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04.01.1999

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MERCURY REV
Deserter's Songs

(V2)
Por Alexandre Matias

É engraçado ouvir falar que o rock morreu. Ele pode ter se desgastado e talvez esteja à iminência da extinção em termos de transgressão e criação. Mas o que conhecemos por rock não vai morrer assim, de uma hora pra outra. Afinal estamos falando de todo um universo auto-suficiente, uma linguagem, uma cultura. No supermercado de rótulos do pop atual, o rock é um produto eficiente e tradicional. Não some das prateleiras tão fácil.

O que muda é a forma que ele é usado. Se no quesito inventividade ele não funciona mais, como sabor ou idioma o rock assume novas propriedades. Como qualquer outro gênero nos anos 90, do pop FM à música concreta, o rock é passível de manipulação. Em vez de sistema nervoso central da música, o rock funciona como uma roupa nova. Ano passado, o Spiritualized tratou-o como se fosse pós-rock usando apenas elementos de rock tradicional com parâmetros de estrutura jazzísticos no excelente Ladies and Gentlemen We’re Floating in Space. Este ano, é a vez do Mercury Rev.

O quinteto nova-iorquino já havia se firmado no meio indie internacional com sua psicodelia de pedra, uma extensa e lenta viagem de ácido sonora em que as fibras sonoras ganhavam vida a cada segundo de canção. O chapado Yerself is Steam, de 91, colocava o grupo no mapa ao mesmo tempo em que estabelecia um modelo para os próximos discos. Pareciam fadados a criar sua própria mitologia e virar uma caixa de CDs no fim da carreira.

Mas com Deserter’s Songs, eles mudam o caminho, virando para a esquerda, subitamente. O novo disco do quinteto americano não é um trabalho de transição. Este aconteceu no estúdio, durante o período de composição do disco. Deserter’s Songs não nos mostra apenas um Mercury Rev de sangue novo e disposto a continuar como uma nova banda. Maduro, equilibrado e coeso, o novo Mercury Rev poda a loucura que carregavam em excesso como provocação e a transforma em sonho, nos levando para uma psicodelia mais pastoril, mais pop, bucólica e lúdica. E é colorindo esta psicodelia adulta que aparecem as cores do rock. O grupo se entrega a todos os timbres e instrumentações que constaram no rock em seu período de maior ebulição criativa (anos 60 e 70) e cria uma paisagem sonora como não se via desde clássicos do cinema psicodélico como 2001 e Fantasia, de Walt Disney.

É isso, Deserter’s Songs é música erudita aplicada num conceito moderno. E nos remonta às comparações clássicas (em ambos sentidos) que a mitologia do rock criou para os compositores modernos - o Mozart Brian Wilson, o Beethoven Ray Charles, o Wagner Jimmy Page, o Tchaikóvsky Elton John. Se pudéssemos pousar o novo Mercury Rev entre nomes eruditos, eles cairiam em algum lugar entre Schubert e Mozart (pela capacidade de sintetizar a beleza em frases musicais) e exatamente em cima de Igor Stravinsky (pela ousadia). O que nos faz pensar se a música erudita não seria mesmo uma evolução da psicodelia, que o rock psicodélico fosse um estágio primário de música clássica e que boa parte dos caras do rock progressivo tinham razão.

O certo é que Deserter’s Songs não é rock progressivo. São canções mágicas que guardam passagens secretas para jardins secretos onde nascem flores de som. Como um belo jardim, o disco nos impressiona pela beleza e pela quantidade. Em quase todas as músicas diversos instrumentos (de violoncelos a teclados elétricos, saxofones e serrotes - !!) se empilham transformando o arranjo numa orquestra rock que talvez Phil Spector já tenha sonhado.

Sério candidato ao posto de melhor disco do ano, Deserter’s Songs tem todos os elementos das "obras-primas" criadas pelo rock em seu período de ouro. É conceitual sem ser temático, não tem música tapa-buraco, é exagerado, lírico, opulento, mas incrivelmente belo. Ainda tem duas canções instrumentais (com destaque para a outonal "I Collect Coins") e membros da Band, que acompanhou Bob Dylan, na ficha técnica. Mostra que o rock ainda tem muito chão pela frente, mesmo sem evoluir. E que ainda pode ser clássico. Nos dois sentidos.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
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