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 O Teletrabalho  
e as Novas Tecnologias 

Uma análise detalhada dos sectores da Informática e das Telecomunicações na perspectiva do teletrabalho.  
Veja como e onde teletrabalhar. Pode a tecnologia ajudá-lo? 

«No seu escritório [em casa], Anna, participa numa conferência virtual com os seus colegas de Paris e Tóquio. Usa uns óculos de realidade virtual, ligados por infravermelhos ao seu computador. O conjunto de auscultadores e visores permite-lhe ver uma reunião virtual, com várias pessoas sentadas à volta de uma mesa. Mãos incorpóreas passam documentos que são depois armazenados no seu computador. (…) O computador de Anna está directamente ligado a uma rede de banda larga de fibra óptica, com largura de banda suficiente para suportar a sua conferência virtual. A primeira vez que participou numa conferência virtual, Anna achou que foi uma experiência estranha para o que não deve ter contribuído em pouco o facto de conseguir atravessar os colegas com a mão. Agora, no entanto, já se habituou.»  

A situação cuja descrição acabou de ler é, ainda, ficção, mas nada invalida que, dentro de poucos anos, e com o evoluir da tecnologia, não possa vir a ser verdade para muitos milhões de trabalhadores ao redor do mundo. Anna é apenas um dos muitos teletraba-lhadores que, já hoje, se beneficiam das mais recentes inovações tecnológicas que lhes permite, à distância de um simples click, «a qualquer hora e em qualquer lugar», trabalhar sem «pôr os pés» no tradicional local de trabalho, pelo menos algumas vezes por semana. A estes dá-se o nome de teletrabalhadores.   

Com efeito, «a possibilidade de realização do [teletrabalho] assenta no desenvolvimento e modernização das tecnologias, que permitem disponibilizar a informação em qualquer local onde nos encontremos e, devidamente implementadas, redefinem tarefas bem como novas formas de as executar. A  consequência imediata da utilização do sistema é a eficiência das empresas e organizações», refere Jack Nilles, o pai do teletrabalho. Também para Steve Patient, «a Internet e as Tecnologias de Informação implicam que todos os que trabalham com informação podem ser colocados em qualquer sítio onde tenham acesso à informação. E quase todo o sítio é mais barato para o patrão do que o escritório». E concretiza ainda mais esta ideia, ao referir que «o teletrabalho pode ser feito sem Internet, mas a disponibilidade simples e global da Internet e o seu baixo custo estão a acelerar o seu  crescimento. Também o PC está a ajudar, o baixo custo, o bom desempenho, uma ferramenta de informação flexível na ponta dos dedos. Permite-lhe combinar o seu ambiente de trabalho com comunicações por dados e telefónica. Onde é que não quer ir hoje? O seu PC age como modem, fax e central telefónica utilizando um simples cartão. E tudo numa só linha. Adicione acesso telefónico local à Net e obterá uma comunicação total muito em conta».   
O melhor será mesmo passar uma vista de olhos por este «novo mundo» de chips, memórias e placas que se impõe a olhos vistos.   

 

Apetite por silicone  
Apesar de Júlio Verne ter sido um visionário em muitos aspectos, se ele tivesse a possibilidade de presenciar a revolução a que se assiste hoje por todo o mundo, no que toca aos novos meios de comunicação, ficaria, por certo, sem fala. Não errarei muito se disser que as telecomunicações e a informática são, a seguir ao tráfico de armas e de drogas, o negócio que mais floresce, tal não é apetência por novos produtos.   

Também o teletrabalho se beneficia deste avanço. «Vivemos numa época de mudança com a Internet e as linhas telefónicas unindo-se numa só, enorme, flexível, global, rede digital - uma mudança quantitativa que produzirá uma mudança qualitativa na forma de trabalhar. Qualquer dia estará a ver trabalhadores itinerantes pedalando pelos montes à procura de uma boa árvore onde ganhar a vida», refere Steve Patient. Para que isso se torne possível, é preciso usar tecnologia sofísticada. «Como base de expansão do teletrabalho está a RDIS (Rede Digital de Integração de Serviços), com as suas enormes potencialidades de transmissão rápida de dados, voz e imagem. Também o uso dos telefones móveis GSM, para além da sua tradicional função como meio de comunicação de voz, complementa esta actividade.»  

As necessidades e a procura deste tipo de equipamentos é cada vez maior. É por isso que «a Europa é o maior mercado do mundo de acessórios para trabalhar em casa. Mais de 35 por cento da população activa em centros europeus exerce trabalho remoto e 33 por cento trabalham em casa a tempo inteiro ou num regime pós-laboral. Aplicações como o acesso remoto LAN, transferência de ficheiros maiores, aplicações multimedia como o “voice mail” e videoconferência e acesso a bases de dados exigem bandas de maior dimensão e custos de ligação inferiores. Instalações de RDIS mais baratas, “hardware” portátil mais potente e o “software” associado a estas operações são factores-chave no crescimento deste mercado. Na Europa, deverá crescer de cinco milhões em 1995 para 10 milhões no final de 1997. Os Estados Unidos são neste caso o mercado número dois e empresas como a Xircom já lançam produtos em primeiro lugar na Europa». Com o crescimento do teletrabalho, assistir-se-á ao aumento da procura, no mercado europeu, de pontos de acesso variável para teletrabalhadores móveis (PAV), aplicações e serviços para fornecedores de serviços de teletrabalho, sistemas portáteis com redes celulares para acessos móveis, pacotes de consultoria para empresas que desejem utilizar teletrabalhadores ou que necessitem de especificações próprias para trabalhadores deficientes.   

Eu quero um PC   
No centro de toda esta revolução está o computador. O número de lares que possuem um equipamento deste tipo aumenta, diariamente, em todo o mundo. Os industriais do ramo esfregam as mãos de contentes com as estatísticas sobre o mercado. E o que revelam? Vejamos.   

O mercado mundial de computadores pessoais (PC) registou, em 1996, um «total de unidades vendidas de 70,9 milhões, segundo a Dataquest, o que corresponde a um crescimento de 17,8 por cento. A International Data Corporation (IDC), por seu lado, afirma que o mercado não cresceu mais que 16 por cento, referentes a 68,4 milhões de PC vendidos». Somem-se estes aos já existentes, e mais aqueles que virão. Dados ainda mais recentes revelam que «as vendas de computadores pessoais cresceram 15,4 por cento a nível mundial no primeiro trimestre de 1997 (relativamente às do trimestre homólogo do ano anterior) segundo os estudos da Dataquest e 16 por cento de acordo com a IDC. Estes resultados trimestrais são um bom augúrio para o cumprimento das previsões de 19 por cento de crescimento para o mercado mundial de PC em 1997, adiantou Bill Schaub, analista-director da Dataquest».  

Pequenos, pequenos…   
Os números referentes a Portugal nada representam no bolo destas estatísticas. Se calhar, mais por motivos de poder de compra do que por desconhecimento destes «seres» ou por aversão às novas tecnologias. Muito pelo contrário, os portugueses mostram-se receptivos às inovações tecnológicas que lhes podem facilitar a vida e poupar trabalho. Veja-se o sucesso dos cartões Multibanco, do cartão de trocos PMB, da Via Verde e, mais recentemente, da praga dos telemóveis e pagers que por aí apitam desenfreadamente. Do ponto de vista tecnológico, estão reunidas as condições para muitos portugueses abraçarem o teletrabalho. «Segundo a INSAT, a base instalada recente (desde 1992 e já incluindo as estimativas até final [de 1996]) de computadores pessoais em lares deverá rondar os 250 mil. O importante para o género de actividade profissional a que nos referimos é a base instalada mais recente».   

Muito poucos, é verdade. Provavelmente ultrapassados e obsoletos, dirão os cépticos. Mas com grandes perspectivas de crescimento. Só a Hewlett Packard vendeu, no ano de 1996, no mercado nacional, mais de 32 mil computadores, de acordo com os dados da Dataquest. Também os computadores portáteis, não obstante serem ainda considerados um artigo de luxo devido ao elevado preço, apresentam boas perspectivas. «A base instalada recente de portáteis deve estar próxima dos 30 mil computadores e este número, em ano e meio, pode disparar para o dobro, segundo cálculos da IDC, complementados por dados da HP, Compaq e Dataquest.»  

Muitos mesmo, e a propagarem-se desmesuradamente, são os telemóveis. Uma novidade que encheu de brilho os olhinhos de muito boa gente que, não resistindo às campanhas de marketing intensivas e à queda abrupta dos preços, abriu os cordões à bolsa para comprar um. O resultado? Há quem avance com o número de 700 mil para caracterizar o parque de telemóveis existente em Portugal Sobre os que navegam na Internet, e a ela têm acesso, pouco se sabe. Há quem fale em cem mil internautas, mas números certos ninguém os tem, apesar de se saber que são cada vez mais os portugueses que, seja lá de onde for, acedem à rede das redes. Só a Telepac, o maior (e estatal) ISP português tem, por esta altura, quase 50 mil assinantes do Netpac, uma das modalidades de acesso à Net.  
   
Onde e como teletrabalhar   
A constante atenção dos media e a cobertura que dão à emergência da nova Sociedade de Informação, junto com profundas alterações económicas e na educação dada às gerações mais novas, têm provocado e fomentado um interesse e uma apetência maiores pela informática, telecomunicações e, por que não dizê-lo, pelo teletrabalho.   
Para Jack Nilles, «a tecnologia já não era uma barreira mesmo em 1973, mas era uma desculpa frequente da parte de potenciais telegestores para não embarcarem no teletrabalho. Agora, as pessoas estão a ficar tão familiarizadas no dia-a-dia com a interactividade electrónica que a tecnologia já é raramente mencionada como barreira. Com a Internet, as promessas de acesso vão ser tão grandes, que é bem provável que daqui a uma década ou duas o termo “teletrabalho” deixe de ter grande utilidade - será apenas a forma natural de trabalhar».   

Enquanto não chegamos até lá, há ainda muito trabalho a fazer no que toca à sensibilização de todos os sectores da sociedade. Principalmente os empresários, apesar do crescente número de empresas que tentam implantar o teletrabalho. «Hoje em dia, quando se pensa em delegações de multinacionais já se afastou a ideia de um grande número de pessoas concentradas no mesmo sítio, antes se pensa em cinco pessoas representando a multinacional, cada uma delas num país diferente. Isso é possível graças a tecnologias como a Internet, o e-mail e a videoconferência.» Este consultor acredita que a aplicação da Internet e do e-mail ao teletrabalho «tornam-no seguramente muito mais fácil. Eu próprio passo muito menos tempo ao telefone, porque passei a utilizar o e-mail que me permite trabalhar confortavelmente, a partir de Los Angeles, com alguém aqui em Portugal».   

Muitas empresas optam por colocar alguns dos seus empregados a trabalhar em casa. «Normalmente, evolui-se para uma situação em que as pessoas acabam por trabalhar em casa ou perto de casa metade do tempo, e no escritório central o resto do tempo. Acabamos por ter uma mistura de pessoas a trabalharem basicamente por si próprias, com comunicação electrónica, reservando o escritório tradicional para reuniões ao vivo. O escritório torna-se um local de encontro, mais do que o local onde se faz o verdadeiro trabalho. Faz-se a comunicação no escritório e fazem-se as outras coisas em casa.».   

Isto, por si só, constitui uma grande mudança nos hábitos e um corte radical com a forma de trabalhar, com origem na Rev. Industrial, a que estamos habituados. É por isso que muitos países optam, como um meio termo, por instalar telecentros. «A França é pioneira na criação de uma rede de telecentros, que têm como objectivo agrupar empregados de empresas de serviços e administração pública em locais próximos das suas áreas residenciais onde possam trabalhar através da utilização dos mais avançados meios tecnológicos e sempre em contacto telemático com as suas empresas». Mesmo os que continuam na empresa, ou num escritório-satélite desta, podem beneficiar-se das técnicas empregues no teletrabalho.   

«O caso mais geral é o de alguém que trabalha normalmente no seu escritório e que faz uma videoconferência com um membro da Comissão Europeia em vez de ir a Bruxelas. Muitas pessoas estão a usar a videoconferência através do computador e a Internet, por exemplo, para comunicarem umas com as outras. O correio electrónico substitui muita interacção cara-a-cara e reduz até certo ponto a quantidade de viagens que as pessoas têm de fazer de cidade para cidade, ou mesmo de uma parte da cidade para a outra. No sentido mais restrito, a maioria dos trabalhadores de escritório já são teletrabalhadores na medida em que usam telefone para falar com alguém em vez de irem ao seu encontro. Mas esta é uma forma marginal de teletrabalho…»  

Terra chama…   
É sempre delirante ouvir falar os experts destes avanços incríveis. Como se de um canto de sereia se tratasse, somos levados a esquecer muitos dos problemas com que nos confrontamos e que podem atrapalhar os planos dos impulsionadores desta nova forma de trabalhar. O próprio Jack Nilles admite que a tecnologia não é perfeita e ainda constitui um empecilho para a expansão do teletrabalho. O problema é que «nunca haverá largura de banda suficiente. É o que chamamos o “efeito via-rápida”, que já vimos tantas vezes nos EUA: constrói-se uma via-rápida, um espaço enorme e completamente livre e dois anos ou seis meses mais tarde está tão congestionada como as ou-tras. Se a capacidade estiver disponível, as pessoas usá-la-ão. A Internet é apenas um exemplo atordoante disso».   

Pior do que este, só a mudança de atitude dos gestores e empresários, que tarda em ocorrer. «A tecnologia é importante, mas o aspecto principal está em as empresas e os gestores passarem a encarar esta forma de trabalho como algo de útil e não preocupante para os seus problemas de controlo. Deverá antes existir uma atitude de adaptação aos novos tempos.»  
Quem, empresas ou cidadãos, não estiver cônscio dos referidos «novos tempos», corre o risco de ficar obsoleto e ver-se ultrapassado, numa economia digital globalizante onde não há lugar para vencidos.

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