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04.01.1999

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JURASSIC 5
EP

(Rumble)
Por Alexandre Matias

Olhando de fora, a cultura hip hop se parece muito com o rock. Foi criada nas ruas, como decorrência de uma música negra que vinha se desenvolvendo com um tempero branco (no caso do rap, a música eletrônica) e se estabeleceu em sua segunda década. Os anos 80 colocaram o rap como a grande novidade musical, como o rock nos anos 60. Eles tinham seu Elvis (James Brown), seus Beatles (Run DMC), seu Dylan (Chuck D), seus Stones (NWA), seus hippies (De La Soul). O gênero despontava nos anos 90 como grande aposta em termos de lucro e não fez feio.

Por isso vivemos os anos 70 do rap. Só que como seu conceito de música é utilizado de forma diferente que no rock, o grande verme que corrói o gênero não é a técnica e o profissionalismo e sim a boa e velha ferramenta do mal: o dinheiro. Os maiores nomes do hip hop dos anos 90 poderiam, se quisessem, nadar em dinheiro. A maioria faz isso em seus shows e videoclipes. Do Wu-Tang Clan ao Puff Daddy, dos Fugees ao Master P, de Brandy a Snoop Doggy Dogg, todos ostentam riqueza da forma mais caricata possível: com jóias, carrões, peles, charutos, efeitos especiais e fogos de artifício. É a versão moderna para os discos do Queen, os megashows dos Rolling Stones, os óculos de Elton John, os bonecos infláveis do Pink Floyd - a pompa não é mais ter dinheiro para rasgar e sim simplesmente ter dinheiro.

A década está acabando e até agora nenhum sinal dos Ramones do rap. Quem vai tirar o gênero de Hollywood e traze-lo de volta às ruas, sem firulas ou frescuras. Até agora. Comendo pelas beiradas, o Jurassic 5 tem potencial suficiente para acelerar uma reação que parece iminente. Surgido da cena do turntablism (onde o DJ volta a ser o principal centro das atenções), o grupo se firma sobre dois alicerces básicos - os dois DJs, o mago Cut Chemist e seu fiel escudeiro DJ Nu-Mark. Os dois têm uma técnica exuberante, capaz de misturar batidas e instrumentos mais diferentes com destreza e habilidade. Senhores do ritmo, não medem conseqüências se o assunto é sacolejar - e ainda se dão ao luxo de tirar onda nas picapes.

Como a técnica não é vilã na estagnação do hip hop (como era na época dos Ramones, daí a crueza do grupo), o J5 se dá ao luxo de trabalhar com todas a eloqüência necessária. Sem medir as conseqüências, os dois DJs seguram o ritmo fechado o suficiente para não aparecer mais que os vocais, mas com a liberdade que precisam para improvisar. E os vocais não deixam por menos. Chali 2na, Zaakir, Marc 7even e Akil juntam quase todas as qualidades dos melhores momentos do rap nos últimos anos: a malemolência e paz de espírito do De La Soul, a agressividade e o encaixe de vozes do Wu-Tang Clan e o espírito de coletividade e o gosto pela faladeira do revival da old-skool. O resultado é um grupo vocal que se conhece nos detalhes e que claramente se diverte enquanto improvisa.

Seu fantástico EP de estréia, batizado simplesmente de EP é o segundo melhor disco de rap do ano (perdendo apenas para Hello Nasty) e a melhor estréia do ano. Com pouco menos de meia hora de duração e oito músicas, o grupo não só convence o ouvinte de sua capacidade como deixa qualquer mortal com vontade de ouvir mais.

O que cativa no sexteto é o clima na boa. Ele captura os espíritos de equipe mais diferentes que o rap já citou, como a família (na old-skool), os amigos (com o daisy movement) e a gangue (com o Wu-Tang Clan) com suíngue e descontração. Os MCs falam não precisam cantar porque sabem a beleza do movimento de suas vozes ao falar. Resgatando o desafio dos primeiros dias do rap, a falação do Jurassic 5 nos lembra a gravadora Sugar Hill. Mas no lugar de adolescentes elétricos e malandros de gogó, as vozes vêm do gueto: são grossas, ásperas, sérias e duronas. Em nenhum momento parece que os membros do grupo estão sorrindo. Porque não é o sorriso que é sua tradução para felicidade: felicidade é poder estar com os amigos fazendo o que se gosta.

E no lugar de corrupções de funks e sucessos da discoteca, o grupo rapeia sobre uma música que parece lava - borbulhante, densa e pegando fogo, o som parece derreter tudo e ter vida. As comparações com reações químicas de som não ficam só no nome de Cut Chemist. Ele nos dá a melhor aula jamais gravada em disco em Lesson 6: The Lecture. Usando apenas discos antigos, sendo um velho disco de aula de química, ele compara os ritmos a substâncias e vai, como um professor, explicando para o ouvinte o que funciona. A aula é mais absurda por sua didática. No meio da música ele nos provoca ao tentar misturar Led Zeppelin com Frank Sinatra e, após o teste, prova que não dá certo. Mais à frente, tocando um disco de 45 rotações em 33 1/3, ele nos mostra a "marca do profissional" ao adicionar a percussão com maestria sobre uma base recém-criada. O DJ é facilmente um dos cobras da atualidade e ele é só meio motivo para se caçar o EP. Imagine quando lançarem o primeiro disco.

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© 1999
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