Quando retornei para o Brasil em 1982, após uma longa temporada viajando pela América Latina e Estados Unidos, não sabia exatamente o que fazer da vida. Com algumas economias, comprei uma Kombi e comecei a guiar turistas pelo Rio de Janeiro e arredores, uma vez que dominava bem os idiomas espanhol e inglês.
No início de 1983, através de minha amiga - Paula Bonatto - surgiu uma oportunidade profissional: acompanhar um casal de novaiorquinos (judeus) por Minas Gerais num de "tour de inspenção". Havia poucas informações sobre este tour de inspenção, a não ser que desejavam interar-se sobre o mercado de pedras no Brasil. Pessoalmente conhecia pouco sobre esta área, salvo que Minas Gerais produzia pedras preciosas. Era tudo.
Chegando ao Brasil, Richard Berger e sua mulher Mirian Dyek, iniciavam uma grande aventura. Profundos conhecedores do mercado de minerais no mundo, Richard era dono da CRYSTAL RESOURCES. Uma pequena loja na 65th com Madson em Nova York, especializada em minerais de coleção. Richard e a Crystal Resources eram famosos num seleto mercado, envolvendo estrelas do cinema, políticos de expressão mundial e até príncipes árabes.
Acertados os pormenores da viagem, partimos em Julho deste ano para Minas Gerais, numa viagem que viria durar cerca de quarenta dias. Minha velha Kombi - modelo 74 - não podia imaginar o que vinha pela frente. Nosso primeiro destino: Belo Horizonte.
Foi em Belo Horizonte que começamos a ser educados no assunto.
Genericamente, chama-se de pedra praticamente todo mineral que não
seja metal. Comercialmente a visão é outra, e o setor de
pedras dividi-se:
a) pedras lapidadas - essencialmente para fins de joalheria, são
melhor denominadas como pedras preciosas e semi-preciosas. Para o garimpeiro
e o pedrista, pedra é pedra, e estes termos são pouco usados.
As pedras preciosas tem valor econômico e ligação com
sua raridade e abundância. O diamante é uma pedra preciosa
e nem por isso é de incidência rara. Já as esmeraldas,
rubis e safiras são preciosas, e encontrar pedras de qualidade é
cada vez mais raro.
As pedras semi-preciosas por sua vez, são assim denominadas erradamente. Algo é precioso ou não. É quase como dizer que um indivíduo é honesto ou semi-honesto. Ou se é honesto ou não. Chamar a pedra de "não-preciosa" não soa bem. A expressão semi-preciosa tem a conotação de quase preciosa, daí a aceitação deste termo, mais usado porém pela lingua inglesa. As pedras semi-preciosas são geramente abundantes mas de menor valor, como as ametistas por exemplo.
b) as pedras de coleção - também chamados de espécimes de coleção, são minerais multicoloridos, encrustrado em alguma matriz, encontrados em seu estado bruto, conforme saem da natureza. Sem nenhum tratamento, salvo uma limpeza, o valor de um espécime de coleção geralmente é igual ou superior ao que renderia se cortado e lapidado, além de sua beleza, onde se leva em consideração o conjunto estético, tamanho e peso, distribuição de cores, o estado da matriz etc. Enfim, tem que ser belo - uma obra de arte da natureza. A raridade está geralmente nos espécimes contendo gemas de excelente qualidade, e que sobrevivem a martelos, serras e uma banca de lapidação. No passado, os minerais eram desprezados enquanto espécimes, pois o que interessava era a gema para lapidação. O destino dos espécimes de coleção são geralmente os museus, designers e colecionadores excêntricos.
Em Belo Horizonte existem inúmeros pedristas. Muitos são velhos guerreiros, de um tempo quando o mercado não era tão competitivo, e ainda se encontravam boas pedras a preços mais apropriados. Os europeus detinham algum domínio do mercado e ditavam algumas regras como padrão de qualidade e sobretudo preço. A geração mais nova encontrou um mercado mais agressivo, sobretudo com a entrada dos americanos, japoneses e países do tigre asiático. Entre estes empresários, destacam-se o Sr. Osório Neto e o Sr. Roberto Dietze. Este um grande e profundo conhecedor do setor, tendo sido o maior fabricante de bolas de cristal do Brasil. Grande homem, grande amigo.
Deixando Belo Horizonte rumamos para Governador Valadares. Mencionada na literatura especializada, Valadares é uma porta de entrada para a província mineral brasileira. Dali para o norte, incluindo Teófilo Otoni e o Vale do Jequitinhonha, encontra-se uma das três províncias gemológicas mais importantes do mundo (as outras duas são o leste da Africa e a India). Existem minerais preciosos - raros ou não - por toda parte do planeta. Poucos lugares, no entanto, têm a incidência de minerais em quantidade e diversidade como no nordeste mineiro. No Brasil existem praticamente todos os minerais encontrados no mundo. Alguns de incidência bastante modesta e de baixa qualidade, como os rubis e safiras. Outros extremamente abundantes, como o cristal de quartzo, que no Brasil existe em variedade, qualidade e quantidade.
Em Valadares não foi difícil estabelecer contatos. A cidade é bastante hospitaleira, organizada, quente e acostumada no trato com estrangeiros. Garimpeiros e pedristas circulam por toda parte, e podem ser facilmente identificados por uma bolsa que trazem ao ombro.
Foi em Valadares que deparamos com as primeiras dificuldades do negócio: burocracia e problemas cambiais. Primeiramente, para que qualquer mercadoria saia legalmente do país, é necessário um processo de exportação. Hoje as coisas estão menos burocratizadas, mas na época isto representava literalmente um processo, extremamente burocrático, envolvendo diferentes órgãos oficiais - que pouco se entendiam entre si - muita papelada, carimbos, autorizações, vistorias, lacres, despachantes etc. Em segundo lugar estava a questão cambial. O conhecido cambio paralelo valia quase o dobro do cambio oficial. Uma vez exportada a mercadoria, era necessário que o exportador fechasse um contrato de cambio com o Banco Central, comprovando o pagamento pela mercadoria e a consequente entrada de divísas no país. Uma confusão de taxas de cambio flutuando quase que de hora em hora, capaz de deixar qualquer gringo de cabelos em pé.
Não bastando a problemática da burocracia, existia ainda o problema do embarque da mercadoria, geralmente de avião ou navio. Normalmente os minerais de coleção tem estrutura frágil, e requerem embalagem praticamente artesanal. Depois de bem embalado, era confiar na sorte e na delicadeza de carregadores, transportadoras, estivadores etc. Contratar seguro para a carga, era outro processo.
Em Valadares o mercado possuía características semelhantes a Belo Horizonte: enquanto aquela estava mais próxima da fonte (garimpos e lapidações), esta ficava mais perto dos compradores (nacionais e estrangeiros). Eram muitos garimpeiros e pedristas estabelcidos na cidade, não podendo deixar de destacar os famosos Vasconcelos.
A 140 km. ao norte de Governador Valadares, localiza-se Teófilo Otoni. Centro de comércio e lapidação de pedras, tendo chegado à segunda posição no mundo ( Bangkok na Tailândia está em primeiro) Teófilo Otoni é intensa. Bem mais que Valadares, o comércio de minerais - principalmente pedras preciosas - borbulhava. Um lote de pedras passa por diversas mãos diariamente, e os pedristas são bem mais agressivos na abordagem dos potenciais freguezes, sobretudo quando eles são gringos. Podia-se ver espécimes de coleção, nos escritórios e casas de pedristas. Em Teófilo Otoni, o Dr. Jacinto Ganen, dentista muito conhecido, era também fazendeiro e um dos maiores colecionadores de pedras e histórias do mercado. Grande homem.
Seguindo rumo norte pela rodovia Rio-Bahia, estão vários municípios, que produzem um pouco de tudo. Topázios, turmalinas, águas marinhas etc. Cerca de 160 kms. ao norte de Teófilo Otoni está o município de Itaobim. Neste ponto, onde a Rio-Bahia cruza o Rio Jequitinhonha está um dos portais do Vale do Jequitinhonha - uma região que convive com extremos de pobreza e riqueza. Uma da regiões mais secas e pobres do estado de Minas, considerado ainda pela UNESCO como uma das regiões mais pobres do mundo. O Vale do Jequitinhonha tem no entanto um dos sub-solos mais ricos do Brasil. Pela diversidade mineral ou pela temperança de um povo segregado no passado e relegado no presente, o Vale tem uma riqueza cultural singular. Das mãos de artesãos famosos, como Isabel e Ulysses, por exemplo, saem obras de arte que percorrem todos os continentes. Nesse sentido há que se mencionar o trabalho da FUNIVALE, uma ONG estabelecida em São Gonçalo do Rio da Pedras, no município de Serro, que sob a inspiração do filósofo e professor alemão Martin Kuhne está fundando a Universidade Livre, Experimental e Comunitária do Vale do Jequitinhonha. Um projeto ousado em educação e que vem colhendo frutos.
Quebrando para o oeste, rio acima, estão as localidades de Itinga, Taquaral e Araçuaí. Alí o mundo mineral escolheu sua capital e, entre rubelitas, indicolitas, águas-marinhas e quartzo edificou um império e que tem por soberano o legendário "Zé da Estrada". Um garimpeiro de sucesso, responsável por grandes achados, conhecido, respeitado e visitado pelas maiores autoridades em mineralogia do mundo. Citado em diversas obras especializadas, Zé da Estrada é uma figura interessantíssima.
De sua casa no Taquaral, o Zé comandava vários garimpos
e uma legião de garimpeiros, e mais uma romaria de visitantes compradores,
garimpeiros buscando uma praça de trabalho, gente precisando de
uma contribuição para enterrar um parente, e toda sorte de
solicitação.
Foi na casa do Zé da Estrada que vimos algo que nos despertou. Foi no Vale que a viagem realmente começou. Deparamos com um lote de pontas de cristal de quartzo, algumas com cerca de meio metro de comprimento, cuja textura, brilho e energia deixou Richard sem palavras. Muitos quilos espalhados sobre uma bancada. Era a coisa mais linda que tínhamos visto até aquele ponto da viagem.
Richard ficou atormentado com aquele achado. No brilho de seus olhos havia uma mensagem. Seu silêncio e atitude contemplativa indicava que alguma coisa havia mexido com ele. E mexeu com o resto de nós também.
Na noite daquele dia mal pude dormir. Fechava os olhos e via imagens de cristais vagando - como que flutuando, cristais voadores cruzando os espaços do sub-consciente. Quase não dormi. Experiência difícil de esquecer.
No dia seguinte, comentando com Richard as visões, descrevi as cenas e a dificuldade para dormir. Ele me disse então que eu havia sido infectado pelo vírus do quartzo. Achei que pudesse ser algum tipo de germe característico dos minerais, mas logo entendi que tratava-se de linguagem figurativa. O que havia acontecido na realidade, foi o meu despertar involuntário. Passava a perceber algo, sentindo a energia das pedras. Até então era novidade. A sensação era de descoberta e no íntimo algo havia sido acrescentado na capacidade perceptiva. Uma expansão da consciência.
Aqueles cristais haviam deixado Richard tão excitado que de certa forma a viagem teve uma alteração no rumo e suas prioridades. Tornou-se uma missão: descobrir de onde vinham e como se poderia obter mais. Alto Jequitinhonha era nossa única pista.
SEGUNDA PARTE
Do Vale do Jequitinhonha retornamos para Belo Horizonte, de onde Richard voaria para Porto Alegre e eu pilotei minha Kombi para o Rio Grande do Sul com algumas caixas cheias de cristais. No caminho, na altura de Torres - RS, consegui o maior feito da minha história enquanto motorista: capotei a Kombi numa subida a sessenta quilômetros por hora. A pista estava cheia de óleo, o carro derrapou. Ninguém se machucou e nenhum cristal se quebrou. Graças a Deus. Alguns caminhoneiros ajudaram a desvirar a Kombi, que pegou na chave e prossegui viagem.
O destino era a serra gaúcha, especificamente as cidades de Lajeado, Soledade e Iraí. É dessa região que saem os geodos de ametista e uma quantidade fabulosa de ágatas. O comércio é bastante organizado, bem diferente da mentalidade de Minas. São geralmente negócios familiares. Gente de origem alemã e italiana. Verdadeiras indústrias, com centenas de empregados, movimentando milhões de dólares anualmente.
Lá a energia era outra. As ametistas, naquelas formas geodésicas, são um espetáculo à parte. Estas eram de interesse dos colecionadores. As ágatas e suas formas multicoloridas, eram lindas mas não raras o suficiente para serem consideradas de tanto interesse para colecionadores. Algumas toneladas de ametista foram compradas, embaladas e embarcadas em containers para Nova York.
Fizemos grandes amigos e estabelecemos uma relação comercial importante com os Irmãos Lodi, com a Legep e os Bortoluzzi. A Kombi - meio amassada - ficou no sul, numa transação com um pedrista. Ela segue circulando por lá até hoje.
Dado o sucesso da viagem até aquele momento e como as coisas se apresentavam, Richard ofereceu-nos trabalho "full time" para cuidar dos seus interesses no Brasil. Financiou-nos a compra de um carro (Caravan 78), forneceu despesas de viagem e um salário razoável. Não foi possível recusar. O trabalho consistia em ficar na estrada, circulando as áreas de garimpo em busca de espécimes minerais de coleção que fossem "the cheapest", "the nicest", "the best".
Assim passamos a viver na estrada, de pousada em pousada, de garimpo em garimpo. Algumas descobertas importantes, excelentes contatos e boas transações fizeram parte desta fase. Viajamos por vários recantos de Minas, Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul e até no Pará fomos parar. Não logramos descobrir de onde vinham aqueles tais cristais tão poderosos, que o Richard apelidou de "swords".
A relação foi se desgastando com o passar dos meses e acabou descontinuada. Continuamos no trabalho por conta própria, mas trabalhando com pedras lapidadas. Tínhamos vários meses de experiência no ramo, uma cartela de fornecedores e uma excelente idéia de preços.
Fui passar uma temporada em Ouro Preto, onde fiz um curso de Gemologia na Universidade Federal de Ouro Preto. Ajudou muito. Segui no comércio de pedras lapidadas, que unidas ao conhecimento com o turismo, permitiram a realização de alguns negócios. E a vida foi seguindo.
TERCEIRA PARTE
Surge Thomas Warton. Americano da California, viajava pelo Brasil e acabamos nos conhecendo. Queria igualmente comprar pedras. Viagei com ele para Minas, no circuito tradicional. Gostou muito.
Fui passar uma temporada nos E.U.A. No retorno tinha na bagagem muitos contatos potenciais. Acabei fundando uma firma de exportação com meu irmão Ivens Jr.: a Rainbow Exportação Ltda.
Numa das vindas do Thomas ao Brasil, fizemos uma viagem por Diamantina em Minas, onde viemos a descobrir a fonte dos tais "swords". Aconteceu quase que casualmente. Tudo graças a uma carona que demos a um garoto que carregava uns molhes de flores secas (Sempre Viva). Indagamos o garoto - despretensiosamente - sobre cristais e garimpos. Ele nos disse que toda sua família era de garimpeiros e que os cristais que descrevemos para ele havia em grande quantidade numa vila do distrito de Conselheiro Mata, cerca de uns trinta e poucos quilômetros de Diamantina.
Sem esconder a excitação acabamos rumando para a tal vila. Lá fomos presenteados com a descoberta dos "swords" que algum tempo mais tarde nos deixou famosos. O mercado os passou a chamar de laser points, wands ou diamantina points.
Logo em seguida fundamos a CRYSTAL VENTURES. Uma "joint venture" entre a Rainbow e a Thomas Warton Imports. Ficou famosa nos E.U.A. Foi a responsável por levar ao mercado as pontas de cristal mais disputadas durante a feira de Tucson - no Arizona - nos anos de 86, 87, 88, 89 e 90. Chegamos a ter filas de pessoas disputando os tais cristais.
A feira de Tucson é um espetáculo à parte. Lá, há vários anos, reunem-se em fevereiro pedristas de todo o mundo, durante mais de uma semana, onde se compra, vende e troca todo tipo de pedra - lapidada, bruta, manufaturada em toda sorte de arte e joalheria. Uma verdadeira Babilônia mineral.
Estabelecemos uma relação fabulosa com os garimpeiros de Diamantina. A concorrência ficava desapontada por não conseguir fazer tão bons negócios na região como nós. Isto se dava à nossa marcação cerrada na área, ao ponto de lá comprarmos uma propriedade, a fazenda Montoza, e estabelecermos um entreposto. Se não fosse o bastante, dessa propriedade saía cristal em qualquer buraco que se fazia na terra. Em poucos meses ela se pagou com o que foi garimpado.
Os garimpeiros da região de Diamantina se dedicam especialmente ao diamante na época da seca (março a outubro) e na coleta de flores e botões do campo; nas águas (outubro a março) eles plantam uma agricultura de subsistência e garimpam o cristal. Contam os mais antigos, que depois da II Guerra Mundial, houve uma procura muito grande pelo cristal de quartzo. Eram extraidos da terra e quebrados em pedaços de 50, 100 e 500 gramas. Peças maiores não tinham classificação. Eram compradas por quilo e não era necessário qualquer cuidado com as pontas. Contam ainda que pontas com 1 metro de comprimento eram estilhaçadas para atender à classificação. O destino desta mercadoria era a crescente indústria eletrônica e óptica. Como se sabe, o cristal pode ser sintetizado em laboratório. Para tal é necessário que se tenha uma semente de quartzo, quanto mais longa, tanto maior será o produto sintetizado. O cristal sintético, livre de impurezas e abundante, atende a certo segmento da industria. Outra parte da indústria era atendida com o quartzo natural.
O pessoal esotérico (healers, psychics, chanellers), nossa principal clientela, nos educava sobre as propriedades energéticas dos minerais, em especial, o quartzo. Era através deles que obtínhamos informações "outras", como aquelas que ainda não são aceitas pela ciência.
Parte destas informações não científicas chegaram ao ocidente provenientes da India, no final da década de 70 e início da década de 80. De lá retornaram as levas de americanos que deixaram o país durante a insurgência contra a guerra do Vietnam e, que depois do verão de 68 e Woodstock, passaram a ser conhecidos por 'hippies".
Foram os hippies (e ex hippies) se assim se pode dizer, as pessoas que introduziram na sociedade consumista do ocidente, o culto, os conhecimentos milenares sobre as propriedade terapêuticas dos minerais, aprendidos nas peregrinações pela India, Pakistão, Tibet e Nepal.
Contou-me certa vez um desses ex-hippies e atual Gurú (talvez já também um ex-gurú), numa das feiras de Tucson, uma lenda, que dizia que as civilizações de Atlântida e Lemúria, previram no passado, que o planeta Terra seria atingido por um imenso corpo celeste, o que causaria um cataclisma, e tornaria impossível a continuação da vida no planeta. Estas civilizações utilizavam-se do quartzo como principal fonte de energia, e antes de deixarem a Terra ( para onde só Deus saberá), "plantaram" literalmente sementes de quartzo em várias partes do planeta, para que um dia, se retornassem, teriam energia para reconstituir sua civilização. O primeiro lugar que eles teriam plantado estas sementes teria sido na região da Serra do Espinhaço (Minas Gerais). Observando-se a geografia da Serra do Espinhaço, nota-se que ela tem a forma de uma espinha dorsal, no sentido norte-sul, e o maior corpo da serra (onde a serra tem a maior largura) é justamente na região de Diamantina, que está praticamente no centro deste corpo. Difícil saber o que esta coincidência significa.
As serras do Cabral (em Minas), a Chapada dos Veadeiros (Goias), a Chapada dos Guimarães (Mato Grosso) e a Chpada Diamantina (Bahia) são áreas com geografia muito semelhantes e, igualmente à Serra do Espinhaço, encontram-se nelas incidência dos mesmos minerais. Por esta consideração, os Diamantina points, são famosos no mundo inteiro no meio esotérico. São considerados os cristais mais antigos, e ao que se tem conhecimento, são os únicos que possuem a maior razão entre comprimento e largura. São encontrados geralmente soltos, a pouca profundidade da superfície, e às vezes encontrados em grupamentos (clusters).
Há muito mais nesta história por Diamantina. Nada foi tão interessante porém, quanto presenciar por três vezes, com pessoas diferentes, a presença de OVNI's na região. Jamais poderei dizer o que era, mas posso afirmar com certeza que não era nenhum tipo de aeronave conhecida. Nada do que eu conheço poderia voar tão devagar e em absoluto silêncio, com luz tão brilhante e tão próximo ao solo como aqueles objetos. Os nativos de lá da região contam que estes objetos, que para eles a aparição é corriqueira, não passam de cristais se reproduzindo no sub-solo. Sempre que um destes objetos se apaga, no local logo abaixo poderão ser encontrados muitos cristais, a baixa profundidade e de excelente qualidade.
QUARTA PARTE
No início da década de 90, o comércio de pedras, sobretudo de cristais, começou a declinar. Os motivos são variados. O principal terá sido o grande fluxo de mercadoria que inundou o mercado americano, fazendo com que os preços lá baixassem. Em contra-partida, no Brasil, os preços seguiram subindo e a procura permaneceu grande. Sem dar vazão à grande demanda, os garimpeiros se viram loucos, praticando preços cada vez maiores. Sem condição de bancar os preços, os compradores no Brasil começaram a diminuir as compras. Consequentemente os garimpeiros passaram a fazer menos negócios e diminuir sua atividade. Os garimpeiros que ganharam um bom dinheiro passaram a trabalhar na garimpagem de outras pedras, como o diamante. Outros passaram a se dedicar mais à terra e à criação de animais.
Houve um tumulto no mercado. Cada vez menos pedras, por preços cada vez mais caros, sem que o mercado internacional comprador pudesse absorver os crescentes custos.
A Crystal Ventures por sua vez, com dificuldades em comprar para vender, lançou-se na aventura do garimpo. Isto resultou na re-descoberta de um cristal na Chapada Diamantina, próximo a Rio de Contas na Bahia. Este achado nos tornou ainda mais famosos. Conhecido por "red phanton", tratava-se de um pequeno cristal, com inclusões de minério de ferro na forma de "fantons" de cor vermelha intensa, variando em vários tons do vermelho, passando pelo alaranjado até desbotar completamente no branco. Não conhecíamos nenhuma pedra que tivesse tal coloração.
A chegada ao depósito foi uma aventura. Fizemos uma parceria técnica com o garimpeiro/geólogo Don Bowlin. Americano do Arkansas, Don era de uma simplicidade absoluta. Acostumado com a vida garimpeira, com passagens pelo Mexico e várias regiões dos E.U.A., ele acabou chegando no Brasil. Podia farejar pedras debaixo da terra. Partindo de uma amostra do fanton vermelho adquirida em alguma feira no passado, este cristal teria sido casualmente introduzido no mercado pelo Sr. Vasconcelos (de Governador Valadares) na década de 70. Até então, este cristal não tinha nenhum valor por ser muito pequeno. Para nós, sua rara beleza valia qualquer sacrifício, num mercado louco por novidades. Acabamos descobrindo-o em Rio de Contas, pelas mãos de um velho garimpeiro, de nome Pedro, que na década de 70 numa incursão pela serra em busca de ouro, descobriu o fanton vermelho. Como era um quartzo muito pequeno, não servia para a industria. Trouxe uma amostra que acabou vendendo para o Sr. Vasconcelos.
Por casualidade, batemos à porta do Sr. Pedro, e quando indagado sobre o tal cristal, nos disse de imediato que sabia exatamente onde encontrar. Aquela informação nos encheu de alegria. No dia seguinte fomos de carro até um certo ponto, e de lá partimos à pé serra acima por uns 10 kms. Num cenário de beleza indescritível pela Chapada Diamantina, próximo ao Pico das Almas, chegamos ao tal depósito. Os cristais afloravam na superfície, num pequeno topete de morro, ao lado de uma cachoeira de águas tranquilas. Don rolava pelo chão de alegria, dava gargalhadas feito criança. Era uma verdadeira catarse. Eu por minha vez, via uma oportunidade comercial, não que só pensasse em dinheiro, mas tinha contas a pagar.
Em menos de uma semana voltamos ao Rio, reunimos uma equipe, equipamentos para o trabalho e acampamento. Voltando à Bahia, nos ageitamos numa caverna, onde passamos três meses garimpando o fanton vermelho. O depósito era pequeno, rendendo apenas cerca de 800 kg. O local não sofreu grande impacto, pois houve a remoção de uns 50 m3 de terra de um local para outro, cerca de 10 metros de distância. Foi uma grande experiência.
Outras experiências no garimpo valeram o tempo, mas a atividade é bastante difícil. Mão-de-obra complicada, é dificil a sintonia. Preferem trabalhar por participação nos achados. O resultado podia ser vários dias de trabalho sem que se achasse absolutamente nada, ou apenas algumas horas de trabalho para uma grande descoberta. Além do mais comerciar e garimpar ao mesmo tempo era um desafio.
A Crystal Ventures teve também algum sucesso na manufatura. Chegamos a ter uma lapidação, que entre outras pedras, polia os fanton vermelhos. Sob o comando de Scott Cooley (outro americano que só falava em pedras e acabou aparecendo pelo Brasil) a lapidação chegou a ter uns 10 funcionários e produzia cerca de 10 kg. de pedras por mes.
QUINTA PARTE
Com todas as dificuldades que a atividade foi revelando, havia uma que chamava muita atenção: os problemas sócio-ambientais advindos da atividade garimpeira. Muitos pais forçavam seus filhos a trabalhar nos garimpos. Muitos o faziam por conta própria, o que os deixava fora da escola, contribuindo muito para evasão escolar.
O garimpo de cristal praticamente não causa qualquer impacto a não ser um buraco na terra aberto manualmente, de pouca profundidade, e que a própria natureza se encarrega de cobrir com vegetação em poucos anos.
A garimpagem do diamante no entanto, é extremamente predatória, causando a destruição de pequenos e médios rios, desde sua nascente, além da vegetação ribeirinha. O resultada disso na época das chuvas, é a intensa erosão e o assoreamento do leito dos rios. O rio Jequitinhonha por exemplo, intensamente explorado, provoca problemas nas águas a muitos quilômetros rio abaixo, sem que as populações das regiões atingidas tenham tido qualquer participação na degradação ou tenham colhido quaisquer frutos com a atividade.
Isso levou o governo do estado de Minas Gerais a banir o garimpo do diamante em 1989, causando grande alvoroço nos municípios do alto Jequitinhonha. A economia desta região é delicadamente dependente desta atividade.
O que se pode afirmar porém, é que houve uma motivação muito mais política do que propriamente ambiental. À época, o Governador Newton Cardoso (PMDB) não se conformou com a adesão política ao então candidato Fernando Collor pelas lideranças do Vale. Como forma de punir o Vale pela "traição", solicitou o fechamento dos garimpos pelo IBAMA. Houve praticamente uma intervenção federal, sobretudo no município de Diamantina, com tropas do exército e um grande efetivo da Polícia Federal, lacrando as dragas etc. Nenhuma mobilização política, articulação de sindicatos de garimpeiros e o clamor da sociedade foi suficiente para fazer com que o governador voltasse em sua decisão. Quando interpelado, alegava tratar-se de uma ação federal, pela qual nada podia fazer.
Passados os primeiros impactos, a atividade foi lentamente retornando, ainda que reprimida aqui e alí. As autoridades exigiam dos garimpeiros uma peregrinação pelos órgãos de licensiamento. Para uma população semi-analfabeta, papéis, carimbos e autorizações não faziam parte de uma atividade que se fez no tempo sem a menor burocracia. A legislação - clara neste aspecto - não reconhece a atividade garimpeira como tal, quando são empregados maquinário. A garimpagem é essencialmente manual. As grandes mineradoras por sua vez, tecnicamente licensiadas, com imensas dragas no leito do rio Jequitinhonha tiveram menos problemas, e eram as que mais degradavam.
Hoje, uma lei estadual baniu definitivamente o garimpo desde a nascente do Jequitinhonha até a localidade de Mendanha. Embora ainda se possa ver algumas dragas trabalhando ilegalmente aqui e alí, isso não é nada comparado a um passado não muito distante. Eram centenas de dragas removendo o leito de córregos e rios, sem o menor controle ambiental, num verdadeiro ecossídio, sem que a população se tornasse mais ou menos rica. A miséria ainda faz do Vale sua casa.
Por outro lado, compradores de pedras nos seus países de origem, pressionados por seus compradores no varejo, queriam saber que tipo de impacto ao meio ambiente causava a garimpagem da pedras que eles compravam. Com esse tipo de demanda, comecei a me dedicar muito mais a levar compradores - entre outros interessados - para percorrer áreas de garimpos, onde colhiam imagens (vídeo e fotografia) para auxiliar no marketing lá fora. Tarefa fácil para quem já reunia o conhecimento dos locais de extração mineral aliado à infra-estrutura do turismo. Nesse ponto surge a THE QUEST, agencia de ecoturismo da qual sou um dos diretores. Entre outras regiões do Brasil, como a amazônia e o pantanal, a The Quest dedica-se ao ecoturismo e especializou-se também em áreas de garimpo.
E se isto tudo não bastasse, estou hoje a um ano e meio de formar-me em Direito, pretendendo ainda especializar-me em Direito Ambiental.
CONCLUSÃO
Esta é uma síntese de minha história (pessoal), reunindo dados históricos, comerciais e científicos, de um mercado mal compreendido, com traumas históricos desde a época da colônia. Nenhum garimpeiro, como bom mineiro, jamais traria a público informações desse gênero. Faz parte do costume. Nelas estariam engendrados aspectos de sonegação fiscal, fraudes, contrabando, descaminho e, em alguns casos, crimes contra o meio ambiente. Lamentavelmente é impossível controlar a atividade garimpeira. Ela não é parte de uma economia de "fundo de quintal". O garimpo ocorre em lugares isolados, onde a chegada é uma aventura. Controlar o que sai da terra nestes lugares é impossível. O que se pode tentar fazer, é controlar o comércio nas cidades e a exportação. O resto é impossível. Não há que se adentrar muito neste mérito por tratar-se de área sombria.
O que tem mais importância neste caso, é a posição do Brasil no contexto do mercado. Pela diversidade mineral e pela quantidade dos depósitos, o Brasil ocupa lugar de destaque no cenário mundial. No campo esotérico, nenhum país no mundo concentra qualidade de cristais como o Brasil. No estado americano do Arkansas, existem cristais de extrema qualidade, em quantidades razoáveis, mas, segundo os próprios especialistas, lhes falta a "energia". Neste campo o que se falar é questionável.
Em 1987, durante o Crystal Congress em Los Angeles na California, o Dr. Marcel Vogel, cientista da IBM, revelou que a despeito da guerra fria entre americanos e soviéticos, que se estendeu por vários anos, no campo da ciência, e em particular nas capacidades eletro-magnéticas do quarzo, americanos e russos trocavam intensa experiência. Segundo este renomado cientista, a gigante IBM havia montado um laboratório de pesquisas, com o objetivo específico de empreender experimentos com o quartzo que não possuiam respaldo na ciência, ou seja, aspectos do quartzo que ainda não se podia mensurar, mas era percebido por indivíduos mais sensíveis, entre os quais ele próprio. Revelou à platéia, que brevemente toda a parafernalha de supercomputadores, cada vez menores e mais eficientes, poderão ser substituídos por apenas um pequeno pedaço de quartzo. Havendo a sintonia necessária, que é na verdade objeto de muito estudo, qualquer pessoa poderá gravar informações num pedaço de quarzo, e retirar estas informações quando desejar. Seria o adeus às agendas eletrônicas, calculadoras e até os modernos notebooks. E se não bastasse, foi mais além dizendo que isso era apenas um passo, pois o quartzo parece apenas facilitar a capacidade que a mente humana tem em trocar informações via ondas eletro-magnéticas, e que ainda não são bem conhecidas. O quartzo neste caso funciona apenas como um facilitador. A essência disso tudo é a telepatia, ou seja, a capacidade que um ser humano tem em comunicar-se com seus semelhantes, quiçá ainda com plantas e animais. Neste ponto até o próprio cristal de quartzo também já é dispensável. Finalizando, nestes últimos anos, uma quantidade de livros foram publicados atribuindo aos minerais esta ou aquela capacidade. Terapêutica ou de auto ajuda. Difícil dizer. Na realidade, não nos cabe aprovar ou desaprovar o que se diz, já que cada um tem sua história.
Durante as feiras de Tucson, eramos procurados por pessoas que nos atribuíam capacidades extra-sensoriais; diziam que éramos divindades enviadas para difundir os cristais; insistiam que éramos os gurus que buscavam e queriam nos seguir (não sei para onde). Nossa história era essencialmente comercial e respeitávamos estas pessoas, que falavam sério. Segundo elas, ainda que não acreditássemos em suas afirmações, elas eram verdadeiras. Independente da verdade, estivemos expostos a um grande número de pessoas que se diziam isto ou aquilo. Aprendemos algumas coisas: ninguém está mentindo até que a "verdade" seja revelada. Sobre esta "verdade", acredito que só descobriremos em outros momentos de nossa existência. Aprendemos que definitivamente algo de muito poderoso existe nos cristais, e que depende de nossa sensibilidade. Se algumas das experiências que tivemos são ou não atribuídas aos cristais, talvez jamais saberemos. Não podemos afirmar. Vale nossa experiência pessoal; e nelas as COINCIDÊNCIAS.
* Evandro Bastos Sathler, nascido em Bagé- RS em 10-Agosto-61 é leonino, agente de viagens, estudante de direito, guia de turismo, ambientalista entre outras coisas.