Alcoolismo

Que Pessoa bebeu muito vinho e aguardente na sua idade madura já não é contestado por ninguém há muito tempo. Mas quando é que começou a beber? E terá sido verdadeiramente um bêbedo? José Blanco, que conhece perfeitamente a sua biografia, garante que não se deve levar muito a sério a carta de Agosto de 1907 a Teixeira Rebelo, escrita à mesa de hotel, em Portalegre, sob o efeito de um vinho que «é bom (embora não daqui, creio), mas [...] decididamente alcoólico». Vê nisto apenas uma «brincadeira»; e é apenas em 1920, portanto com 32 anos, nas famosas «cartas de amor» a Ofélia, que ele identifica o primeiro testemunho irrefutável do poeta sobre os seus excessos de bebida (trata-se, nesse caso, de uma garrafa de vinho do Porto). José Blanco acrescenta que, fosse como fosse, ele suportava muito bem o álcool. «É notório que nunca ninguém o viu embriagado. [...] Conseguia ficar imperturbável depois de ter bebido quantidades que teriam deitado abaixo qualquer outro». Contudo, a embriaguez manifestava-se nele de outra maneira; por exemplo, como conta a irmã - que não acreditava no seu alcoolismo -, imitava o comportamento de um bêbedo, cambaleando de propósito na rua.

 

Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, p. 120.