Paralamas
 
 
 
Busca Vida
Vou sair pra ver o céu
Vou me perder entre as estrelas
Ver d'aonde nasce o sol
Como se guiam os cometas pelo espaço
E os meus passos
Nunca mais serão iguais
Se for mais veloz que a luz
Então escapo da tristeza
Deixo toda dor pra trás
Perdida num planeta abandonado
No espaço
E volto sem olhar pra trás
No escuro do céu mais longe que o sol
Perdido num planeta abandonado
No espaço Ele ganhou dinheiro
Ele assinou contratos
E comprou um terno
Trocou o carro
E desaprendeu a caminhar no céu
E foi o princípio do fim
 
 
 
 
 
 
De Música Ligeira
Ela deitou
Seu calor se espalhava
Eu despertei e ainda sonhava
Algum tempo atrás
Escrevi uma carta
Que nunca escolhi
As armas do amor
E daquele amor
De música ligeira
Nada nos livra
Nada mais resta
Não lhe enviarei
Mentiras e rosas
Nem penso evitar
O toque secreto
 
 
 
 
 
La Bella Luna
Por mais que eu pense
Que eu sinta, que eu fale
Tem sempre alguma coisa por dizer
Por mais que o mundo de voltas
Em torno do sol, vem a lua me enlouquecer
A noite passada
Você veio me ver
A noite passada
Eu sonhei com você
Ó lua de cosmo
No céu estampada
Permita que eu possa adormecer
Quem sabe de novo nessa madrugada
Ela resolva aparecer
 
 
 
 
 
Lourinha Bombril
Pára e repara
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
Essa crioula tem o olho azul
Essa lourinha tem cabelo bombril
Aquela índia tem sotaque do sul
Essa mulata é da cor do Brasil
A cozinheira tá falando alemão
A princesinha tá falando nou faire
A italiana cozinhando o feijão
A americana se encantou com o Pelé
Häagen-dazs de mangaba
Chateau canela-reta
Cachaça made in Carmo dando a volta no planeta
Caboclo presidente trazendo a solução
Livro pra comida, prato pra educação
 
 
 
 
 
 
 
O Caminho Pisado
Da cama pra cama, do banho pra sala
O sono persiste, o sol não tarda
A vida insiste em servir um velho ritual
Que sempre serve a tantos outros
O mesmo pão comido aos poucos
Se senta e abre o jornal
Tudo parece normal
Um dia a menos, um crime a mais
No fundo, no fundo, no fundo tanto faz
Já é hora de vestir o velho paletó surrado
E caminhar sobre o caminho pisado
Que o conduz rumo à batalha que inicia cada dia
Conseguir um lugar pra sentar e sonhar no lotação
E é tudo igual, igual, igual, igual....
No fim dos dias úteis há dias inúteis
Que não bastam pra lembrar ou pra esquecer de quem se é
O ar pesado nesse bairro pesado em plena barra pesada
A mão pesada vem oferecer
E conta os trocados contando vantagem
E toma uma bola, começa a viagem
E enquanto não chegar a velha hora
Que inicía cada dia
Em várias partes da cidade, por lazer ou rebeldia
A mão pesada se abrirá
Oferecendo a garantia barata de que tudo vai mudar
E é tudo igual, igual, igual....
 
 
 
 
 
 
O Caroço da Cabeça
Prá ver
Os olhos vão de bicicleta até enxergar
Prá ouvir
As orelhas dão os talheres de escutar
Prá dizer
Os lábios são duas almofadas de falar
Prá sentir
As narinas não viram chaminés sem respirar
Pra ir
As pernas estão no automóvel sem andar
 E os ossos serão nossas sementes
Sob o chão
E dos ossos as novas sementes
Que virão
 
 
 
 
 
Outra Beleza
Outra beleza
Outra beleza você tem
Que põe cama e mesa
E mais beleza no mundo também
Não tá no frio da pedra, do bronze ou da tela
Tá no olhar, tá no movimento dela
Em cada suspiro de amor
Cada gesto de mão, cada novo sabor
Cada ocasião em que a alma se revela
O sol se põe na paisagem da minha janela
Se o telefone tocar já sei que é ela
De caras e bocas e marcas
De ostentação, de comparação
Não precisa não
Você é muito mais bela.
 
 
 
 
 
Saber Amar
A crueldade de que se é capaz
Deixar pra trás os corações partidos
Contra as armas do ciúme täo mortais
A submissão às vezes é um abrigo
Saber amar
É saber deixar alguém te amar
Há quem não veja a onda onde ela está
E nada contra o rio
Todas as formas de se controlar alguém
Só trazem um amor vazio
O amor te escapa entre os dedos
E o tempo escorre pelas mãos
O sol já vai se pôr no mar
 
 
 
 
 
 
Seja Você
Vai sempre ter alguém
Com mais dinheiro, mais respeito
Mais ou menos tudo o que se pode ter
Vai sempre sobrar, faltar
Alguma coisa, somos imperfeitos
E o que falta cega p'ro que já se tem
Eu não te completo
Você não me basta
Mas é lindo o gesto de se oferecer
O que eu quero nem sempre eu preciso
Mas dê um sorriso quando me entender
Seja você
Seja só você
 
 
 
 
 
Sempre Te Quis
Todo o meu tempo
Todo o meu zelo
Todo o meu prédio já sabe que eu tenho
Um amor
Todo receio
Todo remédio
Tudo que sempre causava
Dor e medo
Se foi
Foi por te ver andado reto
Entre tudo que há de incerto em mim
E fui andando, voltei ao zero
Um recomeço é uma forma de se encontrar
Por ser tranquilo, por ser sincero
Não me preocupa
O que não for é o que vai passar
Foi por te ver andado reto
Entre tudo que há de incerto em mim
Que eu sempre te quis
Sempre te quis assim
Só prá mim
 
 
 
 
 
Um Pequeno Imprevisto
Eu quis querer o que o vento não leva
Pra que o vento só levasse o que eu não quero
Eu quis amar o que o tempo não muda
Pra que quem eu amo não mudasse nunca
Eu quis prever o futuro, consertar o passado
Calculando os riscos
Bem devagar, ponderado
Perfeitamente equilibrado
Até que num dia qualquer
Eu vi que alguma coisa mudara
Trocaram os nomes das ruas
E as pessoas tinham outras caras
No céu havia nove luas
E nunca mais encontrei minha casa
No céu havia nove luas
E nunca mais encontrei minha casa
 
 
 
 
 
Uma Brasileira
Rodas em sol, trovas em dó
Uma brasileira, ô
Uma forma inteira, ô
You, you, you
Nada demais
Nada através
Uma légua e meia, ô
Uma brasa incendeia, ô
You, you, you
Deixa o sal no mar
Deixe tocar aquela canção
One more time
Tatibitate
Trate-me, trate
Como um candeeiro, ô
Somos do interior do milho
E esse ão de são
Hei de cantar naquela canção
One more time
 
 
 
 
 
 
 
Vamo Batê Lata
Vamo batê lata, tonel, garrafa d'água
Vamo batê no pulso da artéria da rua
Vamo batê palma até de madrugada
Vamo pr'aquela praça da verdade nua
Vamo de tamanco, pro cubango
No aperto do abraço do suvaco no pão
Quatro sete sete cinco meia no batuque samba-funk
Da alegria arrastão
Tá desorientada, você não sabe nada
Moleque de rua e a nova língua de Brown
Pega no meu braço, aperta a minha mão
Vamo no balanço funk do lotação
Di di diz
Vamo de tamanco, pro cubango
No aperto do abraço do suvaco no pão
Quatro sete sete cinco meia no batuque samba-funk
Da alegria arrastão
 
 
 
 
300 Picaretas
Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou
São 300 picaretas com anel de doutor
Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da Nação
É lobby, é conchavo, é propina e jetom
Variações do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída
Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me valia deste discurso panfletário mas a minha burrice fez aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar, por qualquer trocado
Por um par de sapatos, por um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns coronéis, vocês venceram outra vez
O Congresso continua a serviço de vocês
Papai quando eu crescer, quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
E se eu fosse diser nomes a cançäo era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisäo...