São Paulo, como todo o resto do Brasil, está sofrendo do "mal pré-carnaval". Ninguém lança nada e não rolam shows. Será que todo mundo foi para a praia? Na verdade, o pessoal deve estar é descansando do agitado ano de 98, quem sabe planejando as novidades que começam a pipocar a partir de março.

Sem novidades, nada melhor do que dar aquela mexida no baú da história para trazer "velhas novidades" aqui para o 1999.

Resolvi voltar 33 anos no passado para contar que em pleno ano de 1966 muitas bandas "alternativas de São Paulo" já faziam barulho e tinham muito a ver com as nossas bandas favoritas da atual cena local. Basicamente cantando em inglês e reverenciando influências anglo-americanas, as bandas paulistas dos 60’s foram muito mais interessantes do que as dos anos 70 e 80.

Atualmente todo mundo fala sobre Cláudio Suicide (vocalista dos Press Darlings) e sua veia teatral no palco, mas alguém aqui conhece um tal de Vermelho? Vermelho era o codinome de um rapaz amalucado chamado Marcos Ficarelli (atualmente um senhor que trabalha em uma empresa de refrigerantes), que com roupas esquisitas e uma absurda presença de palco comandava uma das lendas do rock paulista dos anos 60: o Loupha.

No período 1965-1969, São Paulo foi um terreno fértil para as "bandas de garagem" locais, que se aglomeravam na rua Augusta e nos clubes (como o Pinheiros) para tocar covers (com extrema competência) e músicas próprias (verdadeiros tesouros perdidos), todos atacados com espírito do-it-yourself com guitarras caseiras e muita vontade de tocar.

Assim como o Loupha, outros nuggets locais como Os Baobás, Beat Boys e Os Aranhas, lançaram poucos discos (alguns chegaram a gravar um compacto e outros nem disco gravaram) e acabaram caindo no esquecimento. Partiram para um culto quase que secreto, regado a discos raríssimos que são tratados como ouro.

Mas a conexão 60-90 vai além das similaridades entre Vermelho e Claudio Suicide: a atitude, o idioma e a vontade são exatamente as mesmas. Sandro Garcia, do Charts, chegou até a regravar Abre Sou Eu, clássico absoluto dos Beat Boys em uma demo sua, e outras bandas ligadas ao revival sixtie prestam reverência para estas esquecidas manifestações rocker brasileiras.

Está mais do que na hora de algum Lenny Kaye local tomar a atitude de compilar estas pérolas em um CD. Garanto que estas bandas não devem nada para as obscuridades encontradas em compilações como Nuggets e Peebles.

P.S.s:

O melhor selo de São Paulo, a Ordinary Recordings, lança ainda no primeiro semestre a sua compilação com bandas do selo.

Depois do Empório e do Teatro Hall, a nova meca para os shows independentes paulistanos parece ser o Espaço Cultural Pamplona.