1999 Atualizado todo dia. Se você quiser escrever para o 1999 sobre QUALQUER coisa que tenha a ver com música (um show legal que você viu, um carinha que você conseguiu entrevistar, um disco que você queria mostrar pras outras pessoas, qualquer tipo de teoria, contar qualquer parte da história do rock), basta escrever para a gente. 25.AGO.1999 RESENHASV99 Chelmsford (Inglaterra) Por Luciano Vianna e Valeria Rossi London's Burning Com apenas quatro anos de vida, o festival V99 (o nome muda de acordo com o ano) já pode se vangloriar de ter virado um dos eventos mais tradicionais do verão inglês, junto com o Reading e o Glastonbury Festival. Os dois dias de música no penúltimo fim de semana de agosto são patrocinados pelo conglomerado de empresas Virgin (que além da gravadora inclui linhas de trem e avião, refrigerantes, roupas e cosméticos) e atraem até cem mil pessoas por dia. A escalação dos três palcos deste ano teve desde a primeira apresentação solo da Spice Girl Mel C (reapelidada pela imprensa musical inglesa de "punk spice") até shows de bandas como Orbital, Manic Street Preachers e Cardigans. Para começar o festival de pé direito, a melhor pedida era a apresentação do Faithless. Apesar do horário ingrato e do sol forte das duas da tarde, o grupo mostrou porque faz um dos melhores shows ao vivo de música eletrônica do mundo, botando o povo que chegou cedo ao festival para pular ao som de sucessos como "God Is A DJ" e "Insomnia". A uma longa caminhada de distância ficava o palco patrocinado pela MTV, onde o Sneaker Pimps estava apresentando sua nova formação, com o cantor Chris Corner. Não é ruim, mas com a ex-integrante Kelli Dayton, o grupo soava melhor. Uma corridinha depois deixou todos a postos para a estréia solo da spice girl Melanie C. Apesar do ceticismo do público, Mel C acabou dando conta do recado direitinho. O som, mistura de indie com hard rock, impressionou. No final ela fez todo mundo pular ao som de "Anarchy in the UK", com direito a verso trocado e tudo ("I am a antychrist / I am a Sporty Spice...") Com o cancelamento do show do Placebo anunciado um dia antes (o vocalista Brian Molko pegou uma virose durante a turnê do grupo pela Austrália), o Kula Shaker foi chamado em cima da hora para participar do festival. Em férias (eles quase ficaram de fora porque até o último minuto não conseguiam achar o tecladista da banda),o KS pareceu sentir a ausência dos palcos e fez um show bastante morno. Em compensação, morno é uma palavra que o Death in Vegas parece desconhecer. Fazendo um dos principais shows da Arena Dance, a dupla de produtores Richard Fearless e Steve Hellier, ao vivo acrescida de um baixista e dois guitarristas, mostrou em meia hora porque o tão aguardado CD Dirge (que será lançado no começo de setembro na Inglaterra) é um dos favoritos para o posto de disco do ano. Com samplers de Iggy Pop, Jim Reid (Jesus And Mary Chain) e a participação especial da cantora Dott Allison, o grupo impressionou pela qualidade das novas músicas e pelas releituras de antigos sucessos como "Rocco" e "Dirty". Pausa para um lanchinho rápido no backstage (ao nosso lado, Gaz Coombes, o vocalista do Supergrass, passa apressado fugindo do décimo pedido para posar para fotos) e lá vamos nós de novo para o palco da MTV assistir ao Super Furry Animals. Os galeses não decepcionaram com sucessos antigos e muitas músicas do novo disco, Guerrilla, para uma platéia de adolescentes que não paravam de se chacoalhar. De um grupo galês para
outro, era hora de correr para o palco principal para o show do headliner do primeiro dia
do V99, o Manic Street Preachers. Muito mais rápidos e bem mais raivosos do que em disco,
o trio fez um dos melhores shows do festival, tocando clássicos atrás de clássicos,
como Apesar do cansaço, ainda dava tempo de conferir o mestre James Brown, que mandou muito, mas muito bem. O Godfather do soul cantou clássicos de seu repertório (entre eles "I Feel Good" e "Sex Machine") e ainda rebolou as cadeiras em "I'm A Soul Man", de Sam Cooke. O segundo dia começou com os Cardigans. Os suecos desta vez acertaram a mão (eles são célebres pelos shows sofríveis que fazem) e mandam ver até mesmo uma música inédita (ainda sem nome). Os sucessos de sempre, como "Lovefool" e "Hangin' Around", não faltaram. Depois foi a vez os ingleses do Gomez também mostrarem faixas inéditas do novo disco, que chega as lojas em outubro. Agradaram muito, especialmente em "Tijuana Lady", que ganhou uma roupagem diferente ao vivo. Da calma do Gomez para a arena de música eletrônica, para o show da atual sensação inglesa, o Groove Armada. Com uma apresentação essencialmente orgânica (com direito tombone, saxofone, uma vocalista e um MC), o grupo conseguiu transportar para o palco do V99 toda a complexidade dos arranjos dos seus excelentes dois álbuns. Destaque para a arrebatadora versão ao vivo de "At The River", desde já a música mais bonita dos últimos anos. nquanto isso, ao redor do palco principal o público ia aumentando cada vez mais, todos impacientes para o show dos Happy Mondays, uma das principais atrações do festival. Ao contrário dos shows anteriores, os Mondays não decepcionaram e fizeram um excelente show. Shaun Ryder estava tão animado que até chamou a mulher e a filha para dançarem juntos no fim, com "Halellujah". Isso sem contar a presença do estranhíssimo Bez, com sua dança desengonçada de sempre. Dos engraçadinhos do Happy Mondays para a calma do Mercury Rev. Os americanos fizeram o show mais relax e tranqüilo do festival, praticamente só para fãs - grande parte do público estava dividida entre o palco principal e a arena de música eletrônica, que apresentavam ao mesmo tempo respectivamente Stereophonics e Ian Brown. Quem apostou no Mercury Rev não se arrependeu nem um pouco. Mesclando músicas do novo disco, com clássicos antigos como "Carwash Hair" e covers como "Isolation" (de John Lennon), o Rev fez um dos melhores shows de toda a história do festival. Depois de um descanso regado ao hip hop melódico e aos scratches do DJ Shadow, o Massive Attack subiu ao palco com 3-D já avisando que esse seria o último show da banda em pelo menos dois anos. Talvez por causa disso, eles fizeram um espetáculo superanimado, com direito a todos os sucessos mais dançantes e uma performance para lavar a alma dos fãs. Para terminar a maratona, nada melhor do que dançar ao som de um dos mais famosos grupos de música eletrônica, o Orbital, que se apresenta no Brasil em outubro. O projeto dos irmãos Hartnoll, confirmado para se apresentar no Free Jazz, não deixou ninguém parado um minuto, com um show de luzes e vídeos que impressionava pela simultaneidade entre o aspecto visual e o som do espetáculo. Pulando sem parar, os dois mesclavam músicas do novo disco com sucessos do passado e algumas bizzarices - eles chegaram a tocar Bon Jovi. O clássico das raves "Chime" encerrou o festival com chave de ouro. Se a dupla fizer o mesmo no Free Jazz, o Orbital tem tudo para concorrer pau a pau com o Chemical Brothers no quesito show do ano no Brasil. "Curitiba,
Capital do Rock" 1999 é feito por Alexandre Matias e Abonico Smith e quem quer que queira estar do lado deles. Os textos só
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