Image1.JPG (15354 bytes)

05.04.1999

INFORMAÇÃO
Fatboy Slim
Cassius
Paul Oakenfold
Silver Jews

P&R
Amon Tobin
Inocentes
Sepultura

COLUNISTAS
OUTROPOP
por G. Custódio Jr.
PENSAMENTOS FELINOS
por Tom Leão
LONIPLUR
por Sol
atenciosamente,
por rodrigo lariú

CORRESPONDENTES
INTERNACIONAIS

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO NORTE-AMERICANO
por Cassiano Fagundes

BR-116
Comédias
Pequenas Capitanias
Por Fora do Eixo

Arroz com Pequi
Marreta?
Das Margens do Tietê
Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando
Por Aí

HISTÓRIA
DO ROCK
T-Rex
Kurt Cobain
Bob Dylan
Nuggets

RESENHAS
Sebadoh
Los Hermanos
Kiss (show)
Mestre Ambrósio
Jesus Lizard
Maxixe Machine
Fish Lips
Silverchair
PJ Harvey e Jon Parish (show)
Cornelius
Post-punk chronicles
Blur (show)
Garage Fuzz
Pólux (show)
Marcos Valle
Astromato
French Fried Funk
Sublime

FICÇÃO
Leia no último volume
Na Lata!
Miniestórias

E-MAIL

CRÉDITOS

"POST-PUNK CHRONICLES"
Vários
(Rhino)
Por Alexandre Matias


O rock alternativo - seja lá o que isso queira dizer - dos anos 90 é derivado do rock independente dos anos 80, que é cria do punk. Mas é também uma forma de juntar no mesmo balaio uma série de bandas cuja única relação entre si é pertencerem à mesma geração. Chamou-se de "alternativo" porque ele era realmente fugia dos padrões convencionais que os mesmos anos 80 criaram no rock corporativo.

Mas a década passada também teve seu rock alternativo. Só que o rótulo mudava em função do espasmo que a música pop havia sofrido com o punk. Depois da grande mudança, qualquer um podia fazer o que quisesse e como quisesse em cima do palco. Toda esta geração surgida nos calcanhares do punk passou a ser referida como um nome que era tão mal visto pelos artistas oficiais do pop como o grunge foi nos anos 90.

Era o pós-punk. O nome, genérico, batizava todas as bandas que não participaram da ebulição inicial do punk, sendo criado justamente pra agregar artistas completamente diferentes. Era uma forma de unir, na mesma categoria, coisas tão diferentes quanto technopop e hardcore. Só que, aos poucos, pós-punk se tornava um gênero mesmo (como grunge também acabaria se tornando).

Mas a História Oficial do Rock acabou por juntar tudo de novo no mesmo saco: seja o folk elétrico do R.E.M., os Beatles com microfonia que eram o Hüsker Dü, o rock eletrônico do New Order, a psicodelia do Echo & the Bunnymen, a tosqueira dos Meat Puppets, os primeiros discos do U2 - tudo que nascia em decorrência do punk passou a ser referido como pós-punk.

Um ótimo diagnóstico pra essa generalização é o errático trio de CDs, batizados de The Postpunk Chronicles. São três volumes que compilam aleatoriamente faixas que tentam sintetizar o que significa pós-punk, sem muito sucesso. O que não tira da coleção o fato de ser uma excelente compilação do lado B dos anos 80, um conjunto de hits pra quem não se contentava (ou odiava) o rádio da década passada.

O primeiro disco, Left of the Dial, abre com um clássico do R.E.M., Radio Free Europe, que entra num Wire mais elaborado, com belos vocais superpondo-se em Outdoor Miner. Os inconfundíveis barítono de Ian Curtis e baixo de Peter Hook entram em uma das faixas mais marciais do Joy Division (Transmission), que muta-se na primeira encarnação do New Order (que nasceu das cinzas do Joy), com Bernard Sumner mais tímido do que nunca, cantando Ceremony, do próprio Ian.

Interessante notar que a divisão de funções adotadas pelo Joy Division/começo do New Order talvez seja o melhor exemplo do que poderíamos chamar de pós-punk enquanto gênero: temos um baixo que canta melodias em vez de ficar em uma só nota, como havia reduzido o punk; uma guitarra que não solava nem fazia base, se limitando a reprodução de ruídos novos; e uma bateria crua e seca, como se o baterista fosse um robô. O vocal fazia o que quisesse ou o que soubesse fazer melhor - não havia regra.

Ou melhor, a regra era esta. Seguida por diversas bandas menores que o resto do disco compila, como a Comsat Angels (com a oitentíssima Eye of the Lens), o davidbyrneano Bill Nelson (com a eletrônica Do You Dream in Colour?), o Passion (e as ótimas guitarras da gelada I’m in Love With a German Film Star), os Chamaleons (In Shreds - um vocal technopop, uma guitarra new wave e uma bateria ensurdecedora), o Modern English (com a correta Smiles & Laughter), os Chills (com a sonolenta Pink Frost),

Outros bons momentos do disco incluem um Cocteau Twins antes de ficar etéreo, com a bela voz de Liz Frasier cantada a plenos pulmões (em Sugar Hiccup), um Church inspirado (I Am a Rock, com um teclado assustador), um reggae esquizóide das Raincoats (No One’s Little Girl), o punk rock - que outro nome dar pra isso? - do Mission of Burma (Academy Fight Song) e a bela e despojada Tell Me When It’s Over, do Dream Syndicate.

Going Underground, o segundo disco, começa com um ápice dos Smiths (What Difference Does it Make?) cai no pop deslavado do Teardrop Explodes (com Passionate Friend) e entra num típico lamento voz-e-guitarra-seca do bardo Billy Bragg, cantando músicas de amor com duplo sentido político (no caso, New England). Na seqüência temos um habitualmente belo Go-Betweens (com Cattle And Cane), um Jesus & Mary Chain clássico (Upside Down), outro punk rock, dessa vez dos Lyres (Buried Alive), um glam punk com os Soft Boys (I Wanna Destroy You), o groove quadrado do Gang of Four (To Hell With Poverty), uma bela podreira a cargo dos Swell Maps (Let’s Build a Car e um piano cadavérico) e o proto-industrial do Throbbing Gristle num momento dócil (a desconcertante Adrenalin).

Completando o disco, boas faixas, mas que mais têm a ver com o punk rock (e seus subgêneros) que com aquilo que convencionou-se chamar de pós-punk. O Green on Red (com Gravity Talks) mistura Rolling Stones com os teclados de Ray Manzarek, o Rain Parade trazia o folk psicodélico pro universo sonoro de 79 (com I Look Around), o Sonic Youth com Lydia Lunch (num número clássico - Death Valley ’69) levando o hardcore para onde nenhum hardcore havia ido antes e tanto o Pere Ubu (com outro clássico - Final Solution) quanto o Jam (com a faixa que batiza o volume, a fraca Going Underground) são legítimos representantes da primeira geração do punk nos Estados Unidos e na Inglaterra, respectivamente.

Scared to Dance começa com um Echo & the Bunnymen feito pra dançar (Do It Clean) que se encaixa como uma luva sobre Duchess, dos Stranglers (que são pré-punk!). Depois entramos nos eletrônicos: primeiro com o technopop do Heaven 17 (We Don’t Need That Fascist Groove Thang), seguido dos Simple Minds antes de virar pop descarado (automático em Life in a Day), do pós-punk (sim, o gênero) sintético do Magazine (com a soturna The Lights Pour Out of Me), do Ultravox com seu biorritmo Casiotone (disfarçado de lirismo na clássica Hiroshima Mon Amour) e do electropop 60s do Orchestral Manouvres in the Dark, o OMD (com Enola Gay).

Até Iggy Pop virou pós-punk nas crônicas, com New Values. O Cult continua o disco com a excelente Ressurrection Joe, com uma bela variação da instrumentação tradicional do pós-punk (guitarra insistente sem efeitos, baixo funky com câmara de eco e bateria num eterno galope). O Pop Group continua a dança angulosa que também caracterizava o gênero, com a esperta We Are Time. Na mesma praia, só que acenando demais pro Gang of Four, vem o Tuxedomoon (com Incubus - Blue Suit). Quase no finzinho, o Pigbag entra rachando o assoalho com seu funk de brinquedo (Papa’s Got a Brand New Pigbag - tema do programa The New Music, que passa no Multishow, na TV a cabo), o Killing Joke provoca o industrial com instrumentos de rock (em Change) e os Skids encerram tudo com doses pesadas de guitarra (em Scared to Dance).

Uma compilação não muito segura, mas uma bela fotografia da música criada em decorrência do punk. Não dá pra entender como é que faixas como a xaroposa Airwaves, de Thomas Dolby (que parece música de especial da Globo), a repetitiva So Hungry So Angry (do previsível Medium Medium), uma farofa chamada Jet Fighter, de um grupo chamado Three O’Clock e o groove sintético pseudo-estiloso do Japan (com Visions of China) conseguiram convencer o organizador da coletânea (Jim Neill, que não acreditava ter sido pago pra fazer este trabalho) a entrar. Talvez por motivos pessoais, vai saber. Pequenas manchas que, no entanto, não estragam o belo panorama traçado por estas crônicas do pós-punk - mesmo que a abrangência seja maior que o assunto.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

Fale conosco