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04.01.1999

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BECK
Mutations

(Geffen/Universal)
Por Abonico R. Smith

Quem estiver a fim de levantar um pouquinho de peso deve tirar o Aurélio da prateleira e procurar o significado da palavra mutação. Estão lá os mais comuns, como mudança, alteração, modificação e transformação. Se a preguiça não falar mais alto, quem continuar lendo os outros significados vai ler que esta palavrinha também pode significar volubilidade. E é justamente este sinônimo que melhor define o trabalho de Beck Hansen, artista de afiada veia alternativa que de uns tempos para cá, por obra e graça do destino, acabou se transformando em verdadeiro ídolo cult.

Beck surpreende o mundo mais uma vez ao se reinventar em seu quinto álbum. Longe de copiar muitos artistas que procuram fazer grandes cirurgias plásticas em sua sonoridade e passam a se travestir de gêneros da moda, ele apenas recondiciona sua própria mistura. Mexe e remexe nos mesmos elementos que compõem seu background musical e provoca novas fórmulas. Cada trabalho sai reprocessado como as marcas de cada onda que quebra na praia. Tudo muda o tempo todo no mundo de Beck.

A mais nova mutação do loiro californiano que ainda não perdeu a cara de nerd e o jeitão de "quê que eu tô fazendo aqui" traz um pingo dos trabalhos anteriores. Dos dois discos independentes foi herdada a paixão pelas cordas do violão que o acompanhou em muitas andanças pré-fama pelos Estados Unidos. De Mellow Gold, que deixou para a história da música pop desta década o clássico "Loser", uma certa tendência para o low-fi (este álbum, tosqueira pura, foi gravado em três estúdios caseiros e uma limitada mesa de quatro canais). A maior surpesa fica, contudo, para os resquícios do estourado Odelay. Enganou-se quem esperava que Beck continuaria trilhando o caminho dos beats de funk e hip hop.. Deste álbum o que ficou foi o verniz pop adquirido pelo trabalho em conjunto com os produtores Dust Brothers.

Mutations se parece com todas as facetas de Beck e ao mesmo tempo propõe novos caminhos. Gravado e mixado em apenas duas semanas (curto espaço de tempo para um artista de renome), este é sobretudo um disco de banda. Pela primeira vez Beck abriu mão de usar trucagens de samplers e se trancou em estúdio com seu grupo de apoio - que inclui um dos mais requisitados bateristas da atualidade, Joey Waronker. E compôs doze faixas que, embora possuam boas diferenças entre si, costuram uma certa unidade quase irrepreensível ao repertório.

O supermercado sonoro de Beck tem vários produtos a oferecer. Tem country ("Cancelled Check", com um final bem Mutantes, inesperado e cheio de barulhos), rhythm'n'blues ("Bottle Of Blues"), balada ("Static"), jazz ("Sing It Again", uma valsa disfarçada). Tem inclusive um protohit: "Cold Brains", a faixa de abertura, é pop de refrão poderoso e uma discreta camada de glockenspiel ao fundo. Na prateleira de novidades vem uma grande prateleira de heranças psicodélicas em guitarras, teclados e, sobretudo, harmonizações vocais "Lazy Files" é puro Beatles '66, com direito até a tocantes falsetes.

"Nobody's Fault But My Own" traz à tona um dos principais elementos da contracultura sixties, as sonoridades orientais (a melodia é mântrica e o arranjo vem complementado por cítaras, esrai e tambura. Já a faixa-fantasma (aquela que vem escondida no final dos discos, sem qualquer crédito) é mod na cabeça. Lembra muito o Who, principalmente pela quebradeira total na bateria e o baixão bombeando um riff explosivo (para completar há ainda uma série de efeitos sci-fi extraídos de sintetizadores).

Outra grande surpresa de Mutations é a busca freqüente por fugir do usual quadrado rítmico da música pop. Em "Lazy Files" e "Sing It Again", Beck opta pelo também costumeiro 3/4. Já em "Dead Melodies" e "We Live Again", ele arrisca (e não sai perdendo) uma bela aventura no território do 5/4. Mutations, porém, não é um disco perfeito - Beck, que adora tanto a cultura brasileira, deve ter concordado com aquela máxima de Nélson Rodrigues que diz que toda unanimidade é burra. Ele deixa extrapolar sua extrema admiração por nossas sonoridades e comete o maior deslize ao querer reviver a música brasileira dos anos 60. "Tropicalia", mistura samba, bossa e funk (aqui se encontram o trombone, a cuíca, os acordes dissonantes e até mesmo um groove de bateria sintetizada) e sua letra ainda pinta o Brasil com tonalidades completamente surrealistas. Apesar de bastante correta, a faixa não consegue (e nunca conseguiria superar) os originais - é muito melhor, então, botar para rodar um velho vinil de Edu Lobo, Nara Leão ou João Gilberto. Um ponto a menos.

Erro maior, porém, Beck cometeu no título. Justo ele, artista inovador e sem fronteiras musicais, homenageia o movimento encabeçado pelo maior reacionário do cenário musical brasileiro, aquele baiano conservador de postura ditatorial e atitude de painho. Outro ponto a menos.

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© 1999
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