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01.03.1999

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THURSTON MOORE
ROOT
(Lo Recordings)
Por Alexandre Maitas

No simbolismo Sonic Youth, os guitarristas têm de exercer papéis antagônicos. De um lado, Thurston Moore despedaça seu instrumento aos pedaços, quebrando estruturas básicas do rock com uma motosserra, um machado ou uma furadeira elétrica, experimentando sons no limite físico da guitarra. Do outro, Lee Ranaldo projeta as cordas rumo ao nada, criando linhas horizontais de som que resvalam em uma sonoridade zen eletrônica cujo papa chama-se Brian Eno.

Em Daydream Nation, de 88, os dois se batizavam com letras gregas - Thurston era o ômega, o fim de tudo, e Ranaldo o rô, aquele oito deitado que é o símbolo do infinito. No disco de 94, os papéis estavam novamente bem definidos: Thurston era o "trash" e Ranaldo o "experimental" no título auto-explicativo Experimental, Jet-Set, Trash and No Star. Os discos solos também eram claros - enquanto Thurston esmigalhava canções perfeitas em Psychic Hearts, pagando tributos a Yoko Ono e Patti Smith, Lee estava achatando eletricidade em várias camadas de microfonia, em discos como From Here to Infinity.

Mas desde que a mulher de Thurston, Kim Gordon, assumiu a terceira guitarra no grupo, deixando o baixo em segundo plano, que a carreira artística do grupo assumiu um novo ponto de vista. Com três guitarras, o grupo trabalha com três dimensões de som, o que permitiu-os a lidar com texturas sonoras, tratando as canções como se elas fossem representações gráficas do som que elas tocam, procurando uma beleza matemática entre timbres e oscilações das vibrações sônicas. Ao mesmo tempo em que descobriam um novo playground, se atualizavam em um dos assuntos mais vanguardas do planeta - pré-requisito para quem quer estar na ponta de gêneros tão diferentes quanto ambient, pós-rock, turntablism ou drum’n’bass.

Assim, desde Washing Machine, de 95, vemos um novo Sonic Youth desdobrar as asas e voar lentamente, deslizando no ar. Só que para assumir essa nova figura, uma mudança radical teve de ocorrer na banda. Com a guitarra de Kim Gordon em um papel de percussão melódica, Thurston teve que redesenhar a sua. Não haviam mais canções perfeitas ou hinos punks pra ele destruir da metade para o fim. Agora o Sonic Youth era uma canção interminável, uma linha inabalável sem começo nem fim, e tocá-la significa dissecá-la, abrir as entranhas do som naquele exato momento.

Para isso, o guitarrista iniciou um revival de krautrock que logo deve acontecer em 94, quando começava a citar grupos como Can, Faust e Neu! como novas influências. Mas não bastava. Para entender o que significava a desestruturação do som, Thurston teve que falar com quem ele achava que sabia. Pra isso, gravou fitas com um minuto de microfonia, colocou-as dentro de um saco de aspirador de pó e mandou para 25 artistas diferentes, pra eles devolverem como quisessem.

O resultado é Root, um disco abstrato e perigosamente estranho, mas feito de uma forma didática e compreensiva, dando uma boa geral em quem está na ponta da experimentação sonora em 1999. Alec Empire, do Atari Teenage Riot, tortura seu minuto com eletrochoques de alta voltagem. O Mogwai desencapa a canção como um fio, cortando de fora pra dentro, até chegar no fio condutor, no DNA da música. O Cheap Glue brinca com a síncope da voz do guitarrista. O ritmo é tirado à fórceps pelo Stereolab, enquanto o Add N to X metaliza tudo de uma vez. O Third Eye Foundation estoura os tímpanos com microfonia braba sobre um órgão lounge. A versão de Warren Defever é uma pérola pros fãs do grupo: pequenas variações de baixa freqüência ajudam Schizophrenia, tocada só ao violão, a ficar quase doce e singela. O disco ainda conta com participações de Luke Vibert, Derek Bailey, do ex-Wire Bruce Gilbert, do Blur, do Stock Hausen & Walkman, Springheel Jack, entre outros. E deve ter duas continuações, uma com mais convidados e outra com as versões de Thurston para todos os remixes. É só esperar.

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© 1999
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