Gangrel
Goiânia, 14 de março
de 1995.
Sei que minha dívida
é impagável. Não existe esforço ou sacrifício
possível para lhe retribuir o maravilhoso dom da imortalidade. minha
existência é fruto do seu desejo, e de seus desejos crio um
sentido para ela. Não sei se esta carta chegará em suas mãos.
Talvez eu nunca saiba. Alice, fui descoberto, e estou gravemente ferido.
Meu desejo é de estar um seus braços e na sua presença
maravilhosa, mas temo que minha vida está por me deixar. Em pouco
eles deverão estar aqui, e devo me apressar a lhe contar o que descobri.
É um costume entre os Gangrel, passarem sua história e seu
conhecimento em longas conversas, que chegam a durar a noite toda. Estive
presente em muitas dessas conversas, e algumas delas se referiram ao que
desejavas saber. Ouvi que existia na Espanha, dois coteries que, por herança
histórica, possuíam uma rivalidade. Sem se atacar diretamente,
eles competiam entre si. Na verdade, eles nunca se consideraram como um
clã. Eles se uniam em torno de um patriarca que controlava as regras
entre a comunidade. Inclusive, além de características, eles
também diferiam em se tratando de modalidades de disciplinas. Para
se ter uma idéia, um dos coteries utilizava a metamorfose em lobo,
e o outro em morcego. Em um dia, dois jovens vampiros, um de cada coterie,
decidiram competir em uma caçada. Os dois foram surpreendidos por
um grupo de Lupinos. O jovem do coterie do morcego foi rapidamente dilacerado,
enquanto o outro conseguiu escapar se transformando em lobo e se misturando
em uma matilha. Quando o senhor do coterie do morcego descobriu seu filho
morto, declarou guerra aberta aos seus rivais. A guerra durou vários
anos. Muitos migraram para a Europa central, muitos vieram para o novo
mundo recém descoberto. Aqui se espalharam criando prógenes.
Segundo os relatos, alguns descendentes do coterie do morcego chegaram
ao Brasil perseguindo o seu nêmesis. Não sabiam se representantes
do outro grupo para cá vieram. A idéia de vingança,
que já durava mais de seis anos estava se esvaindo, e ao chegarem
aqui, acreditando estarem em alguma espécie de paraíso Gangrel,
esqueceram seus objetivos iniciais. As datas são imprecisas e só
os mais antigos ainda se lembram dessas estórias. Mas, de acordo
com o que me contaram, foram os Gangrel os primeiros vampiros a chegar
em nosso país. Existem outras estórias ainda, que afirmam
que alguns líderes do clã chegaram antes dos acima citados.
Outros afirmam descender de kindreds que já estavam aqui antes mesmo
da chegada dos europeus. É quase impossível um estudo profundo
da verdade. Um outro agravante é que grande parte dos ensinamentos
e do conhecimento é passado de forma metafórica. De qualquer
modo, estes foram os relatos mais aceitáveis que pode ouvir. Minha
querida criadora, muito sangue já perdi, e estou fraco demais para
continuar fugindo. Escrevi-lhe esta carta e vou depositá-la na caixa
do correio que tem aqui em frente, e permanecer aqui neste beco escuro.
Não tenho dúvidas que eles irão me achar. Assim, me
despeço agradecendo de coração. Alice, eu te amo.
Seu filho, Ricardo.
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