UM POETA DO CAMPO NA CIDADE

Meu primeiro livro de poemas, Reverdor, reunia a produção que viera a lume na segunda metade da década de 50 e primeiros anos dos 60, dentro de uma unidade temática de base agrária, amparada pelas vivências rurais da infância e adolescência. Muita coisa que ficou de fora iria aparecer em Fábula Civil, o livro seguinte. Sempre fui atraído por uma poesia de dicção épica, apreendida nas lições de poetas principalmente espanhóis e latino-americanos, de forma livre e espontânea, já que sempre resisti a ditames e imposições de correntes literárias e dirigismo estético. Agrego-me a uma dicção lírica despojada de sentimentalismos e sou atraído pelos temas que dialogam de maneira mais próxima com o humanismo, com o aperfeiçoamento dos atributos do ser humano. E não tenho dúvidas, sem cultuar ceticismos, de que o melhor já foi construído pelo homem, o que subsiste é esfarelamento e diluição. A função da poesia e do poeta, no meu entender, se relaciona intrinsecamente com a humanidade. De pouco adianta a ditadura da tecnologia.


DEPOIMENTO DE UM AMIGO


Título: "Um construtor de prodígios" - Texto: João Carlos Teixeira Gomes

Florisvaldo Mattos publicou seu primeiro livro - REVERDOR - em 1965. Não era obra de um estreante - no que isto costuma significar de dicção vacilante ou simples busca de rumos. Estreou como afirmação, não como promessa: dotado de recursos retóricos muito característicos, autor de uma poesia densa e viril, cujas estruturas formais expressavam uma voz lírica tocada por acentos épicos.


autógrafos

Fugia à tradição lírica brasileira - o "brasilirismo" apontado por Martins Fontes - em geral derramado e lacrimoso, de tendência intimista, em favor de um canto vigoroso. Refreando qualquer impulso confessional, deixava-se impregnar de profundo sentimento agrário e do desejo de celebração da saga dos antigos barões que colonizaram o Brasil - no caso, especificamente, Garcia D'Ávila, um dos desbravadores da Bahia.

Foram estas duas vertentes temáticas de Reverdor, derivadas das experiências do poeta em Uruçuca, no interior da Bahia, região Cacaueira onde nasceu e passou a adolescência. Como poeta do campo, Florisvaldo Mattos integra uma linhagem que tem predecessores ilustres na literatura ocidental, como Hesíodo de Os Trabalhos e os Dias e o Virgílio das Georgicas, com seus poéticos ensinamentos sobre os segredos do labor rural.

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Em 1975, o poeta publicou o seu segundo livro, FÁBULA CIVIL. Com ele, a voz lírica revigorava-se em novas direções e retraia-se o sentimento épico e agrário,mas sem desaparecer de todo, tão característico se mostra dos procedimentos do autor. Os temas líricos que se diversificam em Fábula Civil ganham novas direções em seu mais novo livro - A CALIGRAFIA DO SOLUÇO, mas, de um modo geral, fugindo sempre das confissões subjetivas, o poeta se compraz com o espetáculo variado do mundo, celebra as viagens que fez pelos caminhos distantes, seu sentimento de hispanidade, a memória dos amigos desaparecidos, sua paixão pelo jazz e muitos mais, num universo temático que busca sempre depurar-se, evitando transbordamentos emocionais.

Sem dúvida alguma, trata-se de um dos poetas mais importantes da sua geração, na Bahia ou no Brasil. Pela riqueza de certos processos metafóricos um construtor de verdadeiros prodígios verbais.







Livros Publicados

ReverdorFábula CivilEstudos BaianosDois Poemas Para Glauber RochaA Caligrafia do SoluçoEstação de Prosa & Diversos A Comunicação Social na Rev. dos Alfaiates




LITERATURA

Publicações:

Poesia

* Reverdor, Salvador: Edições Macunaíma, 1965.

* Fábula Civil, Salvador: Edições Macunaíma, 1975.

* Poemas para Glauber Rocha - Colaboração com Fernando da Rocha Peres. Salvador: Edições Macunaíma, 1985.

* A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior. Salvador: Prêmio Copene de Cultura e Arte/Fundação Casa de Jorge Amado, 1996.

Ensaio

* A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 1974.

* Estação de Prosa & Diversos. Salvador: Memorial das Letras, 1997.

Participação em antologias

* Tule Poesia - Org. Nélson de Araújo. Imprensa Oficial da Bahia, 1959.

* Antologia da Novíssima Poesia Brasileira - Org. de Walmir Ayala, 1962.

* Cinco Poetas - Salvador: Edições Macunaíma, 1966.

* Breve Romanceiro do Natal - Salvador: Editora Beneditina, 1972

* Sete Cantares de Amigo - Salvador: Edições Arpoador, 1975.

* Lira de Bolso - Salvador: Edições Arpoador, 1975.

* Cacau em Prosa e Verso - Org. Hélio Pólvora e Telmo Padilha. Rio de Jzaneiro: Edições Antares, 1978.

* 12 Poetas Grapiúnas - Org. Telmo Padilha. Rio de Janeiro: Edições Antares, 1979.



Alguns Textos

( Clique neles para poder ler )



AO ÓCIO
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SONETO DO SILÊNCIO
|
CAMPESINO
|
SONETO DE MÁLAGA
|
FESTIVAL
BALADA DO LEGIONÁRIO CONDENADO À MORTE




BAIANO BRASILEIRO, PROFISSÃO JORNALISTA

Desde 17 de julho de 1958 exerço o jornalismo, com registro profissional conferido em 1960, quando já passara pelas funções de repórter de geral e colunista político. Ingressei na atividade integrando a equipe fundadora do Jornal da Bahia, levado por Glauber Rocha, encarando-o de início como uma extensão da militância cultural que se iniciara na Faculdade de Direito, na equipe redacional da revista Ângulos e prosseguia no proselitismo da Geração Mapa, que começara a editar sua revista. Mas entrei de cabeça na profissão de jornalista no ano mesmo em que iria obter diploma de bacharel em Direito, para jamais exercer a advocacia. Considero o jornalismo uma fatalidade que se abraça sem queixas. Dali, ainda indubitavelmente como uma extensão da militância cultural, fui para o Diário de Notícias, órgão dos Diários Associados de Assis Chateabriand, acumulando função de repórter político no vespertino Estado da Bahia, também pertencente à cadeia associada. Foi onde desenvolvi as aptidões que revelara no Jornal da Bahia, como repórter de geral, chegando a chefe de reportagem depois de um estágio de três meses no Jornal do Brasil do Rio de Janeiro, sob os auspícios da Esso, distribuidora de derivados de petróleo que tinha um programa regional de qualificação de jornalistas. Talvez pelos atributos da formação cultural universitária, pelos meus pendores para a literatura, pela familiaridade com a escrita, o certo é que em três meses no Jornal do Brasil completei meu aprendizado profissional e saí de lá seu Correspondente na Bahia, indicado a Alberto Dines, então editor-chefe, pelo maranhense Nonato Masson, depois de uma proveitosa convivência com profissionais do quilate de Carlos Lemos, José Ramos Tinhorão, Lago Burnett, Maurício Azedo, Sérgio Cabral, Araújo Neto, Newton Carlos e Heráclito Sales, além de Masson. Foi a melhor escola de prática de jornalismo que conheci, justamente no período luminoso em que estiveram à frente da Redação Alberto Dines e Carlos Lemos, num projeto editorial que procurava aglutinar dinamismo e eficiência profissional, precisão informativa, agilidade intelectual, sem descurar-se do apuro estético e do bom gosto. Apesar das gritantes limitações técnicas e de filosofia empresarial, procurei adaptar esses requisitos no Diário de Notícias, quando passei à frente de sua Redação em 1961, acumulando a função de Correspondente do JB. Foram dois anos de entusiasmo profissional e lucidez inventiva na concorrência com o Jornal da Bahia, o outro matutino, já que A Tarde ainda atuava na linha clássica dos vespertinos. No entanto esvaíram-se os esforços, diluiu-se o processo, e acabei aceitando um convite para colunista do Jornal da Bahia, em 1963. Lá fiquei até quase o fim da década (1968), quando me engajei no projeto de fundação da Sucursal do Jornal do Brasil, passando a chefiá-la, cargo que ocupei por catorze anos consecutivos, quando a representação foi fechada por decisão política da empresa (1982). Estava afastado das atividades profissionais, dedicado a outras de caráter cultural e didático, envolvido com projetos de aprimoramento do ensino universitário no âmbito do jornalismo e exercendo cargos de representação ligados à cultura, quando sou convidado pelo jornalista Jorge Calmon para ocupar a editoria do suplemento A Tarde Cultural, onde permaneço.






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