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Não há duvida de que o Maracana tem na noite de hoje (16 de novembro de 1963) um dos maiores Públicos de sua história daqui a pouco o Santos estará entrando em campo para a sua terceira partida contra o Milan, que decidirá o titulo de campeão mundial de clubes.
No primeiro jogo, disputado em Milão, a equipe italiana ganhou bem, por 4 a 2. O time brasileiro devolveu o placar na ultima quinta-feira, aqui mesmo no Maracana.
0 juiz Juan Brozzi e os bandeirinhas Juan Luis Pradaude e Roberto Goicochea - todos argentinos - entram em campo sob uma vaia ensurdecedora. Os dirigentes do Milan tentaram substituir Juan Brozzi por outro juiz argentino, durante uma reunião no Hotel Glória que tiveram com dirigentes da CBD, da Confederação sul-americana de Futebol e da União Européia de Futebol. Porem, o Sr. Raul Colombo, presidente da CSAF, vetou a sugestão por não haver tempo para trazer novo arbitro da Argentina.
Os italianos também tentaram impedir a entrada em campo dos rep6r-teres e fot6grafos, mas o vice-presidente do Santos, Sr. Modesto Roma, foi categórico: - No Brasil, mandam os brasileiros. Na Itália, os italianos. Nossa imprensa sempre teve toda a liberdade para trabalhar e não vamos tira-la agora. É a guerra. nenhum dos dois lados quer dar a mínima vantagem ao outro.
No entanto, o Santos foi ganhando essas pequenas batalhas. Em compensação, perdeu duas mais significativas: 0 departamento médico do clube não conseguiu, por falta de tempo, recuperar Pelé e Zito, dois desfalques sensíveis.
A torcida começa a se impacientar com a demora. E entra o Santos em campo. Gilmar, Ismael e Mauro, Lima, Ilaroldo e Dalmo, Dorval, Mengalvio, Coutinho, Almir e Pepe. Um delírio. Durante vários minutos, o barulho dos fogos abafou completamente o coro da torcida, que agora é nítido: "Santos, Santos, Santos".
Os jogadores do Milan entram em campo quase que no mesmo instante e mal são percebidos. Balzarini, PelagaIi e Trebbi, Benitez, Maldini e Trapatoni, Mora, Lodetti, Mazola, Arnarildo e Fortunato. A equipe italiana tem duas modificações em relação a partida de anteontem. 0 goleiro Balzarini substitui Ghezzi, sacado do time pelo treinador Carniglia, que o acusou de falhar em dois gols de Pepe. 0 meia Rivera - 0 Garoto de Ouro - saiu, e entrou em seu lugar o ponta- esquerda Fortunato, passando Amarildo para a meia.
O juiz Juan Brozzi chama os dois Capitães, Maldini e Mauro, para o sorteio no centro do campo. Um minuto depois da inicio a partida. A torcida agora esta em silencio. E nervosa. Como os dois times.
O primeiro ataque é do Santos, mas a defesa italiana rebate e Mora recebe o lançamento. Dalmo entra firme e joga para corner. Nos primeiros cinco minutos, é o Milan que se mostra mais sólido. A defesa santista já havia concedido dois escanteios e o time não consegue se articular.
Aos 7 minutos, o primeiro ataque do Santos. Lima controla a bola e passa para Almir, que dribla dois na entrada da área italiana e é derrubado por Benitez. Juan Brozzi apita. Os jogadores do Milan reclamam, catimbam, dão empurrões. Finalmente, a falta é cobrada e Balzarini agarra firme. Almir, que correra a espera do rebote, atinge o goleiro. Os italianos cercam o atacante brasileiro, peitando-o. Coutinho se aproxima e é agredido. Agora, quase todos os jogadores se agridem, aos socos e pontapés. 0 campo é invadido. A partida fica paralisada durante 6 minutos.
Baizarini reinicia a partida com a cabeça enfaixada. Os capitães Mauro e Maldini são chamados ao meio de campo por Juan Brozzi, que já na primeira partida não conseguira manter a disciplina. E jogo quente sempre foi o forte de Almir. Na sexta-feira. 0 técnico Lula afirmara que "Almir foi um fator preponderante da vitória - e faço esta declaração, hoje, por questão de justiça".
De fato, na partida anterior o substituto de Pelé inflamara seus companheiros com um entusiasmo contagiante. Disputou todas as bolas como se fossem decisivas. Xingou, empurrou, correu o tempo todo, gritando: - Joguem a bola para mim que eu liquido este jogo.
Hoje, mais uma vez Almir procurava ganhar o jogo na raça, enervando os italianos, na tentativa de faze-los perder a cabeça. 0 Milan, que começara melhor, agora já não se mostra tão sólido e consciente. 0 Santos começa a equilibrar o jogo, que esta cada vez mais nervoso. Bola lá e cá. A partida é corrida embora tecnicamente fraca. E jogo para ser ganho na base da raça. E o Santos tem Almir.
Aos 27 rninutos do primeiro tempo, Mengalvio recebe um lançamento de Lima e passa para ele dentro da área. A bola é alta. Almir corre. Maldini corre, o zagueiro italiano levanta o pé para a rebatida. 0 atacante brasileiro enfia a cabeça e cai atingido. Juan Brozzi marca pênalti. Os jogadores do Milan protestarn com veemência. Maldini tenta agredir o juiz e é expulso. A partida fica novamente parada. Desta vez, por três minutos. Finalmente o zagueiro italiano sai de campo. A torcida vaia. Maldini caminha para o vestiário levantando as mãos juntas.
Dalmo ajeita a bola carinhosamente na marca do pênalti. 0 juiz apita. Ele corre e bate firme no canto. Gol.
A torcida grita. 0 Santos fica mais próximo do bi campeonato mundial de clubes. Mas o Milan não se entrega. A bola continua lá e cá. O zagueiro Mauro está fazendo uma de suas melhores partidas. Só da ele. Na técnica e na raça vai dominando sua área, não dando oportunidade aos atacantes italianos.
Aos 43 minutos, o goleiro Baizarini choca-se com Coutinho e acaba obrigado a deixar o campo, substituído por Barlucci.
0 primeiro tempo já estava terminando, quando Amarildo faz falta em Ismael, que reage e dá uma cabeçada no adversário. Juan Brozzi vê. E o expulsa. No segundo tempo, por isso, Dorval recua - e o Santos perde muito do seu poderio. Os ataques passam a ser feitos pelo meio, o que tornava as coisas mais fáceis para a defesa do Milan.
Ainda assim, a time brasileiro procura agredir o gol italiano em pontadas de Almir e Coutinho.
A partida continua em alta temperatura. Almir corre com a bola e leva um pontapé de Trappatoni. Em seguida, Amarildo leva o troco de Haroldo. 0 juiz adverte o santista.
A essa altura todos estão com os nervos a flor da pele. As faltas são seguidas, de um lado e do outro. Não ha mais técnica. Apenas garra, muita vontade de vencer. E um jogo feio, porem empolgante, que não permite a omissão da torcida. E esta participa cada vez com maior entusiasmo. As baterias das principais escolas- de- samba cariocas estão presentes e incendeiam ainda mais a torcida.
Almir continua correndo o campo inteiro. Disputa bolas na lateral direita, na esquerda, no miolo da área do Milan. Comete faltas no meio do campo, goza os adversários, provoca, entusiasma seus companheiros. Seu nome é gritado por todo o estádio.
0 Milan cresce. Maura, Dalmo, Dorval, Lima, Mengalvio e Haroldo agigantam-se. Os últimos minutos são dramáticos. Tanto os jogadores do Milan quanto os do Santos, visivelmente cansados, continuam mantendo um ritmo veloz.
Até o apito final de Juan Brazzi, a torcida não se atreveu a comemorar a vitória. Porem, quando a partida terminou, serpentinas foram lançadas de todos os pontos do Maracana.
Era um verdadeira carnaval. A torcida, cantando a marcha A Copa do Mundo é Nossa. 0 Santos bi campeão mundial de clubes. Lenços brancos acenando. Fogos. Os jogadores dão a volta olímpica. Mas, entre eles, faltam Mauro, Almir e Pepe.
0 capitão estava na Tribuna de Honra, recebendo a Taça Mundial de Clubes das mãos de Raul Colombo. Almir foi carregado de campo por Laércio, completamente extenuado, cheio de escoriações. Pepe também não deu a volta olímpica por ter levado um pontapé de Trappatoni no ultima minuto de jogo.
Na tribuna, Mauro recebe a taça e repete seu gesta de um ano atras, no Chile, quando levantou sabre a cabeça a Taça Jules Rimet.
A torcida - 120 421 pagantes aplaudem. Santos, Bi campeão mundial de clubes. Um titulo ganho na garra, mais que qualquer outro em sua história.
A torcida delira e permanece em pé, cantando, mesmo depois que o campo fica vazio.

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