Image1.JPG (15354 bytes)

04.01.1999

INFORMAÇÃO
Jesus & Mary Chain
Nenhum de Nós
Otto
Relespública
DeFalla

P&R
Piveti
Isabel Monteiro
M
an or Astroman?

COLUNISTAS
COLUNA VERTEBRAL
de Ricardo Alexandre
PAIRANDO...
de Camilo Rocha
ESPINAFRANDO
de Leonardo Panço
OUTROPOP
de G. Custódio
PENSAMENTOS FELINOS
de Tom Leão
ROCK & RAP CONFIDENTIAL
de Dave Marsh
atenciosamente,
de rodrigo lariú

BR-116
Pequenas Capitanias
Outros Carnavais
Polaroid
Por Fora do Eixo
Loniplur-RJ
Das Margens do Tietê

Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando

HISTÓRIA
DO ROCK

Black Sabbath
Burt Bacharach
"Três Lugares Diferentes"

RESENHAS
Beck
Mercury Rev
Jurassic 5

Sala Especial
Lou Reed (show)
Asian Dub Foundation
Belle and Sebastian
"Velvet Goldmine"
Autoramas (show)
Grenade
Chemical Brothers (show)
Cardigans
Bauhaus
Stellar

E-MAIL

CRÉDITOS

PENSAMENTOS FELINOS
Por Tom Leão

A importância de se gravar uma fita para uma garota

Uma das coisas mais interessantes do livro "Alta fidelidade", de Nick Hornby (Rocco), é que ele revela (para as mulheres) alguns dos segredos mais bem guardados do universo masculino. O livro é sobre um cara de 30 e poucos anos, dono de loja de discos de rock no norte de Londres e DJ ocasional, que levou o pé na bunda de uma meia dúzia de mulheres na vida, está se separando de uma, e ao mesmo tempo, se apaixonando por outra, uma cantora folk americana. Até aí, nada de mais. Bom, entre os segredos que o mané libera para as garotas está um em especial: o que leva um cara a fazer uma fita para uma mina?

Amigo, fazer uma fita para uma garota de quem você gosta, está a fim ou morre de tesão é uma coisa muito, muito séria. Não é só pegar uns disquinhos e sair gravando qualquer bobagem, não. Também nem sempre se resume a uma compilação de "músicas que lembram os momentos em que ficamos juntos". Se você, assim como eu, e como o personagem do livro, é um fissurado pela cultura pop em geral dos últimos 30 anos (rock, séries de TV etc.), vai entender que a coisa é muito mais séria. Tão séria que leva até a auto-reflexão para saber até que ponto a sua vida e a música se misturam.

Pra começar, só se faz uma fita para uma fêmea pela qual a gente realmente está a fim. Uma coisa é gravar uma fitinha (e, hoje em dia, MDs, CDs), para os amigos mais chegados com aquelas faixas raras de um CD obscuro daquela banda desconhecida. Isso é pra tirar onda. Outra é compor a trilha sonora para uma garota que você acha especial, cuja coleção de discos e gostos musicais é compatível com a sua (mesmo que ele tenha um álbum do Simply Red no meio dos Echo e Smiths dos anos 80; e que também curte eletrônica) e que vai entender os recados sutis que você mandará para ela através de cada faixa escolhida.

Isso já aconteceu muito comigo. Da última vez, comecei trocando poemas baseados em momentos e letras de rock relevantes com uma garota estrangeira, que evoluíram para uma trilogia de MDs e cassetes (pra se ouvir em todo lugar, no carro, walkman etc.) reveladores. E a coisa pegou fogo. E rolou o retorno. É nessas horas que você agradece por existir gênios do pop como Robert Smith (Cure), o pessoal do Portishead, a Björk, o Billy Corgan (Smashing Pumpkins) e até mesmo o doente do Marilyn Manson (o cara tem uma meia dúzia de canções excepcionais no último disco). Esse pessoal, com mais ou menos intensidade, indo da alegria a mais profunda deprê, sabe dizer, em música, exatamente o que você quer, mas não tem a devida competência poética ou não consegue atingir tão no nervo. Dá até raiva!

É, camarada, uma fita para sua paquera pode revelar quem você é. No começo é como um cartão de identificação. Você mostra que sabe muito bem quem foi Marvin Gaye, Otis Redding, que conhece mais coisas dos Stones do que os velhos rocks de sempre, que apreciou nomes dos anos 70 e 80 que ninguém fala ou pouco toca nas rádios, e, sobretudo, independentemente da época, estilo ou procedência, sabe compor - como um poema musical às custas dos outros - uma declaração sonora de suas intenções, anseios e desejos, dores e dúvidas. Se a garota for esperta e entender tudinho o que você quis dizer, não vacile e chame logo pro abraço, porque hoje em dia isso tá cada vez mais raro.

Tom Leão
É crítico musical, escritor e DJ. Toca o Rio Fanzine, no Globo, e organiza a festa/site Electric Head há um tempão.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
Fale conosco