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Tavira Islâmica -- Igreja das Ondas -- Revitalização Aldeias-Cachopo -- Topónimo Bela-Fria


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A INDUMENTÁRIA ISLÂMICA E AS INFLUÊNCIAS ATRAVÉS DOS TEMPOS
Por: Adérito Vaz

A indumentária moura, desde os tempos em que Tavira era habitada por gente islâmica, até ao presente, não distingue muita alteração, possivelmente, pela influência religiosa e dos climas, quente e temperado, que não proporcionavam grandes transformações, numa economia que sempre foi débil, até que alguns descobriram o petróleo.
Os mouros, quando habitavam com os cristãos tinham de distinguir-se pelas vestes. A peça de vestuário que demarcava era a Almexia ( almehshia), que era uma túnica com que cobriam as restantes roupas.
Os berberes no Norte de África continuam a usar uma túnica idêntica, que será a (djellaba), que há de várias qualidades de tecidos de diferentes fantasias, com abundância do branco, mais utilizada em cerimónias.
Calçam uma simples babuchas, que bastante facilitam o cumprimento das regras de descalçar na entrada da Mesquita.
A (djellaba) do mouro rico seria diferente da do escravo. Entre a qualidade de tecidos, sempre houve a seda, considerada pelos de maiores posses como um produto, que desde tempos remotos, foi comercializado e transportado nas grandes viagens, entre o mundo islâmico e o extremo oriente.
A principal rota da seda partia de Xangai (China), rumava a Anhsi (norte do Tibet), onde bifurcava para os países do norte, passando por Hami, BeshbaliK, e AlmaliK, outra para sul, passando por BuKara, Bagdad, Damasco e Constantinopla. Por mar, também os mares cruzava-se da China pelo Golfo Pérsico, que conduzia a Bagdad e pelo Mar Vermelho até ao Cairo. Daqui partiam rotas comerciais à Sicília e Córdova, que alcançavam o Algarve.
A aljuba era uma espécie de gibão de uso dos islâmicos, que cobria a almilha, a peça de vestuário que se vestia por baixo.
Devido ao sol quente, quer no deserto quer nas regiões limítrofes, sempre envolveram a cabeça numa faixa de roupa, que geralmente engloba-se na designação de turbante.
É obrigação imposta pelo clima, com o quente sol a calar e não restam dúvidas, apontando aos soldados europeus, como da legião estrangeira, que tiveram de usar uns bonés um "cobre nucas".
Os turbantes têm algumas variantes no mundo islâmico, que vão desde os turcos, aos curdos, aos indús, aso tuaregues e berberes e outros.
Habitando os berberes no norte de África, cobrem-se com os turbantes mais conhecidos, com a atribuição de " zuavo" derivado da tribo de Zuawa. É a vulgar faixa de roupa, que enrola na cabeça e que dá para imaginar, que seria a veste dos mouros que habitaram Tavira.
Também é possível, que já houvesse o vulgar r típico barrete vermelho ou a simples cobertura de boina de roupa, tipo tigela justa à cabeça. Como calçado usaram uns simples chinelos, que com facilidade descalçavam, quando entravam nas Mesquitas.
As mulheres continuaram sempre de vestidos compridos, semelhantes às vestes ciganas e a cabeça coberta por lenço, geralmente da mesma roupa do vestido, ou túnica e o rosto tapado por um pano, que só deixa os olhos á vista. A própria testa é tapada pelo lenço. 
Muitas mulheres actualmente, já usam somente o lenço, como usaram as mulheres algarvias nos princípios do século vinte.
Esta maneira de vestir, tanto em homens como em mulheres teve influencias e entre as mulheres na última cobertura de cabeça mais marcada, destaca-se o bioco.
Pode dizer-se que foi uma peça de vestuário que fez parte da indumentária que passou ao desuso. Tem um significado de "mantilha com que as mulheres cobrem ou melhor cobriam o rosto para mostrar austeridade". Não há dúvida, que em plena noite escura, ou mesmo com luar, em lugar deserto ou desabitado, uma presença negra de cara e cabeça tapadas metia susto, nunca o surpreendido imaginando, que se tratava de assaltante ou para o tempo de almas de outro mundo.
Mas, o bioco possuía outras utilidades mais práticas, como proteger do frio e da humidade, nunca afastando em certas alturas a incógnita e a dúvida de quem ali poderia ter passado escondido.
No Algarve, onde o bioco mais perdurou no tempo e onde há memória da sua utilização, ainda no princípio do séc. XX, foi em Olhão.
Num desfile etnográfico, no dia 20 de Junho de 1999, em Angra do Heroísmo, mulheres a rigor de trajes tradicionais da ilhas, exibiam os vários tipos de biocos e de coberturas na cabeça. Esta peça do traje, tudo indica não ter desaparecido repentinamente, conservando-se em alternativa com o xaile ou carinhosa ou como variante de véu, que o ia substituindo lentamente e desempenhando os mesmos efeitos, ao aquecimento e protecção do frio e da humidade. O desaparecimento também faz parte da libertação da mulher de certas práticas tradicionais da submissão ao escondido, com destaque para o visual, numa lenta evolução de séculos. Sendo o bioco uma veste cobertura da cabeça, que no Algarve é assinalado em Olhão, sobressai localmente, por ter sido dos últimos lugares, que resistiu ao seu desaparecimento em substituição de vestes mais modernizadas para o mesmo efeito. A designação de bioco é nacional, sendo conhecido com diferentes cortes nas diferentes regiões e localidades.
Desde o séc. XIII, que havia o conceito de moda, só que era para minorias e abrangia quase exclusivamente a classe fidalga. Entre a capa mais curta e o manto, já houve uma preferência, quando a primeira começou a usar capuz.
No tempo do primeiro rei, Afonso Henriques, ainda predominava o capuz, que tanto era usado no manto como na capa.
No séc. XIII, para cobrir parte do cabelo havia a toca ou coifa de roupa. O capuz teve origem árabe (al-sarraba), que foi na Península Ibérica a civilização que influenciou as tendências para as coberturas de cabeças e rostos, com predominância para as mulheres.
No tempo medieval o capeirote baseado no capuz começou a adaptar uma abertura destinada à cara. O Rei D, Afonso IV, obrigou o uso do alquicel (alkisâ) que era uma capa mourisca.
O bioco teve a origem nestas variantes de coberturas usadas, como moda pelas gente fidalga e transferidas para o povo com diferentes cortes, tendo havido tipos preferidos, que perduraram por mais tempo, pelo conforto, maneira prática de uso ou utilidade ou facilidade de arrumar no prego atrás da porta ou nas costas das cadeiras.
Nos meados do séc. XV houve o célebre hennin, que era um chapéu alto de 70 a 80 ou 90 cm rodeado por véus. Isto nas classes abastadas do tempo. Há várias espécies de hennins e mais tarde tomaram a designação vulgar de crespinas.
O toucado no tempo medieval, para as senhoras idosas e viúvas era o capuz com gorgea, rodeado por um véu. É nesta cobertura de cabeça que está associado o cunho religioso, tão paralelo com os islâmicos.
As mulheres do povo, embora a forma de cobrir a cabeça fosse a mesma, usavam tecidos sempre lisos, lãs ordinárias e para as viúvas, por influencia religiosa, predominava a cor preta. 
O uso das mulheres cobrirem a cabeça com lenço, no Algarve, fazia parte dos hábitos da região principalmente no campo. Sempre as mulheres cobriram a cabeça, tendo sido já prática nos iberos a.C. como pode observar-se nas esculturas da época em diferentes museus de Espanha, mas a última grande cobertura vai para o mundo islâmico.
A influência religiosa e os costumes mediterrâneos deixaram uma cultura de vestes, que embora diferentes, houve influências, que durante séculos caminharam em paralelo. Produziram os tecidos de tafetá, do persa (tafta), panos de ouro em padrões complicados, com a maior qualidade alcançada, que foram bastante apreciados pelos europeus. Nas lavagens já utilizaram o sabão, uma descoberta química para a limpeza da roupa e higiene do corpo. 


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NA IGREJA DAS ONDAS
OBRA DE VALOR EM FLAGRANTE DEGRADAÇÃO 

A Igreja de S. Pedro Gonçalves Telmo (Ondas) é uma das seis igrejas algarvias que possui (clique para ver)  pintura de tecto em perspectiva ilusória, característica da estrutura formal barroca, muito divulgada no período Rococó.
Além desta, outras duas igrejas em Tavira ostentam pintura perspectivada no tecto: Igreja do Carmo e Igreja de Sto. António, embora nestas a pintura tenha sido aplicada directamente na abóbada, ao contrário do que foi praticado na Igreja das Ondas (sem abóbada), em que se recorreu à pintura das tábuas que servem de forro ao tecto, tanto na capela mor como no corpo da igreja.
São estas pinturas, das que se conhecem na região algarvia, as mais antigas em estilo perspectivado, tendo a obra sido ajustada em 1765 ao tavirense Luís António Pereira. Compõem-se de balustradas, janelões, colunas, jarras, apresentando ao centro o escudo nacional encimado pela coroa real e, nos extremos, medalhões alusivos ao orago.
Dada a progressiva degradação das estruturas que suportam o telhado, agravada pelas chuvadas verificadas no último Inverno, tem-se notado de alguns meses para cá a deterioração de algumas tábuas com pintura que compõem o forro, o que dá azo à escorrência de água para o interior.
Na capela mor, onde a situação parece ser mais crítica, verificou-se mesmo a queda de tábuas, o que compromete a conservação do interior do templo e a integridade deste espécime notável da pintura algarvia.
Verificada esta situação, urge realizar obras de reparação quer no telhado, quer no forro, competência da sua proprietária - Caixa de Previdência dos Profissionais de Pesca -, de modo a salvaguardar esta valiosa obra de arte tavirense, ainda mais quando igreja e edifício anexo se encontram em vias de classificação.
Rui Terremoto Santos


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ESTÁ EM MARCHA O PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DAS ALDEIAS DO ALGARVE
ALDEIA DE CACHOPO FOI CONTEMPLADA


No âmbito da Acção Integrada de Base Territorial para as Áreas de Baixa Densidade, incluída no Programa Operacional da Região do Algarve (PROAlgarve), a Comissão de Coordenação da Região do Algarve pôs em marcha esta intervenção que pretende ser paradigma de uma nova estratégia regional.
Pretende-se, de um modo geral, contrariar a tendência generalizada da redução do dinamismo social, económico e demográfico verificado naquelas zonas - chamadas de "baixa densidade" - na sua maioria, incluídas no barrocal e na serra algarvia. Precisamente, é nestas que se verificam carências a vários níveis, que contribuem para a diminuição da qualidade de vida da população residente e que põem entraves à fixação da população mais jovem.
Querendo justamente garantir a melhoria das condições de vida das populações, vão ser preconizadas, numa 1ª. fase, para 11 aldeias do Algarve acções de recuperação e revitalização, dando oportunidade ao estabelecimento de população através da concretização de equipamentos e infra-estruturas essenciais.
Dentro deste espírito, são quatro os objectivos principais a atingir com este programa: a recuperação do património edificado e a salvaguarda dos valores paisagísticos; a promoção e dinamização sócio-económica; a fixação e atracção de população; e a criação de uma nova animação para as aldeias algarvias.
Das aldeias seleccionadas, para na 1ª fase serem alvo das acções de revitalização, Cachopo foi a única aldeia contemplada no concelho de Tavira. Esta aldeia, que é bom exemplo das assimetrias estruturais verificadas entre litoral e interior, tem actualmente um efectivo populacional de cerca de 270 habitantes e tem necessidade, sem dúvida, de medidas que lhe incutam vitalidade a vários níveis.
Para tal, estão previstos para esta aldeia vários projectos, num montante de 450 mil contos como: a remodelação e restauro da igreja; a construção da Casa de Estudo e Biblioteca; o Lar; e a dinamização do Núcleo Museológico.
No sentido de se alcançar uma necessária complementaridade entre os vários espaços que compõem a região, tem lógica a articulação que se pretende estabelecer com as políticas sectoriais preconizadas para a zona onde o turismo tem sido o grande motor de desenvolvimento - o litoral.
Rui Terremoto Santos


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TAVIRA E O SEU TERMO O TOPÓNIMO "BELA-FRIA" 
Por: Arnaldo Casimiro Anica 

Não sei se os prezados leitores já repararam que está na moda escrever sobre topónimos. E eu, para não fugir à moda, sigo pelo o mesmo caminho.
Hoje tratarei do topónimo "Bela-Fria" que é o nome pelo qual é conhecida a zona da cidade de Tavira situada imediatamente a noroeste da antiga "Vila-dentro" e onde existiu até aos anos setenta do séc. XX uma horta a que se dava aquele mesmo nome. Nesta se construiu logo a seguir ao "25 de Abril de 1974" o Bairro SAAL ou o 1.º de Maio.
A referida horta pertenceu ao Reguengo de Tavira até por volta de 1862, e, por isso é, vária a documentação que se lhe refere, sendo assim possível seguir o rasto ao topónimo desde o séc. XV.
De facto as escrituras notariais daquela centúria, transcritas nos registos do antigo Hospital do Espírito Santo, referem-na com o nome de Vila- Fria. E é com esse mesmo nome que consta no relatório da Visitação da Ordem de Santiago à Paroquial de Santa Maria do Castelo efectuada no ano de 1518 (vide pág. 73 do livro "Visitações...", de Hugo Cavaco, edição de 1987).
É também por Vila Fria que constava nas actas da CMT de 1570, como informa Damião António de Lemos Faria e Castro no volume IX da sua "Política Moral e Civil", quando trata da relação dos vereadores desta cidade entre 1431 e 1700. Naquele ano de 1570 "embargou a Câmara aos Padres da Graça o tapar a porta da Villa Fria.
É ainda por Vila Fria que vem referida numa escritura notarial de 9-11-1633 cujo livro de notas se encontra hoje no Arquivo Distrital de Faro - Cartório Notarial de Tavira.
Não restam pois dúvidas de que o nome daquela mencionada horta e daquela zona da cidade era "Vila Fria" na Idade Média. E assim continuou até quase ao final do séc. XVII em que os notários de Tavira passaram a chamar-lhe Bela- Fria, talvez por analogia a "Banamor" que era o nome de uma grande fazenda situada imediatamente a norte da Igreja paroquial de N.ª S.ª da Conceição de Tavira.
Porém, Bena- Fria, foi sol de pouca dura, pois que em 1776 já a referida horta é denominada por "da Bela Fria", como se vê numa escritura notarial de 29 de Julho desse ano, nome que ainda hoje perdura, na memória do povo.
Reflectindo sobre a razão de "Vila Fria", admito que ele terá sido dado por se tratar de uma zona não soalheira e, por conseguinte, mais fria do que as restantes encostas do outeiro em que Tavira teve início. Mas "Bela" porquê?
Não me custa admitir que venham a "descobrir" que Bela é corruptela de um qualquer nome arábico! Talvez de Bena.


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