1999
mais que música

Atualizado todo dia.

Histórias: Já
Um espaço pra textos diferentes, atualizado diariamente

Se você quiser escrever para o 1999 sobre QUALQUER coisa que tenha a ver com música (um show legal que você viu, um carinha que você conseguiu entrevistar, um disco que você queria mostrar pras outras pessoas, qualquer tipo de teoria, contar qualquer parte da história do rock), basta escrever para a gente.

26.OUT.1999

RESENHAS
QUANNUN
Spectrum
(Quannun Projects)
Por Alexandre Matias

Junte as palavras “disco” e “manifesto” na mesma expressão e veja uma porção de gente correndo de medo. Ao tachar uma obra de arte de marco histórico logo na saída, o artista corre o risco de passar por charlatão ou
palhaço - ou pior, as duas coisas ao mesmo tempo. A arrogância de alguns artistas confunde-se com sua própria vaidade e estes se dispõem a “marcar terreno” em determinado momento da carreira com discos em geral lamentáveis, coletâneas de tentativas de teses de doutorado em forma de canção.

Outros discos são, mesmo à revelia, manifestos desde sua criação. Os dois primeiros discos do Velvet Underground e os dois dos Stooges são referências fundamentais para quem quiser aumentar o volume de seu instrumento e deixar o ruído guiar a canção. A coletânea Nuggets era trilha sonora básica do Max’ s Kansas City e do CBGB’s, no berço do punk. O primeiro disco do Jesus & Mary Chain semeou todo uma nova forma de ver o pop britânico, como o primeiro dos Stone Roses. Que dizer de Screamadelica, do Primal Scream? Nevermind, do Nirvana? Blue Lines, do Massive Attack? Ou dos primeiros discos de Thaíde & DJ Hum, Pin Ups e Killing Chainsaw - além de Beneath the Remains, do Sepultura, que ensinaram toda uma geração formas diferentes de expressar-se através do som.

São discos cujo manifesto não é nem político nem artístico - é musical. É colocar o disco na vitrola e entender o estrago que ele fez numa geração seguinte, às vezes, em seu próprio tempo. O disco-manifesto pode ser entendido também como a primeira impressão digital (ou analógica, dependendo de sua forma de gravação) de um gênero ou de uma geração à superfície musical.

Spectrum (Quannun Projects, importado) é o disco-manifesto do punk do rap. Como o rock nos anos 70, o rap desta década está assistindo uma glamourização do gênero semelhante à que levou o rock a demências e exageros como The Wall, Boston, Eagles, as turnês dos Rolling Stones e as roupas do Elton John. Só que ao
contrário do rock - que fingia-se de rebelde no meio de toda aquela grana -, o rap enche os bolsos de dinheiro só pra mostrar a grana caindo das calças. Clipes extravagantes, capas com detalhes em dourado, figurinos ostensivos, carrões, roupas, tênis e óculos de grife: está demorando pra aparecer um rapper nadando em moedas de ouro, na única referência milionária ainda intacta - o Tio Patinhas.

E se pensarmos que o gênero saiu do gueto, mais marginal que o próprio rock dizia ser, é uma tristeza. O sistema praticamente comprou o gênero, tirando-os da rua e colocando-os em hotéis cinco estrelas, dando-lhes tratamento classe A. Mimando os caras até a última ponta (tática desenvolvida com o rock dos anos 70), gravadoras, empresários e produtores fazem os rappers se acostumarem com um estilo de vida que nunca conseguirão manter. Depois arrancam-lhes o chão fora, fazendo os pobres coitados mendigar por uma cama, um prato de comida e um contrato de disco.

Mas quando o rock inevitavelmente morreria (vendo ser entregue de mão pro bandido), o punk entrou em ação e desnorteou tudo, mais uma vez. O rap, que nascia no mesmo momento histórico, e logo foi tachado de “punk negro”. Mas o buraco do rap era mais embaixo e a revolução que impôs ao planeta nos deu filhotes tão diferentes quanto as Spice Girls, Tricky, Mano Brown, o drum’n’bass e Claudinho e Buchecha. Absorveu e foi absorvido pelo sistema. Precisava de um punk dentro de si mesmo, algo que puxasse o olhar de Puff Daddy e Snoop Doggy Dogg de volta às ruas.

Com raízes no chamado daisy movement - o rap hippie da tríade De La Soul, A Tribe Called Quest e Jungle Brothers -, o rap vem passando por um tratamento de reencontro com suas origens, como um filho adotivo que teima em conhecer a mãe biológica. Ao encontrá-las, artistas de caminhos tão distantes como Coolio, os ingleses do Massive Attack, Cypress Hill, Wu-Tang Clan e Dr. Dre, perceberam que a melodia, no rap, é apenas um acessório. Que a força motriz é anterior ao groove - é o ritmo, a bateria. É a voz falando sobre o pulso e todo o resto seguindo o ritmo desta dupla.

Quannun, o grupo criador do manifesto Spectrum, é o novo nome adotado pela turma conhecida por Solesides. Nomes novos? Mais ou menos. Além do já pop star DJ Shadow, compõem a banda os duos Blackalicious e Latyrx, conhecidos daqueles que freqüentam as prateleiras de rap. Os cinco - Shadow, Chief Xcel, Gift or Gab (o Blackalicious), Lateef The Truth Speaker e Lyrics Born (o Latyrx) - resolveram se juntar no final de 1995 como uma tentativa de erguer e mostrar para o resto do mundo aquilo que eles vinham fazendo. O plano era simples e começava com a gravadora de cassetes Solesides, que acabaria batizando o grupo. Sob este nome gravaram a fita mix Radio Sole 1, que fingia ser um programa de rádio que apresentava as novas do norte da Califórnia.

Mas aí DJ Shadow cometeu Endtroducing e tudo desandou. Sucesso de crítica em 1996, o disco transformou Shadow numa celebridade por suas paisagens dramáticas tiradas da cultura hip hop. Foi o suficiente para o dono da Mo’ Wax, sua gravadora, James Lavelle, levar a sério o projeto que tinha engavetado para usar quando
fosse a hora: o U.N.K.L.E. Cozido por dois anos, o supergrupo elevou o DJ ao patamar de Beastie Boys e Radioheads. E cadê tempo para trabalhar os Solesides? Enquanto isso, Blackalicious e o Latyrx não ficaram parados. Este último lançou dois discos (The Album e o EP The Muzapper’s Remixes), enquanto o Blackalicious se apresentava sem parar, levando o sobrinho Maroons (Chief Xcel e Lateef) junto. A reputação no meio alternativo do rap da costa oeste cresceu mais quando gente de Nova York e Londres (fazendo o caminho do DJ Shadow de volta) começou a descobrir os dois grupos.

Não fazia mais sentido retomar o Solesides num formato mega, uma vez que iria contrato ao pequeno tamanho que o projeto havia sido concebido. Os cinco voltaram a se reunir e zeraram o cronômetro ao rebatizar-se como Quannun. Sob um novo nome, o grupo poderia pensar novas possibilidades - era uma nova fase, pós-Solesides, pós-Endtroducing, pós-U.N.K.L.E. Todas estas apenas ensaios para a entrada definitiva: o espectro Quannun.

E é isso que é Spectrum. Abrange tudo que o rap moderno (que pode, como o punk, corroer o rap atual por dentro até derrotá-lo) pode ser, chamando gente com objetivos semelhantes (Jurassic 5, Souls of Michief, Company Flow, Joyo Velarde e Divine Styler. Conduzido como o mesmo programa de rádio que era Radio Sole 1 (apresentado pelo DJ Mack B-Dog, que ainda entrevista alguns Quannuns), Spectrum é um manifesto que deverá ser perseguido pelo rap, se este estiver disposto a renovar-se.

Aqui, o rap é conduzido pelas diversas formas que música pode lhe dispor: através do soul Motown 70 (One of a Kind, com o Blackalicious), dos jogos com palavras que deram origem ao rap (os dois momentos dos Quannun MCs: Concentration, ao lado do Jurassic 5, e The Extravaganza, com os Souls of Mischief), do soul moderno (People Like Me, com a bela voz de Joyo Velarde), dos filmes policiais dos anos 80 (Storm Warning, do Latyrx), do rock latino (I Changed My Mind, com Lyrics Born roubando a cena do lado dos Poets of Rhythm) do rap tradicional (os Quannun MCs em Bombonyall), do funk moderno (Hott People, outro grande momento de Lyrics Born), do R&B (Golden Rule, os Maroons e Erin Anova), do erudito (Blackalicious transforma um trecho de ópera num coral fantasma em Jada’s Vengeance). O que vier, vira rap moderno, relido, novo. Genial.

Einstürzende Neubaten
"Punk - A Anarquia Planetária e a Cena Brasileira"
Tom Waits
Andreas Kisser
Retropicalismo / Mutantes/ Arnaldo & Rita
"Quem com ferro fere, com ferro será ferido"
Legião Urbana
Stereolab
Cut Chemist / Shortkut
Pavement
"Vocabulário de Música Pop"
Red Hot Chili Peppers (show)
MV Bill
Thee Butchers' Orchestra
Zen Arcade - Hüsker Dü
Ozomatli
Pato Fu
Los Hermanos
Nocaute
Mosha (show)
Down by Law
Tricky / DJ Muggs
Los Hermanos
Grenade & Thee Butchers' Orchestra
Rebeca Matta
Man or Astroman?
Abbey Road
Os Catalépticos (show)
Comunidade Ninjitsu
"Esporro!" e "Guerrilha"
CMJ Music Fest
Pensamentos Felinos (setembro)
Echo & the Bunnymen (show)
Stela Campos
Jim O'Rourke
atenciosamente, (setembro)
Luiz Gustavo (Pin Ups)
Relespública (Diário de Bordo)
Alex Chilton
Toy Shop
Martin Rev (Suicide)
Yellow Submarine
Punk Rock em Curitiba
Grenade
Mutantes
Bruce Whitney (Kranky Records)
Cotton Mather
Por Fora do Eixo (setembro)
Thomas Pappon
Pequenas Capitanias (setembro)
Mercury Rev (show)
Paralamas do Sucesso
Relespública, Mosha & Woyzeck (show)
Reading 99
O maravilhoso mundo grátis
"Eu vou enfiar um palavrão"
Jason (entrevista)
Pôneifax, Walverdes e Tom Bloch
Noel & Liam Gallagher
Manu Chao
Jason pelo Nordeste
V99 (festival com Manic Street Preachers, Orbital, DJ Shadow, Massive Attack, Mercury Rev, Gomez, Happy Mondays, James Brown, Groove Armada e Mel C)
"Curitiba, Capital do Rock"
Divine, Six Degrees, Moonrise e Barbarella
Vermes do Limbo
Sala Especial
Al Green
Bowery Electric
Jamiroquai
Flaming Lips
Gong - Show de 30 anos
Megatério (agosto) - A Noite do P* no C*
Marreta (agosto) - O jazz morreu
Rolling Stones
Mercenárias
"Paul's Boutique"
"Tim Maia Racional"

Kraftwerk
Sugar Hill Records

Second Come
R.E.M.
Built to Spill
Eddie
Flaming Lips
Ultraje a Rigor
"Kurt & Courtney"
Moby
clonedt
Mark Sandman
Suede
Plebe Rude
Rentals

Pavement
MEGATÉRIO - Omar Godoy
WICKED, MATE - 90 (de Londres)

REVOLUCIÓN 1,99 - Edu K
atenciosamente, - Rodrigo Lariú
Red Hot Chili Peppers

Underworld
Prodigy
Hojerizah
Raimundos

Plebe Rude
Wilco
Little Quail
Chemical Brothers
Atari Teenage Riot

Grenade
Lulu Santos
Liam Howlett
4-Track Valsa
Chemical Brothers (show)
Yo La Tengo + Jad Fair
"Select"
Dr. John
Memê
"Drinking from Puddles"
Capital Inicial (show)
Jon Spencer Blues Explosion (show)
Homelands (festival com DJ Shadow, Underworld, Asian Dub Foudation, Chemical Brothers, Fatboy Slim, Grooverider, Faithless e outros)
Divine
"The Best of Sugar Hill Records"
Ambervisions
Amon Tobin
Sepultura/Metallica (show)
Mocket
Stereophonics
Headache
Fatboy Slim
Cassius
Paul Oakenfold
Silver Jews
Amon Tobin
Inocentes
Sepultura
Outropop
Pensamentos Felinos
Loniplur
atenciosamente,
Swervedriver e Mogwai
Comédias
Pequenas Capitanias
Por Fora do Eixo
Arroz com Pequi
Marreta?

Das Margens do Tietê
Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando
Por Aí
T-Rex
Kurt Cobain
Bob Dylan
Nuggets
Sebadoh
Los Hermanos
Kiss (show)
Mestre Ambrósio
Jesus Lizard
Maxixe Machine
Fish Lips
Silverchair
PJ Harvey e Jon Parish (show)
Cornelius
"Post-punk chronicles"
Blur (show)
Garage Fuzz
Pólux (show)
Marcos Valle
Astromato
French Fried Funk
Sublime
Leia no último volume
Na Lata!
Miniestórias
Blur
Ira!
Sleater-Kinney
Goldie
Henry Rollins
Jon Carter
Afrika Bambaataa
O pai do rock brasileiro
Nova História do Pop
Grave sua própria fita
C86
Medo do novo
Digital Delay
No shopping com Status Quo
Fita ou demo?
Solaris
A história do indie baiano
Prot(o) e Rumbora
Monstro Discos
Carnaval e Los Hermanos
Eletrônicos e bicões
Kólica, Pupila e Total Fun
As hortas musicais de Curitiba
Ala Jovem
Brian Wilson
Limpando os remédios
Amor e Luna
Massive Attack
Blondie
"You've Got the Fucking Power"
Relespública (show)
Trap
Johnattan Richman (show)
Little Quail & the Mad Birds
High Llamas
Thurston Moore
Red Meat
Los Djangos
Bad Religion (show)
Vellocet
Jon Carter (show)
Raindrops
Jimi Hendrix Experience
Fun Lovin' Criminals
Garbage
Tom Zé
Câmbio Negro
Catalépticos
Lobão
Cowboys Espirituais
Max Cavalera
Escrever "de música"
O CD ou a vida (quase)
A bossa nova contra-ataca o Brasil
Um pouco de educação não faz mal a ninguém
Fé em Deus e pé na tábua
O Mercury Rev que não foi
Um banquinho, um violão e Dee Dee Ramone
Escalação pro Abril Pro Rock 99
Dago Red
Festivais na Bahia
Chutando o futuro de Brasília
Ê, Goiás
Pós-Rock, Teletubbies e LTJ Buken
Você sabe o que é Louphas?
Por dentro da Holiday Records
Chacina no litoral paranaense
PELVs e um blecaute
Bruce Springsteen
O último show dos Beatles
Genesis -
"The Way of Vaselines"
Vamos nos encontrar no ano 2000
Tropicanalhce
A professora com pedal fuzz
Portishead
Chico Buarque (show)
Deejay Punk-Roc
Ninja Cuts
Jon Spencer Blues Explosion
Dazaranha
Snooze
U.N.K.L.E.
Pearl Jam
New Order (show)
Rock Grande do Sul
Spiritualized
Damned
NME Premier Festival (shows)
Delgados
Punk Rock Stamp
Fellini (show)
Plastilina Mosh
Neutral Milk Hotel
Fury Psychobilly
Gastr Del Sol
Pólux
Afghan Whigs
Ritchie Valens
Marcelo D2/ Resist Control (show)
Limbonautas
Cartels
Babybird
Elliot Smith
Jesus & Mary Chain
Nenhum de Nós
Otto 
Relespública  
DeFalla
Piveti
Isabel Monteiro
Man or Astroman?
Ricardo Alexandre elocubra sobre Engenheiros do Hawaii
Camilo Rocha ri do medo da imprensa especializada
Leonardo Panço mete o pau em quem ele acha que deve meter o pau
G. Custódio Jr. fala de Flin Flon e Va Va Voon
Tom Leão dá as dicas de como se gravar "aquela" fita pra "aquela" gata
ROCK & RAP CONFIDENTIAL defende o crédito à pirataria 
Rodrigo Lariú lembra de bons shows
Festivais no Nordeste
O último show do Brincando de Deus

Conheça Belo Horizonte
98 em Brasília
Superdemo e Fellini no Rio
Uma geral no ano passado em Sampa
Cadê o público nos shows?
As dez melhores bandas de Curitiba
Pelo fim da reclamação
Black Sabbath
Burt Bacharach
"Três Lugares Diferentes" - Fellini
Beck
Mercury Rev
Jurassic 5
Sala Especial
Lou Reed (show)
Asian Dub Foundation
Belle and Sebastian
"Velvet Goldmine"

Autoramas (show)
Grenade
Chemical Brothers (show)
Cardigans
Bauhaus
Stellar

1999 é feito por Alexandre Matias e Abonico Smith e quem quer que queira estar do lado deles.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
Fale conosco

----- -----