Um panorama sobre jornalismo
Compromisso com a verdade, coragem, investigação, versatilidade e disposição são requisitos do bom jornalista. Lidar com a informação, ser o "meio" de ligação entre esta informação e o público não é tarefa fácil. Viver no mundo dinâmico das redações, seja nos veículos impressos, radiodifusores, da televisão ou da Internet, cada qual com suas características próprias, exige prática diária, adaptação aos novos sistemas e mecanismos tecnológicos que são constantes nos meios de comunicação.
A primeira indagação a que nos colocamos é: a faculdade realmente prepara este profissional? De acordo com os profissionais da área a resposta é não. "É bastante teoria e muito pouca prática", alega Dina Rachid, radialista e até pouco tempo apresentadora da Band Bahia. Segundo ela, "a teoria é muito diferente da prática", e, portanto, o estudante de jornalismo não deve se limitar ao ambiente de aprendizagem acadêmico; logo cedo, buscar alternativas de caráter mais prático é importante, como um estágio, pois dessa forma, quando for de fato ingressar no mercado de trabalho, o ele já terá adquirido um conhecimento mínimo da mecânica e do ambiente da profissão.
Este é um problema da maioria das faculdades brasileiras que formam jornalistas, o que serve como justificativa para as críticas de muitos profissionais de renome na área a respeito da obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão. A pouco tempo atrás, as empresas de comunicação jornalísticas não faziam tal exigência, e qualquer um com certo talento poderia ser jornalista. Hoje, com a regulamentação desta atividade, o diploma é condição primordial, assim como em qualquer outra atividade por onde o seu pretendente tenha que passar alguns anos na universidade.
Para Dina, formada em Radialismo, o diploma deve ser exigido, mas não em todas as circunstâncias. Ela acha que para se trabalhar na televisão ou no rádio não basta apenas saber escrever, é preciso ter sensibilidade, ter o dom, "ter nascido para isso". Por outro lado, ela critica as emissoras de rádio da Bahia por contratarem pessoas despreparadas, que nunca sequer terminaram o primeiro grau, e alega que esta é uma das razões pela qual deixou o rádio de lado, pois isto fez com que este veículo perdesse muito em qualidade.
A ansiedade do "foca"
Ansiedade, este é o adjetivo que melhor caracteriza o jornalista recém-egresso da universidade e que começa a trabalhar numa redação ("foca"). Muitas vezes esta ansiedade esbarra-se nas decepções, que, de acordo com Dina, são muito mais presentes que a confirmação das expectativas. "Eu nunca crio muitas expectativas em minha vida", conta, "e já tive muitas decepções".
E qual o ingrediente básico do bom jornalista? De acordo com a apresentadora, a sorte é fundamental. De pouco adianta a competência sem a sorte. Daí a necessidade de se agarrar todas as oportunidades que aparecem, "correr atrás e não esperar que venha tudo até você". Ainda mais num mercado que se torna mais fechado no decorrer dos dias, mas competitivo e em crise. Podemos até concluir que o jornalista é meio nômade, não se conforma com a inércia e se vê obrigado a ser tão dinâmico quanto a própria profissão o é.
As dificuldades de mercado e as falsas expectativas fazem muitos estudantes formados desistirem do jornalismo e olharem em outras direções. Ocorre que muitos que decidem cursar comunicação não se preocupam durante o curso em analisar e vivenciar as dificuldades, os problemas, as precariedades e criam falsos horizontes, maravilhas que não existem. O mercado exige que o profissional se dedique ao máximo, seja realmente capaz, tenha conhecimento dos mais variados assuntos, que tenha dinamismo e flexibilidade, mesmo sendo mal remunerado.
Aliás, os jornalistas em geral ganham muito pouco. "Antigamente, se ganhava mais", recorda Dina, que há treze anos trabalha com comunicação. "É preciso amar a profissão", diz Maurício, repórter de cidade do jornal Tribuna da Bahia. Segundo Maurício, é um trabalho excitante, um trabalho de "detetive", onde você chega no jornal sem sequer saber o que fará naquele dia; e tudo isso compensa. O pior é que, mesmo sendo a pessoa extremamente dedicada, o reconhecimento nem sempre vem, o que ocorre muito aqui em Salvador.
"Existe muito jornalista desonesto", denuncia a radialista. Segundo ela, a ética se aprende na universidade e é corrompida pelo meio. "A teoria é muito diferente da prática", e a quantidade de gente sem ética no mercado do jornalismo é enorme. São jornalistas que se locupletam da sua posição em benefício individual; parasitas do sistema. E eles estão em toda parte: na grande imprensa, nos pequenos jornais, nas assessorias, e agem com ou sem diploma.
Ter Personalidade
Para Rachid, trabalhar na imprensa escrita é mais difícil. Lidar com som e imagem sempre lhe foi algo bastante natural, desde os dezesseis anos de idade, quando iniciou-se no rádio. A sua experiência com impressos se resume a alguns artigos e nada mais. Ela prefere a correria da televisão, a velocidade, o movimento de um estúdio a uma redação de um veículo impresso qualquer. Na sua opinião, um dos segredos de lidar com a câmara é não abrir mão da naturalidade para não acabar sendo artificial, claro que não deixando de lado a seriedade necessária ao apresentar um noticiário.
"Já errei sim, mas também já acertei muito", objeta. Errar faz parte, e na televisão ou no rádio é extremamente necessário saber contornar o erro, ainda mais quando se está ao vivo. Já nos jornais impressos, a margem de erro tende a ser menor e menos dramática, visto que o jornalista tem plena possibilidade de revisar o texto e consertar aquilo que está errado.
"O jornalista tem que ter personalidade", não importa em que veículo ele trabalhe, afirma a apresentadora. Não vai somar em nada ele ficar copiando este ou aquele profissional, esta ou aquela maneira de se comportar, de trabalhar. Até porque o mercado não quer "cópias", mas sim originalidade, um profissional capaz de tomar as suas próprias iniciativas, o jornalista que, também através da sua personalidade, passe credibilidade e confiança.
Alexandre
Costa Reis
Estudante da Facom
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