RECONCILIAÇÃO DO HOMEM COM DEUS

• "Gn 26.3-5 ...peregrina nesta terra, e serei contigo, e te abençoarei; porque a ti e à tua semente darei todas estas terras e confirmarei o juramento que tenho jurado a Abraão, teu pai. E multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus e darei à tua semente todas estas terras. E em tua semente serão benditas todas as nações da terra, porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis."

A NATUREZA DO CONCERTO.

A Bíblia descreve o relacionamento entre Deus e seu povo em termos de "pacto" ou "concerto". Esta palavra aparece pela primeira vez em GN 6.18 e prossegue até o NT, onde Deus fez um novo concerto com a raça humana mediante Jesus Cristo. Quando compreendemos o concerto entre Deus e os patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó), aprendemos a respeito de como Deus quer que vivamos em nosso relacionamento pactual com Ele.

(1) O nome especial de Deus, em relação ao concerto, conforme a revelação bíblica, é YAHWEH (traduzido "SENHOR"). Inerente neste nome pactual está a benignidade de Deus, sua solicitude redentora pela raça humana, sua contínua presença entre o seu povo, seu propósito de estar em comunhão com os seus e de ser o seu Senhor.

(2) A divina e fundamental promessa do concerto é a seguinte:
• "Gn 17:7 - E estabelecerei o meu concerto entre mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus e à tua semente depois de ti."

Desta promessa dependem todas as demais integrantes do concerto. Significa que Deus se compromete firmemente com o seu povo a ser fiel a Deus, e que por amor, Ele lhe concede graça, proteção, bondade e bênção:
• "Jr 11:4 - Dai ouvidos à minha voz e fazei conforme tudo que vos mando; e vós me sereis a mim por povo, e eu vos serei a vós por Deus;"
• "Jr 24:7 - E dar-lhes-ei coração para que me conheçam, porque eu sou o SENHOR; e ser-me-ão por povo, e eu lhes serei por Deus, porque se converterão a mim de todo o seu coração."
• "Ez 11:9 - E lhe darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; re tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um coração de carne;
Ez 11:20 - para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; se eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus."
• "Zc 8:7 - Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eis que fsalvarei o meu povo da terra do Oriente e da terra do Ocidente;"
Zc 8:8 - e trá-los-ei, e habitarão no meio de Jerusalém; ge serão o meu povo, e eu serei o seu Deus em verdade e em justiça."

(3) O alvo supremo do concerto entre Deus e a raça humana era salvar não somente uma nação (Israel), mas a totalidade da raça humana. No caso de Abraão, Deus já lhe prometera que nele "todas as nações da terra" seriam benditas:
• "Gn 12:3 - E abençoarei cos que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra."
• "Gn 22:18 - E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz."

Deus estendeu sua graça pactual à nação de Israel a fim de que esta fosse "luz para os gentios":
• "Is 42:6 Eu, o SENHOR, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por concerto do povo e para luz dos gentios;"
• "Is 49:6 - Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os guardados de Israel; ftambém te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra."

Isso cumpriu-se mediante a vinda do Senhor Jesus Cristo como Redentor, quando, então, os cristãos começaram a levar a mensagem do evangelho por todo o mundo:
• "Lc 2:29 - Agora, Senhor, tpodes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra,
Lc 2:30 - pois já os meus uolhos viram a tua salvação,
Lc 2:31 - a qual tu preparaste perante a face de todos os povos,
Lc 2:32 - luz para alumiar as nações e para glória de teu povo Israel."
• At 13:45 - Então, os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja e, blasfemando, pcontradiziam o que Paulo dizia.
At 13:46 - Mas Paulo e Barnabé, usando de ousadia, disseram: qEra mister que a vós se vos pregasse primeiro a palavra de Deus; rmas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios.
At 13:47 - Porque o Senhor assim no-lo mandou: tEu te pus para luz dos gentios, para que sejas de salvação até aos confins da terra.
At 13:48 - E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se e glorificavam a palavra do Senhor, ue creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna."
• "Gl 3:8 - Ora, htendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé 2os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.
Gl 3:9 - De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão."

(4) Nos diversos concertos que Deus fez com o ser humano através das Escrituras, há dois princípios atuantes:

(a) era somente Deus quem estabelecia as promessas e condições do seu concerto, e
(b) cabia ao ser humano aceitar por fé obediente essas promessas e condições. Em certos casos, Deus estabeleceu com muita antecipação as promessas e as responsabilidades de ambas as partes, porém, o povo conseguiu, junto a Deus, alterar as condições dos concertos para beneficiar-se.

O CONCERTO DE ABRAÃO COM DEUS

(1) Deus, ao estabelecer comunhão com Abraão, mediante o concerto (Gn 15), fez-lhe claramente várias promessas: Deus como escudo e recompensa de Abraão:
• "Gn 15:1 - Veio a palavra do SENHOR a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão."

Descendência numerosa:
• "Gn 15:5 - Olha, agora, para os céus e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: eAssim será a tua semente."

E a terra Canaã como sua herança:
• "Gn 15:7 - Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para a herdares."

(2) Deus proclamou Abraão a corresponder a essas promessas por fé, aceitá-las, e confiar nEle como seu Senhor. Por Abraão assim fazer, Deus o aceitou como justo:
• "Gn 15:6 E creu ele no SENHOR, e foi-lhe imputado isto por justiça."

E foi confirmado mediante comunhão pessoal com Ele.

(3) Não somente Abraão precisou, de início, expressar sua fé para a efetuação do concerto, como também Deus requereu que, para a continuação das bênçãos do referido concerto, Abraão devia, de coração, agradar a Deus, através de uma vida de obediência.

(a) Deus requereu que Abraão andasse na sua presença e que fosse "perfeito":
• "Gn 17:1 - Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-poderoso; anda em minha presença e sê perfeito."

Noutras palavras, se a sua fé não fosse acompanhada de obediência (Rm 1:5), ele estaria inabilitado para participar dos eternos propósitos de Deus.

(b) Num caso especial, Deus provou a fé de Abraão ao ordenar-lhe que sacrificasse seu próprio filho, Isaque (22:1-2). Abraão foi aprovado no teste e, por conseguinte, Deus prometeu que o seu pacto com ele (Abraão) ia continuar:
• "Gn 22:18 - E em tua semente serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz."

(c) Deus informou diretamente a Isaque que as bênçãos continuariam imutáveis e que seriam transferidas para ele porque Abraão lhe foi obediente e guardou os seus mandamentos:
• Gn 26:4 - ..E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra,
Gn 26:5 - porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis."

(4) Deus ordenou diretamente a Abraão e aos seus descendentes que circuncidassem cada menino nascido na sua família (Gn 17:9:13). O Senhor determinou que cada criança do sexo masculino não circuncidada fosse excluída do seu povo (Gn 17:14) por violação do concerto. Noutras palavras, a desobediência a Deus levaria à perda das bênçãos do concerto.

(5) O concerto entre Deus e Abraão foi chamado um "concerto perpétuo":
• "Gn 17:7 - E estabelecerei o meu concerto entre mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto gperpétuo, para te ser a ti por Deus e à tua semente depois de ti."

A intenção de Deus era que o concerto fosse um compromisso permanente. Era, no entanto, passível de ser violado pelos descendentes de Abraão, e assim acontecendo, Deus não teria de cumprir as suas promessas. Por exemplo, a promessa que a terra de Canaã seria uma possessão perpétua de Abraão e seus descendentes (GN 17:8) foi quebrada pela apostasia de Israel e pela infidelidade de Judá e sua desobediência à lei de Deus:
• "Is 24:5 - Na verdade, a terra cestá contaminada por causa dos seus moradores, porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos e quebram a aliança eterna."
• "Jr 31:31 - Eis que dias dvêm, diz o SENHOR, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá.
Jr 31:32 - Não conforme o concerto que fiz com seus pais, eno dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR.
Jr 31:33 - Mas feste é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo."

Por isso, Israel foi levado para o exílio na Assíria (2Rs 17), enquanto que Judá foi posteriormente levado para o cativeiro em Babilônia (2Rs 25; 2Cr 36; Jr 11.1-17; Ez 17.16-21).

O CONCERTO ISAQUE COM DEUS

(1) Deus procurou estabelecer o concerto abraâmico com cada geração seguinte, a partir de Isaque, filho de Abraão (Gn 17.21). Noutras palavras, não bastava que Isaque tivesse por pai a Abraão; ele, também, precisava aceitar pela fé as promessas de Deus. Somente então é que Deus diria: "Eu sou contigo, e abençoar-te-ei, e multiplicarei a tua semente" (Gn 26.24).

(2) Durante os vinte primeiros anos do seu casamento, Isaque e Rebeca não tiveram filhos (Gn 25:20-26). Rebeca permaneceu estéril até que Isaque orou ao Senhor, pedindo que sua esposa concebesse (Gn 25:21). Esse fato demonstra que o cumprimento do concerto não se dá por meios naturais, mas somente pela ação graciosa de Deus, em resposta à oração e busca da sua face.

(3) Isaque também tinha de ser obediente para continuar a receber as bênçãos do concerto. Quando uma fome assolou a terra de Canaã, por exemplo, Deus proibiu Isaque de descer ao Egito, e o mandou ficar onde estava. Se obedecesse a Deus, teria a promessa divina: "...confirmarei o juramento que tenho jurado a Abraão, teu pai" (Gn 26:3).

O CONCERTO JACÓ COM DEUS

(1) Isaque e Rebeca tinham dois filhos: Esaú e Jacó. Era de se esperar que as bênçãos do concerto fossem transferidas ao primogênito Esaú. Deus, porém, revelou a Rebeca que seu gêmeo mais velho serviria ao mais novo, e o próprio Esaú veio a desprezar a sua primogenitura (Gn 25:32). Além disso, ele ignorou os padrões justos dos seus pais, ao casar-se com duas mulheres que não seguiam ao Deus verdadeiro.

Em suma: Esaú não demonstrou qualquer interesse pelas bênçãos do concerto de Deus. Daí, Jacó, que realmente aspirava às bênçãos espirituais futuras, recebeu as promessas no lugar de Esaú (28.13-15). (2) Como no caso de Abraão e de Isaque, o concerto com Jacó requeria "a obediência da fé" (Rm 1:5) para a sua perenidade. Durante boa parte da sua vida, esse patriarca serviu-se da sua própria habilidade e destreza para sobreviver e progredir. Mas foi somente quando Jacó, finalmente, obedeceu ao mandamento e à vontade do Senhor (Gn 31:13), no sentido de sair de Harã e voltar à terra prometida de Canaã e, mais expressamente, de ir a Betel (Gn 35:1-7), que Deus renovou com ele as promessas do concerto feito com Abraão (Gn 35:9-13).

O CONCERTO DOS ISRAELITAS COM DEUS

• "Dt 29:1 - "Estas são as palavras do concerto que o SENHOR ordenou a Moisés, na terra de Moabe, que fizesse com os filhos de Israel, além do concerto que fizera com eles em Horebe."

O CONCERTO NO MONTE SINAI (HOREBE).

Deus fez um concerto com Abraão e o renovou com Isaque e Jacó. O concerto de Deus com os israelitas, feito no monte Sinai, abrange os dois princípios básicos tratados no estudo citado.

(1) Unicamente Deus estabelece as promessas e compromissos do seu concerto, e
(2) aos seres humanos cabe aceitá-los com fé obediente. A diferença principal entre este concerto e o anterior é que Deus fez um sumário das respectivas promessas e responsabilidades do concerto antes da sua ratificação (Êx 24:1-8).
(1) As promessas de Deus, neste concerto, eram basicamente as mesmas que foram feitas a Abraão. Deus prometeu:
(a) que daria aos israelitas a terra de Canaã depois de libertá-los da escravidão no Egito (Êx 6:3-6; 19.4; 23.20, 23), e
(b) que Ele seria o seu Deus e que os adotaria como o seu povo (Êx 6:7; 19:6; Dt 5.2).
O alvo supremo de Deus era trazer ao mundo o Salvador através do povo do concerto.
(2) Antes de Deus cumprir todas essas promessas, Ele requereu que os israelitas se comprometessem a observar as suas leis declaradas quando eles estavam acampados no monte Sinai. Depois de Deus revelar os dez mandamentos e muitas outras leis do concerto, os israelitas juraram a uma só voz:
"Todas as palavras que o SENHOR tem falado faremos" (Êx 24:3).
Sem essa promessa solene de aceitarem as normas da lei de Deus, o concerto entre eles e o Senhor não teria sido confirmado.
(3) Essa resolução de cumprir a lei de Deus, continuou como uma condição prévia do concerto. Somente pela perseverança na obediência aos mandamentos do Senhor e no oferecimento dos sacrifícios determinados por Deus no concerto é que Israel continuaria como a possessão preciosa de Deus e igualmente continuaria a receber as suas bênçãos. Noutras palavras, a continuação da eleição de Israel como o povo de Deus dependia da sua obediência ao seu Senhor (Êx 19:5).
(4) Deus também estipulou claramente o que aconteceria se o seu povo deixasse de cumprir as obrigações do concerto. O castigo pela desobediência era a destruição daquele povo, quer por banimento, quer por morte (Êx 31:14-15).
Trata-se de uma repetição da advertência de Deus, dada por ocasião do êxodo, aqueles que não cumprissem as suas instruções para a Páscoa seriam excluídos do povo (Êx 12:15; 19). Essas advertências não eram fictícias. Em Cades, por exemplo, quando os israelitas se rebelaram, incrédulos, contra o Senhor e se recusaram a entrar em Canaã, por medo dos seus habitantes, Deus se irou com eles e, como castigo, fê-los peregrinar no deserto durante trinta e nove anos; ali, morreram todos os israelitas com mais de vinte anos de idade (exceto Calebe e Josué, Nm 13.26; 14.39;). O castigo pela desobediência e incredulidades deles foi a perda do privilégio de habitar na terra do repouso, por Deus prometido (Sl 95:7-11; Hb 3:9-11; 18).
(5) Deus não esperava de seu povo uma obediência perfeita, e sim uma obediência sincera e firme. O concerto já reconhecia que, às vezes, devido às fraquezas da natureza humana, eles fracassariam (Dt 30:20). Para remi-los da culpa do pecado e reconciliá-los consigo mesmo, Deus proveu o sistema geral de sacrifícios e, em especial, o Dia Anual da Expiação. O povo podia, assim, confessar seus pecados, oferecer os diversos sacrifícios, e deste modo reconciliar-se com o seu Senhor. Todavia, Deus julgaria severamente os desobedientes, a rebeldia e a apostasia deliberada.
(6) No seu concerto com os israelitas, Deus tencionava que os povos doutras nações, ao observarem a fidelidade de Israel a Deus, e as bênçãos que recebiam, buscassem o Senhor e integrassem a comunhão da fé (Dt 4.6). Um dia, através do Redentor prometido, um convite seria feito às nações da terra para participarem dessas promessas. Assim, o concerto tinha um relevante aspecto missionário.

O CONCERTO RENOVADO NAS PLANÍCIES DE MOABE.

Depois que a geração rebelde e infiel dos israelitas pereceu durante seus trinta e nove anos de peregrinação no deserto, Deus chamou uma nova geração de israelitas e preparou-os para entrarem na terra prometida, mediante a renovação do concerto com Ele. Para uma conquista bem-sucedida da terra de Canaã, necessário era que eles se comprometessem com esse concerto e que tivessem a garantia que o Senhor Deus estaria com eles.

(1) Essa renovação do concerto é o enfoque principal do livro de Deuteronômio. Depois de uma introdução (Dt 1.1-5), Deuteronômio faz um resumo histórico de como Deus lidou com seu povo desde a partida do Sinai (Dt 1:6; 4:43). Repete as principais condições do concerto (Dt 4.44; 26.19), relembra aos israelitas as maldições e as bênçãos do concerto (Dt 27:1; 30:20) e termina com as providências para a continuação do concerto (Dt 31:1; 33:29).
Embora o fato não seja mencionado especificamente no livro, podemos ter como certo que a nação de Israel, à uma só voz, deu um caloroso "Amém" às condições do concerto, assim como a geração anterior fizera no monte Sinai (Êx 24:1-8; Dt 27; 29:10-14).
(2) O conteúdo básico desse concerto continuou como o do monte Sinai. Um assunto reiterado no livro inteiro de Deuteronômio é que, se o povo de Deus obedecesse a todas as palavras do concerto, teria a bênção divina; em caso contrário, teria a maldição divina (Dt caps. 27 ao 30). A única maneira deles e seus descendentes permanecerem para sempre na terra de Canaã era guardarem o concerto, amando ao Senhor (Dt 6:5) e obedecendo à sua lei (Dt 30:15-20).
(3) Moisés ordenou ao povo que periodicamente relembrasse o concerto feito. Cada sétimo ano, na Festa dos Tabernáculos, todos os israelitas deviam comparecer ao lugar que Deus escolhesse. Ali, mediante a leitura da lei de Moisés, eles relembrariam do concerto de Deus com eles, e também, mediante a renovação da promessa, de cumprir o que ouviam (Dt 31:9-13).
(4) O AT registra vários exemplos notáveis dessa lembrança e renovação do concerto. Após a conquista da terra, e pouco antes da morte de Josué, este conclamou todo o povo com esse propósito (Js 24). A resposta do povo foi clara e inequívoca: "Serviremos ao SENHOR, nosso Deus, e obedeceremos à sua voz" (Js 24:24). Diante disso: "Assim, fez Josué concerto, naquele dia, com o povo" (Js 24:25). Semelhantemente, Joiada dirigiu uma cerimônia de renovação do concerto, quando Joás foi coroado (2Rs 11:17), e assim fizeram também Josias (2Rs 23:1-3), Ezequias (2Cr 29:10) e Esdras (Ne 8:1; 10:39).
(5) A chamada para relembrar e renovar o concerto é oportuna hoje. O NT é o concerto que Deus fez conosco em Jesus Cristo. Lembramos do seu concerto conosco quando lemos e estudamos a sua revelação contendo suas promessas e preceitos, quando ouvimos a exposição da Palavra de Deus e, mais especificamente, quando participamos da Ceia do Senhor (1Co 11:17-34). Na Ceia do Senhor, também renovamos nosso compromisso de amar ao Senhor e de servi-lo de todo o nosso coração.

O CONCERTO DE DEUS COM DAVI

• "2Sm 7:16 - "...a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre".

A NATUREZA DO CONCERTO COM DAVI.

(1) Embora a palavra "concerto" não ocorra literalmente em 2Sm 7, é evidente que Deus estava estabelecendo um concerto com Davi. Em Sl 89:3,4, por exemplo, Deus diz: “Fiz um concerto com o meu escolhido; jurei ao meu servo Davi: "a tua descendência estabelecerei para sempre e edificarei o teu trono de geração em geração" (veja também Sl 89:34-36).
A promessa de que o trono do povo de Deus seria estabelecido para sempre através da descendência de Davi é exatamente a mesma que Deus fez a Davi em 2Sm 7:14 . Além disso, posteriormente em 2Samuel, o próprio Davi faz referência ao “concerto eterno” que Deus fez com ele (2Sm 23:5), sem dúvida aludindo a 2Sm 7.
(2) Os mesmos dois princípios que operam noutros concertos do AT também estão em evidência aqui: apenas Deus estabelecia as promessas e os deveres do seu concerto e esperava que do lado humano houvesse o aceite com fé obediente (ver os estudos O CONCERTO DE DEUS COM ABRAÃO, ISAQUE E JACÓ e O CONCERTO DE DEUS COM OS ISRAELITAS..
(a) Nesse concerto de Deus com Davi, Ele fez uma promessa de cumprimento imediato, que era estabelecer o reino do filho de Davi, Salomão, o qual edificaria uma casa para o Senhor, o templo (2Sm 7:11-13).
(b) Ao mesmo tempo, a promessa de Deus de que a casa ou dinastia de Davi duraria para sempre sobre os israelitas estava condicionada à fiel obediência de Davi e dos seus descendentes. Noutras palavras, esse concerto era eterno somente no sentido de Deus ter sempre um descendente de Davi no trono em Jerusalém, desde que os governantes de Judá permanecessem em obediência e fidelidade a Ele.
(3) Durante os quatro séculos seguintes, a linhagem de Davi permaneceu ininterrupta no trono de Judá. Quando, porém, os reis de Judá, especialmente Manassés e aqueles que reinaram depois do rei Josias, rebelaram-se continuamente contra Deus ao adorarem ídolos e desobedecerem à sua lei, Deus, por fim, os impediu de ocuparem o trono. Permitiu que o rei Nabucodonosor de Babilônia invadisse a terra de Judá, sitiasse a cidade de Jerusalém e, finalmente, destruísse a cidade juntamente com seu templo (2Rs 25; 2Cr 36). Agora, o povo de Deus estava, pela primeira vez desde a escravidão no Egito, sob o domínio de governantes estrangeiros.

JESUS CRISTO EM RELAÇÃO A ESTE CONCERTO.

Havia porém, um aspecto do concerto de Deus com Davi que era incondicional — que o reino de Davi seria por fim estabelecido para sempre.

(1) A culminância da promessa de Deus era que da linhagem de Davi viria um descendente que seria o Rei messiânico e eterno. Este Rei dominaria sobre os fiéis em Israel e sobre todas as nações (Is 9:6,7; 11:1, 10; Mq 5:2,4). Sairia da cidade de Belém (Mq 5.2,4), e seu governo se estenderia até os confins da terra (Zc 9:10). Ele seria chamado: “O SENHOR, Justiça Nossa” (Jr 23:5,6) e consumaria a redenção do pecado (Zc 13:1). O cumprimento da promessa davídica teve início com o nascimento de Jesus Cristo, anunciado pelo anjo Gabriel a Maria, uma piedosa descendente da família de Davi (Lc 1:30-33; cf. At 2:29-35).
(2) Essa promessa foi um desdobramento do concerto feito em Gn 3.15, que predisse a derrota de Satanás através de um descendente de Eva (Gn 3:15); foi um prosseguimento do concerto feito com Abraão e seus descendentes.
(3) O cumprimento dessa promessa abrangia a ressurreição de Cristo dentre os mortos e sua exaltação à destra de Deus no céu (At 2:29-33), de onde Ele agora governa como Rei dos reis e Senhor dos senhores. A primeira missão de Cristo como o Senhor exaltado foi o derramamento do Espírito Santo sobre o seu povo (At 1:8; 2:4, 33).
(4) O régio governo de Cristo caracteriza-se por um chamamento, dirigido a todas as pessoas, no sentido de largarem o pecado e o mundo perverso, aceitarem Cristo como Senhor e Salvador e receberem o Espírito Santo (At 2:32-40).
(5) O reino eterno de Cristo inclui:
(a) seu atual domínio sobre o reino de Deus e sua primazia sobre a igreja,
(b) seu futuro reino milenial sobre as nações (Ap 2:26,27; 20:4) e
(c) seu reino eterno nos novos céus e na nova terra (Ap caps. 21 e 22).