Acidentes Radioativos no Mundo

CÉSIO-137
     O césio-137 é um isótopo radioativo, proveniente da fissão de urânio ou plutônio, 
que se desintegra formando bário-137m, o qual por sua vez emite raios gama no processo de 
desexcitação.  Esses raios, altamente penetrantes, permitem que o césio-137 seja facilmente
observável por meio de detetores de radiação.  No processo de desintegração também emite 
partículas beta; na forma de pastilhas utilizadas pela Medicina Nuclear não emanam vapores 
nem gases. Por outro lado, o bário-137m é de difícil dosimetria, tanto no caso de exposição
externa aos raios gama quanto no de contaminação interna por césio137.  
     A cabeça de uma unidade de teleterapia que encerra a cápsula de césio137 constitui-se
de uma blindagem de chumbo e aço (e, às vezes, de urânio empobrecido) que impede os raios 
gama de escaparem para o exterior.  Considerando-se a ½ vida de 30 anos do césio137, pode-se
calcular uma atividade específica de 87 Ci/g, caso a fonte fosse de césio puro.  Como a fonte
é de cloreto de césio, tal atividade cai para 69 Ci/g.  Ainda, é preciso adicionar césio 
estável (para forçar a precipitação do césio na mistura de produtos de fissão em solução)
em quantidade pelo menos igual à do césio radioativo, o que diminui a atividade específica
para 35 Ci/g.  Após a secagem do precipitado e a compressão do pó cristalino resultante,
preparam-se 3 discos que se ajustam como um único cilindro dentro da cápsula.  
     Também, ao serem fabricadas, as fontes de césio137 contêm entre 2 e 5% de césio134, 
variando a percentagem de acordo com o reator de onde provém a mistura.  Essa pequena porção,
destinada a aumentar a atividade inicial, cria dificuldades adicionais para a blindagem das
unidades de teleterapia, em razão dos raios gama de maior energia, e portanto mais penetrantes,
emitidos na desintegração desse elemento.  Mas logo diminui sua importância, em razão de sua
½ vida ser de apenas 2 anos.
     Em 5 de setembro de 1987 o presidente José Sarney anunciava que o Brasil já dominava a 
tecnologia de enriquecimento do urânio.

Acidente em Goiânia
     O material da fonte, na sua fabricação, em 1971, compunha-se de cloreto de césio137 (28 g)
mais um aglutinante (63 g), dando uma massa de 91 g, densidade de 3 g/cm3 e uma atividade de 
2.000 Ci.  Em 09/87 tinha as seguintes características: atividade de 1.375 Ci, massa 
total de 91 g, massa de CsCl de 19,26 g e atividade específica de 15,11 Ci/g.  90% do conteúdo
total da fonte de césio-137, i.e., 17 g, foram efetivamente liberados.  
     A cápsula que continha cloreto de césio foi apanhada no terreno da esquina da Av Tocantins
com a Paranaíba, onde funcionava a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia por catadores de sucata
e papel, em uma sala sem porta e sem janelas, em local de fácil acesso, e levada para o ferro 
velho na rua 57, nº 68, onde no dia seguinte foi aberta no quintal, por Roberto e seu amigo 
Wagner, possivelmente no dia 13/09/87, a golpes de marreta.  
     Algumas centenas de curies de césio137 foram derramadas em um pequeno pedaço de tapete 
colocado sobre o solo nu, à sombra de 2 mangueiras.  A pedra de Césio137 foi dividida e os 
pedaços presenteados a amigos e parentes, ficando uma parte com Devair, que a manteve em casa por 
vários dias, até que sua esposa, Maria Gabriela, e Geraldo, a levassem ao Serviço de Vigilância 
Sanitária da OSEGO, onde depositaram a marmita radioativa numa cadeira.  
     Focos principais de contaminação: rua 57, nº 68 (casa do Roberto); rua 63, nº 19, fundos (casa do 
Ovídio); rua 26-A e rua 15 (ferro-velho I - Devair); rua 6, quadra Q, lote 18 (ferro-velho II - Ivo);
rua P 19, lote 4 (ferro-velho III - Joaquim); rua 17-A, quadra 70 A, lote 26 B (casa da fossa - 
Ernesto Fabiano); rua 16-A nº 792 (Vigilância Sanitária). Coube ao físico Walter Mendes Ferreira dar 
o alarme.  
     A CNEN envia a Goiânia, na madrugada do dia 30 o diretor de seu Departamento de  Instalações 
Nucleares, José de Júlio Rozental; nesta data também chegam técnicos do Instituto de Radioproteção e 
Dosimetria e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, ambos da CNEN, e 3 médicos: um da 
Nuclebrás, um de Furnas Centrais Elétricas e um 3º do IRD.  Na 1ª semana de outubro chegam médicos e 
físicos de vários países: Günther Drexler, da Alemanha; Elias Palacios e Juan Carlos Jimenez, da 
Argentina; Gerald Hanson, da OMS; Robert Ricks, Robert P. Gale e Clarence C. Lushbaugh, dos EUA; e 
Georgui Selidovkin, da URSS.  
     As vítimas de maior gravidade foram internadas de imediato em alguns hospitais da cidade, mas 
depois a equipe decidiu reuni-las no HGG.  As pessoas irradiadas ficaram na FEBEM e Estádio Olímpico.
Dezenas de milhares de pessoas foram submetidas a testes com detetores de radiação.  
          Muita gente afetada pode não ter sido cadastrada. 
     Foram criadas 2 comissões: o Núcleo de Acompanhamento do Acidente Radiológico, por iniciativa da 
UFGo e a Fundação Leide das Neves Ferreira (esta, em 11 de fevereiro de 1988).  Pelo decreto nº 2.846,
de 19 de outubro de 1987, foi criada a CIPOLES, e no seu art 2º está: "compete à unidade Policial 
Militar ora instituída o Policiamento, a guarda e a segurança, indispensáveis ao controle ambiental, 
de áreas especiais, consideradas contaminadas por elementos radioativos".
     Discriminação - foi intensa na fase inicial, contra Goiás e os goianos; falava-se em radioatividade 
nas pastagens, no leite, tecidos, calçados, e nossos produtos não podiam ser exportados.  Hotéis em 
outros Estados se negavam a receber goianos, e cancelaram-se congressos, shows e outros eventos 
programados para a cidade.
     Vozes - no I Simpósio Internacional sobre o acidente radioativo com 
Césio-137 em Goiânia, de 28 a 30 de setembro de 1988, o então Governador do Estado, Dr. Henrique 
Santillo diz: "à exceção de 2 convênios com a Universidade de Campinas, do acompanhamento da UFGo e do 
interesse manifestado pelo CNPq, com nenhum outro apoio temos contado para tarefas tão complexas"; e 
também: "estamos correndo o risco de pouco aproveitar da terrível experiência do episódio de Goiânia.  
Um acontecimento tão doloroso - que poderia ser o ponto de partida para a revisão de toda a atitude 
mundial diante da questão da energia nuclear - pode transformar-se, pela omissão, numa história 
mesquinha e sem importância, perdida na prevenção desses acidentes; na fiscalização do uso de artefatos
radioativos; na codificação de normas de atuação frente a hipótese de acidentes; na retomada ou na 
implantação de um ensino específico nas faculdades de medicina; na construção de sistema seguro para 
colher rejeitos radioativos e no aprendizado de técnicas médicas e científicas de assistência às vítimas".
     O então Presidente da Fundação Leide das Neves Ferreira, Dr. Halim Antônio Girade, diz: "não criamos
nada saído da nossa cabeça, pois já existe um protocolo elaborado pela Agência Internacional de Energia 
Nuclear, com um objetivo específico: fazer o acompanhamento das vítimas de acidente radioativo".  Ele 
também diz: "na área médica temos um protocolo e o acompanhamento de todos os exames complementares.  
Há o Grupo I da Fundação, ou seja, as 54 pessoas mais atingidas.  O Grupo II é formado por 50 pessoas que
sofreram contaminação menor.  O Grupo III se constitui de técnicos que, de alguma forma, manipularam os 
rejeitos ou que tiveram contato com as vítimas quando elas ainda irradiavam.  E um quarto Grupo, que diz 
respeito aos vizinhos dos focos onde iniciamos o estudo de micronúcleos".
     Ações iniciais na Saúde - em 1º de outubro de 1987, 6 vítimas criticamente envolvidas foram transferidas
para o Hospital Naval Marcílio Dias, e no dia 03, outras 4.  Níveis de atendimento médico: primário, 
restrito ao nível de dispensário (Febem e Albergue); secundário, HGG; e terciário, Hospital Naval Marcílio
Dias.  Os indivíduos que foram contaminados foram distribuídos em 2 grupos: os que tinham apenas uma 
contaminação de vestes e sapatos, os quais foram descontaminados e liberados, e os outros 129 que tinham 
indícios de contaminação externa ou interna mais significativa, com algum indício de exposição e também de
radiolesão; este último grupo também foi dividido em 2: um hospitalar ou de atenção primária (30 pessoas 
distribuídas entre Febem e Albergue e 20 hospitalizados); e outro grupo formado por 70 pessoas, que ficaram
em ambulatórios pois estavam bem e podiam se deslocar diariamente. 
     O tratamento dos pacientes foi dividido em: tratamento da sindrome aguda da radiação - através
da depressão da medula óssea, da sua hipoplasia ou da sua aplasia; o destinado à recuperação das radiolesões;
o tratamento da decorporação; e o de suporte e psicoterapia. Os pacientes em Goiânia tiveram inicialmente 
náuseas, vômitos, tonturas, cefaléias, formigamento na pele e diarréias, surgindo alguns minutos ou 
horas após o contato com o material.  Com relação à fase aguda, foi feito: isolamento, repouso, vitaminoterapia,
dieta livre de alimentos crus e hiperprotéica, esterilizada, inclusive a água e o leite - lembrar que os pacientes
eram imunodeprimidos -, reposição hidroeletrolítica, e a prevenção e tratamento de infecções oportunistas; 
ainda, transfusão de hemácias, de plaquetas previamente irradiadas e infusão de um fator de estimulação da 
medula óssea.  
     A síndrome aguda com depressão da medula óssea ocasionou 4 óbitos, por infecção e/ou hemorragia.  A 
descontaminação dos pacientes: a externa não envolve segredos.  O importante é retirar da pele o pó, o 
resíduo.  Para isso o ideal é água e sabão.  No início usou-se ainda ácido acético e dióxido de titânio.  Mais 
tarde, água, sabão neutro, dióxido de titânio, seguido de lavagem com água morna, permanganato a 4% e hipoclorito
de sódio a 0,5%.  Também foram usadas pomadas à base de lanolina e óxido titânico; elas funcionam como uma 
cola que, ao ser removida, limpa a pele, descamando-a.  
     Na interna (decorporação) foi usado o radiogardase e o azul-da-prússia, que é uma mistura de
ferro com ferrocianeto férrico, na proporção de 4 para 3.  O produto age como uma resina de troca iônica, um 
carregador de íons.  O césio, que é excretado via urinária passa então a ser eliminado também pelas fezes; este
medicamento não tem efeitos colaterais, desde que totalmente puro.  
     Não se sabia a dose a ser usada e se seria eficaz, porque havia informação de que só atuaria nas primeiras
48 h; como não havia alternativa se optou por usá-lo mesmo 2 semanas após a contaminação; aumentou-se a dose 
diária e se acompanhou a eliminação do césio.  Para os adultos foram usadas doses de 3 a 10 g; para as crianças,
de 1 a 3 g.  Os resultados foram ótimos.  Também se usou: diuréticos (hidroclorotiazida, de 50 a 100 mg; e 
furosemide, para estimular a diurese; a hidratação oral forçada teve o mesmo objetivo).  
Também foram utilizados sauna e exercícios ergométricos para ajudar na decorporação pela sudorese.
     As lesões - os efeitos das radiações serão quase sempre maiores nas células com
maior atividade mitótica ou menor grau de diferenciação, como as da pele, do intestino ou dos órgãos 
hematopoiéticos; exceção os linfócitos, que são bastante radiossensíveis.  
     O mais importante dos efeitos imediatos das radiações após exposição do corpo inteiro a doses relativamente
elevadas é a doença aguda de radiação (DAR); ela é a principal causa de morte de mamíferos irradiados, 
nas primeiras semanas após a exposição.  Doses muito elevadas, da ordem de algumas centenas de grays, provocam 
a morte em minutos.  Doses em torno de 100 Gy produzem falência do SNC, resultando desorientação espaço-temporal,
perda de coordenação motora, hiperexcitabilidade, distúrbios respiratórios, convulsões, coma e morte, em horas 
ou dias.  Para doses menores, poucas horas após a exposição surgem náusea, vômito, diarréia, sudorese intensa,
cansaço, febre, dor de cabeça, taquicardia (fase prodrômica da DAR).  Depois, há um período assintomático 
com duração de dias, ao término do qual se instala um quadro com predominância hematopoiética ou GI, 
conforme a dose de radiação.  
     Quando a dose absorvida de corpo inteiro é de dezenas de grays, a forma da DAR é a sindrome gastrointestinal,
com náusea, vômito, anorexia, diarréia e apatia; depois desidratação, perda de peso e infecções graves.  A 
morte se dá dias depois.  Doses de apenas alguns grays geram a sindrome hematopoiética, pela inativação 
das células sangüíneas (hemácias, leucócitos e plaquetas) e, principalmente, dos tecidos hematopoiéticos, 
responsáveis pela produção dessas células.  O nº de linfócitos circulantes reduz-se intensamente logo após
a exposição.  A diminuição de plaquetas é uma das causas das hemorragias.  Para pacientes que tenham absorvido
doses iguais ou maiores que algumas dezenas de grays, ainda não há conduta terapêutica que lhes assegure a 
sobrevivência. 
     O primeiro problema crítico no atendimento a um irradiado é estimar a dose absorvida; em geral é extremamente
difícil; métodos: seguimento da variação do nº de leucócitos circulantes; 
determinação da ocorrência de aberrações cromossômicas, principalmente do nº de cromossomos dicêntricos.
Na pele, inicialmente surgem eritema (semelhante a radiação solar) e prurido, queda de cabelos, formigamento 
e dormência; depois aparecem bolhas muito dolorosas.  Nesta fase foram feitas aplicações tópicas de
medicamentos e imersões em bacias com substâncias analgésicas e anti-sépticas.  Na 3ª fase, quando as bolhas
se rompem foram utilizadas soluções e pastas à base de tanino, óleo de babosa e substâncias antiinflamatórias.
     Também realizados debridamentos cirúrgicos e amputações.  Importante o uso de antibióticos e fungicidas,
procedimentos anti-hemorrágicos, enxertos de medula óssea, reposição de fluidos. O grande problema das radiolesões
é a sua característica cíclica e crônica; são lesões vasculares e de comprometimento profundo, o que permite
a recidiva.  Um nº grande de pacientes teve radioepidermites que corresponderiam só à descamação da pele da mão ou
de outra região do corpo.  Nas radiodermites e radioepidermites pela radiação ionizante, há ionização celular e 
uma alteração a nível molecular, de DNA, de cromossomos, e também uma alteração na pele não só da região onde se
vê a bolha, ou descamação ou necrose tecidual, mas de toda uma região; daí ser difícil a recuperação.   
     A bexiga também é sensível, com lesões em sua mucosa de revestimento, com ulcerações e infecções.  A 
esterilidade é reversível ou não, dependendo da dose absorvida.  A irradiação do globo ocular leva a 
opacificação do cristalino (com formação de cataratas), meses ou anos após.  
     Odontologia - os primeiros atendimentos foram no HGG; depois se instalou um 
consultório emergencial na Febem.  O objetivo era: aliviar a dor da odontalgia bucal, eliminar as infecções
focais, aliviar as condições das próteses e restabelecer a estrutura funcional.  As alterações mais comuns 
eram: candidíase, dos tipos pseudomembranoso e crônica ativa; e petéquias hemorrágicas em 70% dos casos.
Não se detectou aumento na incidência de cáries e doenças periodontais.  Importante foi a grande 
hipersensibilidade dentária, ao calor e frio.
     Anatomopatológico das vítimas fatais - havia queda de cabelos e mudança
na textura da pele.  Em uma vítima haviam múltiplas lesões hemorrágicas em toda a superfície corporal,
do couro cabeludo aos pés; ao se rebater o couro cabeludo, isto era ainda mais nítido a nível de musculatura.
Haviam áreas que pareciam verdadeiros hematomas, áreas de coleções hemorrágicas.  Os órgãos internos 
tiveram modificada a sua tonalidade, com aspecto negróide, aumento de volume e de consistência.  Também
áreas de necrose em vários locais que tiveram contato direto com a substância.  Na região torácica o 
tecido pulmonar apresentava hemorragia difusa; também múltiplas sufusões hemorrágicas na superfície 
cardíaca e pericárdica.  No pâncreas, também múltiplas áreas de hemorragia.  
     Houveram 2 casos em que não se constatou o aspecto hemorrágico difuso.  Em um caso, o pulmão estava tão
alterado que lembrava ao fígado, endurecido por um processo inflamatório, não por ação direta do Césio-137.
     Também o estômago apresentava múltiplas áreas hemorrágicas.  
     Descontaminação dos locais: descoberto o acidente, técnicos da CNEN isolaram
com tapumes 5 residências da rua 57, retiraram o pedaço de tapete altamente radioativo e despejaram sobre o
ponto crítico algumas latas de concreto, para atenuar um pouco a radiação local.  Para descontaminar cimento
e concreto foram usadas misturas de ácido com alúmen e azul-da-prússia, combinando-os com uma ação mecânica,
escovas manuais ou elétricas e, às vezes, lixadeiras.  Para azulejos de cozinhas e banheiros, o ácido 
fluorídrico.  Pisos encerados e objetos que acumulam gordura foram lavados com soda cáustica e detergente
ou com soluções não aquosas de ácido clorídrico.  O cloreto de césio é muito solúvel em água; ao primeiro
contato com a umidade, se dissolve e difunde.  Entretanto, é facilmente retido em diversos materiais; em 
Goiânia, em geral ficou retido por minerais presentes no barro dos quintais.  
     Na argila foram aplicadas soluções ácidas de alúmen.  99% da terra mais contaminada estava nas camadas
superficiais, que tinham de 100 a 150 roentgens/h de taxa de exposição.  Estes solos foram retirados e 
substituídos por solo limpo ou concretados.  As taxas de radiação eram muito altas, obrigando os técnicos
a permanecer na rua 57 apenas alguns segundos, quando recebiam doses de 50 a 100 mrems.  A descontaminação
foi encerrada na semana do Natal.
     Animais que tiveram contato com os locais e as pessoas contaminadas, transformando-se em veículos de 
disseminação da contaminação, foram identificados e sacrificados.  A contaminação de plantas, verduras,
ervas, raízes, frutos ficou circunscrito a um raio de 50 metros de alguns dos principais focos de 
contaminação, atingindo todas as partes das plantas.  No dia 07/12/87, as mangueiras foram arrancadas e o
solo altamente contaminado começou a ser escavado.  Por vários dias houve grande movimentação de terra, 
parte da qual se espalhou pelas redondezas na forma de poeira, apesar das chuvas e da irrigação proposital
com o intuito de evitá-la.   
     Até agora não se sabe a quantidade de césio que se perdeu, porque são imprecisos os cálculos sobre
a recuperação do material radioativo.  
     Não se detectou o radionuclídeo em solução na 
água.   Peixes coletados em 11/87 no Meia Ponte, a jusante da represa Jaó, tiveram uma concentração de 
200 Bq/kg - próprios para consumo.  A água que abastece a cidade é captada na margem esquerda da bacia do
Meia Ponte, não afetada pelo acidente.  
     Depósito de rejeitos - A função de um depósito de rejeitos é a de manter 
segregadas substâncias tóxicas ou agressivas por longo tempo, possibilitando a sua degradação, de tal modo
que ao voltar para a biosfera não provoque risco inaceitável para os seres vivos.  Evita-se
a radiação: a) interpondo-se uma distância adequada entre as fontes radioativas e as populações; 
b) empregando materiais densos e espessos como blindagem.  Em laboratórios, hospitais, indústrias, usa-se
o ferro e o chumbo.  Para rejeitos, concreto, rochas, solos ou argila.  
     Os raios alfa e ß são facilmente bloqueados por pequenas espessuras de materiais sólidos; mas uma 
blindagem de 35 cm de espessura de concreto ainda permite a transmissão de 0,00001 das radiações gama do
Césio137.  Lembrar que a fonte de Goiânia era capaz de produzir uma dose letal de radiação para quem se 
aproximasse a menos de 1 metro por alguns minutos.  
     Em 1991 no depósito de Abadia de Goiás, constataram-se sinais de corrosão em algumas embalagens, 
principalmente nos tambores de 200 litros.  Iniciou-se de imediato a operação de recondicionamento, tendo
prosseguido com a imobilização em embalagens de concreto em 1992, e terminado com as embalagens metálicas
em junho de 1993.
     Conseqüências futuras -  Há sempre a possibilidade de surgimento de 
efeitos biológicos tardios, principalmente a cancerização (qualquer exposição às radiações implica neste
risco; não há uma dose segura), com desenvolvimento de neurofibrossarcomas, uma forma rara de câncer.
Indução de câncer pulmonar, de tireóide ou de fígado requerem uma ou 2 décadas, enquanto a leucemia pode 
manifestar-se em 5 a 10 anos.  As radiações também tem efeito teratogênico; se ocorridas na fase da 
pré-implantação acarretam em geral a morte do organismo em formação; no período embrionário, há grandes 
probabilidades de produzirem malformações, dependendo da dose e do momento da exposição; no período fetal 
a exposição praticamente não provoca malformações.  Portanto, tais pacientes tem que ser examinados, 
1 a 2 vezes/ano por toda a vida.   
     Quatro pacientes eram gestantes; os RN não apresentaram problemas e as gestações evoluíram sem 
intercorrências.  Algumas lesões, devidas a radiação ß, foram superficiais; estas estão resolvidas.  
Outras, por raios gama, são evolutivas.  Os efeitos genéticos são divididos em: a) aberrações 
cromossômicas (avaliadas em linfócitos do sangue periférico), que envolvem modificações no nº dessas 
estruturas ou na sua forma; b) mutações gênicas, que provocam alterações na estrutura de um determinado
gene.  No homem, detectar tais alterações é muito difícil.  
     Também em Hiroshima e Nagasaki não foram observadas alterações genéticas, o que não significa 
que não tenha havido.  É que elas são de cunho recessivo e podem aparecer na 3ª, 4ª e 5ª gerações.

THE ACCIDENT WITH CESIUM-137 IN GOIÂNIA
     On September 29, 1987, news spread that a radioactive capsule had been violated in Goiânia, 2 weeks
before and that human beings had been exposed to its effects.  A lead canister containing 1400 curies of
cesium137 was opened launching the second largest nuclear accident after Chernobyl.  
     The cesium was a luminous blue powder which both children and adults rubbed on their bodies, and the
six year old Leide das Neves Ferreira ate a sandwich tainted with the powder from her hands.  
     The cesium was later parceled out to friends and family, spreading the contamination from the 
junkyard to homes around the city.  At the end of the acute period, 4 people had died and several ones 
had radiolesions.  
     The Leide das Neves Ferreira Foundation was created  by the Governor of Goiás state to give assistance
to these victims.  The objective was to give direct and permanent assistance to those involved, that were
divided into 4 groups: I, from people with radiodermatitis and/or complete body exposure equal to or above
20 rads, and/or contamination equal to or above 50 uCi. The 54 persons included in this group from the 
beginning received monthly clinical examinations, bimonthly hematological exams, and semiannual myelograms,
spermograms, ophthalmological and biochemical exams.   
     Group II was formed from relatives of the first group and people who had contact with these individuals
and whose radiation levels weren’t so high as in group I.  They received a clinical examination and 
hematological exam every 4 months.  
     Group III, from people involved in the decontamination in our city and those who had contact with the 
contaminated patients; they received initially dosimetry examination and body count, and then, annual 
follow-up exams.  
     The population living near the places contaminated, forms group IV, and are submitted to a study to 
determine the existence of low-level radiation.  There was a special group - 33 children, from newborns to
13 years old, 12 of them in group I.
Medical problems - 21 patients received doses above 100 rads, and in the first 
week the ten sickest were airlifted to the Navy hospital, Dias, in Rio.  6 weeks after the accident 14 of 
them developed moderate to severe medullar depression with leukocyte levels as low as 500 mm3.
All of them showed transitory eosinophilia.  All 21 patients were internally contaminated, which meant that
they were being continually irradiated from the cesium that they had inhaled; they were themselves 
radioactive. 
     Then, the first task was to attempt to rid their bodies of cesium.  For this, it was administered
Prussian blue.  Also, they received antibiotics to combat infections, and cell infusions to prevent 
bleeding.  
     In the first year group II hadn’t disclosed yet important hematological alterations.
Odontology - in the first moments, the primary concern was to help those 
suffering from acute alterations, try to eliminate the infections, control the pain, care for oral hygiene
and verify prostheses, as we were facing an emergency and something unknown.  
     In the 1st year, 62 patients, being 33 from group I and 29 of group II, complained of some 
symptomatology.   69% of them presented dental hypersensibility.  Paresthesia (18%), trismus (10%) and 
xerostomia (47%) were of a transitory character, not lasting beyond 2 weeks.  Petechiae were also found 
in the jugal region and in the labial mucosa (24%).  In the clinical and cytological test, 20% of  the 
patients showed candidiasis and small ulcerations were seen in 29%.
Psychology - the main psychological worry of the victims was the fear of loss
of body members, as happened with one of them whose arm was amputated.  The team noted sentiments of 
grief, loss and guilt, as well as spatial dislocation, social inadequacy, ambivalence and abandonment. 
     On the other hand their narcissism increased because of the insistence of the press which 
transformed them into world-wide personalities.   Those who were pregnant cultivated images of fetal 
deformities, and the fathers of small children and people of procreational age considered themselves
threatened by the possibility  of chromosome changes.
Social Service - they helped the direct victims, and also the general 
population, mainly those living close to the areas considered at risk, working to diminish  the symptoms
of social unstructuring, to restore social functioning, to help understand the problem.
The radioactive waste - the accident caused deaths, physical defects and 
health problems in hundreds of people, but it also revealed other lessons.  Mainly, the problem of how
to confront radioactive and nuclear accidents, with the experiences in Goiânia, which was transformed
into a unique world laboratory. 
     Technicians checked more than 112.000 people with Geiger counters at the city’s soccer stadium, but
probably the amount of contaminated people was underestimated.   The accident contaminated homes,
businesses and soil.  What could not be decontaminated was collected or dismantled and placed in concrete
lined drums for disposal as nuclear waste.  Since the first week of the accident, one program for 
Environmental Monitoring was begun.  It’s aim was to closely evaluate the environmental impact caused
by the accident in the County of Goiânia on the soil, air, water, vegetation and other natural resources.
     Earth and vegetation samples, mainly from the contaminated areas were studied in relation to water
resources and those water courses which receive the sewage and rain water drain-off from Goiânia’s 
northern region.