PRÍNCIPE DE ASTÚRIAS


Principe das Astúrias


O mundo ainda estava abalado com o naufrágio do Titanic, quatro anos antes, quando ocorre em Ilhabela o maior desastre marítimo da costa brasileira. Não ficou tão famoso como seu semelhante do norte, apesar do elevado número de vítimas, até hoje sua história fantástica está envolta por uma aura de lendas e mistérios. Início da manhã de 5 de março de 1916, domingo de Carnaval de um ano bissexto. A orquestra tocava animadas marchinhas no luxuoso salão de festas, mas a maioria dos que estavam a bordo dormiam. Desde 3 horas a chuva caia forte e a cerração anulava totalmente a visão, o vento soprava de leste e o mar grosso com ondas que chacoalhavam o transatlântico de 150 metros e motores que somavam 8000 HP, orgulho da marinha mercante espanhola, que fazia a rota Barcelona - Buenos Aires, estando a poucas horas da primeira escala, em Santos. 0 experiente comandante José Lontina conhecia muito bem a região e ao se aproximar de Ilhabela ordenou que fosse diminuída a marcha e mudado o curso em direção ao alto mar. A bússola acusava a direção correta, quando um forte relâmpago clareou o céu e mostrou logo a frente a Ponta da Pirabura, um enorme rochedo em forma de navalha. 0 capitão gritou: - "É terra!", arremessando-se ao telégrafo para ordenar "Atrás, a toda força", à casa das máquinas, não conseguindo, porém, frear a nau que chocou-se ao rochedo, rasgando em 44 metros o casco de proa à popa, que adernou a bombordo (tombou para esquerda). Alguns minutos após, explodiram as duas caldeiras ao contato com a água fria e os instantes que se seguiram foram cenas de correria e desespero, de luta pela vida, de heroísmo e covardia. Homens, mulheres e crianças lançadas ao mar escuro. Sorte maior não tiveram os que permaneceram no barco, que submergiu rapidamente. Diante do desastre o capitão tomou a última decisão da sua vida: deu um tiro na cabeça, no que foi acompanhado pelo seu imediato, em prova extrema de lealdade , já que a morte, no código do mar, é a principal alternativa à humilhação e à vergonha de um naufrágio. Os números oficiais falam em 445 mortos entre os 582 passageiros e tripulantes. Nada se falou da classe dos imigrantes, que viajavam no alojamento mais baixo do navio, perto das máquinas e caldeiras, podendo acomodar no local cerca de mil pessoas. Essa rota marítima era uma das mais movimentadas dá época, trazendo europeus para "fazer a América", ou seja, trabalhar na indústria ou no campo. Relatos da época indicam que os porões estavam repletos, principalmente de judeus que fugiam da I Guerra Mundial. Alguns sobreviventes, que boiavam junto aos rolos de cortiça da carga, foram recolhidos pelo navio inglês Vega, mas a grande maioria de corpos, todos ricamente vestidos e cheios de jóias, foram parar na baia de Castelhanos, em Ilhabela e na Praia Grande em Ubatuba. Pela dificuldade de acesso, os corpos foram enterrados na própria praia ou queimados na laje, o que deu origem a uma série de lendas e mistérios. Foram ao fundo muitos milionários argentinos que voltavam da visita a parentes na Espanha, também famílias inteiras de espanhóis, italianos e principalmente judeus que vinham trazendo seus bens convertidos em valores fáceis de transportar e negociar, provavelmente barras de ouro.
A MALDIÇÃO Para quem acredita no sobrenatural, a explicação para o desastre do navio pode ser as dezoito estátuas que eram transportadas. No mínimo, coincidências estranhas cercam estas obras, que deveriam enfeitar o monumento "La Carta Magna y Ias Quatro Regiones Argentinas", doada por imigrantes espanhóis a Argentina. As estátuas, figuras humanas com 500 a 800 quilos, foram encomendadas ao artista espanhol Agostin Querol, o mais famoso da época. O escultor morreu antes de terminar o trabalho. A continuação ficou por conta de Cipriano Folgueras, que também morreu durante a execução. Como os moldes já estavam prontos, as figuras foram fundidas e embarcadas no Príncipe das Astúrias.
Acabaram sepultadas no fundo do mar junto com as vítimas do desastre.

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