GUERREIRO DAS LEVAS


Todo dia é dada mais uma largada na grande correria da vida.

 A maratona eterna rumo ao prêmio suado, desconhecido e impensado.

 No terreno da corrida, a cidade, o campo, a cabeça e a alma é o solo. O corpo se lança na fúria do correr, contraindo, espremendo, tendendo, dilatando e contorcendo músculos em movimentos frenéticos na caça.

 Pobre lento boi que solta tristes mugidos por pasto para pastar, lentamente, ruminar, deitar... contemplando estrelas do luar. Louca ágil águia das alturas que bate asas oxigenadas pelo ralo ar do infinito atmosférico, divagando idéias e sonhos do sem fim.

 Apenado nobre leão das paragens correndo em busca do oásis coberto de palha seca para sonhar rolando coxixos da carne distante.

 Esse que rege a trilha desse guerreiro das levas; Esse, pastor que nunca falta e segue ungindo de graças teu servo no destino da missão irrecusada. Esse que espalha forças na ventania penetrando matas chacoalhando galhadas de sementes largadas;  sopra essa brisa poderosa pela juba do leão solitário pelo deserto da consciência. Acalma tufões nas alturas e deixa planar águias levemente na corrente transcedente.

 Faz chover águas límpidas no pasto de capim novo arrancando uivos de prazer de um boi gordo que descansa em quatro patas. Estrelas que conspiram no céu os destinos da terra, arranca o desatino das corredeiras e deixa escorregar manso nosso coração emocionado rumo à Tua casa.

 
Evandro Sathler - outono/96

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