A origem e o desenvolvimento do alfabeto em nosso planeta

Introdução
     Diferentes maneiras de transmitir mensagens sempre existiram, seja através de desenhos, 
sinais ou pinturas.  Escrever não requer um alfabeto.  Exemplos incluem a escrita cuneiforme 
dos Sumérios, os hieróglifos dos Egípcios, os ideogramas Chineses e os glifos dos Maias e Astecas.  
A palavra alfabeto deriva do Latim alphabetum, que é formada das primeiras duas letras do 
alfabeto grego – alpha e beta – ambas obtidas das letras Semíticas aleph e beth.  
     No princípio, leitura e escrita eram uma prerrogativa dos sábios, geralmente os 
sacerdotes, que empregavam suas vidas em pouco mais do que se dedicar à escrita.  E com o 
nascimento do alfabeto iniciou-se a democratização do conhecimento, por facilitar imensamente 
a leitura e escrita. 

Cuneiforme: a escrita dos Sumérios e Acadianos
     Cuneiforme é a forma de escrita mais velha que se conhece.  Ela foi inventada pelos 
Sumérios que viviam na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, entre o quarto e quinto 
milênios BC.  Esta região é muito importante, pois é aqui que a Bíblia coloca o Jardim do Éden, 
sendo o berço da civilização humana, a qual de acordo com a tradição judaica se iniciou 5760 
anos atrás.  A escrita cuneiforme dos Sumérios foi adotada no meio do terceiro milênio por 
outro povo vivendo na Mesopotâmia, os Acadianos, que a usaram para escrever sua própria língua, 
que era semítica.
     Após a queda do último império sumeriano (em torno de 2.000 BC), a língua sumeriana deixou 
de ser falada e foi substituída por dois dialetos acadianos (semíticos).  O sumeriano se tornou 
uma língua morta, mas permaneceu como a língua dos intelectuais, tal qual o latim na Idade Média.

		
Escrita egípcia
A forma mais antiga e mais típica é denominada hieróglifos, que foram sinais de significativa importância religiosa – do grego hieros, sagrado, e glyphein, esculpido. Eles começaram como uma escrita de palavras, onde cada sinal representava uma palavra. Mais tarde começou também a representar sons, se tornando uma escrita fonética. A língua gravada em hieróglifos está relacionada ao grupo semítico de línguas. Os hieróglifos permaneceram restritos ao uso na língua egípcia e em seu território. E os primeiros traços dos hieróglifos egípcios datam do início do terceiro milênio (Primeira Dinastia), sendo na Terceira Dinastia que esta escrita atingiu sua perfeição, com pouca variação desde então, até que saiu de uso no quinto século de nossa era.
Escrita proto-Indiana
Uma civilização proto-Indiana se desenvolvia na Índia ao mesmo tempo em que as civilizações babilônicas e egípcias. Sua escrita é muito difícil de ser decifrada, não havendo até o momento conhecimento do seu conteúdo.
Escrita creta
No terceiro e quarto milênios BC uma civilização avançada e original se desenvolveu em Creta, sendo depois totalmente perdida e esquecida. Sir Arthur Evans fez pela escrita creta o que o francês Champollion fez pelos hieróglifos.
Escrita chinesa
Enquanto os dois grandes sistemas de escrita, cuneiforme e por hieróglifos começavam a evoluir, a escrita chinesa estava sendo introduzida. Esta escrita que data do terceiro milênio BC, é altamente importante por ser ainda hoje utilizada na China. A escrita chinesa evoluiu muito pouco, tendo permanecido pictográfica e ideográfica e nunca se tornou fonética. Na realidade ela não tem um alfabeto verdadeiro. Em chinês a palavra é uma espécie de átomo irredutível. Na maioria dos casos ela pode ser verbo, substantivo ou adjetivo. Há um caractere para representar cada palavra, a qual consiste de uma simples sílaba, sendo toda palavra monosilábica. Até o terceiro século BC, a escrita chinesa consistia principalmente de inscrições em cascos de tartaruga, bronze e pedras. A tinta e papel só tiveram uso a partir do primeiro século da nossa era, com os caracteres se tornando mais leves. A escrita chinesa contém um grande número de sinais-palavras ou ideogramas – cinqüenta mil (enquanto os Sumérios tinham apenas vinte mil).
Escritas americanas pré-Colombo
Suas escritas, as quais representam palavras ou símbolos, emergiram em torno do segundo século da era cristã e cessaram seu desenvolvimento no décimo sexto século.
Escritas alfabéticas
Tudo indica que o alfabeto deve ter tido uma única origem, como uma invenção semítica do segundo milênio BC, em uma região que hoje cobre Síria, Líbano, Israel, Jordânia e o deserto do Sinai. Apesar da palavra alfabeto ser de origem grega, o princípio por trás dele é muito mais antigo. Para estarmos presentes no seu nascimento é necessário irmos a 1.500 anos BC, na região onde somente línguas semíticas eram faladas. Esta região se localiza entre os dois principais sistemas de escrita daquele tempo – os hieróglifos para o oeste, e a cuneiforme dos sumérios e acadianos para o leste. Cada nação falava um dialeto semítico, cuja estrutura gramatical, sintaxe e vocabulário se preserva no Hebreu e Árabe atuais.
Escrita ugarítica
O primeiro alfabeto do qual se tem registro histórico é o ugarítico, surgido no décimo quarto século BC na região onde hoje é a Síria, e o qual pertence ao grupo lingüístico Canaanita semítico. Há apenas 30 caracteres, o que faz esta escrita diferente de qualquer outro sistema até aquele tempo. Cada sinal representa apenas uma consoante ou um dos três sons vocalizados, a, e e u. Estamos então frente a um verdadeiro alfabeto de consoantes, com uma estrutura similar à que conhecemos atualmente – a, b, c, d, etc. Mas, não foram os formatos destas letras que foram transmitidos aos nossos alfabetos modernos.
Escrita proto-sinaítica
Ao mesmo tempo em que surgia a escrita ugarítica, também emergia no Egito, a partir do sistema que já existia de hieróglifos, a escrita proto-sinaítica. Este alfabeto foi usado para escrever uma linguagem semítica, sem dúvida a linguagem dos trabalhadores judeus ou escravos no Egito em um período que corresponde ao fim da escravidão dos judeus e o êxodo do Egito, bem como da revelação no Monte Sinai. A ordem das letras pode ser reconstituída para produzir um alfabeto de consoantes semelhante ao alfabeto ugarítico. Este é o alfabeto a partir do qual os alfabetos dos Canaanitas ou Fenícios (como os gregos os chamavam), Aramaicos, Paleo-Hebreus e Hebreus, Gregos e Árabes derivaram, e mais tarde, os alfabetos europeus modernos, via Etrusco e Latim. Os nomes das letras do alfabeto hebreu ainda se referem às mesmas imagens encontradas nas inscrições proto-sinaíticas. Os nomes das letras ainda continuam a ser “boi”, “casa”, “camelo”, “porta”, etc.: aleph, beth, gimmel, daleth ... e assim por diante. Estes nomes hebreus e semíticos podem ser encontrados em canaanita, então em grego na forma de alpha, beta, gamma, delta. A transformação do proto-sinaítico em proto-hebreu é o resultado de diversos fatores complexos. A descoberta do monoteísmo e a revelação e a doação da lei no Monte Sinai introduziu um novo e importante elemento psicológico que pode ter produzido uma profunda mudança cultural. O segundo dos dez mandamentos afirma: você não terá outros deuses exceto Eu. Você não fará imagens, nem representações do que quer que seja que esteja no céu ou na terra. Esta proibição forçou os Semitas, que ainda escreviam sua linguagem em escrita pictográfica, a eliminar as imagens. Para se fazer o salto do método hieróglifo para o consonantal, do politeísmo ao monoteísmo, uma fronteira teve de ser rompida. Um êxodo foi necessário, e para isto necessitou-se de outros povos, os Fenícios e os Aramaicos. A escrita egípcia era tanto pictográfica quanto consonântica. Quando Akhnaton estava inventando o monoteísmo, os hieróglifos estavam em vias de serem destruídos na escrita. Os hebreus deixaram o Egito e receberam as tábuas da Lei no Sinai, a Lei que os permitiu criar uma estrutura social, a Lei da qual uma das conseqüências foi o nascimento do alfabeto não pictográfico. Após 40 anos vagando pelo deserto, os hebreus atingiram a terra prometida, Canaã. A conquista pelos hebreus influenciou fortemente os Canaanitas que parecem ter adotado a idéia do monoteísmo bem rápido. Proto-sinaítico, que tinha se tornado proto-hebraico e proto-canaanita ou proto-fenício, continuou a evoluir para fenício, então aramaico e seus descendentes: hebreu moderno, árabe, e as escritas da Ásia central – mongol, siberiano, armeniano, georgiano – e grego e seus descendentes – latim e alfabetos ocidentais, bem como brahmi e seus descendentes – indiano, sânscrito, khmer, thai, burmês, javanês, etc.
Escrita árabe
O árabe e o antigo hebreu são as únicas escritas consonânticas ainda em uso. O árabe se espalha como resultado das conquistas islâmicas pelo mundo, e hoje, junto com as línguas latinas, é uma das maiores formas de escrita. O surgimento do alfabeto arábico é típico da história da escrita. Ele se originou com um povo nômade que viajava em caravanas, de oásis em oásis, de mercado em mercado, falando uma linguagem sem forma escrita. O aramaico, escrito no alfabeto nabateano, foi gradualmente adaptado pelos árabes até que o alfabeto árabe adquiriu sua forma atual. O desenvolvimento da escrita árabe introduziu sinais diacríticos que ajudaram a distinguir entre letras cujos formatos eram muito parecidos e geravam confusão. Vocalização foi também introduzida. Três vogais foram expressas na escrita, seis se suas formas longas são incluídas. Como as outras escritas semíticas, o árabe é escrito da direita para a esquerda. Do alfabeto nabateano ele recebeu as ligações que unem a maioria das letras.
Escrita grega
Os gregos adotaram a escrita fenícia, mas introduziram uma alteração fundamental ao criarem representações vocais de sons. O alfabeto grego estava mais ou menos fixo no oitavo século BC, tendo originado todos os alfabetos europeus modernos.

		
Evolução da imagem ao alfabeto
Há 3 estágios nesta evolução: 1 – pictográfico – os sinais usados para a comunicação escrita são imagens ou desenhos que imitam um evento real o melhor possível. A escrita cuneiforme se baseava em pinturas, o que envolvia um considerável número de sinais ou desenhos, já que se necessitava de quase que uma pintura por objeto. 2 – ideográfico – os sinais passaram a expressar além do objeto a idéia de outros fatos ou objetos que estivessem relacionados a ele. Assim, um pé se torna também um símbolo para caminhada, verbos ir, caminhar e ficar de pé, p.ex. Diversos ideogramas podem ser agrupados para se obter significados cada vez mais sofisticados. Assim, cada palavra se torna um poema e uma profunda reflexão filosófica. 3 – fonográfico – um novo tipo de sinal se fazia necessário, que pudesse não apenas indicar coisas, as realidades extralingüísticas, mas também as realidades internas da língua. O relacionamento inicial entre o sinal e um objeto precisava ser quebrado. O som do sinal inicial seria preservado, mas não continuaria a se referir a uma imagem ou um objeto. O som meramente passaria a representar ele próprio. A escrita não mais estava reservada para se comemorar eventos importantes, mas poderia ser usada para informar e instruir. Por exemplo, no caso do pé, ficaria retido apenas o “p”, onde posso continuar a dar nome ao pé, mas que não se refere ao som de pé, nem à sua imagem. Este princípio, denominado acrofônico, deu origem ao sistema de sinais conhecido como alfabeto.

				
Letra A
A primeira letra do alfabeto proto-sinaítico representa um boi. Em acadiano o boi é chamado alpu; em fenício, aleph; e em hebreu aleph ou aluph. Porque o boi?! Para os antigos, ele representava força e energia; a força que movimentava tudo na sociedade, a força reprodutiva, a energia econômica, a energia doméstica, a energia na agricultura ... Quem poderia fazer todo o trabalho pesado? Quem poderia mover os veículos? Se considerarmos o quanto a sociedade era dependente da agricultura fica mais fácil entender a importância do boi nesta mesma sociedade. Esta energia primária foi então colocada no início de tudo, e o boi se tornou o símbolo inaugural do alfabeto. Na fase inicial a imagem do boi representa somente ele próprio – é um pictograma. A imagem é completa, e mostra cabeça e corpo. Depois, o boi se torna o símbolo de força, vigor, energia – temos um ideograma. Com o evoluir, perceberam que não se necessitava usar toda a imagem do boi, que foi sendo reduzida, até que se ficou apenas a cabeça. A representação de um todo com a parte é denominada metonímia. A transição de um pictograma para ideograma contém dois elementos: a redução da imagem e a expansão do significado desta imagem – redução icônica e expansão semântica. Numa fase posterior ocorre rejeição, proibição e supressão da imagem. Tudo indica que se deu como resultado das novas leis recebidas no Monte Sinai e a proibição de se criar representações: a imagem tornou-se impossível, e produziu-se a invenção da letra como um sinal mais ou menos abstrato. Nesta fase, da cabeça do boi apenas se retém o traço superior da cabeça e os dois chifres. Mais tarde ocorre uma rotação de 90º para a direita, e a introdução da cabeça dentro dos chifres. Claro que há grande variação neste formato. Fazendo outra rotação neste formato obtemos o alpha grego e o A latino.


Leituras recomendadas:
. Bíblia Sagrada . Calvet LJ. Histoire de l´écriture. Plon 1996 . Pommier G. Naissance et renaissance de l´écriture. PUF 1993