O PAN-AFRICANISMO



1.Introdução

Define-se Pan-africanismo como um movimento cultural que visa a igualdade de direitos e a melhoria das condições morais e intelectuais das populações submetidas ao colonialismo. O termo surgiu, pela primeira vez em 1900, na Conferência de Londres. Inicialmente, tomou a feição duma simples manifestação de solidariedade fraterna entre Africanos e gentes de ascendência africana das Antilhas Britânicas e dos Estados Unidos da América. Serviu-lhe de móbil a discriminação a que eram sujeitos os Negros nos Estados Unidos. A sua longa evolução apareceu como um movimento racial, como um movimento cultural e como um movimento político ou sindical. Ocasiões houve em que estes três aspectos se confundiram no espírito de alguns dos seus fautores.

O 6º Congresso ( Kumasi, 1953 )

Com o fim de pôr em execusão as resoluções de política de base aprovadas pelo V congresso Pan-Africano para a África Ocidental e " harmonizar as relações entre os intelectuais e os elementos da classe operária em Inglaterra de acordo com os princípios enunciados na Delegação do Congresso aos povos coloniais", N. Krumah, fora da dependência directa da Federação Pan-Africana, organizou em Londres, o grupo dos delegados desta parte do continente africano num "comité" regional, chamado Secretariado Nacional da África Ocidental. Este VI Congresso Pan-Africano, pela sua organização, objectivos e resultados, não passou de um feito episódio na marcha do pan-africanismo politico.
Toda a actividade do pan-africanismo foi criando ao longo dos anos, um Congresso e não só, uma nova mentalidade nos africanos, no que se refere aos seus direitos e à sua dignidade de seres humanos. É a noção dos seus direitos e essa dignidade que gradualmente transformou um movimento de carácter geral em movimento mais restrito a nível das nações africanas. O nacionalismo africano não deve ser assimilado aos sentimentos chauvinistas que em numerosos Estados europeus conquistaram correntes inteiras da opinião pública e de manifestaram por medidas económicas, por decisões político-militares que vão até ao imperialismo ( pangermasnismo, fascismo, etc.), ou por tiradas de desforra nacional. O nacionalismo só se justifica quando um povo se encontra oprimido concentrado nele as diversas forças sociais, também humilhadas e que vivem na esperança. É o despertar nacional, do resurgimento duma personalidade que tenta afirmar-se em oposição ao poder estabelecido. O nacionalismo africano principiou com os primeiros antagonismos com os estrangeiras e nunca desapareceu por completo. O périodo colonial constituiu, no entanto, uma fase históricoa durante a qual este nacionalismo domesticado ou esmagado só se podia exprimir sob a forma de revolta. Novas circunstâncias históricas vão-lhe conferir a estatura duma revolução. Em 1940, apenas a Libéria, após a anexação da Etiópia por Mussolini, emerge como ilha perdida numa África Negra totalmente colonizada. Vinte anos depois, em 1963, vinte e nove outros Estados de África atingiram a independência.



PAN-AFRICANISMO SINDICAL


Certamente que não há quem se admire de ainda não se ter conseguido em África a unidade sindical de todo o continente. Em primeiro lugar, tanto os sindicatos membros da U.S.P.A. como os da C.S.A. são nacionais, traduzindo e sofrendo, portanto, as opções políticas dos seus Governos. Embora sem uma ligação necessária, essencial, talvez não haja unidade sindical sem unidade política do continente africano. Em segundo lugar, tão bem como no campo político, são as grandes forçãs internacionais que ditam e imperam em África, contra tudo o que se possa pensar. A U.S.P.A. é de inspiração e mesmo de obdiência comunista; obdece à F.S.M.A C.S.A. alberga, essencialmente, sindicatos filiados na U.P.T.C. e na ORAF. Em terceiro lugar, e não é ponto para menosprezar, à frente da U.S.P.A. e da C.S.A. estão dois árabes. Ben Seddik é marroquino, Ahmed Tlili é tunisiano. A solidariedade àrabe influencia por certo as relações entre as duas centrais pan-africanas. Por outro lado, o pan-arabismo político, de uma banda e o factor religioso, que divide o continente negro numa África muçulmana e numa África cristã, da outra, serão obstáculos à efectivação da unidade sindical pan-africana.

Outras organizações Pan-Africanas



- A conferência Pan-africana das mulheres

No dia 1 de Agosto animado baile, no instituto dos Goeses, em Dar-es-Salaam, fez esquecer tamanhas tristezas... Por fim, a Conferência votou as resoluções seguintes:
1. Todos os países indenpendentes do continente têm de boicotar o comércio com a África do Sul;

2. Todas as mulheres se devem unir, a fim de trazerem maior progresso à África, bem como à socidade, instrução, educação e socialismo;

3. Todos os países indenpendentes africanos têm de fazer os possíveis por acabar de vez com o Governo dos Brancos em África;

4. Todas as nações indenpendentes de África têm que pedir a Portugal e à Grã-Bretanha a entrega dos seus territórios aos próprios nativos;

5. Os Grupos de Monróvia e de Casablanca têm de se unir.


-A União Pan-africana dos jornalistas

Em Maio de 1961, os jornalistas africanos tiveram a sua primeira conferência em Bamako. Reuniu delgados de nove países: Alto-Volta, Argélia, Camarão, Ghana, Guiné ex-francesa, Mali, Madagáscar, R.A.U. e Togo. Os observadores dos países comunistas eram mais do que os 20 delgados africanos à Conferência. Decidiu ele criar a União Pan-Africana dos Jornalistas (U.P.A.J.). O ex-presidente Kwame N´Krumah preferiu o discurso inaugural. Como o tema principal da Conferência era "o papel da informção e da Imprensa na realização da unidade africana", teve ele oportunidade de desenvolver a sua doutrina tão querida de um Governo continental para a África. A nova União fixou a sua sede em Acra. Deposto Kwame N´Krumah em Fevereiro de 1966, a U.P.A.J. sofreu, necessariamente, os efeitos da alteração política no Ghana. Em Dezembro de 1964, em Argel, decidiu-se criar um fundo de ajuda aos jornalistas que combatessem " pela sua liberdade nos países africanos" e para estabelecer contros de treinos em África. Até Março de 1965 parece que nada se adiantou neste campo. Na reunião inaugural da Comissão Educacional e Profissional da U.P.A.J. em Acra nesta data, a segunda ideia voltou à baila. Mas a reunião da Comissão Executiva de Abril seguinte em Bamako pouco frutuosa se revelou.

- O Movimento Pan-Africano da Juventude

Bem cedo a Federação Mundial da Juventude Democrática se preocupou com a celebração de uma conferência pan-africana da Juventude. Fizeram-se representar em Conakry 25 países e territórios africanos, com os grupos radicais na primeira linha. O secretário -geral da organização declarou, no seu discurso, que, apesar do povo africano proseguirem objectivos idênticos, o Movimento Pan-Africano da Juventude não tinha conseguido durante o ano qualquer "sucesso positivo" e que os intentos anticolonialistas e anti-imperialistas não se haviam concretizado.

-O Moviemtno Pan-africano dos Estudantes

A ideia da realização dum seminário de estudantes africanos para discutir os problemas do colonialismo nasceu no VII Congresso da União Internacional dos Estudantes, celebrado em Leninegrado em 1962. Depressa os Nigerianos deramconta que ele poderia servir par dar um passo no caminho para o movimento estudantil pan-africano. Assistiram 80 delegados de 30 países e territórios e representantes das diversas "Uniões".O problema da escolha da sede da nova organização foi um dos assuntos mais discutidos. O Moviemtno Pan-africano dos Estudantes quis permanecer livre de qualquer filiação internacional. No entanto tudo indica que esta União esteja manobrando para o integrar na sua órbita. Ao que parece, os movimentos estudantis estão perdendo terreno em África.


-A agência Pan-Africana de notícias

Desde a primeira hora que os países comunistas, sobretudo a U.R.S.S., têm procurado controlá-la, prestando-lhe assistência directa, tanto em instalações como em adestramento do pessoal, mormente na Universidade Patrice Lumumba, de Moscovo. A ideia de uma agência pan-africana de notícias, já há muito que N´Krumah a trazia em mente.


- A União Africana de Rádio e Televisão

Foi criada em Maio de 1960, numa reunião em Radat, por delegados do Ghana, Guiné ex-Francesa, Líbia, Marrocos, R.A.U. e Tunísia. A iniciativa da reunião partiu conjuntamente de Marrocos e da Tunísia, « para fortalecer os laços de amizade e de fraternidade entre os povos do continente africano através dos meios áudi-visuais». Como é norma, por detrás da ajuda técnica está toda a ideologia política empenhadaem moldar os homens ao gosto dum humanismo integral marxista.






Bibliografia

ALMEIDA, Antónia D.; CRUZ, Arlete; TRAGUIL, Fernanda;
BARROS, Isabel Figueiredo de; SALES, José das Candeias
Dicionário Breve de História
Lisboa, Editorial Presença,1996, p.p. 152


SANTOS, Eduardo dos
Pan.Africanismo de Ontem e de Hoje
Lisboa, Edição do Autor, 1968, p.p. 27-4; 62-118; 467-486
MOREIRA, José História de Moçambique -volume 2 Cadernos Tempo sob autorização da UEM, 1983,p.p.