A malandragem carioca e a poesia urbana do hip hop parecem mesmo ter se encontrado no som da carreira solo de Marcelo D2, vocalista do Planet Hemp. Com seu estilo cheio de ginga para fazer rap, D2 comandou um show embalado no galpão da antiga loja HM, dentro do Festival Rasta Mind, uma semana antes do Natal. O repertório quase todo ancorado nas novas músicas, gravadas no álbum Eu Tiro É Onda, funcionou muito bem ao vivo. Tanto que a apresentação de cerca de uma hora rolou no maior clima de baile funk - mas sem os quebra-paus comuns neste tipo de evento no Rio de Janeiro.

Comparar o som de Marcelo D2 com o do Planet Hemp é inevitável. E nesta análise fica evidente a evolução do vocalista em relação ao grupo, no qual, é bom lembrar, ele continua sendo o titular dos microfones. Com uma mistura bem costurada de rap e ritmos brasileiros - a malícia do samba carioca está sempre por ali - e bases bem marcadas que fazem tudo tremer, D2 fica livre para soltar a voz e comandar uma sessão festiva.

A fusão com o hardcore promovida pelo Planet muitas vezes soa tosca e pouco burilada, garageira até demais. Menos poluído porém igualmente esfumaçado em certas letras, o trabalho solo de D2 tem a clareza de idéias e articulação instrumental que falta na sua banda de origem. Mesmo essencialmente marginal e largadão, o hip hop de D2 tem lá sua sofisticação. E no palco a coisa funciona muito bem, como ele demonstrou para cerca de duas mil pessoas do Festival Rasta Mind. O grande carisma que demonstra com o público também conta pontos. Apesar de ser um artista relativamente novo, com apenas três discos lançados, D2 já é um ídolo jovem. É claro que boa parte disso deve-se à bandeira esfumaçada levantada por ele e pelo Planet - a da legalização da maconha - e à decorrente perseguição policial que acossa o grupo.