Baal
- Muito bem, Dançarino!
Você já ouviu falar de nós, assim como já temos
um perfil de quem você seja. Podemos concretizar o nosso negócio?
-Hum, ouvir dizer não
é suficiente. Conte sua história. Eu gosto muito de histórias.
- E como você irá
saber se o que eu falo é verdade?
- Não me interessa a
verdade. Eu não pedi uma verdade. Eu pedi uma história.
- Então você terá
uma história. Eu nasci na época do ciclo do ouro. Bons tempos.
Eu era um pirata imundo, um ladrãozinho ridículo, que se
achava livre. Eu era o segundo-em-comando de um navio. Tínhamos
um pequeno cais próximo ao Rio de Janeiro. Atacávamos os
galeões portugueses, cheios de ouro e gemas. Vendíamos a
carga para os ingleses e às vezes aos franceses. Quem aparecesse
primeiro. Nunca tive família. Nem amigos. Dormia com minha adaga
sob o travesseiro. Era uma vida miserável. Regada a vinho e cheirando
a quartos das prostitutas mais baratas da costa.
- Como você conheceu
seu Sire?
- Oh, sim! Sempre que eu vendia
as minhas pilhagens, era para intermediários. Nunca me encontrava
com aqueles que realmente mandavam. Uma bela noite, eu e mais alguns companheiros
fomos chamados para uma festinha particular. As pessoas da festa estavam
bem vestidas. O vinho era perfeito. E nós, sujos e maltrapilhos.
Acho que nunca em minha existência me senti tão inferior.
Foi então que fomos chamados para uma sala particular. Lá
dentro havia uma decoração exótica, que hoje eu sei
ser de origem egípcia.
- É óbvio!
- Realmente hoje é,
mas naqueles tempos não. Nunca havíamos tido contato com
qualquer material que não fosse europeu. E a luz era quase inexistente.
Um incenso queimava em cada canto da sala, mas o cheiro de mofo era mais
forte. Dois homens saíram de nenhum lugar e começaram a sua
palestra, falando em português misturado com inglês. Eles nos
diziam que éramos escolhidos. Eles tinham uma missão sagrada
e nós iríamos fazer parte desta guerra também.
- E qual era esta missão
sagrada?
- Ha ha ha! Você me julga
como se eu fosse uma criança inexperiente? Eu nunca contaria uma
palavra de nossa missão, ainda mais para um Toreador enlouquecido.
Mas como eu estava dizendo, nós éramos os escolhidos. Os
mais pérfidos, escrotos e canalhas das redondezas. Eles revelaram
a sua verdadeira natureza, e nós ficamos apavorados. Estava tudo
escuro e nós não sabíamos por onde havíamos
entrado. Seguiu-se o ritual de transformação que você
conhece. Mais alguns que você nunca poderá imaginar, nem em
seus piores pesadelos. Anos de aprendizado. Não só cultura
como um todo, mas também o modus operandi dos Seitas. Além
do conhecimento de línguas, armas, falsificação...
- Vejo que temos algo em comum!
- Oh, sim, entendo o que você
quer dizer. Mas eu nunca fui muito bom em falsificações.
Nunca tive boa caligrafia. Então eu passei a gerenciar a pirataria.
Sempre através de intermediários assim como faziam comigo...
- Espere um momento! Quem eram
os dois Seguidores de Set que te transformaram?
- Hoje eles são conhecidos
como Anúbis e Conde Straford. Mas os tempos bons da pirataria haviam
passado. Os nosso compradores ingleses passaram a nos perseguir. Decidimos
diversificar. Tráfico de escravos, contrabando, ópio, prostituição.
Muitos anos se passaram, tediosos anos seguindo ordens, trabalhando para
o engrandecimento de terceiros. Surgiu, então, um pedido de socorro.
Nos irmãos da Colômbia vinham sofrendo sucessivas derrotas
para os Brujah. Precisavam de um bando de canalhas sujos o suficiente para
enfiar a cara na lama. O nosso cartel era uma aliança entre os Setitas
e os Malkavian. Eram liderados por um Malkavian chamado Tezcatlipoca, que
achava ser um antigo deus asteca, puro delírio! A batalha foi sangrenta,
mas nenhum figurão encontrou a morte final. Vimos então que
estávamos fracos e sofremos ataques do inimigo comum: os Ventrue,
tanto do lugar como do mundo todo querendo acabar com a fonte das drogas.
Decidimos unir nossas forças. Quando a poeira abaixou, voltei para
o Brasil e quis aplicar aqui a mesma tática de união usada
lá. Em alguns lugares funcionou, em outros nem tanto...
- Nem tanto? Não foi
o que eu ouvi. Eu ouvi que vocês tiveram que sair correndo, com o
chocalho entre as pernas.
- Meça as suas palavras!
Não vou tolerar nenhum insulto. Principalmente porque eu também
ouvi histórias a seu respeito. Histórias sobre a surra que
você levou de um Nosferatu chamado... Como era mesmo... Mephisto!
Oh, sim, era isso!
- Estamos quites, podemos parar
de provocações! Continue!
- Não sei mais se quero
fazer negócio contigo.
- Vamos lá! Não
temos mais muito tempo até o pôr do sol. Eu quero saber da
parte mais importante, fale-me sobre Vítor Dee!
- Eu conheci Vítor na
Colômbia. Ele era filho ou neto de Tezcatlipoca, não sei ao
certo. Mas nós sempre nos demos muito bem. Ele tinha boas idéias
e eu sabia como executá-las. A guerra contra os Ventrue tinha chegado
à um ponto crítico. As armas não chegavam e a droga
não saía. Tínhamos que tomar uma medida desesperada:
atacar o ponto de comando. Foi então que para proteger à
mim e ao Dee, eu executei um ritual onde o meu coração era
retirado, assim como o dele. Nós guardamos num cofre, onde ninguém
poderia atingi-los. Fomos para a batalha, vencemos e retornamos. Ao abrir
os cofres, os corações haviam sumido. Era claro que se tratava
de alguém de dentro da nossa organização, que havia
nos traído. Não demorou muito para que descobríssemos
o verdadeiro culpado. Cartas anônimas chagavam até nós.
Ofereciam os nossos corações de volta se sabotássemos
o nosso próprio covil. Chegaram à enfiar estacas para provar
que realmente eram os ladrões. Como já te falei, não
sou bom em produzir falsificações. Mas tenho um incrível
faro para fraudes. Consegui interceptar as cartas e descobri que vinham
do nosso próprio líder, o paranóico Tezcatlipoca.
Ele fizera tudo aquilo para testar a nossa lealdade. O ódio cresceu
em nossas veias, mas tivemos que evitar a ascensão da besta. Decidimos
que seria melhor sair de perto daquele idiota e cuidar de outras atividades.
Voltamos para o Brasil, e trabalhamos em conjunto com meus Sires. Este
é o fim de minha história.
- Não, não é,
não! Não é mesmo! Conta a lenda que ao pegar os corações
de volta, você teria trocado. Vítor Dee estaria com o seu
e você com o dele. E por causa disso ele estaria deixando de ser
louco assim como você estaria perdendo a razão!
- É este o seu preço,
não é? Você quer que eu retire o coração
de alguém e coloque em você, para poder se livrar de sua maldição!
Eu sinto muito! Sua loucura não reside em seu coração..
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