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O EMOCIONAL NA BATALHA DO CÂNCER

 

    Não faz muito tempo, a população a chamava de "doença ruim" ou simplesmente  "aquela doença". O câncer ainda carrega resíduos desses preconceitos, mas hoje um grupo de pacientes e ex-pacientes está provando que não é preciso parar de viver quando se é atingido por ele. Ao contrário: é possível lutar contra o câncer - e até vencê-lo.                                                         

    "Câncer não é sentença de morte", diz a pedagoga Maria Célia de Toledo, com a autoridade de quem já completou cinco anos de restabelecimento de um câncer de mama. Ela integra a diretoria do Cora - Centro Oncológico de Recuperação e Apoio -, uma entidade particular, sem fins lucrativos, que funciona em São Paulo e tem como objetivo ajudar pacientes e seus familiares a enfrentar a doença, a partir do fortalecimento do estado emocional.

     Uma das principais terapias utilizadas é a chamada visualização:  após  um  período de relaxamento, cria-se mentalmente uma imagem do objetivo que se pretende alcançar. O portador de câncer deve, portanto, imaginar o tratamento destruindo as células anormais e, sobretudo, as defesas naturais do seu corpo ajudando-o a se recuperar. A visualização mais comum usada pelos pacientes é imaginar dois exércitos em luta: de um lado os glóbulos brancos de seu sistema imunológico, que vão derrotando seus inimigos, as células cancerosas, no campo da batalha do lugar afetado pela doença. Os efeitos desse método são surpreendentes. A cura vem de dentro para fora.

    Considerar que a própria pessoa  pode exercer influência positiva sobre a regressão da doença era, até bem pouco tempo, algo impensável. Como poderia o ser humano ter alguma participação no surgimento desse mal? Ou na sua cura?

    Pois é exatamente essa concepção que fundamenta todo o trabalho realizado pelo Cora. E a teoria não é apenas um palpite, mas o resultado de 15 anos de estudos realizados pelo oncologista (cancerologista) norte-americano Carl Simonton. Ele se deparou com vários casos de pessoas cancerosas com o mesmo diagnóstico, mas reações completamente diferentes ao tratamento. E constatou que a diferença estava nos sentimentos e expectativas do paciente em relação à doença e a si próprio.

    Simonton chegou à conclusão de que o estado emocional tem uma importante função tanto no que diz respeito à susceptibilidade à doença quanto à recuperação. Em muitos casos, ele notou a ocorrência de um forte período de stress, que varia de seis a 18 meses, antes do aparecimento do câncer.

    Por isso, o Programa Avançado de Auto-Ajuda desenvolvido pelo Cora, inclui, em suas nove sessões de terapia, várias técnicas de trabalho corporal, como exercícios de respiração e dança, para que os pacientes liberem todo o medo, angústia e raiva represados durante a vida. Gritos, lágrimas e até palavrões são comuns e não sofrem qualquer censura. Busca-se, sobretudo, mudanças de comportamento... Se a pessoa tem participação em sua doença, pode ter participação na sáude.

    Quando Carl Simonton apresentou estes resultados à comunidade médica norte-americana, recebeu críticas e olhares incrédulos de vários colegas. Os médicos temiam, talvez, que se oferecessem falsas expectativas aos doentes. Ao que o cancerologista respondeu: "Uma expectativa negativa impedirá a possibilidade de um desapontamento, mas pode também contribuir para um resultado negatibo que não era inevitável".

("Globo Ciência", Fevereiro de 1994)

 

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