Flávia
4º Vampira da Lista Vermelha
Em algum dia de fevereiro. Creio que vinte. Nasceu no Brasil, por certo, em algum lugar iluminado, aquela que iria tirar a alma do desumano das trevas e devolve-la à luz da magia. O desequilíbrio nas lei do universo, geram a resposta. Flávia Castelo Branco vem ao mundo para mudá-lo para sempre. Esse é o seu destino. Nem um pouco invejável... Eu sou Cornelius Aardvark. O último representante vivo da ordem de Hermes. O único a ainda ter orgulho de meu sangue límpido.
Há outras formas mais puras de se tornar imortal... Mas não é a minha história que deve ser contada. Há pessoas mais importantes no universo. O circo foi sua primeira casa. Em uma pequena cidade, da qual o nome não merece registro, foi o lugar de união entre seus pais. A partir desse dia, já progenitora de Flávia, deixa seu lar de arte e passa a morar com o demônio. A união durou não mais que seis anos. Apenas os dois primeiros de comunhão.
Para sua mãe, o suplício só terminou quando fugiram para reencontrar seus antigos amigos e sua antiga paixão. O circo. Para Flávia, o martírio lhe acompanhou desde seu nascimento. As brigas surgiram a partir do segundo ano e seu pai, um demônio, a espancou pela primeira vez quando tinha dois anos, só o inferno sabe o verdadeiro motivo. Sua vida se seguiu até os seis anos dessa forma miserável, indigna e desumana. Flávia já havia nascido predestinada, mas seu despertar só veio muito depois...
O ano em que completou seis, foi o de sua tragédia. Para mim uma dádiva. Seu pai, alcoolizado, chega à noite na pequena casa. Algo muito superficial aconteceu, e o demônio começa a bater em sua mãe. Flávia ouve os lamentos de sua mãe, que soavam mais silenciosos do que o terrível som da carne sendo currada. A linda menininha entra no pequenino quarto de seus pais e implora: "Papai, porfavô para de batê na mamãe, cê tá machucando ela". A ira colérica do demônio se volta mais uma vez contra sua cria.
No dia seguinte, a pequenina Flávia estava no posto de saúde. Aquela noite foi a última vez que viu a luz. Ao menos, como nós a vemos. A mãe a leva consigo à sua antiga morada. Foi no circo que a linda criança viveu. E foi no circo que ela começou a se mostrar diferente das pessoas comuns. Aos treze anos, a menina cega, se apresentava como trapezista. Estava feliz. Um ano mais tarde, perde sua mãe para as normas da sociedade. Foi presa por tentativa de seqüestro. Continua no circo, levando sua vida rotineira. Cresceu e o amor acercou-se de seu coração na idade de dezessete. Era um viajante. Foi seu primeiro beijo. Aquele que nos é inesquecível. Flávia nunca mais o encontrou, e ficou-lhe apenas a lembrança construída por sua diferente visão. A linda menina, que havia se tornado uma linda moça, havia conhecido o amor, e essa seria a busca maior de sua vida. Encontrar a felicidade. Com dezoito anos conhece seu primeiro par.
Este lhe mostrou a plenitude do amor alcançada pela cumplicidade dos corpos. Ela estava grávida, e eles se casaram. O universo, ou sei lá que força maior, foi sábio em evitar o nascimento de uma cria daquela moça. Nem mesmo eu consigo imaginar o que poderia ter nascido, daquele ventre incomum. Pois bem, a cria não chegou a nascer, e esse foi o começo do declínio de sua felicidade. Seu par se encontrava com outras mulheres fora de casa. Ela sabia disso, ela podia ver. Fingia para si mesmo não se importar. Ela preferia não correr o risco de ficar sozinha para sempre. Afinal, quem quer se casar com alguém diferente? Bem, há sempre alguém. E para ela não foi diferente.
Conheceu seu anjo com vinte anos. Ela largou sua antiga e triste vida com o primeiro marido, e viveram intensamente por quatro meses. Até que mais uma vez a infelicidade sentou-se ao seu lado. Na tarde de um belíssimo crepúsculo, recebera a notícia que já tentava esconder de si mesma como verdade. Seu amor a deixou. Morrera em um desastre de motocicleta. Seu corpo, sem vida, se encontrava sob um magnífico caminhão. Sua vida era uma sucessão de infortúnios, e Flávia estava cansada de tanta desgraça. As pessoas em desespero se apegam facilmente a promessas de melhora de vida.
Com ela não foi diferente. Acreditou em alguns charlatães, pregando sobre Jesus Cristo; chás; ritos e outras bobagens criadas pelos humanos para poderem suportar a verdade de que não sabem o porque existem e que não são donos de seus próprios caminhos. Mas no meio de muita besteira, existem os iniciados. E um dia, a moça encontrou um deles. Seu nome era Jean Marrie Dubois, um Cavaleiro da Cruz e da Espada. Um Guardião do Templo. Um Filósofo dos Três Fogos. É impertinente o modo com que se conheceram, mesmo porque, não intento criar motivos para conflitos com tais iniciados. Não ainda. Dubois disse-lhe qual era o verdadeiro motivo de sua infelicidade.
O preço que pagou, eu prefiro não imaginar. Em uma antiga vida, a moça havia sido esposa de um poderoso mago, e este mago estava atormentando sua vida, e impedindo que fosse feliz sem que fosse com ele. O mago tinha muita força e conhecimento, e a única maneira de se livrar dele era encontrar alguém mais forte que o mago para livrar-lhe da maldição. A pobre moça perguntou se o próprio Dubois não era, e a resposta foi que contra aquele mago ele era totalmente impotente. O grande Dubois disse isso, e eu receei pelo seu futuro. Mas o futuro se mostraria, para ela, muito mais terrível do que pude pensar...
Era o ano de 1994 e Flávia contava então com vinte e um anos. Estávamos em junho, 4 de junho, cerca de cinco meses depois da revelação de Dubois. Brasília. O bestial Vante de Languedoc, o flagelo Tremere, o bastardo que a trezentos anos me traiu, estava lá. Naquela noite, naquele bar. Flávia estava com um magnífico vestido preto com um decote na lateral direita, deixando a mostra sua perna quando andava. Eram pernas bonitas as da moça, fortes e delineadas. E outro decote. Esse nas costas, deixando a vista, quando o longo e vivo cabelo liso e preto se movia, sua incomum marca de nascença.
Quase uma pintura. Não sei o que fez o monstro sem vida reencontrar sua alma, e essa seu sentimento mais sublime. Mas foi o que aconteceu. Não muito tempo foi preciso para que se aproximasse da linda mulher. Quase não me contive, mas o filho da puta não podia saber que eu estava lá. Em menos de uma semana aconteceu a desgraça, ele a tomou em seus braços, e a levou consigo para o reino das trevas eternas. Tentei evitar. Rapidamente contatei Carlos Sanches. Ele veio a Brasília. Armamos um plano onde o acusaríamos de traição ao clã. Usaríamos sua neta como testemunha. Tudo saiu errado. Carlos foi convocado à Viena. Temo que nunca mais o verei... __________________________________________________________________________
Brasília, 5 de junho de 1994.
Grimgroth,
Algo terrível aconteceu. A gehena se aproxima. Encontrei a moça com a marca de nascença. Seu nome é Flávia. Ela é um Sinal. Peço perrmissão para tornar-lá uma Tremere. Xavier de Cicao também está sendo comunicado. Sem mais por agora.
Saudações, Vante de Languedoc. __________________________________________________________________________
Brasília, 5 de junho de 1994.
Senhor,
Temo ter encontrado um dos Sinais. É a moça com a marca de nascença. Comuniquei aos sete de Viena, minha intenção de torná-la uma Tremere. Creio que será uma peça fundamental na concretização de nossos objetivos. A quantidade de magia latente em sua alma é magnífica. E teremos a oportunidade de desenvolver tal potencial da maneira mais apropriada.
Saudações, Vante de Languedoc. __________________________________________________________________________
Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1994.
Minha amada, sua ausência também me consome, mas os problemas ainda não foram resolvidos. Espero vê-la em breve. Muito me orgulho de ti, minha querida, por ter-nos reportado com tanta fidedignidade essa situação lamentável. O Conde de Strafford, já é um antigo conhecido meu. E desta vez ele passou dos limites. Nosso clã irá pedir sua cabeça por essa audácia. Colocaremos Strafford na lista vermelha. Quanto à Scarllet, seu comportamento não pode mais servir de modelo. Scarllet não mais recebe o respeito e a honra que um Elder merece. Ela não mais faz parte de nossa estrutura de poder. Scarllet é fraca, e os fracos não sobrevivem. Os Sete Grandes já sabem do ocorrido e tenho que, como Pontifex do Brasil, tomar as decisões cabíveis. Se desejares, despeças-te de tua amiga.
Te adoro, Vante. __________________________________________________________________________ Enquanto o elegante e sutil pentagrama é o modo preferido daqueles do velho mundo para entrarem em contato com os seres das trevas, um estranho ritual de sacrifícios e magia chamado Quimbanda é um dos métodos mais difundidos no Brasil para o perigoso intento. Principalmente entre os mortais. Não cabe a mim, aqui, descrever como as portas do inferno são abertas por tão atribulado e sinistro ritual, mesmo porque, não o conseguiria com a digna fidedignidade que tais assuntos merecem. Mas esta questão não vem ao caso. O que nos interessa, senhores, é a história de Flávia Castelo Branco, que começa com um desses cultos. Seu pai, cujo nome não importa, a mais de nove anos participava das cerimônias de Quimbanda. Mas aquela noite aguardava , ansiosa, o início do rito. Fazia um calor intenso, e a lua não se posicionava à vista no céu. O vento não existia. Não ali. O toar dos atabaques incomodava a alma e feria nossas entranhas. A fogueira alimentava o calor da sala, e os sacrifícios animais eram suficientes para tingir de rubro a visão daqueles que lá estavam. A atmosfera nos remetia a uma paisagem do Hades. Nada mais natural. Eu estava lá, e aquele homem era o cerne do ritual daquela noite. A presença dos demônios foi entoada, e os bastardos não decepcionaram. A noite prometia lucro fácil. E foi o que realmente aconteceu. O demônio chamado Aakvsh, um lorde da nona vala do oitavo círculo do inferno, já dentro da cidade de Lúcifer, onde pune, junto à outros lordes, pelos quais nutro um igual sentimento de repúdio e desdém, os fraudulentos semeadores de ódio e discórdia entre as pessoas e entre os povos. Aakvsh é um ser esperto e ambicioso, e aquele homem poderia lhe oferecer muito. Senhores, o que lhes conto agora é algo terrível, e por isso Flávia deve morrer. Seu pai conjurou Aakvsh. E pagou o preço pelo desafio. E isso pode mudar a história. Tentarei reproduzir o diálogo travado entre o demônio e seu conjurador, que teve lugar naquela singular noite de verão. Foi curto, mas decisivo: "__ Ser dos infernos, chamo sua ajuda." "__ Do reflexo do paraíso minha presença ascendeu, e isso não é muito fácil. Do oitavo círculo a nona vala está descuidada, e isso não é muito cauteloso. Regras existem no inferno, e isso é uma transgressão. Que seja proveitosa sua oferta espero, e isso é o que importa." A parte da transgressão é um velho gambito, que fica por conta dos tolos acreditar. O homem acreditou. Ele não sabia o que realmente estava fazendo. Com quem realmente estava conversando. "__ Ser dos infernos, eu quero um serviço." "__ Um preço todo serviço tem!" __ Disse o demônio com um sorriso sarcástico. O puto já sabia o que iria pedir. Ele sabia que iria ganhar. "__ Eu soube que vocês podem me proteger. Alguns filhos de puta querem me matar. E eu não quero morrer." "__ O Estige de Flégias e o Arqueronte de Caronte foram por mim ultrapassados. Não penses que estar no mesmo barco que essas criaturas repugnantes me é agradável. A proteção a tais pessoas eu posso lhe assegurar. Uma fácil maneira de lhe proteger seria a mais comum usada por meus semelhantes. Dar-lhe-ia um amuleto que lhe asseguraria proteção. No entanto, se por um infortúnio, perdeste tal garantia, sua destruição seria inevitável e instantânea. Disposto estou a impedir tal tragédia, e para tanto garantirei-lhe a proteção eterna." "__ Mas como e por que iria fazer isso por mim? Qual é o seu peço?" "__ Dar-lhe-ei um Ghiraculi, do Inferno uma pequena criatura. O minúsculo diabo será seu e sob seus cuidados estará. Despreocupado podereis ir a qualquer lugar. Lhe alertar o Ghiraculi irá sobre as atitudes e locais que não deves tomar. Agindo de acordo com seus avisos, protegido estará contra as emboscadas. O pequenino ser do inferno pode antecipar um desfecho e lhe alertar sobre o perigo que lhe espreita. Proteção melhor não conheço." "__ Sim, mas e o preço?" "__ Muito simples, meu caro, quero que tenhas uma filha." "__ Uma filha?! Mas porque?" "__ Deves saber que mal algum posso dirigir a um mortal, não pelas minhas próprias mãos. Mas se pensas que poderás descobrir as intenções de um demônio, muito se engana. Mas lhe asseguro. Por minha livre intenção nada de mal posso fazer a ela. É uma das regras. E são regras que não posso quebrar. Mas se isso é muito, divirta-se ao passar o resto de seus dias a se esconder dos seus assassinos, embora creia que a brincadeira não irá ter uma longa duração." "__ Mas eu posso procurar um outro demônio!" "__ Em verdade, mas sua alma, ou alguns anos da sua vida o próximo poderá lhe pedir. Não seja ingênuo, os demônios não são idiotas, e tão pouco estarão tão dispostos a colaborar contigo por tão pouco como eu o estou fazendo. Com cautela deves pensar!" ... "__ Eu aceito a proposta. Mas quando terei que pagar o preço?" "__ Em exatos três meses. Não se preocupe, será uma menina." Aakvsh, desaparece. O homem nada entende, mas em instantes o demônio estava de volta, e com ele o repugnante Ghiraculi." "__ Tome-o, ele agora vos pertence. Mas cuidado! Se a essa pequena criatura das trevas algo acontecer, para acertar contas o Inferno subirá. E então se arrependerá de ter um dia ter-me encontrado. Se isso acontecer, sua alma será nossa e com seu próprio corpo através da eternidade poderás contemplar a dor. Mas em demasia não te preocupes, para tirá-lo de sua cuidadosa guarda nós nada podemos fazer." Não é por pouco que Aakvsh é um demônio do círculo dos fraudulentos. O Ghiraculi realmente irá protegê-lo, mas nenhuma criatura do Inferno iria se preocupar com um ser tão insignificante quanto um Ghiraculi. No entanto Aakvsh sabia o que estava dizendo. O plano do demônio era muito mais elaborado. O que vim a descobrir quando encontrei o pai de Flávia. Todos sabemos que no Inferno também existem regras. Umas ditadas por Lúcifer, outras, inquebrantáveis, escritas pelo Supremo Criador. Os demônios fazem de tudo para conseguirem seus objetivos se esquivando ao máximo das imposições e obstáculos que as regas impõem. Um demônio não pode aparecer, a não ser que seja conjurado. Não pode enganar o conjurador lhe oferecendo um serviço que não pode realizar. É por isso que o Ghiraculi protegeria o homem. Aquele demônio é sagaz. A noventa e três anos atrás, senhores, um de nós aqui o conheceu de perto, e uma troca foi aceita. O preço por ele pedido beirava o ridículo. Por que um Lassombra iria se recusar a destruir uma criatura tão desprezível quanto um Ghiraculi, em troca de um conhecimento que somente os Anjos Caídos possuem? Vinte e dois anos atrás ele cobrou o preço, e um de nós destruiu, sem que o homem percebesse, a criatura que o protegia à menos de três meses. Como poderia este Lassombra, imaginar que terrível mal estava causando à humanidade e a nós, vampiros. Um de nós pagou seu preço a Aakvsh, e o homem acordou na manhã seguinte desesperado. Pensava ele que o demônio havia lhe traído, mas não sabia nem como nem porque. O que ele sabia é que o demônio não poderia deixá-lo assim. Era contra uma das regras. O preço deve ser pago por ambos, e o homem havia acertado suas contas naquela mesma noite. As coisas precisavam ser esclarecidas, e o homem me contou que, se utilizando de um ritual particular, que nunca tinha ouvido falar antes, conjurou o mau devedor. Logicamente Aakvsh apareceu, era parte do seu grandioso plano. Mesmo porque, havia-lhe prometido proteção, e estava quebrando regras. Deveria consertar o distúrbio antes que alguns dos juizes de Dite se manifestassem. Afinal, havia-lhe prometido proteção até o fim de sua vida, e o aviso de que se ele perdesse o Ghiraculi o Inferno lhe condenaria era apenas uma fraude, que o demônio havia contado para assegurar que esse voltasse a procurá-lo. O não cumprimento do trato por parte do demônio é que lhe acarretaria uma eternidade funesta. Pois bem, o demônio retornou, e o homem, disse-me, pediu explicações. ... "__ Foste tu pela perda do Ghiraculi o responsável. Agora as hordas do Inferno terá de encarar." "__ Mas como? Eu o deixei aqui, como a três meses eu faço." "__ Deve tê-lo destruído alguém muito poderoso, e isso porque você permitiu. De seu descuido arque com as conseqüências!" "__ Mas eu não quero morrer, não agora. Eu não quero ir para o inferno!" "__ O desespero sinto fluir em seu coração, mas o inferno não é um lugar tão ruim." "__ Como isso foi acontecer?! Porque você não me disse como deveria cuidar dele?!" "__ Parte da barganha isso não fazia, mas uma proposta eu tenho a lhe fazer. Ficar grávida sua jovem esposa ira, e será uma menina, decerto. A fecundação em poucas horas ocorrerá. Sua parte no trato você cumpriu esta noite. Proteção eu lhe ofereço para o reto de sua vida. Dou-te quantos Ghiraculi forem necessários, mas algo importante em troca quero." "__ Você quer minha alma?" "__ Não, almas muitas eu já tenho. Quero algo que difícil não lhe será me dar. Algo que não lhe diz respeito, mas algo que somente você poderá permitir." "__ O que quer em troca?" O demônio estava perto de conseguir burlar uma das mais importantes regras. Foram raros os que conseguiram tal feito. Lúcifer ficaria satisfeito. E Aakvsh seria grandemente recompensado. "__ De sua filha quero o ventre. Quero que seu útero no inferno seja formado por mim. Quero apenas que consinta que posso fazer isso." "__ Mas isso é um absurdo!" "__ Você, mais que ninguém deve saber o quanto sua vida vale mais do que o ventre de sua filha futura. Que poderá nem mesmo conhecê-lo. É sua a decisão." ... Ele aceitou. Era uma vitória numa grande batalha da guerra ente o Céu e o Inferno. Não sei, senhores se conseguiram dimensionar a gravidade do ocorrido a vinte e dois anos atrás. O inferno tem um ventre gerado no Círculo dos fraudulentos. Na vala dos semeadores de ódio entre as pessoas e entre os povos. O filho que esta mulher pode gerar é uma besta capaz de mudar os rumos do mundo. É como na linguagem dos mortais: ela pode dar à luz a um Anticristo. Me parece óbvio, senhores, que o assunto é de extrema delicadeza. Devemos procurar não fazer alarde sobre o assunto, e tentar de alguma forma localizar e destruir esta moça. O problema é que isso não é tão simples assim. A menos de um ano, Flávia se tornou uma vampira, mas não uma vampira qualquer. Ela é cria do Pontifex Tremere no Brasil Vante de Languedoc. Um vampiro de poder vastíssimo. Além disso, me parece que Flávia, que é cega desde os seis anos, consegue enxergar aquilo que nós não podemos ver. E tenho muitas dúvidas se poderíamos nos aproximar dela sem que descubra quais nossas verdadeiras intenções. Eu, como Regente, devo alertá-los para o perigo da situação. Certa feita, ela engravidou, mas os anjos conseguiram evitar o pior. Talvez isso não mais se repita. O plano foi tão bem elaborado, que o demônio sabia que se formasse o útero no inferno, poderia protegê-lo da destruição pela conversão do seu sangue em sangue vampiro. Ela permanece uma grande ameaça. Talvez não tanto quando ainda era mortal, mas agora o inferno dispõe da eternidade para gerar sua mais imunda criatura.
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