Vimos anunciar o lançamento da nossa candidatura aos órgãos da Ordem dos Advogados, correspondendo a vários apelos de Colegas preocupados com a passividade e mesmo permissividade da Ordem perante uma das mais graves e profundas crises que o sistema judiciário português tem atravessado e que não poderia deixar de se reflectir no exercício da profissão dos advogados. 

Os tribunais encontram-se inundados de processos, não conseguindo os juizes despachar, em tempo útil, os milhares que lhes são distribuídos, muito acima do que é normal nos outros países da Europa, com a agravante da escassez do pessoal de secretaria, frequentemente mal preparado e sobrecarregado com tarefas burocráticas anacrónicas. 

Esta situação premeia naturalmente os devedores relapsos, que são tentados a recorrer sistematicamente das decisões com o único fito de atrasar os pagamentos, provocando, assim, nova sobrecarga nos tribunais superiores, com manifesto prejuízo para a celeridade e qualidade da Justiça. 

Os advogados têm dificuldade em explicar aos clientes porque é que um processo, porventura de simples cobrança de dívida ou de crime flagrante, possa demorar anos em Tribunal, o que leva frequentemente os clientes a descrer nos advogados e na justiça e a recorrer a meios alternativos não consentâneos com um Estado de Direito. 

Acresce que esta lentidão de funcionamento não se circunscreve aos tribunais, mas estende-se a outras instituições do Estado, como sejam as Conservatórias, o RNPC, o Notariado e, de um modo geral, todas as Repartições burocráticas da Administração Pública. 

O Estado, em vez de prover os Tribunais e os restantes organismos de Magistrados e de pessoal suficiente e qualificado, parece ter apostado em que a advocacia absorva todos os milhares de licenciados anualmente em direito pelas mais de uma dezena de Faculdades de Direito criadas com a sua autorização; em vez de promover o conselho e a intervenção dos advogados em actos públicos com efeitos substanciais na esfera jurídica dos cidadãos, parece tê-la considerado supérflua com publicidade desmotivadora do recurso aos advogados, nomeadamente em processos de divórcio e de injunção, ou através da criação do Centro de Formalidades de Empresas. 

 

A Ordem tem-se mostrado incapaz de alterar esta situação e de mobilizar a classe para a defesa dos seus interesses e dos cidadãos em geral. 

Chegou o momento de dizer BASTA

 

O Estado tem de assumir as suas responsabilidades aumentando o número de Juizes e de Magistrados do Ministério Público, assim como de pessoal técnico qualificado e suficiente. 

Ao Estado compete a obrigação inalienável de dotar a Ordem dos Advogados, como associação pública essencial à realização da justiça, de meios técnicos e financeiros suficientes para promover a formação profissional dos advogados e assegurar o pagamento condigno dos serviços profissionais prestados aos carenciados no âmbito do apoio judiciário e do acesso ao Direito. 

Se o Estado não assumir estas suas responsabilidades constitucionais, a Ordem dos Advogados terá de tomar medidas para salvaguarda da dignidade da profissão, que poderão chegar ao estabelecimento de "numerus clausus" para as admissões de estagiários, a preencher pelos candidatos que obtiverem melhor classificação nas provas de admissão a realizar na Ordem por todos os licenciados, em igualdade de posição, seja qual for a sua Universidade de proveniência, já que a todas se reconhece a idoneidade cientifica necessária para ministrarem a licenciatura em Direito . 

Só com uma formação profissional eficaz, que complete a preparação teórica das Universidades e que esteja disponível ao longo de toda a carreira dos advogados, poderemos corresponder aos desafios da sociedade moderna e contribuir decisivamente para o progresso do direito e aperfeiçoamento da Justiça em leal colaboração com os Magistrados e instituições. 

A nossa candidatura surge na linha do projecto que tem vindo a ser sucessivamente apresentado por anteriores candidaturas alternativas e é a única capaz de assegurar uma MUDANÇA profunda e responsável na Ordem através de medidas concretas eficazes e de princípios programáticos coerentes. 

A nossa candidatura pretende romper com a prática que vem sendo seguida de feitura de listas mediante negociações de bastidores nos círculos de amigos. É uma CANDIDATURA EM FORMAÇÃO porque tem um processo de génese em espiral a partir de um núcleo promotor que se expandirá mediante a participação de todos os colegas que, concordando com as linhas fundamentais do projecto, intervenham activamente nas reuniões preparatórias, contribuindo para a elaboração do programa definitivo e se predisponham a colaborar na sua implementação. 

O nosso objectivo é pôr a ORDEM EM ACÇÃO, interveniente na criação do Direito e na realização da Justiça, ao serviço dos advogados e dos cidadãos, o que pressupõe uma forte ligação à classe, tomando sempre em linha de conta as várias sensibilidades e os diversos interesses profissionais existentes: os dos advogados ligados a empresas e instituições através de contratos de trabalho ou de prestação de serviços, bem como a sociedades de advogados, os distanciados de grandes centros, mas muito particularmente os jovens advogados para quem o futuro se lhes apresenta cada vez menos promissor e que vêem tantas vezes na Instituição uma forma de lhes levar dinheiro e de os controlar disciplinarmente, sem lhes dar praticamente nada de útil e deixando-os entregues à sua própria sorte. 

Para alcançar estes objectivos propomos as seguintes medidas principais

 

  • Alterações legislativas: 
    • Atribuição de poderes à Ordem dos Advogados para suscitar a fiscalização abstracta da constitucionalidade; 
    • Elevação do número de representantes da Ordem dos Advogados nos Conselhos Superiores da Magistratura e do Ministério Público, como representantes dos utentes da justiça; 
    • Alteração do regime jurídico do apoio judiciário de forma a que as nomeações dos advogados e a fixação das respectivas remunerações sejam da competência do INSTITUTO DO ACESSO AO DIREITO e dos órgãos da Ordem. 
 
  • Alterações dos estatutos
    • Aplicação do método de "Hondt" na eleição de todos os órgãos colectivos; 
    • Reforço da legitimação do Bastonário através de eleição em listas uninominais, em duas voltas, salvo se algum candidato obtiver maioria absoluta na primeira volta; 
    • Criação de um órgão executivo da confiança do Bastonário; 
    • Separação dos poderes disciplinares das atribuições dos Conselhos Distritais, as quais deverão competir a órgãos disciplinares nas respectivas áreas de jurisdição; 
    • Descentralização com atribuição aos Conselhos Distritais e Delegações de poderes alargados para que se possam passar a ocupar dos problemas concretos da Classe, nomeadamente aprovar tabelas mínimas de honorários, e apoiar os colegas jovens e os que trabalhem em comarcas mais afastadas dos grandes centros; 
    • Possibilidade de os advogados se pronunciarem na Comunicação Social quando eles ou os seus clientes estejam a ser visados, mesmo antes do trânsito em julgado e, obviamente, sem prejuízo do sigilo profissional; 
    • Admissibilidade da publicitação do nome do advogado, com regras a definir, para que esta se passe a fazer com dignidade e de forma transparente; 
    • Revisão da estrutura das sociedades de advogados, permitindo nomeadamente que delas façam parte, embora em minoria, profissionais de sectores de actividade complementares, atentas as necessidades evidentes do mercado; 
  •  Medidas imediatas no quadro dos estatutos em vigor : 
    • Criação e regulamentação do título de advogado especialista, à semelhança do que se passa com os médicos. 
    • Criação do INSTITUTO DE ACESSO AO DIREITO, por forma a assegurar progressivamente, e em todo o País, a defesa condigna e a informação jurídica dos carenciados economicamente, com critérios de especialização e preparar para a profissão os advogados estagiários. 
    • Revisão do estágio, para que não seja um mero relembrar de conceitos adquiridos nas Universidades, mas sim uma verdadeira formação profissional do foro, com atribuições do INSTITUTO DE ACESSO AO DIREITO e das Delegações. 
    • Criação de mecanismos de formação permanente dos Advogados com apoio de Universidades e Institutos, da responsabilidade dos Conselhos Distritais e com coordenação e apoio do Conselho Geral, tendencialmente gratuitos, apenas podendo ser pagos na medida em que seja necessário custear as despesas dos formadores ou as deslocações de jovens advogados formandos com menos de cinco anos de inscrição. 
    • Criação no INSTITUTO DE ACESSO AO DIREITO de uma estrutura de alta qualidade técnico-cientifíca que, em cada momento, possa responder, com mero carácter consultivo, a questões jurídicas colocadas por Colegas. 
    • Redistribuição de tarefas no quadro orgânico em vigor: 
      • - Criação de uma comissão executiva a eleger pelo Conselho Geral para apoio do Bastonário na gestão corrente da Ordem ; 
      • - Aprovação dos laudos de honorários pelos Conselhos Distritais e ratificação do Conselho Geral ; 
      • - Nomeação de instrutores para os processos disciplinares em todos os Conselhos Distritais ; 
      • - Aprovação pelas Delegações e Conselhos Distritais de tabelas mínimas de honorários com carácter indicativo e de acordo com a praxe do foro ; 
    • Criação de meios técnicos e humanos para que a Biblioteca da sede da Ordem seja facilmente acessível aos Colegas que não trabalham na capital, estudando-se nomeadamente a melhor utilização das bases de dados. 
    • Publicação em tempo da Revista e reformulação por completo do Boletim, com periodicidade, se possível mensal, para que sejam instrumentos de formação técnico-cientifica e de informação dos Advogados e das iniciativas das suas estruturas. 
    • Organização em conjunto com a Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores de um amplo debate na Classe sobre a Protecção Social dos Advogados
    • Dinamização do Centro de Arbitragens Voluntárias da Ordem com selecção e formação dos Árbitros por áreas vocacionais; 
    • Colaboração com outras entidades na criação de Centros de Mediação Familiar com intervenção dirigida de modo a acompanhar situações de risco. 
    • Apoio à formação informática e organizacional dos escritórios de Advogados. 
    • Criação de Clubes de Advogados como forma de promover o convívio entre colegas e que poderão, nomeadamente, celebrar Protocolos com agentes turísticos e unidades hoteleiras de modo a que os advogados beneficiem de condições mais vantajosas. 
Para alcançar estes objectivos necessitamos de um apoio massiço da classe e contamos, à partida, com a adesão de Colegas, que constituem referencias no exercício da profissão, quer tendo dado provas de capacidade de acção como dirigentes académicos. 

Dado o nosso princípio de descentralização, fomentaremos a apresentação de listas autónomas aos Conselhos Distritais partindo de iniciativas locais. 

Por outro lado, dada a dispersão de candidaturas a Bastonário e ao Conselho Geral envidaremos esforços para a apresentação de uma candidatura de unidade ao Conselho Superior, como manifestação simbólica da coesão da classe. 

 

CANDIDATO A BASTONÁRIO : 

António Pereira de Almeida

   MANDATÁRIO NACIONAL DA CANDIDATURA : 

José Manuel Galvão Teles 

  

MANDATÁRIO NACIONAL PARA OS JOVENS ADVOGADOS: 

Ana Paula Barros 

 
PS : Desde já agradecemos o envio de apoios e sugestões para o nosso correio elecrónico ou para:  António Pereira de Almeida 

Rua de São Nicolau, 23 - 2º 

1100 LISBOA 

Tel. 887 9142 

Fax. 886 0633