Os dragões dominam o espaço: passado, presente e o ambicioso futuro do programa espacial chinês

 

Soldado chinês lançando

foguetes militares

Crédito: Via Chen Lan

(adaptado pelo autor)

 

 

 

 

 Passado e Presente

 

Podemos dizer que a utilização de foguetes pelo chineses começou no ano de 904 D.C. quando a cidade de Tzu T’ung estava cercada por um exército de 100.000 soldados mongóis. Os seus aterrorizados moradores esperavam o pior quando o inimigo lançou um ataque frontal devastador. O comandante de defesa da cidade, Chang Yung, ordenou o início de um contra-ataque aos mongóis com uma chuva de pedras e flechas de fogo. Não se sabe exatamente se o relato se refere a verdadeiros foguetes, movidos a pólvora negra, ou apenas flechas com panos em chamas. O fato é que os foguetes militares eram amplamente utilizados à partir do século XIII. Diversos cronistas da época mencionavam que o terrível som produzido por esses projéteis parecia sacudir o céu. O efeito do uso destes foguetes, dotados de flechas ou lanças com setas envenenadas, era tanto psicológico quando destrutivo pois estas setas tinham um alcance mutíssimo superior das que eram arremessadas pelos mais fortes guerreiros.

 

O espaçoplano americano Dynasoar (X-20)

Crédito: © Mark Wade

 

Já no século XX, entre 1935 e 1936, os primeiros passos para o programa espacial chinês foram dados quando o jovem Tsien Hsue-shen ganhou sucessivas bolsas de estudos em centros de pesquisa como MIT e CalTech. Nesta última instituição, Tsien permaneceu perto de 20 anos começando como aluno e conseguindo por fim a cadeira de professor Goddard, um título que o caracteriza como um dos mais importantes pesquisadores em ciências espaciais dos EUA Um de seus mais interessantes trabalhos desta época foi um funcional veículo transcontinental movido a propulsão-foguete. Seu foguete de 22 toneladas poderia transportar dez passageiros de Nova York a Los Angeles em 45 minutos. O lançamento do veículo ocorreria na vertical, com o funcionamento por 60 segundos do motor, que levaria a nave a uma velocidade de 14.740km/h e uma altitude de 160km. Seu pouso seria na horizontal, como um avião comum, a uma velocidade de 240km/h. Pelo pioneirismo e realismo de seu projeto, Tsien é considerado o pai do espaçoplano que é um veículo capaz de ir ao espaço e pousar com um avião comum. A materialização indireta deste projeto foi o X-20, um espaçoplano militar testado com sucesso na década de 1960. Estas naves foram as precursoras dos ônibus espaciais, amplamente utilizados pelos norte-americanos e testados pelo soviéticos e europeus.

O espaçoplano de Tsien Hsue-shen foi

baseado no estudo das V2 alemãs capturadas

no final da Segunda Guerra Mundial

Crédito: © Mark Wade.

 

 

Com a caças aos comunistas iniciada pelo senador americano Mccarthy em 1950, Tsien foi impedido de trabalhar em CalTech e nos próximos cinco anos seu destino ficou nas mãos de dois grupos da burocracia do governo americano. Uma facção do governo acreditava que ele deveria ser imediatamente deportado de volta para a China, por ser considerado como um potencial espião, e outro grupo que defendia sua permanecia nos EUA, devido ao seu grande conhecimento da tecnologia dos mísseis norte-americanos. Em setembro de 1955, Tsien foi deportado e imediatamente após sua chegada a China, foi incorporado ao programa de mísseis daquele país. Uma de suas metas foi iniciar o projeto de desenvolvimento dos futuros mísseis balísticos Dong Feng (DF-1, DF-2 e DF-3).

O início da construção do centro de lançamentos de Jiuquan, em julho de 1956, sinalizou a importância dada ao projeto pelo governo chinês. Outra importante contribuição foi dada em outubro de 1957, quando a China assinou um tratado com União Soviética para transferência de tecnologia de mísseis e bombas nucleares. Neste período foram criadas as fábricas de mísseis de Shenyang e Nancheng que se destinavam a construir veículos baseados nos desenhos fornecidos pelos técnicos soviéticos, além de projetos chineses.

Por não transferir tecnologia para confecção de bombas atômicas, dentre outros motivos, a China rompeu com a URSS em 23 de agosto de 1960. Cerca de um mês após o rompimento foi lançado de Jiuquan o primeiro míssil fabricado na China que era nada mais que uma cópia de um foguete soviético R2. Nesta mesma época, como uma forma de demostrar independência tecnológica, Tsien foi incumbido de retomar o projeto de construir veículos capazes de levar bombas atômicas a distâncias de 10.000km. O objetivo desta iniciativa visou construir a versão intercontinental do míssil Dong Feng (DF-3). Um dos primeiros êxitos ocorreu em 27 outubro de 1966, quando um DF-2 foi lançado da localidade de Shaunchengtzu, viajando 800km até Lop Nor onde uma bomba nuclear de 20Kton, alojada na ogiva do míssil, foi detonada. O primeiro lançamento bem sucedido do DF-3 ocorreu no mesmo ano e de variantes deste projeto surgiu o Longa Marcha-1 ou CZ-1, o primeiro de uma série de poderosos lançadores espaciais criados pelos chineses.

 

Corte do míssil soviético R2

Crédito: © Mark Wade.

 

 

Com o domínio do tecnologia de foguetes balísticos para o transporte de armas de destruição em massa, o programa espacial chinês começou a se voltar para o lançamento de satélites com finalidades variadas. Após alguns testes, em 24 de abril de 1970, um CZ-1 colocou em órbita o primeiro satélite chinês: o China 1 DFH ou Mao 1. Nos anos de 1974, 1975, 1976 e 1978, os chineses lançaram uma série de veículos denominados de satélites recolhíveis de teste ou Fanshui Shi Weixing que segundo analistas ocidentais, poderiam ser protótipos de um hipotética nave tripulada. Esta idéia foi confirmada em 1979 quando Jen Hsin-Min, então diretor da agência espacial chinesa, revelou que seu país estava não só trabalhando em uma cápsula espacial tripulada como também em uma estação do tipo SkyLab. Outras declarações em relação aos reais objetivos do programa espacial tripulado foram feitas em dezembro de 1980 por Wang Zhuanshan. O secretario geral da sociedade de pesquisa espacial da nova China e engenheiro chefe do centro espacial da academia chinesa de ciências declarou que o lançamento e recolhimento de astronautas já não era mais um problema mas que esta deveria ser deixada para outro momento em função do seu elevado custo. Wang foi formalmente desmentido em janeiro do ano seguinte, quando o governo chinês liberou imagens de astronautas em treinamento e de um foguete civil da série Feng Bao (vento forte ou tempestade) provavelmente destinado a lançar uma nave tripulada.

Estes desencontros de informações eram a materialização do caos instalado após a revolução cultural de Mao, que atingiu duramente a sociedade chinesa e consequentemente as fábricas de foguetes. Os diversos fracassos com o lançador Feng Bao levaram a rumores que os chineses poderiam ter perdido seu primeiro astronauta.

 

 

 

Recolhimento de uma FSW não identificada

 

 

Desde o final dos anos de 1970, a idéia do vôo tripulado tinha sido deixada em um segundo plano até 1984, quando por parte de uma iniciativa diplomática, o presidente Reagan propôs que o vôo do primeiro astronauta chinês poderia ocorrer em um ônibus espacial. Em 1986, o jornal Diário do Povo divulgou que tinha sido reiniciada a seleção e treinamento de astronautas, mesmo ainda prevalecendo a idéia que o projeto tinha custos muito elevados. Apesar da aparente incongruência, neste período os chineses lançaram diversos satélites recolhíveis com a intenção de testar os equipamentos a serem usadas em sua nave tripulada, além de realizar experiências em um ambiente de microgravidade e reconhecimentos fotográficos.

Eventos de grande relevância para a astronáutica chinesa ocorreram em 1990, quando lançadores CZ-3 colocaram em órbitas geoestacionárias, os primeiros satélites de comunicações: o China 26 e o comercial de Hong Kong Asiasat-1. Este lançamento mostrou a confiabilidade do foguetes chineses e a após o lançamento da inovadora FSW # 13, a agência oficial de notícias Xinhua informou que este feito era de grande significado para a expansão da exploração científica e experimentação tecnológica da China, bem como para o desenvolvimento da tecnologia para transportar pessoas ao espaço.

O fracasso do FSW # 15 poderia ser outro fato sem importância, frente aos inúmeros sucessos desta série de naves, porém o curioso foi a carga útil levada por este satélite de 1993: 1000 selos numerados, cartões de crédito, 194 cartões telefônicos (que seriam disponibilizados a colecionadores japoneses) e 235 itens pessoais como ornamentos preciosos e pins de diamante com a face de Mao.

Um fato lamentável ocorreu em 1995, com a destruição do foguete CZ-2E, que carregava o satélite Apstar-2. Os fragmentos do veículo caíram em uma vila próxima a base de lançamentos de Xichang, matando 20 e ferindo 120 pessoas.

A experiência adquirida com o lançamento de foguetes Longa Marcha e satélites recolhíveis capacitou os técnicos chineses a retornarem um projeto iniciado em 1978, o 921. O projeto 921 é a síntese dos resultados obtidos com os FSW e a parceria feita com a Rússia nos anos da década de 1990.

 

O 921-1 (esquerda) é a versão do projeto 921 que incorpora a cápsula e outros componentes fabricados na Rússia. A nave soviética Soyuz A de 1962, (direita) possui um módulo acoplado à capsula e foi concebida para uso em missões circunlunares

Crédito: © Simon Zajc (esquerda)

 

 

 

A nave idealizada para o projeto 921 tem um design e dimensões muito semelhantes que a Soyuz A de 1962. A principal diferença entre os veículos esta na existência de um grande conjunto de células solares que são capazes de gerar cerca de 1,5kW de energia elétrica. Esta potência é pelo menos três vezes superior a gerada pela Soyuz e maior que a do módulo principal da estação russa Mir. Outra característica desta nave é sua divisão em três partes: módulo orbital, cápsula e módulo de serviço. O módulo de serviço é a parte da nave onde ficam as baterias e os propulsores para manobras orbitais. A cápsula é a região da nave destinada a alojar os astronautas ou equipamentos científicos que retornarão a Terra e o módulo orbital é uma parte da nave que pode permanecer em órbita para realização de tarefas variadas. O primeiro vôo do projeto 921-1, batizado pelo presidente Jiang Zemin de Shenzhou (Navio dos Deuses, Nave Divina ou Mecanismo Divino ), teve seu início as 6:30 da manhã, hora de Pequim do dia 20 de Novembro de 1999 (19/11/1999 22:30 Tempo Universal, TU). Depois do lancamento de Jiuquan, a nave se separou de seu veículo lançador aproximadamente dez minutos depois da decolagem. A espaçonave foi colocada em uma órbita de 196.3km x 324.4km e a uma inclinação de 42,6 graus em relação ao equador. Outros dois objetos (último estágio do foguete e fragmentos) foram também detectados em órbitas próximas por estações terrestres. A Shenzhou foi controlada à partir do novo centro de controle e direção aeroespacial e que pelas imagens liberadas, sugerem que este vôo foi controlado à partir de um centro de alta sofisticação tecnológica. Analises feitas da trajetória da nave indicaram que não houveram tentativas de manobras e que, por uma razão não revelada, os painéis solares não foram estendidos. As 18:49 TU, o navio de acompanhamento Yuanwang-3, ancorado na costa da Namíbia, recebeu os sinais da Shenzhou e enviou um comando para acionar os retrofoguetes para saída de órbita. A espaçonave saiu do alcance do navio após nove minutos quando a nave passou sobre a África, indo em direção da costa da península arábica, Paquistão, e finalmente reentrado na atmosfera no Tibet. Após a reentrada, um pára-quedas foi liberado a uma altitude de 30km e a cerca de 1,5 m sobre o solo, os foguetes da cápsula dispararam para amenizar o choque. A capsula pousou em 41 graus N, 105 graus E, (415 km de distância de sua plataforma de lançamento e 110 km noroeste Wuhai, Mongólia Inferior), as 3:41 da manhã de 21 de novembro, hora de Pequim (20 de novembro 19:41 TU). A espaçonave completou 14 órbitas sobre a Terra em 21 horas e 11 minutos.

 

 

Lançamento da Shenzhou-2

Crédito: Via Chen Lan

 

 

 

O segundo vôo da série Shenzhou ocorreu em 10 de janeiro de 2001. A nave foi lançada às 01:00:03, hora de Pequim, recebendo a designação internacional 2001-001. Dez minutos depois do lançamento, a Shenzhou 2 se separou do segundo estágio do lançador CZ-2F entrando em uma órbita de 197km x 335km e com uma inclinação de 42.58 graus. Diversos relatos de observações da nave foram divulgados pela Internet: Paul Maley de Houston (Texas, EUA) mencionou que conseguiu ver a nave usando binóculos, cerca de seis horas e meia depois do lançamento. A estimativa feita por este observador era que esta apresentava uma magnitude entre 2 e 3.5. Perfeitamente visível a olho nu. Com a nave em órbita, a impressa chinesa começou a chamar a Shenzhou 2 de primeira nave não tripulada, se comparada com a Shenzhou-1 que era uma espaçonave experimental. Esta diferença foi atribuída ao fato da Shenzhou-2 estar equipada com grande maioria dos sistemas operacionais de uma nave que transportaria astronautas. Em 11 de janeiro, o comando espacial dos Estados Unidos (USSPACECOM) reportou que Shenzhou 2 tinha passado para uma órbita com perigeo mais elevado (329km) e que mais manobras poderiam ser esperadas. Neste mesmo dia, as autoridades chineses divulgaram que a nave não estava executado apenas um vôo de testes mas também diversas experiências e observações científicas. O número de experimentos anunciados era de 64 dos quais, 15 estavam dentro da cápsula, 12 no módulo orbital e 37 instalados em um segmento anexo ao casco da nave. A carga útil incluía equipamentos destinados a ensaios com microgravidade, como o crescimento de cristais; experiências com 19 espécies de animais e plantas, detetores de raios cósmicos, etc. Devido a enorme complexidade e número de tarefas executadas, esta missão foi considerada a mais importante na história da astronáutica chinesa. Após 6 dias 18 horas e 21 minutos, a cápsula retornou a Terra no dia 16 de janeiro às 19:22 hora de Pequim (11:22 TU) pousando na Mongólia Inferior. Boatos posteriores ao pouso foram lançados em relação a integridade da cápsula devido a não liberação de imagens ou informes. Este rumores foram desmentidos pelas autoridades chinesas, em 02 de fevereiro, com um curto não aconteceu nada de errado.

 

 

 

Recolhimento da cápsula da Shenzhou-2

Crédito: Via Chen Lan

 

 

 

Segundo estimativas não oficiais, o módulo orbital permanecera em órbita por seis meses o que também pode ser sugerido com pela elevação de sua órbita para 388km x 404 km. Declarações de 21 de janeiro feitas por Wang Yongzhi, membro da academia de ciências da China, revelaram que os testes feitos com a Shenzhou–2 e o módulo orbital constituíam-se na primeira fase de um projeto que visa construi uma estação espacial (projeto 921-2). A primeira fase seria o domínio da técnica do vôo espacial que seria completada com o uso da Shenzhou em uma missão tripulada. Atividades de astronautas fora da nave (EVA) com a construção de um laboratório orbital e a técnica de acoplamentos entre veículos seriam as metas seguintes. A fase final é a construção de uma estação espacial de grande porte.

 

 

Se a China se tornar o terceiro país a mandar homens para o espaço, qual seria o nome mais adequado chamar os tripulantes de suas espaçonaves ? Astronauta, como o termo criado pelos norte-americanos, ou cosmonauta, conforme usado pelos soviéticos e atuais russos? Um sugestão para este impasse foi dada em 1998 por Chiew Lee Yih. Ele propôs usar a palavra chinesa Taikong, que significa espaço ou cosmos, para criar o sufixo taiko que é similar em significado a astro e cosmo. Com uso de taiko + nauta criamos a palavra taikonauta. Por outro lado, se retirarmos o g de Taikong, obtemos Taikon, que tem uma pronúncia mais fácil e próxima da palavra Taikon ren que significa homem espacial.

 

Futuro

Estação Espacial

 

Modelo de uma futura estação espacial chinesa apresentada na feira de Hanôver

Crédito: © Mark Wade

 

O primeiro modelo da planejada estação espacial 921-2 foi mostrada na Expo 2000 de Hanôver. Este modelo foi montado à partir de módulo parecido ao módulo orbital da Shenzhou. A peça em exibição era formada de:

 

 

 

Em abril de 1992, as lideranças chinesas decidiram que um programa espacial tripulado poderia ser levado a diante. O conselho de estado determinou que uma nave tripulada deveria ser lançada no novo milênio para estabelecer a posição da China como um das grandes potências mundiais. O programa espacial nacional tripulado chinês recebeu o nome de projeto 921 e a sua parte inicial, o 921-1, deveria ser uma nave tripulada com primeiro vôo programado para outubro de 1999. O segundo estágio, 921-2, seria a de uma estação espacial tripulada. O terceiro, 921-3, seria um moderno sistema de transporte de passageiros e carga da Terra ao espaço, usando um veículo alado, com previsão para estar operacional em 2020.

Para lançar as espaçonaves 921-1 e 921-2 , um novo foguete movido a oxigênio e querosene foi proposto. O uso destas duas substâncias eliminaria a utilização dos combustíveis tóxicos comuns nos lançadores da série CZ-2. Outra sugestão apresentada foi usar um aglomerado de pequenos foguetes idênticos como primeiro estágio (lançador Tipo C) que possibilitaria colocar em órbita cargas úteis muito massudas, como um laboratório orbital.

O projeto original do módulo principal da estação espacial 921-2 teria uma massa total de 20 toneladas, um comprimento de 15 m e diâmetro de 4.2 m. O módulo estaria equipado com 5 portas para acoplagem de novos módulos de uma maneira muito parecida que a usada na Mir. Este recurso pode ser empregado para criar um complexo espacial de dimensões consideráveis. Os painéis solares da estação planejada teriam um comprimento de 22 metros.

 

Espaçoplano

 

Modelo do espaçoplano chinês na feira de Hanôver de 2000. Sua forma lembra muito o cancelado veículo europeu Hermes

Crédito: © Mark Wade

 

 

O primeiro modelo do espaçoplano tripulado 921-3 foi mostrado na Expo 2000. Este modelo mostra um veículo alado, em forma de delta, com um estabilizador vertical único e equipado com três grandes motores. Baseado neste modelo e presumindo que esta comporte dois tripulantes, lado a lado, as dimensões do veículo seriam de 8 m de asa a asa e um comprimento de 12 m. A massa total da nave seria de 12 toneladas, o que estaria dentro das capacidades dos lançadores CZ-2E(A) ou Tipo A.

 

Da esquerda para direita, veículos existentes para uso no programa tripulado chinês (CZ-2F e CZ-2E(A)) e propostos (Tipos A e C).

Crédito: © Mark Wade

 

Algumas fotografias liberadas a impressa, no começo dos anos de 1980, sugeriram que sua forma afinada foi profundamente inspirada no X-20 norte-americano. Outras imagens, mais recentes, geradas em simulações computadorizadas, mostram o fluxo de ar passando por um veículo com um asa em duplo delta. O veículo destas imagens tem uma forma muito semelhante ao ônibus espacial americano, mas sem a cauda. Este concepção é bem próxima ao modelo mostrado em Hanôver, exceto por ser equipado com um estabilizador vertical similar a do espaçoplano russo BOR-4.

 

Chineses na Lua

 

 

Chineses passeiam de rover na superfície lunar da Expo 2000

Crédito: © Mark Wade

 

Com a esperada obtenção dos objetivos do programa 921, em 2000, cientistas chineses começaram a discutir planos ambiciosos como a construção de uma base lunar. Em Hanôver, como peça central do pavilhão chinês, foram colocados dois astronautas (ou taikonautas!) afixando a bandeira da República Popular na superfície lunar. Em 4 de outubro de 2000, a Associated Press noticiou que Zhuang Fenggan, vice diretor da associação chinesa de ciências declarou que um dia, os chineses poderiam criar um base permanente na Lua com a intenção minerar o solo em busca de He-3 (destinado a abastecer as futuras usinas de fusão nuclear terrestres). Esta idéias podem se tratar muito mais de sonhos de acadêmicos do que um programa fundamentado, mas sinalizam o que poderemos esperar do século XXI.

 

 

 

Uma concepção da nave lunar chinesa

Crédito: © Mark Wade

 

 

 

 

Brasil-China: uma parceria que dá samba

 

Logotipo do projeto CBERS

Crédito: INPE

 

 

 

O domínio da tecnologia espacial possibilitou aos chineses a capacidade de desenvolver satélites de maior requinte como os meteorológicos (Feng Yun 1C) e os de estudos geofísicos (Shi Jian 5). Entretanto, a necessidade de capacitação nacional nas áreas de sensoriamento remoto, meteorologia por satélites e componentes eletrônicos fez com que a China procura-se parceiro(s) para o desenvolvimento de satélites mais sofisticados. O resultado deste anseio mútuo é projeto CBERS (China-Brazil Earth Research Satellite) que é a parceria entre a China e o Brasil na área espacial. Esta parceria provem das necessidades comuns de desenvolvimento dos dois países que possuem similaridade geográficas, econômicas e de políticas para ciência e tecnologia. Paralelo a isto, a cooperação entre os dois países apresentava-se como um esforço no sentido de romper o bloqueio erguido pelas nações desenvolvidas à transferência de tecnologias avançadas ou simplesmente classificadas como sensíveis.

Satélites empregados para sensoriamento remoto são no geral complexos, dispendiosos e elevado conteúdo tecnológico. Muitos países necessitam de imagens obtidas por estes satélites que, entretanto, não atendem inteiramente suas necessidades devido as particularidades de seus terrenos bem como dos recursos naturais investigados.

A criação de um satélite dotado de sensores desenhados especificamente para as necessidades comuns dos dois países é de vital importância. Com as imagens fornecidas pelo CBERS, Brasil e China podem gerenciar de forma mais eficiente seus recursos florestais, minerais e hidráulicos, além criação de um moderno sistema de monitoramento ambiental.

 

 

 

CBERS-1

Crédito: INPE

 

Esta parceria se iniciou em julho de 1988, quando o presidente José Sarney, em visita oficial a China, assinou um acordo para desenvolvimento de dois satélites avançados de sensoriamento remoto. Na China, a implementação do programa CBERS ficou a cargo da CAST (Chinese Academy of Space Technology) e no Brasil pelo INPE. O programa foi orçado inicialmente em 150 milhões de dólares dos quais o Brasil deveria participar com 30% do investimento total. O acordo previu a construção de dois satélites idênticos (100 milhões) e seus respectivos lançamento através de veículos da série longa marcha 4 a partir da base de Taiyuan.

Preocupado com a participação da industria nacional no projeto, o Brasil introduziu no contrato, uma clausula que obriga que todos os recursos financeiros brasileiros deveriam ser revertidos na compra de produtos de nosso país. Outra preocupação levantada foi o controle dos satélites em órbita e a integração e testes de um dos modelos no Brasil em vista da insegurança do parceiro, principalmente em relação ao primeiro tema, por esta tarefa ser de responsabilidade da esfera militar daquele pais. Em função destes impasses, foram citados no acordo os anseios brasileiros para uma futura discussão e resolução destes pontos. Em relação a fabricação das partes do satélite coube ao Brasil construir as estruturas mecânicas, todos os equipamentos para o sistema de geração de energia (como os painéis solares), uma câmara para obtenção de imagens em grande campo (Wide Field Imager, WFI), sugerida pelo Brasil em função de sua utilização nos satélites de nosso programa espacial, e os sistemas de comunicações e coleta de dados de bordo. Os chineses se responsabilizaram pelos outros componentes, como computadores e transmissores de microondas que, entretanto, foram passados para empresas brasileiras.

 

 

Depois do início das atividades do projeto seguiram-se anos de dificuldades do lado brasileiro devido a problemas de ordem política. Durante este período negro, registraram-se várias tentativas de resolução da questão do controle e rastreio do satélite e integração e teste do segundo modelo de vôo no INPE. Com a estabilização do pais, após o impedimento do presidente da república em 1992, um quadro propício foi criado para a retomada do projeto, com a esperada resolução de todas as pendências e contratação de empresas para o desenvolvimento dos componentes sob responsabilidade brasileira. O apoio dado ao programa CBERS pelo governo brasileiro nos últimos anos, com sua elevação para a categoria de estratégico de prioridade, permitiu que se projetasse o lançamento do satélite para o final de 1999. Devido a introdução de novos componentes como a WFI e tarefas com integração e testes do segundo modelo, além de controle e rastreio, o valor da contribuição brasileira passou para 100 milhões de dólares. Com a influência de problemas parecidos no lado de nosso parceiro, os investimentos do lado chinês podem ter sido aumentados em pelo menos 70%.

Em 14 de outubro de 1999 ocorreu o lançamento do CBERS-1, utilizando-se o foguete Longa Marcha 4B, a partir de Taiyuan.

 

 

Lançamento do CBERS-1 e do SACI-1

Crédito: INPE

 

 

Cumprido todas as fases de ajuste orbital, a abertura dos painéis solares, testes pormenorizados de subsistemas e calibração de suas três câmaras - CCD, IRMSS e WFI, o satélite foi considerado operacional.

 

Imagem da região de Itaipu obtida com a câmara WFI em 21 de outubro de1999

Crédito: INPE

 

 

Depois de terminada a fase de teste de suas câmaras, o CBERS-2 esta agora na fase de montagem, integração e testes no Laboratório de Integração e Testes do INPE. Seu lançamento esta previsto para outubro de 2001.

 

A atual órbita do CBERS-1 (época 06:19:35 de 03/02/2001 TUC), com 773 x 774 km e inclinação de 98.5° em relação ao equador, faz com que sobrevoe a Terra 14,35 vezes por dia. Isto possibilita alta resolução temporal das imagens obtidas de uma dada região. Esta característica permite acompanhar, por exemplo, a evolução de incêndios florestais.

Crédito: © Chris Peat

 

 

 

Dada a importância dada ao projeto pelos dois parceiros, durante a visita do presidente Fernando Henrique a China, em dezembro de 1995, ficou acertada a construção de mais dois satélites da série CBERS,. Estes novos satélites terão agora uma participação igual das partes e maior precisão das imagens. Estudasse também a extensão de um acordo aos moldes do projeto CBERS para a construção de satélites de telecomunicações geoestacionários e meteorológicos.

 

 

Referências

Lan, V.C.: 2001, in Go Taikonauts! An Chinese Unofficial Space Website, (http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Launchpad/1921/)

Peat, C.: 2000, in Welcome to Heavens Above, (http://www.heavens-above.com)

Santana, J. R. C.: ???? in CBERS – China Brazil Earth Research Satellite, (http://www.inpe.br/programas/cbers/portugues/index.html)

Tylor, J.W.R.: 1970 in Foguetes e Mísseis, Edições Melhoramentos, Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, p.4

Wade, M.: 2000, in Encyclopedia Astronautica, (http://www.friends-partners.org/~mwade/index.htm)