eu num grande número de obras modernas? Vejo o autor preocupado em descrever com o mesmo desvelo uma personagem acessória e as personagens que devem ocupar a frente da cena (...). O horrível está em toda a parte' (diário).

Incompreendido em sua época, Delacroix não compreendia agora, aos 65 anos, o que se aproximava. Carregava dentro de si as mesmas emoções insatisfeitas, os sentimentos dilacerantes, as paixões convulsas de um romântico. Para ele nada podia haver de real a não ser 'as ilusões que crio com minha pintura'. Escreveu ainda: 'O resto não passa de terreno incerto, de mera 'areia movediça''.