Aroma Digital
por Carlos Alberto Teixeira


Novas experiências sensoriais expandem os horizontes de fidelidade da realidade virtual.

Snif! snif! delícia de cheiro!

Um super nariz que vai fungar pela Rede
Viajando em busca de cheiros - Turismo Aromático

Artigo sobre nariz eletrônico que identifica moléstias - Electronic Nose Smells Diseases

Artigo detalhado sobre fisiologia da percepção - The Physiology of Perception

Artigo sobre transmissão de informações olfativas para telemedicina - Transmission of Olfactory Information for Telemedicine

Banco de dados sobre receptores olfativos - Olfactory Receptor DataBase

Artigo avançado - Olfactory Ensheathing Cells

A mais impressionante coleção de links sobre cheiros na Web
É melhor ir abrindo espaço na sua mesinha do computador para mais um dispositivo que em breve será ligado à sua máquina: um sintetizador de aromas. É o que a empresa DigiScents está bolando e planeja colocar no mercado o quanto antes.

Implementar cheiro no mundo digital é uma questão muito antiga. Já se deu uma série de passos importantes no sentido de se construir um ambiente convincente de realidade virtual. O objetivo é convencer um ser humano de que está vivendo num espaço sensorial verdadeiro, mesmo que todas as variáveis que o cerquem estejam sob um controle artificial.

Para tanto, é necessário criar condições que convençam a pessoa de que ela está imersa num oceano de estímulos que consiga iludir os cinco sentidos físicos.


[ Dê uma olhada Aqui! -
Texto didático em inglês sobre os sentidos humanos ]


Até há pouco, tínhamos apenas tecnologia suficiente para enganar bem aos sentidos da visão, da audição e, mais ou menos, ao do tato. Olfato e paladar vinham sendo os maiores problemas.


Para encarar, por exemplo, o olfato, o primeiro passo seria codificar informações aromáticas em formato digital. Cada cheiro é composto de diversos aromas primitivos, misturados em proporções bem definidas e, às vezes, formando combinações bastante complexas.

Se pudermos elaborar um perfil para cada cheiro, ficaria bem fácil digitalizar esta informação e transmiti-la por qualquer meio digital disponível. Essa é a idéia de Joel Lloyd Bellenson e Dexster Smith, os donos da DigiScent, uma revolucionária empresa de mídia interativa cuja missão é enriquecer as experiências de vida dos usuários diretos ou indiretos da tecnologia digital, através da digitalização e transmissão de aromas. Os dois formaram-se em Stanford: Bellenson em biologia e relações internacionais e Smith em engenharia industrial.

Essa coisa de cheiros digitais já foi motivo para muita piada na internetEssa coisa de cheiros digitais já foi motivo para muita piada na Internet. Existe até um site nessa linha. Mas Smith e Bellenson estão livres do risco de serem considerados criadores de "hoaxes" (alarmes-falsos na Rede). Ambos já são bem conhecidos no mercado hi-tech, graças à sua empresa Pangea Systems, líder no fornecimento de software e tecnologia para grandes empresas farmacêuticas e de biotecnologia.

Após o estrondoso sucesso da Pangea, fundaram a DigiScents em fevereiro de 1999 e, pelo menos até agora, a empresa ainda não tem competidores no mercado. Sediada em Oakland, Califórnia, a DigiScents pretende divulgar sua implementação de aromas digitais para uso em Web sites, email, música e vídeo em modo stream, jogos interativos, comércio eletrônico e propaganda digital. É um mercado vastíssimo, com amplas possibilidades de crescimento.

O sentido do olfato é bastante poderoso, pois afeta diretamente a parte mais emocional de nossos cérebros, o sistema límbico, onde memória, sentimentos, apetites e inspirações passam a tomar forma. A idéia de apreciar e estudar os cheiros remonta à tempos mais antigos.

[ Para saber um pouco mais sobre este assunto, dê uma olhada em nosso BOX ]

A ciência de misturar fragrâncias, destilar essências e, mais recentemente, criar aromas e sabores artificiais está nas mãos de uns poucos especialistas no mundo inteiro. Mas agora, com os avanços incríveis em pesquisa genética e bioquímica computacional, aliados à tecnologia de ponta na Internet, está sendo possível projetar uma linguagem digital para gravar, transmitir, sintetizar e reproduzir aromas. Além da DigiScents, empresas como a Adobe e a Real Networks já estão de olho nesse filão.


iSmell - O Protagonista Perfumado

O sintetizador de aromas produzido pela DigiScents chama-se iSmell e é controlado por um software de nome ScentStream. Teoricamente, este artefato pode produzir quase qualquer cheiro existente. A versão inicial de testes poderá gerar centenas de cheiros básicos que, combinados, são capazes de criar um número de [ 2 elevado à 128a. potência (2128) ] odores. É uma caixinha, ainda meio feiosa, medindo 7 x 5 x 12 centímetros que poderia ser posicionada, por exemplo, ao lado do seu monitor de vídeo.

Lá dentro, um pequeno ventilador suga o ar da parte de trás do aparelho, soprando-o através de tubinhos de óleos especiais que são seletivamente aquecidos atendendo a comandos digitais acionados por computador. O ar que passa "agarra" essas partículas de óleo combinadas e exala o aroma resultante por ranhuras de 5 centímetros. O dispositivo iSmell conecta-se à porta serial do micro, ou à porta USB e é energizado com uma fonte de alimentação comum, dessas que se pluga na tomada da parede.


Aromas: Incenso ou Perfume Francês?

A DigiScents planeja licenciar um índice digital contendo milhares de fragrâncias de modo que desenvolvedores possam integrar estes cheiros em seus produtos, sejam jogos, páginas Web, propagandas, filmes ou músicas. Pretende também lançar um site inovador chamado Snortal, encorajando os consumidores a participarem de novas formas de expressão artística.

Segundo Bellenson, "o sentido do olfato está intimamente relacionado à memória e à emoção, fazendo do aroma uma ferramenta poderosa para reforçar idéias. Se uma imagem vale mais que mil palavras, um aroma vale mais que mil imagens. As aplicações em educação e em propaganda são fabulosas." Outra possibilidade bem interessante são os tratamentos por aromaterapia através da Internet. Como se pode ver, a imaginação dos fundadores da DigiScents não possui limites.

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Inicialmente a DigiScents pretende oferecer uma biblioteca resumida de odores, incluindo comidas, flores e aromas de espaços abertos naturais, todos eles com o sugestivo nome de "smellscapes", ou panoramas aromáticos. Em termos de espaço em disco, cada aroma codificado pelo método Bellenson-Smith não ocupará mais do que 2 kilobytes.

Os cheiros produzidos pelo iSmell não são rigorosamente idênticos aos aromas originais, mas aproximam-se bastante deles. Segundo Bellenson, através de novas misturas de odores básicos fragrâncias inéditas poderão ser criadas e esse é um dos pontos fortes do sistema.

A empresa fornecerá software para projeto e composição de aromas, programas para reproduzir odores e o ReminiScents, um servidor de banco de dados contendo objetos aromáticos que poderão ser incorporados a ambientes de imersão sensorial em meio digital. As ferramentas de software e hardware da DigiScents trabalham ativadas por um click, como num hiperlink, ou através de seqüências temporais pré-programadas de odores, chamadas ScenTracks.

Quando o produto já estiver no mercado, os usuários poderão adquirir novos cartuchos aromáticos, cada um contendo cerca de uma centena de fragrâncias diferentes. Pretende-se comercializar uma ampla variedade de categorias de cheiros, oferecendo-se vastas possibilidades de combinações de diversos aromas.

Alguns comentaristas andaram levantando a possibilidade de que um dispositivo iSmell poderia empestear o ambiente de um aposento, produzindo aromas fortes demais e até intoxicantes. No entanto, os especialistas da DigiScents garantem que é possível regular a intensidade odorífica da engenhoca, como no botão de volume de um aparelho de som. Asseguram também que os óleos aromáticos não poderão causar mal algum a quem os inale, pois a potência do cheiro final produzido pelo iSmell é comparável a de um desses sprays de perfume para o ambiente, do tipo que se compra em supermercados.


Cheiradores de Plantão

A DigiScents está aceitando beta-testadores e fazendo acordo com empresas que pretendam produzir conteúdo aromático para lançamento dos primeiros produtos em meados do anos 2000. No final de outubro de 1999, a DigiScents assinou um acordo de distribuição com a empresa RealNetworks, líder mundial em distribuição de conteúdo stream via Internet. Graças a essa parceria, a DigiScents distribuirá o software ScentStream embutido no já afamado programa RealPlayer G2, atingindo os mais de 80 milhões de usuários registrados do RealPlayer.

Como sabemos, sempre tem aquele pessoal que enxerga fantasma em tudo. Já tem gente dizendo até que os óleos aromáticos dos sintetizadores de cheiro poderão causar câncer, viciar o usuário ou mesmo disparar alergias desconhecidas. Outros já estão pensando nos eventuais programadores de vírus, que poderão instruir os iSmells da vida a produzirem cheiros repugnantes ou putrefatos.

Outros, mais otimistas, preferem imaginar videogames de alto realismo, incluindo os cheiros de uma floresta ou de um campo de batalha, ou mesmo aplicações em estéreo, com um estimulador separado para cada narina, de modo a prover tempo internasal entre duas impressões olfativas, oferecendo uma sensação de "surround" nasal. Portanto, preparem seus narizes para esta revolução sensorial que se aproxima.


Em tempos antigos, pessoas no mundo inteiro -- árabes, cartageneses, chineses, egípcios, gregos, hindus, israelitas e romanos -- utilizavam com maestria os aromas. A realeza desses povos perfumava seus corpos, suas roupas, o interior de suas residências e até suas oferendas sacrificiais. Mesmo seus prédios e seus navios eram perfumados.

Algumas madeiras, como o cedro, eram especialmente valorizadas pois seu perfume era agradável aos humanos e repelente para os insetos. Fragrâncias geralmente eram usadas em cerimônias religiosas e figuravam em destaque nas interações comerciais e sociais entre diferentes culturas. Basta lembrar que, segundo a tradição cristã, os Três Reis Magos, quando viajaram até Belém para encontrar o menino Jesus, levaram incenso. Ótimo texto sobre incenso.

Com o desenvolvimento da ciência e da filosofia, as teorias sobre os aromas foram se misturando. Os médicos na antiga Grécia utilizavam fragrâncias em tratamentos médicos. Platão evitava os aromas porque eles eram um apelo para os desejos carnais, indesejáveis no sistema ético idealizado por ele. Por muito tempo, filósofos e cientistas pouco escreveram sobre o cheiro. Mesmo até a Revolução Industrial, quando o intelecto e a técnica se tornaram a mola mestra do progresso, as questões emocionais e sensuais do olfato continuaram em segundo plano.

Naturalmente, ao longo de todo esse tempo, perfumes e essências continuavam sendo usados pelas pessoas em suas vidas diárias. Com o comércio marítimo e a exploração geográfica facilitados pelos crescentes intercâmbios entre culturas, os perfumes foram se tornando mais populares e sofisticados. Mesmo durante a Idade Média, os doutores de então acreditavam que algumas doenças eram causadas pela má qualidade do ar que se respirava e poderiam ser evitas borrifando fumaça perfumada ou bebendo vinhos de aroma forte. O próprio nome da enfermidade hoje conhecida como malária vem da expressão italiana denotativa de um mau ar.