Aguirre
Delfos, Tessália. 04-01-1995.
Estimada Andaluz.
Foi então que vi o local.
Feriu-me a razão, jogou por terra minha fortaleza, tornando qualquer
manifestação do meu pensamento cartesiano parecer um aglomerado
de idéias difusas, sem nexo, tentando, em vão, provar à
minha consciência que aquilo que presenciava era ilusão e
aquilo que sentia ... eram ... sentimentos que à muito pensava haver
abandonado. Neste exato instante ainda me pergunto se tudo não passou
da minha imaginação. No entanto a própria lógica
dos acontecimentos e o teor das revelações me fazem acreditar
que não foi um delírio. O sol a pouco nos abandonara partindo
em sua busca, a brisa se fazia perceber, e a solidão era plena.
Sentei, contemplei, e sem saber porque , chorei. Perdido em mim mesmo e
em sentimentos indecifráveis o mundo deixou de ter algum significado
e eu passei a apreciá-lo com olhos passivos, e não mais como
um integrante, mas como um atento expectador. O mundo se revelava ... Entorpecido,
não percebi que ao meu lado( Incrível, não sei nem
quanto tempo ele ficou lá sem que eu o percebece ) de pé
estava um velho, de visão compenetrada no Oráculo. Em momento
algum ele se manifestou, até que o percebi. Assustado, fitei aquela
face envelhecida. Tive medo. O ancião não desviou o olhar
do Oráculo, nem mesmo quando me levantei. Minha vontade era de sumir,
controlei-me e perguntei: " Quem é você ? " Inalterado, retornou-me
ainda sem desviar o olhar: " Eu sou o que deve acontecer, queira ou não.
Meu domínio é o dos atos consequências e caminhos."
" Que merda de loucura é essa? " " A loucura é apenas uma
das faces da humanidade, embora essas faces também se adequem perfeitamente
aos seus. Mas não é sobre loucura que falaremos aqui, nem
sobre sonhos. Falaremos sobre Caminhos." A essa altura já me encontrava
completamente transtornado. " O livro deve ser encontrado. Manuscrito com
o sangue de centenas dos da outra espécie, se encontra onde deve
ser encontrado. Onde você quer encontrá-lo. Onde nunca pensou
encontrá-lo. E onde você vai encontrá-lo." Permaneci
imóvel . Ele era Humano, porra! Aquilo não fazia sentido.
Nada ali parecia fazer sentido. " E isso é tudo." Como que saído
de um transe, coloquei-me à sua frente e fitei seus olhos. Andaluz,
ele não tinha olhos. Não conseguia concatenar o pensamesto
então tudo se fechou em trevas. Eu queria matá-lo. Nenhuma
palavra mencionei, nenhum movimento realizei, apenas o meu pensamento ...
E nesse exato momento ele disse: " Não você não fará
isso, não aqui, não agora. Basta, tome seu caminho, já
sabes o suficiente e o necessário. Vá! " E eu, sem saber
porque, e sem hesitar, fui. Estou com muito medo. Saudações,
Hector.
Cadiz, Espanha. 02-02-95
Amada Andaluz
Arrastado todo este tempo,
desde minha visita à Delfos, pela necessidade de resposta, e acompanhado
da incapacidade de resolver o enigma, minha existência havia se tornado
um inferno. Devo admitir que por minha própria incapacidade. Não
obstante, tenho passado noites inteiras mergulhado em minha mente sem criatividade
no intuito de descobrir o teor das revelações a mim conferidas...
NADA !!! No entanto, apesar da imaginação tê-lo feito,
a sorte e o acaso não haviam me deixado. Encontrava-me na biblioteca
municipal, como era de se esperar, e fitava as prateleiras de livros que
a muito se encontravam empoeirados. No mesmo corredor uma moça retirava
um livro de capa vermelha com detalhes em dourado que me chamou a atenção.
O livro era novo, e muito bem cuidado. Completamente diferente dos livros
daquela ala da biblioteca. Discretamente segui a moça, e sentei-me
próximo a ela na mesa de estudos. Fingia estudar um compêndium
de filosofia alemã, enquanto não estava a identificar o que
a moça tinha em mãos. Aquilo que havia começado como
brincadeira já estava me fascinando. Eu estava adorando o jogo,
parecia tirar-me um pouco do peso por não conseguir pistas sobre
o que procurava. A menina folheava um atlas da história da cartografia.
Quando o interesse pelo jogo ja estava pelo fim, um determinado mapa me
espantou. Era um mapa do novo mundo recém descoberto. Não
era qualquer mapa, tratava-se do mapa esculpido em pedra pelos próprios
Astecas. Era o mapa que tens em sua casa, o mapa da sala de seu pai. Impossível
ele estar ali, naquele livro, naquela biblioteca. Ninguém conhece
esse mapa. Algo muito estranho estava ocorrendo. A moça recolheu
o livro, deixou livremente a biblioteca com o próprio em mãos,
apesar de tê-lo apresentado ao segurança e foi para casa.
Eu a segui. Foi fácil entrar no apartamento. Tão logo chegou
debruçou-se sobre o livro. Concentrava-se exatamente no mapa Asteca.
Durante quase uma hora ela o estudou e fez anotações. Levantou-se
e se dirigiu a um outro cômodo da casa, a cozinha, talvez. Agi. Recolhi
as anotações e o livro. Estou em casa agora, e acabo de ler
os rascunhos e examinar o livro. Acredito ter desvendado o mistério.
No entanto as coisas não parecem tão simples assim. O mapa
era realmente igual ao da parede da casa de seu pai, e sobre isso não
restam dúvidas. A única diferença são as inscrições
em Asteca que rodeiam o mapa e não existem na parede. O estranho
era que o mapa não fazia parte do livro. O que estava escrito nas
anotações da moça também era muitíssimo
esquisito. "" São revelações que merecem permanecer
ocultas." Diz a primeira inscrição." "" Onde o Yucatán
desenterra seu segredo, aquilo que deveria permanecer intocado será
encontrado." A segunda." "" Para a desgraça dos malditos idólatras
do sangue. Espécie imunda que infecta o mundo." É o que está
escrito na terceira." " Devo admitir que foi bastante engenhoso, não
me admira ter durado tanto tempo." " É o segredo mais bem elaborado
que já vi. E também o mais belo." " Agora sim uma explicação
para tantas mortes." " Ainda assim tenho dificuldades em aceitar que eles
existam." As coisas estão começando a se esclarecer. É
muito provável que esses segredos e revelações estejam
contidos em um livro. E este livro está no Yucatán. Quanto
à moça, pretendo me aproximar para descobrir o que ela realmente
sabe. Para tanto voltarei à sua casa. Até breve, Hector.
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03-02-95, Cádiz, Espanha.
Andaluz,
Ainda na mesma noite voltei
à casa da moça. Entrei. Ela estava se arrumando. Preferi
aguardar. Pronta, ela saiu. Chegando na porta de um pub eu a abordei. Terminada
aquela fase ridícula de apresentações e formalismo,
concordou com meu convite de acompanhá-la durante noite, afinal,
imagino, devia estar com muito medo. Algo para beber e conversa inútil
foi o que nos prendeu nos primeiros minutos. Estava impaciente, e ela inquieta.
Resolvi arriscar perguntando o que lhe incomodava. Receosa, disse que foi
assaltada. Livros disse ela. Minha chance, ataquei. Perguntei se os livros
eram importantes, afinal eram apenas livros. Ela parecia confiar em mim,
ou talvez precisasse confiar em alguém e o único alguém
era eu. Então ela falou. Disse-me que um grande amigo era arqueólogo
e que participava de uma equipe de campo com mais quatro. A cinco dias
atrás publicaram suas descobertas nas escavações que
haviam realizado próximo a Vera Cruz, México. Entre as descobertas
estava um mapa Asteca, provavelmente o primeiro do novo mundo. A partir
daí os integrantes da equipe começaram, sem motivo aparente,
a ser brutalmente assassinados. Primeiro o chefe da equipe, e na mesma
noite um outro. No dia seguinte um terceiro foi encontrado morto. Seu amigo
estava com o mapa, realizando testes para determinar sua idade. Apavorado,
disse ela, o rapaz a procurou por telefone e combinou que iria lhe entregar
o mapa dentro de um livro seu de cartografia, e que iria depositá-lo
num determinado local na biblioteca. Disse-me ter estudado o mapa, lido
as inscrições e descoberto coisas assustadoras. Chorava convulsivamente.
Procurei confortá-la, aguardando o momento de perguntar-lhe sobre
o que havia descoberto. Mais calma, contou-me que estudava história,
e que fazia mestrado em mitologia do novo mundo. Disse-me ter colhido evidências
de uma dinvidade, de características semelhantes a outras de diversas
regiões do mundo, que havia aparecido por volta do descobrimento
da América, muito depois da consolidação das bases
religiosas dos Astecas. E, ao contrário do que era de se esperar,
o dito Deus frequentemente aparecia entre os índios, o que é
totalmente diferente do comportamento dos outros Deuses Astecas. Contou-me
muito mais, com muitos detalhes, que se tornou óbvio, ao menos para
mim, identificar o ser como sendo um vampiro. E pelo que deixou transparecer,
ela também o identificou como tal. Ela intui que as revelações
dizem respeito a essa criatura, já que no mapa havia inscrições
que diziam indicavam a existência de uma outra espécie inteligente.
Ela sabe demais. E se não sabe, está perto de saber. Tentarei
continuar a manter contato com ela. Aguardo sua resposta sobre o que fazer.
Sinceramente, Hector. _________________________________________________________________________
06-02-95, Cádiz, Espanha.
Querida Andaluz,
Achei sua decisão a
mais acertada possível. Afinal estava cada vez mais difícil
manter meu anonimato. Por duas vezes fui convidado a sair em pleno dia.
Acho que já estava ficando desconfiada. Nesses dias consegui obter
mais informações sobre o rapaz, sobre o que ele pensava sobre
o mapa, e sobre o que ela achava do sujeito. Nada de muito interessante.
O rapaz morreu na noite seguinte, e também o quinto integrante da
equipe. Sinistro. Perguntei-lhe sobre os assassinatos e quem poderia estar
por trás disso. Sua resposta foi curta e concisa. Disse: " A coisa
que os matou está atrás do mapa e das revelações
que ele oculta, e que eu ainda não sei o que são." Eu perguntei:
" A coisa ? Não queria dizer a pessoa ? " " Não acredito
que você fosse acreditar em mim se eu te contasse o que acho que
realmente está acontecendo." Insisti para que contasse, mas ela
dissimulou. Hoje ela me contou o que achava. Suponho que esteja certa.
Partiremos hoje, e chegaremos em dois dias.
Sinceras saudações,
Hector. _________________________________________________________________________
29-01-95, Porto Alegre, Brasil.
Senhor,
Meio século de espera
e a noite de hoje me trás o cheiro da esperança novamente.
A memória, já turva, não me impede de vislumbrar a
noite em que conhecemos seu criador . Artista do rei, arquiteto, escultor-escritor,
sábio ... visionário. Índio de extremo valor, e acima
de tudo, um excelente manipulador. Ele descobriu a existência das
revelações, e também onde elas estavam guardadas,
havia feito um mapa . Sabia o que você era, e somos agora. E o pior.
Ele sabia como jogar para não morrer. Nem mesmo Aguirre sabia que
ele sabia. O maldito trabalhou para ele e o imbecil nem chegou a desconfiar.
Não me admira ter sido morto de maneira tão fácil.
Aquela noite ele nos disse que sabia de tudo, e realmente sabia. E antes
que pudéssemos "moldá-lo" ele abriu o jogo. Maldito seja,
o sujeito sabia exatamente onde estava pisando. "Se eu morrer", disse ele,"
Aguire saberá exatamente quem são vocês, e pior, se
conseguirem se livrar dele, nunca saberão onde estão escondidos
os mistérios de Aton". Ele tinha razão. Ele queria uma coisa
simples, e nós concedemos. Matamos Montezuma, o reino era seu. mas
as coisas não permaneceram tão simples. Aguirre confiava
em Montezuma, descobriu o assassinato e as intenções do índio.
Aguirre ia matá-lo, tinhamos que impedir. Conquistei o império
e também a sua graça eterna, meu senhor. Aguirre foi morto
por ti. E o índio, o canalha desapareceu para sempre. Levando consigo
o mapa. Nos jornais, senhor, acredite, encontraram o mapa, um grupo de
arqueólogos espanhóis que trabalhavam num sítio próximo
a Vera Cruz. Eles estão na Espanha agora. Cádiz, para ser
mais preciso. Parto hoje mesmo. Custe o que custar, nada irá me
impedir desta vez.
Reverências, Hernán.
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31-01-95, Cádiz, Espanha.
Meu Lorde,
Cheguei hoje a Cádiz.
Tive que ficar um dia em Madri. Localizei o chefe da equipe. Foi difícil
isolá-lo, no entanto consegui. O mapa não estava com ele,
com certeza. Perguntei com quem, ele disse não saber. Não
mentia. Deu-me um nome, de outro integrante da equipe, disse que provavelmente
estaria com ele. Não poderia soltá-lo, ele iria imediatamente
à polícia e tentaria localizar o colega. Por isso, eu o silenciei.
Encontrei o outro com muito custo, pois não estava em casa. A noite
acabava, não tinha muito tempo. O mapa não estava com ele.
O sol nascia, precisava ir. Mandei-o para o inferno. Com o primeiro corpo
eu desapareci, mas não tive tempo de fazê-lo com o segundo.
Amanhã a polícia estará sabendo. Agirei o mais rápido
que puder. Hernán. _________________________________________________________________________
01-02-95, Cádiz, Espanha.
Baquero,
Encontrei o terceiro arqueólogo.
Em vão. Acidente de carro, morte cerebral. Procurei o resto da noite.
Um deles havia viajado para o Sudão ( espero que não seja
este ). O outro não foi visto o dia todo. Não o encontrei.
Começo a ficar preocupado. Temo que possam desconfiar de algo, já
que em dois dias um desapareceu e dois morreram. A família do primeiro
que procurei hoje disse que a viajem é rotineira, e que já
estava marcada à mais de cinco dias. No entanto o quinto pesquisador
desapareceu, deixando para a familia o recado de que ficaria bem e para
que não se preocupassem. Vou encontrá-lo.
Condolências, Hernán.
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03-02-95, Cádiz, Espanha.
Senhor,
Encontrei o jovem. Ele estava
com o mapa. Estava!!! Hoje a tarde ele repassou o mapa para uma amiga,
disse tê-lo colocado em um livro numa determinada estante da biblioteca.
Não sabia se ela o havia pego. Perguntei o nome. Mandou-me para
o inferno. Tentei descobrir o nome, ele me disse o primeiro, Júlia.
Perguntei onde morava, onde poderia achá-la... Não pude impedir,
ele cortou a própria garganta. Irei à biblioteca para conferir.
Se a moça estiver com o mapa não será dificil descobrir
quem é e onde ela está.
Hernán. _________________________________________________________________________
06-02-95, Cádiz, Espanha.
Pai,
As coisas estão saíndo
de controle. O mapa não estava na biblioteca. Descobri quem é
a moça e onde morava. Universitária solteira, morava sozinha.
Não estava em casa. Suponho que malas foram feitas. O quarto permite
essa inferência. E me parece que foi a pouco tempo, já que
ainda há vapor d'agua dentro do banheiro. Não tenho a menor
idéia de onde foi, mas vou descobrir.
Hernán. _________________________________________________________________________
08-02-95, Cádiz, Espanha.
Mestre,
Ela foi para o México,
e estava acompanhada. Retorno amanhã. Hernán. _________________________________________________________________________
11-02-95, Campeche , México.
Andaluz,
Após três dias
de procura pelo livro, nós ainda não tinhamos conseguido
nada. Haviamos procurado em bibliotecas, museus, sítios arqueológicos
e até colecionadores particulares. Nada. Foi quando o sol se preparava
para aparecer. Decepcionado, cansado e extremamente enraivecido, comecei
a me perguntar sobre a sanidade de tudo o que estava fazendo. Se o que
estava acontecendo era real. Precisava encontrar um modo de provar para
mim que aquilo tudo era uma grande loucura ... Pensava naquilo que o velho
homem me dissera em Delfos. " Onde deve encontrá-lo, onde quer encontrá-lo,
onde nunca pensou encontrá-lo, onde vai encontrá-lo." Irado,
gritei comigo mesmo: Onde eu quero encontrá-lo? Porra, eu queria
que ele estivesse aqui nas minhas mãos, achá-lo sem ao menos
precisar sair de casa ... É isso Andaluz! O livro deve estar aí
em casa. O mapa diz que está escondido no Yucatán. Deve estar
atrás da parede. Deve estar atrás das pedras que formam o
mapa. Deve estar atrás da pedra que forma o Yucatán ! Aguardarei
ancioso sua resposta. Não voltaremos para a Cidade do México
porque se isso não passar de um delírio meu, nós não
iremos perder tempo.
Seu súdito, Hector.
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15-02-95, Cidade do México, México.
Sir, Consegui localizá-los
na noite 09 de fevereiro. Preferi então, acompanhar as buscas sem
me revelar, esperando que eles descobrissem onde estava escondido o segredo.
Achei que poderia ser interessante o conteúdo de uma carta que um
deles estava remetendo. Acertei. A carta segue em anexo. Segui para a Cidade
do México porque achei que o palpite de Hector estava correto. Acertei
novamente. Chegando à casa de uma tal Andaluz, o que não
foi difícil, já que a carta estava endereçada, tive
que travar o que penso ter sido o combate mais perigoso de minha existência
desde " La noche triste ". Muito sangue eu perdi, quase a vida, se é
que assim pode ser chamada. No entanto tive sorte ... Levei o restante
da noite para encontrar a tal sala com um mapa esculpido na parede. Adentrei
. O mapa era enorme. Dirigi-me ao Yucatán e retirei a pedra com
pouco esforço . Foi desnuda uma pequena cavidade na parede, onde
habitava um livro corroído com o nome Aguirre na capa. Num lugar
seguro comecei a lê-lo. Impressionante e ao mesmo tempo decepcionante.
Trata-se de uma espécie de diário. Manuscrito com sangue
que suponho seja humano. No entanto não obedece uma cronologia ordenada,
parece retratar acontecimentos relevantes durante a existência de
Aguirre. Adianto-lhe agora, resumidamente, trechos de revelações
impressionantes. O livro começa narrando seu "renascimento". Conta
que seu Sir era um Grego de nome Esdras, extremamente devoto ao Oráculo
de Delfos (cidade em que residia). Certa feita, conta, em meados do século
IV antes de Cristo, seu criador consultou o Oráculo. Teria sido
então revelado o nome e o local exato onde Esdras deveria gerar
sua primeira prole. Onde a identificação do eleito seria
realizada pelo próprio. Segundo o que li, o local não era
conhecido pelo mundo grego da época, e a cidade nem ao menos existia.
Devoto, Esdras esperou ... Em 196 da era Cristã, ele identifica
o local : Espanha, onde hoje se situa a cidade de Cádiz. Esdras
Parte em busca do seu destino, e lá o encontra, ou melhor, seu destino
é quem o faz. Segundo Aguirre, ele próprio, na segunda noite
após a chegada de Esdras, semi-alcoolizado, cruza com o ser que
mudaria para sempre sua existência. Ele gentilmente cumprimenta o
estranho e se apresenta ... O restante é altamente previsível.
O Grego se retira no século seis em busca da tal Golconda. E Aguirre
segue suas ambições de viver da melhor forma possível.
A partir daí os relatos se arrastam de forma que se torna um sacrifício
lê-los. Aguirre se estende sobre as façanhas de sua vida na
Espanha como um rico e influente cidadão até meados do século
XV, quando neste ponto a narrativa toma outro rumo e revela uma faceta
impressionante da história. Aguirre era então um comensal
do reino de Isabel de Castela, e seu conselheiro pessoal. No ano de 1476,
conta Aguirre, um marinheiro genovês se salva de um naufrágio
nadando até a costa portuguesa. Lá se fixa, constitui família
, e prospera como navegador. Acreditava que o caminho mais curto para as
Índias era navegando para o ocidente. Convicto desta idéia,
apresentou em 1484 ao rei de Portugal Dom João II, um projeto para
tentar esta rota. Os conselheiros do rei responderam com um enfático
não, alegando, com razão, que ele havia subestimado as distâncias
consideradas. Perseguindo seu sonho, o navegador apresenta-se em 1486 à
corte de Fernando e Isabel de Espanha . Os monarcas escutaram atentamente
a exposição fervorosa de suas idéias e nomearam uma
comissão para apreciar a proposta do estrangeiro. Aguirre conta
ter presenciado tal acontecimento. Sem resposta da corte espanhola, e impaciente,
o navegador, em 1488, regressa a Lisboa para tentar novamente obter o apoio
de Dom João II, que se desinteressou do projeto devido a descoberta
de Bartolomeu Dias de um novo caminho para as Índias, contornando
a África. Em 1489 sua proposta é rejeitada pelo reino da
Inglaterra e também pelo Rei da França. Em 1491 os espanhóis
concideraram o projeto totalmente impraticável. No entanto, conta
Aguirre, a rainha Isabel parecia acreditar no genovês e deu-lhe a
entender que talvez valesse a pena tentar outra vez dentro de alguns meses.
O sonhador retorna, é nomeada uma nova comissão que emite
um parecer favorável. Tomado por uma enorme arrogância, conta
Aguirre, o visionário formulou suas condições caso
obtivesse êxito. O suficiente para os monarcas, indignados, retrocedecem
sua decisão e desistissem do empreendimento das Índias. "Para
a sorte do navagador, e para a sorte da humanidade" (Aguirre aqui passa
a escrever com as letras maiores e mais grossas) " Eu, Luís de Santángel
, Aguirre por nascimento, como cortesão, conselheiro, e guardião
do tesouro da rainha Isabel de Castela intercedi junto a Isabel em favor
do empreendimento alegando, com razão, que o custo da expedição
seria reduzido em comparação aos potenciais de lucros." Em
17 de abril de 1492 os monarcas assinaram um documento que assediavam a
todas as condições do genovês. É inacreditável,
senhor, mas a descoberta do Novo Mundo veio por intermédio daquele
que ceifamos a existência ... Colombo parte em 3 de agosto de 1492,
navegando para a História ... Estou impressionado. Os relatos de
Aguirre não terminaram aí. Ele embarcou na segunda viagem
de Colombo à América em 1493 e se fixou em Navidad, Hispaniola
( Haiti ). Em menos de um ano estava na capital Asteca, Tenochtitlán.
Onde facilmente exerceu domínio. Menciona a sua chegada, senhor,
como um sacerdote. Ele te admirava. E narra sua própria preocupação
com a vinda dos Espanhóis sob meu comando. Descreve todos os acontecimentos
que precederam a queda do império sob minhas mãos, a morte
de Monctezuma e o que pretendia fazer com o novo rei. Quatorze dias antes
de sua morte diz ter concedido a eternidade à uma índia que
chamou de Andaluz (Porra, ela era a filha do bastardo). Suas últimas
frases se referem à improbabilidade de permanecer vivo. Ele estava
certo. Imagino senhor que a essa altura estejas se perguntando sobre os
mistérios de Aton que a séculos intentamos decobrir. Pois
bem, Aguirre conta que possuia o fragmento de pedra que continham as inscrições
sobre os mistérios de Aton. Aguirre afirma serem em numero de três
as revelações, e que, nas palavras dele, "abalariam toda
a concepção de existência de vampiros em todo o mundo
e em qualquer tempo. Que modificariam a percepção pessoal
da própria existência, e que acabariam com certos dogmas e
transformariam em realidade, benção e medo tudo aquilo que
nos forçamos a acreditar para incobrir o desespero de desconhecermos
a verdade. Penso que seria muito melhor se abríssemos mão
da verdade e continuassemos acreditando ..." Em seguida ele comenta que
o primeiro dos mistérios se refere aos de antes do dilúvio.
No segundo compreenderíamos o verdadeiro significado da paz. E sobre
o terceiro ele diz que preferiria nunca ter tomado conhecimento e se lamenta
por ter que passar o resto de sua existência sabendo que nunca irá
esquecê-lo. Disse ainda que a pedra foi-lhe conferida por seu Sir,
e não comenta como este o conseguiu. E que o escondia junto a este
livro na sala com um mapa na sua própria casa. Eis a enorme decepção:
Senhor, a pedra não estava lá!
Sem mais delongas, Hernán.
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