Racionais lançam seu
disco mais agressivo


RAPPERS ABORDAM SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA NA
PERIFERIA ONDE VIVEM EM 'SOBREVIVENDO NO INFERNO'
Os Racionais MC's estão de disco novo. Sobrevivendo no Inferno, que acaba de chegar às lojas, marca a estréia do selo Cosa Nostra, de propriedade deles próprios.

O grupo é um caso único no mercado musical brasileiro. Mesmo não tendo um álbum novo há quatro anos e sem o apoio da mídia e de uma gravadora multinacional, Mano Brown, KlJay, Edy Rock e Ice Blue fazem uma média de quatro shows por fim de semana, são considerados verdadeiros ídolos pelos jovens da periferia e respeitados até pela "playboyzada" - mesmo estas pessoas sendo alvo de crítica da banda.

Segundo o grupo, a fórmula do sucesso está na ideologia que os quatro integrantes seguem: "Viemos da periferia, estamos na periferia e continuaremos na periferia". Em entrevista ao JT, KlJay, Ice Blue e Edy Rock falam do novo disco e do sucesso.

Jornal da Tarde - Por que tanto tempo sem lançar um disco?

KlJay - Queríamos lançar o novo disco por um selo próprio, mesmo tendo proposta de gravadora multinacional. Demoramos a lançar porque ficamos guardando dinheiro dos shows para poder gravar. A intenção da Cosa Nostra é gravar outros grupos.

Edy Rock - Além disso, uma boa letra de rap não se faz de um dia para outro. Tem de se preocupar com a rima. Mas não é apenas encaixar a sonoridade. Precisa de conteúdo.

Em que o selo irá facilitar o trabalho dos Racionais?

KlJay - Queremos ter o controle do nosso trabalho. Saber quantas cópias o disco vai vender, ser dono das nossas canções. É mais ou menos como rola com os rappers norte-americamos.

A capa do disco traz um crucifixo cravado por uma bala e a contracapa mostra um homem segurando um revólver. Além disso, há fotos de vocês na frente de uma igreja e algumas pessoas com armas em punho. O que vocês querem dizer com isso?

Ice Blue - Queremos mostrar os dois lados da moeda. Na periferia, ou você está com Deus ou está com o diabo. Ou seja: ou você vai para as "cabeças" ou está no lado certo das coisas. Deus está comigo, mas o revólver também me acompanha.

KlJay - É o bem e o mal. Tem gente que sai do crime e se entrega à religião. Mas também tem aquele cara que é religioso, vai à igreja e ao mesmo tempo é o bandidão do pedaço. É a contradição que rola no mundo. O nome do disco é isso mesmo: sobrevivendo no inferno que é aqui na Terra.

Vocês não aparecem na televisão e não estão em uma grande gravadora. Como conseguem sucesso?

Edy Rock - Falamos daquilo que vivemos. Vejo corpo estendido no chão a duas quadras da minha casa. Somos uma espécie de repórteres da periferia. Falamos aquilo que 50 mil manos querem dizer, mas não têm a oportunidade. Na periferia somos respeitados por todos: de trabalhadores a traficantes.

Ao contrário das outras músicas, Fórmula Mágica da Paz tem uma letra pacífica. Por quê?

KlJay - Este é o nosso disco mais agressivo. Falamos de racismo, polícia, drogas, presídio e tudo o que rola na periferia. Mas, no fim, o que todos buscam mesmo é a paz. É a conclusão de tudo. Por isso, fizemos essa música.

Marcos Filippi

'Sobrevivendo no Inferno' (Cosa Nostra) - Novo disco dos Racionais MC's. Preços médios: R$ 18 (CD) e R$ 10 (LP)


Fale com o SP Variedades - variedades@jt.com.br


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