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Shervin Yeman,
da Frente de Libertação Nacional do Curdistão,
19 anos, membro da «Mulheres Livres do Curdistão»

«Se nos unirmos, conseguiremos a nossa liberdade»

Avante! Como é a situação dos curdos na Turquia, Iraque, Irão e Síria?

Shervin Yeman O povo curdo vive há mais de 80 anos sob repressão. Em 1639, o Curdistão foi dividido pelo império otomano e pelo império persa. Mais tarde, entre as guerras mundiais, o Curdistão foi separado em quatro partes, o que quer dizer que estamos ocupados por quatro potências. Não se trata apenas de uma ocupação de potências imperialistas, como a do Estado turco e dos seus aliados na Nato. Há uma ocupação da religião muçulmana, porque a maioria dos curdos são zaratrustos. A entrada dos ocupantes mudou tudo, toda a cultura curda. Querem eliminar o povo curdo como identidade e como nação.
Actualmente, o nosso grande problema é no Curdistão da Turquia com o fascismo turco. Não há um governo turco, é falso quando se fala de um governo. Na Turquia o poder está nos militares e não no Governo. Um Estado deste tipo só pode praticar o terrorismo. É isso que acontece: o genocídio dos povos, o genocídio do povo curdo.
A situação é muito má. Vou dar-te dois pequenos exemplos: andar com um lenço amarelo e vermelho - as cores do Curdistão - dá direito a três anos de prisão, pronunciar uma palavra em curdo a mais de cinco anos.

Quais as consequências da prisão de Oçalän, o líder do PKK, para o movimento?

— É difícil dizer se Oçalän está bem ou mal, mas estando na mão da Turquia estamos certos que estará muito mal. Nem sequer os advogados o podem ver. Negaram-lhe todos os direitos básicos. Ele nem pode falar ou pedir alguma coisa. Estão a torturá-lo através de drogas, querem destruir a sua mente.
A Turquia, quando prendeu Oçalän, pensava que ia acabar com o comunismo e com o povo curdo, mas o resultado foi exactamente o contrário. Pensavam que prendiam Oçalän, que havia manifestações durante dois ou três dias e que tudo caia no esquecimento logo a seguir. Não foi isso que aconteceu, porque antes de prenderam Oçalän havia menos de 20 milhões de curdos a apoiarem-no e agora mais de 35 milhões - e somos 40 milhões - manifestaram-se a seu favor, inclusivamente os curdos que estavam até então contra ele e aqueles que nunca se sentiram sensibilizados para o problema do Curdistão. Todos se manifestaram a favor de Oçalän, o que significa o contrário do que a Turquia pensava que ia acontecer, significa a união do povo curdo.
O plano da Turquia era matar Oçalän o mais depressa possível, mas ainda não o fizeram até hoje porque têm medo de o converter num herói, num mártir, num Che Guevara para o Médio Oriente. É por isso que ele ainda está vivo, mas claro torturam-no, vão destruindo-o através de drogas e medicamentos.

Quais as perspectivas de futuro para os curdos?

— É difícil, porque estamos ocupados por quatro grandes países. O que pensamos fazer como Partido, como jovens, como mulheres é continuar a lutar.
Oçalän abriu um caminho, o caminho que nós procuramos. Nós todos somos Oçalän. Pode ter sido preso um Oçalän, mas há mais 40 milhões de «Oçaläns». Podem acabar com um, mas não com todos. Aliás, podem destruir fisicamente Oçalän como fizeram com Che Guevara, mas ele continuará vivo.
A pouco e pouco o povo curdo está-se a unir e, como disse Oçalän, se nos unirmos, conseguiremos a nossa liberdade.

Quais os principais problemas e reivindicações dos jovens curdos?

— Nós não temos escolas onde possamos ensinar e aprender a cultura curda. Vivemos em países que nos ocupam, países que têm uma política de assimilação. Vivemos na Turquia como turcos, mas turcos de segunda classe. Estamos no Irão como iranianos, na Europa como europeus, e nunca como curdos.
É muito difícil que um jovem curdo seja educado como curdo, mas graças à revolução curda que está em marcha nós trabalhamos com a juventude. A organização da juventude curda promove encontros e congressos e publica livros que permitem estudar. Podemos até chamar à nossa organização o nosso pequeno Estado, porque temos tudo... e não temos nada.

 

Avante, 15 de Abril de 1999