Image1.JPG (15354 bytes)

01.02.1999

INFORMAÇÃO
Garbage
Tom Zé
Câmbio Negro
Catalépticos

P&R
Lobão
Cowboys Espirituais
Max Cavalera

COLUNISTAS
CINISMO ALTO-ASTRAL
por Émerson Gasperin
ESPINAFRANDO
por Leonardo Panço
OUTROPOP
por G. Custódio Jr.
PENSAMENTOS FELINOS
por Tom Leão
ROCK & RAP CONFIDENTIAL
por Dave Marsh
atenciosamente,
por rodrigo lariú

CORRESPONDENTES
INTERNACIONAIS

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO NORTE-AMERICANO
por Cassiano Fagundes
WICKED, MATE
por 90

BR-116
Pequenas Capitanias
Comédias
Outros Carnavais

Por Fora do Eixo

Arroz com Pequi
Loniplur-RJ
Das Margens do Tietê
Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando

HISTÓRIA
DO ROCK

Bruce Springsteen
O último show dos Beatles
Genesis
"The Way of Vaselines"

FICÇÃO
Leia no último volume
Canalha!
Miniestórias

RESENHAS
Portishead
Chico Buarque (show)

Deejay Punk-Roc
Ninja Cuts
Jon Spencer Blues Explosion
Dazaranha

Snooze
U.N.K.L.E.
Pearl Jam

New Order (show)
Rock Grande do Sul
Spiritualized
Damned
NME Premier Festival (shows)
Delgados
Punk Rock Stamp
Fellini (show)
Plastilina Mosh
Neutral Milk Hotel
Fury Psychobilly
Gastr Del Sol
Pólux

Afghan Whigs
Ritchie Valens
Marcelo D2/ Resist Control (show)
Limbonautas
Car
tels
Ba
bybird
Elliot Smith

E-MAIL

CARTAS

CRÉDITOS

AFGHAN WHIGS
1965
(Columbia)
Por Alexandre Matias

Bem-vindo aos anos 60. Guerra do Vietnã, direitos civis, passeatas nas ruas, drogas e cabecismo, paz e amor, homem no espaço, rock e soul music estourando nas paradas. Os anos 60 não foram só uma grande época pra se viver como deixaram um enorme legado na cultura mundial, abrindo porteiras e deixando tudo livre e possível, transformando tudo o que conhecíamos antes passível de ser absorvido, consumido e injetado na cultura pop. Mas quando a década começou de verdade? Os ingleses marcam a data pro fim do ano de 1964, quando o então primeiro-ministro Profumo assumia publicamente ter um affair fora de seu casamento. Os americanos pensam um pouco antes, entre novembro de 1963 (o assassinato de Kennedy) e fevereiro de 1964 (a aparição dos Beatles no programa de Ed Sullivan). No Brasil ficamos entre o nostálgico 1959 e o cinzento 1968. A história do rock nos propõe dois anos: 1966 como o aquecimento perfeito (primeiro disco do Who e de Frank Zappa; Revolver, dos Beatles; Pet Sounds, dos Beach Boys; Between The Buttons, dos Stones) e 1967 como a piração total (o primeiro dos Doors, do Velvet Underground e do Jefferson Airplane e, claro, Sgt. Pepper’s, dos Beatles).

Pro Afghan Whigs, o centro de tudo está bem no meio - literalmente. Meia cinco é o ano que fez a década ser o que é. Pelo menos é isso que Greg Dulli e cia. acham. 1965 (Columbia, importado), seu novo disco, traz o grupo voltando praquele ano tentando descobrir o que o fez deste jeito. Na verdade, é apenas uma desculpa para o grupo mostrar de onde vem sua mistura agressiva de rock e soul, os dois novos gêneros nos anos 60.

O rock é o mais direto possível e o soul o mais cru. Nada de psicodelia, discos conceituais, orquestras ou direção artística pra um elepê. O Afghan Whigs está interessado no rock e no soul que faz mexer as cadeiras, ele quer o suingue proposto pelos compassos quatro por quatro dos dois gêneros. É claro que as influências do grupo vão muito além das do começo dos anos 60 -o som do grupo é coeso, preciso e pessoal. Quem conhece, sabe que o grupo é dono de um dos sons mais individuais no rock com guitarras dos anos 90. Além de ter Greg Dulli no microfone - misto de Mick Jagger com Marvin Gaye, o cantor e letrista fala no ouvido sobre suas boas e más intenções, chocando e seduzindo ao mesmo tempo.

1965 é melhor ainda que o disco anterior do conjunto, o áspero Black Love, do ano retrasado, e recupera a química explosiva do antepenúltimo Gentlemen. Dulli está cantando muito e mistura canto com interpretação como poucos cantores da atualidade sabem fazer (sem, para isso, usar máscaras). Ele abre com um fósforo sendo aceso que nos leva na empolgante "Somethin’ Hot", rock pesado temperado com uma gritaria soul cantada por vocalistas de apoio.

A guitarrenta Crazy entra perguntando um trocadilho: "O que aconteceu com a sua alma/ com o seu soul? Ouvi dizer que você o vendeu". E encontra a saída perfeita para a década em questão: "terapia – a farmácia". Uma citação nada ingênua numa música que fala em descolar um êxtase, outro trocadilho. Cellos e violinos abrem "Uptown Again", que logo descamba num excelente groove roqueiro. A vinheta "Sweet Son Of a Bitch", cheia de gemidos e discos rodados ao contrário, abre caminho para a primeira cantada do disco, "66". Nesta música como em todo o decorrer do disco, Dulli relaciona o movimento do Women’s Liberation com o jogo de casal que está acostumado a fazer em suas letras. O mesmo segue na tensa "John The Baptist", que cita Marvin Gaye duas vezes, a segunda ("let’s get it on" - "vamos lá" -, nome do segundo disco clássico de Gaye) abrindo o pegajoso refrão. "The Slide Song" e "Neglekted" também vão por esta temática. "Omerta" fecha o ótimo disco citando "She Loves You", dos Beatles, no refrão.

No fim, 1965 é mais um álbum do Afghan Whigs. Todo o conceito do disco funciona mais como uma afirmação das convicções do grupo. Talvez eles tenham escolhido este tema só para ter um disco com uma data no título. Pura tiração de onda. Ou estilo, como quiser.

.Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

Fale conosco