Garrett
11º Vampiro da Lista Vermelha
Austrália, 18 de setembro de 1873. Brisbane.
A noite se prolongava como um martírio para aquele homem. Sua vida havia sido destruída, e a vingança era o único pensamento sobrevivente da batalha com a dor. Sua filha havia sido violentada em sua presença impotente face às armas dos criminosos. Sua mulher teve o mesmo destino, sendo em seguida assassinada com um tiro na fronte. Um dos seus olhos saltou em sua direção, e um rombo enorme se abriu entre o outro olho, que havia estourado, e a boca que revelava, agora, a garganta ensanguentada. Sua filha, na manhã seguinte, se lançou do penhasco rumo à morte certa nos recifes de coral da encosta do mar. Seu corpo, semi-devorado pelos peixes apareceu dois dias depois nas areias da praia. Ele havia sido espancado e sua casa destruída. Peter Garrett sabia por que tudo aquilo. Ele sabia que era o culpado. O arrependimento não conseguia mais controlar a sua dor. Ele havia conhecido a lição. Há certos caminhos que não devemos trilhar...
Austrália, 22 de setembro de 1873. Brisbane.
Eu havia acompanhado tudo. Eu estava na casa de Garrett quando tudo aconteceu. E hoje eu sei o que restou da mente desse homem. Apenas uma palavra ecoa em sua alma. Morte! Creio que ele está pronto. Hoje lhe mostrarei o verdadeiro significado desta palavra maravilhosa.
Austrália, 22 de fevereiro de 1874. Brisbane.
A exatos cinco meses meu mestre tornou minha dor eterna e me mostrou a divindade da Morte. Hoje eu lhe mostrei tudo aquilo que aprendi. Minha devoção à Morte hoje alcançou sua máxima expressão. deliciei-me com a morte daquele que mais a veneravam. Senti a força e o poder de todas as vidas que havia consumido. Ó grande Senhora das Trevas, que dádiva grandiosa esta de nos acariciar com suas asas sem nos levar para o reino do vazio. Mestre, te invejo por teres sentido pela primeira vez a plenitude do poder do sabor da morte. Uma pena que seja esta a única e última vez que irá senti-lo em sua alma. Saudações, meu criador. Te encontro algum dia, no inferno.
Austrália, 5 de junho de 1992. Melbourne.
... __ Quero comprar seus serviços, Garrett.
__ Quem devo caçar, Farrell ?
__ Seu nome é Terence. É um Nosferatu.
__ Não o conheço.
__ Ele está no Brasil. Em Salvador. É o filho do Prince.
__ Ele deve ser poderoso. Se não o fosse, um egoísta como você teria procurado alguém menos qualificado. Você sabe que meu preço é alto. E adiantado.
__ Sim, eu sei, mas é muito importante. Ele merece morrer porque quando estava aqui ele me...
__ Farrell, não me conte nada. Tenho como regra não saber porque devo matar minhas vítimas. Muitas vezes é o contratante que merece morrer, e eu prefiro não ter que julgar. Portanto, apenas pague-me, e espere tranqüilo o aviso de sucesso.
__ Qual é o preço ?
__ Desta vez eu não quero dinheiro. Não quero nenhum centavo do seu dinheiro imundo. Quero algo mais valioso, quero o livro de sua família. O livro de necromancia.
__ Mas eu não posso dá-lo a você. A família me destruiria se descobrissem.
__ A escolha é sua. Somente você pode julgar o quanto o serviço é necessário. ...
__ Trago-lhe o livro amanhã.
__ Já deves saber que sigo algumas regras. Portanto, não espere notícias minhas até o dia dezoito. Foi um prazer negociar com você. Boa noite, Farrell.
Brasil, 18 de junho de 1992. Salvador.
O ritual tem início. O vampiro foi aprisionado. Seu corpo ainda não foi maculado, e sua consciência, para seu infortúnio, ainda está longe de abandoná-lo. Garrett entoa um pequeno cântico, em uma língua esquecida, e em seguida, profere palavras de exaltação à morte. As palavras certas são ditas no momento certo. Um cálice é erguido ao céu, e as estrelas sorriem para ele. Garrett equilibra o cálice na fronte de Terence. Dos olhos da vítima escorrem lágrimas rubras, e o desespero por saber que a morte se aproxima, e ao imaginar o quanto poderá ser doloroso, corrói sua fortaleza. Novas palavras de conjuro e proteção são proferidas. O cálice está preparado para o ritual. Terence grita, mas suas palavras só são ouvidas por ele mesmo. Implora por sua vida. Garrett se delicia com isso, é o primeiro sinal que a Dama das Trevas está a caminho. O Assamita, agora, se cala. O restante do ritual exige silêncio e precisão. O peito exposto do vampiro sente a pesada mão de Garrett. Suas unhas lentamente cortam a pele e revelam as vísceras pútridas do Nosferatu. O sangue se acumula no ventre de Terence. Garrett recolhe pele primeira vez, um pouco do sangue com o cálice e o derrama sobre si. O olhar atônito e apavorado de Terence assiste seu executor colher um pouco mais de seu sangue. Desta vez, Garrett leva o cálice à boca, e sorve o sangue com enorme prazer. O cálice permite ao Assamita que beba o sangue sem que sinta o gosto amargo e nocivo do sangue de um semelhante. O cálice mascara a maldição, tornando o sangue inofensivo e conservando ainda, o maravilhoso sabor do sangue imortal. Uma pena que o poder do sangue se vá com a purificação. Garrett já pode sentir o cheiro da Morte. O coração de vítima é descoberto. Garrett se aproxima do coração pulsante em frenesi. Sente primeiramente seu cheiro. Toca-o com delicadeza. Deixa as ondas da pulsação do coração de Terence movimentarem sua alma. Ele agora está próximo de se encontrar, mais uma vez, com a Morte. Garrett envolve o coração de Terence com sua mão, e lentamente o pressiona, sufocando seus esforços de vida. Em pouco tempo o coração para de bater. Restam poucos segundos de vida a Terence. Garrett arranca o coração do tórax e o deposita no interior do cálice, levanta sua mão para o alto, e com uma precisão e violência indescritíveis, a lança em direção ao pescoço da vítima. Sua mão penetra no crânio de Terence como se sua carne fosse água, e atinge o cérebro do vampiro em seus últimos segundos de vida. A Morte estava lá e sua mão, mais uma vez pode tocar a alma de sua vítima sendo levada pelos poderosos e delicados braços da Morte. O êxtase! Garrett arranca os olhos da vítima, bebe todo o seu sangue e depois devora seu coração. E assim o ritual chega ao seu fim.
Brasil, 10 de janeiro de 1995, São Paulo.
O vampiro apareceu no início da noite. Se identificou como um Follower of Set. Não disse seu nome e lhe pediu um serviço. Garrett perguntou como sabia de sua existência. O misterioso vampiro se limitou a lhe propor uma barganha. Garrett mata o poderoso Rafael Cauduro, e o Setita lhe livra da maldição de seu sangue para sempre. O preço era muito alto para ser recusado. O preço, não iria ser pago até que Garrett matasse Cauduro. Mas a garantia era o coração do Setita. O adorador de Set tirou do peito o seu próprio coração, e o conferiu aos cuidados de Garrett. Se algo acontecesse ao coração, o clã inteiro dos Setitas iria caçá-lo para devorar-lhe as entranhas. A barganha era incomum. O vampiro a ser morto é poderosíssimo, mas o preço a ser pago vale todos os riscos. Garrett havia dado um passo decisivo, e por instantes uma antiga lembrança lhe trouxe o medo à muito esquecido. Lembrou-se de sua família. Há certos caminhos que não devemos trilhar...
Brasil, 18 de janeiro de 1995, São Paulo.
A armadilha não deu certo. Rafael Cauduro conseguiu escapar. Afinal ele não é um vampiro qualquer. Agora, Garrett, que já estava entre os nomes da lista vermelha por causa do assassinato de Terence, será caçado até a morte pela Camarilla.
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