ECOTURISMO
Ecoturismo é uma palavra que soa bonito. Está cada vez mais usada. Muitas pessoas já se converteram em "ecoturistas", entretanto, grande parte deste público e empreendedores não sabem exatamente o que ecoturismo quer dizer.
Ainda ausente dos dicionários da língua portuguêsa, este neologismo foi introduzido na literatura por Hector Ceballos na década de 80. "Eco" (do grego "oikos", significa "casa") e, "turismo" (de origem francesa significa "sair e retornar a um ponto objetivando o divertimento"). Em breves palavras, o ecoturismo é o "turismo praticado em casa, leia-se, no meio (ambiente) onde vivemos".
No turismo, o ecoturismo é o segmento que mais cresce no mundo. As cifras crescentes deixam animados os empresários do setor, desperta o Poder Público e movimenta uma série de pesquisas por estudiosos no assunto. Associações e Institutos de ecoturismo são criados por todos os cantos do planeta e governos e iniciativa privada se mobilizam para regulamentar a atividade. No Brasil foi editado em 1994 pela EMBRATUR e IBAMA, um excelente documento intitulado Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo.
Em regra geral, o ecoturismo é entendido internacionalmente como: "Viagens conscientizadas a áreas que conservam o meio ambiente e cooperam para o bem estar das comunidades locais". Portanto a atividade ecoturística se concentra na harmonia do binômio MEIO AMBIENTE e ELEMENTO HUMANO. Desta combinação deverá resultar o bem estar das comunidades locais.
PRODUTO ECOTURÍSTICO E ECOTURISTA
Considera-se produto ecoturístico aquele destino a ser visitado e o pacote de bens e serviços proporcionados ao visitante, considerado aqui ecoturista. O produto ecoturístico deverá basear-se na premissa acima, qual seja, proteção do meio ambiente e bem estar das comunidades locais. O que se quer dizer com isso é que as atividades proporcionadas ao visitante de determinada região não poderão ser de forma alguma degradadoras do ambiente. Não gerar lixo e poluição que não possam ser manejados apropriadamente; consumir pouca energia e preferencialmente aquelas renováveis e limpas; a alimentação básica oferecida deverá ser tipicamente da região, ou seja, produzida na região; e sobretudo, utilizar mão-de-obra local. Prefere-se que esta mão-de-obra trabalhe de forma complementar nos postos de trabalhos abertos com a atividade ecoturística, e que jamais retire mão-de-obra das atividades tradicionais.
Por ecoturista se entende aquele visitante bastante consciente - via de regra bem informado sobre a região que visita - e que busca o máximo de interação com a natureza e, sobretudo, busca interagir com a comunidade local, aprendendo sobre suas tradições e costumes, respeitando e evitando impactos culturais com sua presença e participação. O ecoturista prefere colaborar como voluntário em algum projeto comunitário ou ambiental muito mais do que doar dinheiro. Ainda, e mais importante que tudo, o ecoturista não se importa de gastar desde que perceba que seu dinheiro se espalha ao máximo pela comunidade.
Enfim, a impressão que fica é de que tanto o produto ecoturístico quanto o ecoturista são figuras utópicas. E não deixa de ser verdade. Rotular este ou aquele produto como ecoturístico no Brasil é passar longe daquilo que se acredita autêntico. O ecoturista nem pensar. Mas não importa. O que importa é que o produto caminhe nesta direção, ainda que jamais chegue lá. Cabe ao ecoturista julgar a autenticidade do produto e escolher os lugares que deseja visitar.
SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS / MILHO VERDE = PRODUTO ECOTURÍSTICO
No município do Serro, mais precisamente nos distritos de São Gonçalo do Rio das Pedras e Milho Verde, não excluindo outras áreas, o fenômeno do ecoturismo vem acontecendo há alguns anos, sem que a atividade tenha sido planejada ou concebida institucionalmente. Ou seja, surgiu espontaneamente a partir de iniciativas essencialmente isoladas e desenvolveu-se livremente.
Os visitantes chegam de várias origens, motivados por propaganda de boca e se instalam na comunidade para usufruir o que a região tem de melhor: a natureza.
Os atrativos naturais (cachoeiras, serras, rios, campos, etc.) permitem uma série de atividades ao ar livre. Os recursos humanos que se mobilizam para hospedar, alimentar e entreter os visitantes são sem dúvida tão ou mais importante do que os atrativos naturais. Esta combinação associada à pequena, mas boa infra-estrutura física de São Gonçalo / Milho Verde ( como as pousadas, restaurantes, bares, forrós, vinhos artesanais, doces caseiro e o artesanato ), adicionando-se ainda uma pitada de charme e a hospitalidade de sua gente e o resultado não poderia ser outro: um produto ecoturístico quase autêntico. O quase fica por conta da utopia.
As comunidades locais conhecem os benefícios que a atividade proporciona. Gera trabalho e aquece o comércio local, sobretudo na temporada. Isto produz dividendos que, pela natureza artesanal da atividade, tende a espalhar-se horizontalmente pela população. Conhece também os impactos negativos trazidos por alguns visitantes menos conscientizados. Lixo, consumo exagerado de álcool e outras drogas e poluição sonora são apenas alguns dos melefícios que a comunidade vem aprendendo a lidar. Na média, o turismo sai ganhando com seus aspectos positivos.
FOMENTO DO ECOTURISMO NO SERRO
O potencial do produto São Gonçalo / Milho Verde é bem maior do que o imaginado. Considerando ainda as iniciativas recentes em transformar o Pico do Itambé em parque, entre outras medidas e projetos protetores do meio ambiente, o futuro é promissor.
Até o retorno do garimpo, que a princípio é causador de impactos extremamente negativos ao meio ambiente, se praticado dentro da técnica, pode transformar-se em acessório do produto São Gonçalo / Milho Verde. Existe um público especializado que não faz a menor idéia de como se dá a atividade garimpeira, e estaria disposta a pagar para ver como funciona um garimpo que não degrada - ou as medidas tomadas para conciliar exploração e proteção. Atingir este público e garantir-lhe uma boa operação turística pode não ser simples, mas é possível e para isso existem agentes e operadores de ecoturismo.
Para atingir outros níveis de desenvolvimento com a atividade ecoturística é imprescindível uma mobilização da iniciativa privada, Poder Público e investidores. A melhoria do fornecimento de eletricidade, expansão da rede telefônica podem de imediato elevar o produto a outro patamar. Uma agenda de eventos, como festejos, competições desportivas, feiras gastronômicas, concursos, etc. podem contribuir para uma taxa de ocupação melhor distribuida ao longo do ano. Todos sabem que os fins de semana, feriados prolongados e férias fazem parte da alta estação. Mas o restante do ano?
Neste ponto um bom entrosamento com as agencias e operadoras de ecoturismo espalhadas por Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo muito podem contribuir para melhorar o fluxo de visitantes em outras datas. Contudo, sem uma comunicação telefônica eficiente, isto é apenas um delírio. Para que isto ocorra, inicialmente, é necessário que a população queira um fluxo maior de visitantes, sem o quê, qualquer medida externa é mera especulação. E, mais do que nada, é necessário que a população esteja preparada para absorver este fluxo e trabalhar duro para assegurar bons serviços.
Existem vários destinos ecoturísticos pelo Brasil que decolaram a partir de pequenas iniciativas articuladas pelas comunidades, iniciativa privada e Poder Público, que elevaram pequenos lugarejos a pólos ecoturísticos de renome internacional. Apenas para ilustrar, Canela (RS); Lençóis (BA); Morro de São Paulo (BA); entre outros, tornaram-se destinos concorridos.
Finalizando, qualquer iniciativa de fomento deve ter sempre em consideração a melhoria da qualidade de vida da população sem o sacrifício dos recursos naturais, que a rigor, devem igualmente melhorar com tais iniciativas. Cada posto de trabalho deve ser comemorado como uma vitória de toda a comunidade. É o desenvolvimento sustentado, solidário e compartilhado. O treinamento de guias locais, a expansão da capacidade de hospedagem, utilizando, por exemplo, um modelo muito comum na Europa, qual seja, o visitante se hospeda em casa de família, com toda a simplicidade da casa, com direito a cama, banheiro e café-da-manhã, em troca de uma diária justa. Sai em conta para o visitante e proporciona uma renda adicional para a família hospedeira. Este tipo de hospedagem é muito comum em pequenas aldeias nos Alpes, onde o número de leitos disponíveis para visitantes muitas vezes é igual ao número de habitantes da aldeia. Isto é possível sem grandes investimentos e todos os demais acessórios do produto lucram com cada visitante a mais.
Enfim, existem inúmeras formas de fomentar a atividade sem dependência de investimentos pesados. Vale a imaginação e, neste aspecto, o povo mineiro e em especial o povo do Serro, tem criatividade de sobra.
Evandro B. Sathler é do Conselho Deliberativo da FUNIVALE; Diretor de Marketing da The Quest - Ecoturismo & Aventura - Niterói - R.J.; e graduando em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo - Niterói - R.J.