Muitos suspeitam que o pós-rock na verdade é uma versão atualizada do rock progressivo. A dúvida torna-se certeza ao pegarmos o novo disco do Spiritualized na mão. Royal Albert Hall October 10 1997 (Dedicated, importado) é um disco duplo que registra as quases duas horas do show do grupo de Jason Pierce. Disco duplo ao vivo? Sim - um dos formatos mais típicos dos anos 70 ressurge através do Spiritualized.

Mas isso não quer dizer que músicas que originalmente têm três ou quatro minutos se extendam para além do limite da paciência. O disco conta com 15 canções, quase o dobro de épicos setentauros como Made in Japan, do Deep Purple, e The Song Remains the Same, do Led Zeppelin, que contavam com, em média, duas músicas por lado.

Aumentar a quantidade de músicas, no entanto, não é quer dizer diminuir a opulência. O grupo sobe ao palco acompanhado de diversos músicos de apoio, incluindo aí um time de cordas, outro de sopros e um coral gospel. Seguindo a regra "quanto maior melhor" dos discos do Spiritualized, Royal Albert Hall consegue transpor para seu concerto todo o espírito grandioso contido do estúdio, criando uma versão mais encorpada de suas próprias canções.

Um dos trunfos do disco é o detalhismo profissional que nos permite ouvi-lo disco como uma pequena ópera (afinal, óperas têm quatro horas em média), com o líder do grupo conduzido tudo - da calmaria ao turbilhão, do pianíssimo ao caos sonoro organizado. Todos os músicos que não são do Spiritualized só se manifestam de acordo com o desempenho do próprio grupo, o que potencializa qualquer movimento que a banda faça.

Ou seja, quando Pierce sussurra ao microfone, o coral cria com as vozes uma textura fina e frágil de tão delicada. Quando a banda ataca, ouve-se um bombardeio de som capaz de tremer o cérebro de qualquer fã de barulho. Quando as rédeas do improviso são soltas, a impressão é que a represa de todos os sons arrebenta e estamos no meio de uma onda de áudio produzida por dez, cem, mil bandas ao mesmo tempo.