RÁDIO FALINTIL

         

radiofalintil6.jpg (41266 bytes) As FALINTIL armadas com CD, e não com armas, enquanto os jovens falam de modo de vida e cartas de amor
Por Hamish McDonald

Em Fevereiro, o legendário exército de guerrilha FALINTIL, acrónimo de Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste, deixará de existir, e alguns dos combatentes activos serão integrados no novo exército que está a ser constituído para a nação emergente.

Os velhos combatentes, com os pulmões afectados por longos anos de permanência nas montanhas envoltas em bruma e com buracos de balas no corpo visíveis ao raio X, poderão trabalhar numa nova empresa de distribuição de combustível.

Mas o nome das FALINTIL permanece. Se forem a Díli, sintonizem a onda 88.1 FM e ouvirão uma emissão da Rádio Falintil, uma mistura de rock leve e hard, intercalado com um programa em que se fala de modos de vida orientado por jovens anfitriãs.

A meia-noite de sábado mostra que a luta armada acabou e que os jovens que em tempos arriscaram a vida na resistência contra a ocupação indonésia têm agora preocupações mais pessoais.

É o momento em que Lígia "Merry" Guterres, de 23 anos, e Madalena "Nica" Araújo, de 25, vão para o ar e lêem uma selecção de cartas de amor enviadas pelos ouvintes num programa chamado Memórias. Posters com a foto do líder Xanana Gusmão, do ex-dirigente das Falintil Nicolau Lobato e dos Metallica ornamentam as paredes pintadas de branco do simples estúdio da Rádio Falintil, em Díli. Junto à janela ronca um velho aparelho de ar condicionado, que de vez em quando faz um barulho arrastado quando a corrente falta.Merry formou-se em Surabaya para trabalhar num Banco, mas dedica-se agora à tradução na Unidade de Crimes Graves da polícia das Nações Unidas, que trata dos delitos de homicídio e violação. Nica dirige a sua própria empresa de pessoal da construção civil nesta cidade devastada.

Esta noite, Merry pega numa carta intitulada "Kisah sedih dalam hidupku" (um capítulo triste da minha vida), decorada com um coração e assinada por "alguém cujo nome começa por H". Merry lê a carta com uma voz suave, enquanto o técnico de estúdio Jo Gusmão, sobrinho de Xanana, passa excertos da peça de Kenny G para clarinete "For Everyone". Muitas das cartas são escritas em indonésio, a língua dos jovens escolarizados em Timor, e provêm de raparigas e por vezes de rapazes com 17-18 anos de idade, diz o locutor. Falam de disputas e rupturas. Algumas são nitidamente de grupo, possivelmente de sessões divertidas de audição de programas de rádio quando os pais estão ausentes.

Por vezes algumas falam de problemas mais sérios, tais como gravidez não programada, conflitos familiares ou violência. "Mas isto é outro programa", diz Nica.

Sydney Morning Herald  (20.01.2001)        
Tradução do FAF              

Fotos oferecidas pela delegação da APLS - Associação Portugal Loro Sae que visitou Timor em Abril/Maio de 2001. Copyright FAF

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