Eletroforese Capilar no Seqüenciamento Automático de DNA
Para decifrar o código genético humano, os cientistas
do Projeto Genoma tiveram de enfrentar a enorme tarefa de localizar as dezenas
de milhares de genes que se encontram no DNA humano e em seguida fazer o seqüenciamento
dos cerca de 3 bilhões de pares de bases contidas nos cromosomas. Com
a tecnologia normalmente usada no início dos anos 90, essa tarefa levaria
bem mais de 10 anos, com o custo de alguns bilhões de dólares.
Foi o desenvolvimento da técnica de eletroforese capilar, combinada ao
uso de radiação laser, que permitiu acelerar o processo, uma vez
que essa técnica potencialmente é de 50 a 100 vezes mais rápida
que o método tradicional.
A técnica tradicional para seqüenciamento de DNA é o método
de Sanger, desenvolvida por Frederick Sanger, um dos ganhadores do prêmio
Nobel de Química de 1980. Esse método utiliza enzimas especiais
para sintetizar fragmentos de DNA que terminam quando uma determinada base (adenina,
citosina, guanina ou timina) aparece ao longo da seqüência. (Para
entender o básico) Esses fragmentos são, então,
selecionados por tamanho, através da técnica de eletroforese:
são colocados em uma lâmina de gel de poliacrilamida e submetidos
a um campo elétrico. Devido à carga elétrica negativa da
molécula de DNA, os fragmentos vão se movendo através do
gel na direção do eletrodo positivo. Quanto menor o fragmento,
mais rápido ele se move. Para serem identificados, os fragmentos carregam
uma marcação radioativa.
Veja as diversas etapas de um seqüenciamento
de DNA:
Um processo conhecido como clonagem de genes faz com que milhares de cópias
do DNA em estudo sejam produzidas e uma marcação radioativa ou
fluorescente é inserida em uma extremidade de uma das cadeias laterais.
Separa-se o DNA em quatro tubos de ensaio. A cada tubo se adiciona uma substância
química que destrói uma das quatro bases e dessa forma pode quebrar
a cadeia sempre que essa base aparecer. As reações são
paralisadas antes que todos os possíveis pontos de quebra sejam desdobrados,
produzindo fragmentos de diferentes tamanhos.
O DNA é removido de cada tubo e aplicado a uma camada de gel. Um campo
elétrico é usado para fazer mover o DNA através do gel.
Pedaços menores movem-se mais rapidamente que os pedaços maiores.
Depois de certo tempo, a marcação radioativa ou fluorescente aparece
como bandas distintas visíveis no gel. O padrão das bandas revela
a ordem das bases na cadeia original do DNA.
Essa técnica é bastante sensível, permitindo distinguir
um par de bases de outro par de bases. O problema é que os fragmentos
de DNA levam horas para atravessar uma lâmina de gel. É aí
que vem a vantagem da técnica de eletroforese capilar, desenvolvida principalmente
pelos cientistas Richard Mathies e Xiaohua Huang. A eletroforese capilar associa
o uso de tubos capilares cheios de gel a um sistema de varredura a laser e com
isso faz o seqüenciamento de cada um dos diferentes tipos de base existentes
em uma amostra de DNA: adenina, citosina, guanina e timina.
A eletroforese capilar reduz o tempo de migração dos framentos
de DNA substituindo a lâmina de gel por centenas de pequenos capilares
contendo gel. Esses capilares, de cerca de 100 micra de diâmetro interno,
são reunidos em só feixe para detecção automática.
Com isso, torna-se possível a aplicação de campos elétricos
mais elevados para fazer com que os fragmentos se separem mais rapidamente.
O uso de um sistema de detecção através de fluorescência
confocal, excitada por laser, torna possível a análise de mais
de um capilar de cada vez. Com a excitação e detecção
confocal (uso de mesmos focos), em que a profundidade de campo do sistema ótico
é suficientemente pequena para sondar apenas o interior de cada capilar,
obtém-se alta resolução e eficiência de detecção.
Neste novo sistema, uma guarnição de capilares é colocada
em um suporte e, sob controle computadorizado, cada capilar vai sendo submetido
à varredura do feixe de laser. Os fragmentos de DNA, marcados com corantes
de alta fluorescência, emitem fluorescência, que é filtrada
e detectada por um fotomultiplicador.
Os trabalhos de Mathies e colaboradores, publicados no início da década
de 1990, já relatavam a possibilidade de seqüenciar 10 mil pares
de bases por hora.
A técnica de seqüenciamento "shotgun", utilizada, durante
o seqüenciamento pioneiro do DNA humano, pela equipe de Craig Venter, da
empresa Celera, é um método que usa enzimas para cortar o DNA
em centenas ou milhares de pedaços aleatoriamente. Os aparelhos comuns
de seqüenciamento automático, embora mais rápidos do que
os antigos métodos "manuais", ainda decifram apenas fragmentos
relativamente curtos de DNA, com cerca de 500 bases. Os cientistas, então,
com auxílio do computador, têm que montar de novo os fragmentos
seqüenciados, pedaço por pedaço, de modo que se assemelhe
o máximo possível ao genoma original. O método "shot
gun" se aplica a fragmentos de DNA clonados que já foram mapeados,
cuja localização exata no genoma é conhecida, o que torna
sua montagem mais fácil e menos sujeita a erros.