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Novas experiências sensoriais expandem os horizontes de
fidelidade da realidade virtual.
É melhor ir abrindo espaço na sua mesinha do
computador para mais um dispositivo que em breve será ligado à sua
máquina: um sintetizador de aromas. É o que a empresa DigiScents
está bolando e planeja colocar no mercado o
quanto antes.
Implementar cheiro no
mundo digital é uma questão muito antiga. Já se deu uma série de
passos importantes no sentido de se construir um ambiente
convincente de realidade virtual. O objetivo é
convencer um ser humano de que está vivendo num espaço sensorial
verdadeiro, mesmo que todas as variáveis que o
cerquem estejam sob um controle artificial.
Para tanto, é
necessário criar condições que convençam a pessoa de que ela está
imersa num oceano de estímulos que consiga iludir os cinco sentidos
físicos.
[ Dê uma olhada Aqui! -
Texto
didático em inglês sobre os sentidos humanos
]
Até há pouco, tínhamos apenas tecnologia suficiente
para enganar bem aos sentidos da visão, da audição e, mais ou menos,
ao do tato. Olfato e paladar vinham sendo os maiores
problemas.
Para
encarar, por exemplo, o olfato, o primeiro passo seria codificar
informações aromáticas em formato digital. Cada cheiro é composto de
diversos aromas primitivos, misturados em proporções bem definidas
e, às vezes, formando combinações bastante complexas.
Se
pudermos elaborar um perfil para cada cheiro, ficaria bem fácil
digitalizar esta informação e transmiti-la por qualquer meio digital
disponível. Essa é a idéia de Joel Lloyd Bellenson e Dexster Smith,
os donos da DigiScent, uma revolucionária empresa de mídia
interativa cuja missão é enriquecer as experiências de vida dos
usuários diretos ou indiretos da tecnologia digital, através da
digitalização e transmissão de aromas. Os dois formaram-se em
Stanford: Bellenson em biologia e relações internacionais e Smith em
engenharia industrial.
Essa coisa de cheiros digitais já foi motivo para muita
piada na Internet. Existe até um site nessa linha. Mas Smith e
Bellenson estão livres do risco de serem considerados criadores de
"hoaxes" (alarmes-falsos na Rede). Ambos já são bem conhecidos no
mercado hi-tech, graças à sua empresa Pangea Systems, líder no
fornecimento de software e tecnologia para grandes empresas
farmacêuticas e de biotecnologia.
Após o estrondoso sucesso
da Pangea, fundaram a DigiScents em fevereiro de 1999 e, pelo menos
até agora, a empresa ainda não tem competidores no mercado. Sediada
em Oakland, Califórnia, a DigiScents pretende divulgar sua
implementação de aromas digitais para uso em Web sites, email,
música e vídeo em modo stream, jogos interativos, comércio
eletrônico e propaganda digital. É um mercado vastíssimo, com amplas
possibilidades de crescimento.
O sentido do olfato é bastante
poderoso, pois afeta diretamente a parte mais
emocional de nossos cérebros, o sistema límbico, onde
memória, sentimentos, apetites e inspirações passam a tomar forma. A
idéia de apreciar e estudar os cheiros remonta à tempos mais
antigos.
[ Para saber um pouco mais
sobre este assunto, dê uma
olhada em nosso BOX ]
A ciência de misturar
fragrâncias, destilar essências e, mais recentemente, criar aromas e
sabores artificiais está nas mãos de uns poucos especialistas no
mundo inteiro. Mas agora, com os avanços incríveis em pesquisa
genética e bioquímica computacional, aliados à tecnologia de ponta
na Internet, está sendo possível projetar uma linguagem digital para
gravar, transmitir, sintetizar e reproduzir aromas. Além da
DigiScents, empresas como a Adobe e a Real Networks já estão de olho
nesse filão.
iSmell - O Protagonista Perfumado
O sintetizador de aromas produzido pela DigiScents
chama-se iSmell e é controlado por um
software de nome ScentStream. Teoricamente, este artefato pode
produzir quase qualquer cheiro existente. A versão inicial de testes
poderá gerar centenas de cheiros básicos que, combinados, são
capazes de criar um número de [ 2 elevado à 128a.
potência (2128) ] odores. É uma caixinha, ainda
meio feiosa, medindo 7 x 5 x 12 centímetros que poderia ser
posicionada, por exemplo, ao lado do seu monitor de vídeo.
Lá dentro, um pequeno ventilador suga o ar da parte de trás
do aparelho, soprando-o através de tubinhos de óleos especiais que
são seletivamente aquecidos atendendo a comandos digitais acionados
por computador. O ar que passa "agarra" essas partículas de óleo
combinadas e exala o aroma resultante por ranhuras de 5 centímetros.
O dispositivo iSmell conecta-se à porta serial do micro, ou à porta
USB e é energizado com uma fonte de alimentação comum, dessas que se
pluga na tomada da parede.
Aromas: Incenso ou
Perfume Francês?
A DigiScents planeja
licenciar um índice digital contendo milhares de fragrâncias de modo
que desenvolvedores possam integrar estes cheiros em seus produtos,
sejam jogos, páginas Web, propagandas, filmes ou músicas. Pretende
também lançar um site inovador chamado Snortal, encorajando os
consumidores a participarem de novas formas de expressão
artística.
Segundo Bellenson, "o sentido do olfato está
intimamente relacionado à memória e à emoção, fazendo do aroma uma
ferramenta poderosa para reforçar idéias. Se uma imagem vale mais
que mil palavras, um aroma vale mais que mil
imagens. As aplicações em educação e em
propaganda são fabulosas." Outra possibilidade bem
interessante são os tratamentos por aromaterapia através da
Internet. Como se pode ver, a imaginação dos fundadores da
DigiScents não possui limites.
[ Não
deixe de ler isto Aqui! também - Elucubrações
sobre o futuro dos aromas digitais
]
Inicialmente a DigiScents pretende oferecer uma
biblioteca resumida de odores, incluindo comidas, flores e aromas de
espaços abertos naturais, todos eles com o sugestivo nome de
"smellscapes", ou panoramas
aromáticos. Em termos de espaço em disco, cada aroma codificado pelo
método Bellenson-Smith não ocupará mais do que 2
kilobytes.
Os cheiros produzidos pelo iSmell não são
rigorosamente idênticos aos aromas originais, mas aproximam-se
bastante deles. Segundo Bellenson, através de novas misturas de
odores básicos fragrâncias inéditas poderão ser
criadas e esse é um dos pontos fortes do sistema.
A empresa fornecerá software para projeto e composição
de aromas, programas para reproduzir odores e o ReminiScents, um
servidor de banco de dados contendo objetos aromáticos que poderão
ser incorporados a ambientes de imersão sensorial em meio digital.
As ferramentas de software e hardware da DigiScents trabalham
ativadas por um click, como num hiperlink, ou através de seqüências
temporais pré-programadas de odores, chamadas
ScenTracks.
Quando o produto já estiver no mercado, os
usuários poderão adquirir novos cartuchos aromáticos, cada um
contendo cerca de uma centena de fragrâncias diferentes. Pretende-se
comercializar uma ampla variedade de categorias de cheiros,
oferecendo-se vastas possibilidades de combinações de diversos
aromas.
Alguns comentaristas andaram levantando a
possibilidade de que um dispositivo iSmell poderia empestear o
ambiente de um aposento, produzindo aromas fortes demais e até
intoxicantes. No entanto, os especialistas da DigiScents garantem
que é possível regular a intensidade odorífica da engenhoca, como no
botão de volume de um aparelho de som. Asseguram também que os óleos aromáticos não poderão causar mal algum a
quem os inale, pois a potência do cheiro final
produzido pelo iSmell é comparável a de um desses sprays de perfume
para o ambiente, do tipo que se compra em
supermercados.
Cheiradores de Plantão
A DigiScents está
aceitando beta-testadores e fazendo acordo com empresas que
pretendam produzir conteúdo aromático para lançamento dos primeiros
produtos em meados do anos 2000. No final de outubro de 1999, a
DigiScents assinou um acordo de distribuição com a empresa RealNetworks, líder mundial em
distribuição de conteúdo stream via Internet. Graças a essa
parceria, a DigiScents distribuirá o software ScentStream embutido
no já afamado programa RealPlayer G2, atingindo os mais de 80
milhões de usuários registrados do RealPlayer.
Como sabemos, sempre tem aquele pessoal que enxerga
fantasma em tudo. Já tem gente dizendo até que os óleos aromáticos
dos sintetizadores de cheiro poderão causar câncer, viciar o usuário
ou mesmo disparar alergias desconhecidas. Outros já estão pensando
nos eventuais programadores de vírus, que poderão instruir os
iSmells da vida a produzirem cheiros repugnantes ou putrefatos.
Outros, mais otimistas, preferem imaginar videogames de alto
realismo, incluindo os cheiros de uma floresta ou de um campo de
batalha, ou mesmo aplicações em estéreo, com um estimulador separado
para cada narina, de modo a prover tempo internasal entre duas
impressões olfativas, oferecendo uma sensação de "surround" nasal.
Portanto, preparem seus narizes para esta revolução sensorial que se
aproxima.
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Em tempos
antigos, pessoas no mundo inteiro -- árabes,
cartageneses, chineses, egípcios, gregos, hindus,
israelitas e romanos -- utilizavam com maestria os
aromas. A realeza desses povos perfumava seus corpos,
suas roupas, o interior de suas residências e até suas
oferendas sacrificiais. Mesmo seus prédios e seus navios
eram perfumados.
Algumas madeiras, como o
cedro, eram especialmente valorizadas pois seu perfume
era agradável aos humanos e repelente para os insetos.
Fragrâncias geralmente eram usadas em cerimônias
religiosas e figuravam em destaque nas interações
comerciais e sociais entre diferentes culturas. Basta
lembrar que, segundo a tradição cristã, os Três Reis
Magos, quando viajaram até Belém para encontrar o menino
Jesus, levaram incenso. Ótimo texto sobre
incenso.
Com o
desenvolvimento da ciência e da filosofia, as teorias
sobre os aromas foram se misturando. Os médicos na
antiga Grécia utilizavam fragrâncias em tratamentos
médicos. Platão evitava os aromas porque eles eram um
apelo para os desejos carnais, indesejáveis no sistema
ético idealizado por ele. Por muito tempo, filósofos e
cientistas pouco escreveram sobre o cheiro. Mesmo até a
Revolução Industrial, quando o intelecto e a técnica se
tornaram a mola mestra do progresso, as questões
emocionais e sensuais do olfato continuaram em segundo
plano.
Naturalmente, ao longo de
todo esse tempo, perfumes e essências continuavam sendo
usados pelas pessoas em suas vidas diárias. Com o
comércio marítimo e a exploração geográfica facilitados
pelos crescentes intercâmbios entre culturas, os
perfumes foram se tornando mais populares e
sofisticados. Mesmo durante a Idade Média, os doutores
de então acreditavam que algumas doenças eram causadas
pela má qualidade do ar que se respirava e poderiam ser
evitas borrifando fumaça perfumada ou bebendo vinhos de
aroma forte. O próprio nome da enfermidade hoje
conhecida como malária vem da expressão italiana
denotativa de um mau ar.
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