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Campelo e o orçamento

 3-11-2000 

De repente, o inevitável tornou-se imprevisível!

Um orçamento que, a fazer fé nos partidos de oposição, estava morto e enterrado, de repente, corre o risco de ser aprovado por metade dos deputados mais um.

Mais um voto é, aqui, o cerne da questão. As direcções partidárias recusaram ceder os seus votos ao governo para deixar passar o orçamento. Exigiam, cada um deles, em troca, alterações radicais que os fizessem aparecer como vencedores inequívocos.

O governo, naturalmente, resiste o mais que pode, mas para obter os votos necessários, tem que ceder alguma coisa. Foi assim no ano passado, se bem se lembram. O Partido Popular exigiu alterações, o governo cedeu e o orçamento passou.

Agora, as negociações com as direcções partidárias falharam e um deputado, por sua iniciativa ou aliciado pelo governo, resolveu negociar contrapartidas para ceder o seu voto.

Caiu o carmo e a trindade no seio do PP. Paulo Portas, o líder, pôs um ar sorumbático, adoptou uma pose de estado e veio perante a nação declarar que aquilo que tinha feito no ano anterior é agora uma negociata inadmissível.

O argumento de que qualquer deputado representa o conjunto do país não colhe. É evidente que é um deputado nacional, mas é verdade também que foi eleito por determinado círculo e que deverá estar atento às necessidades dos seus eleitores.

Além disso, ao defender aquilo que entende serem os interesses da sua região, não está a pôr em causa os interesses nacionais. Afinal, esses interesses nacionais são, de algum modo, o somatório dos interesses locais.

Na realidade, o problema é outro. Pela primeira vez, na negociação do orçamento, um deputado toma consciência de que é ele o representante dos eleitores e não a respectiva direcção partidária. É ele que tem o direito e o dever de votar no parlamento e não o seu líder.

Independentemente de estarmos ou não de acordo com Daniel Campelo, é bom ver de vez em quando um deputado que não seja um yes man.

JORGE SANTOS