Retriever do Labrador




Labrador, o cão "família".

Retriever do Labrador


...... Ele é um companheiro de sucesso mundial. Mas há exemplares com comportamento muito diferente do esperado para raça.

...... Para muita gente, ele é a mais perfeita tradução de "melhor amigo do homem". Nos Estados Unidos - maior potência cinófila do planeta - e na Inglaterra - berço da cinofilia - o Retriever do Labrador é, há anos, o número um em popularidade. Tanto que ganhou o apelido de "cão da família", participando de todas as atividades dentro e fora de casa. Conforme diz o próprio padrão da raça, o Labrador típico é dedicado, facilmente adaptável, sociável, gentil, inteligente, muito obediente, sem nenhum traço de agressividade e com grande desejo de servir e agradar ao dono.

...... Essa lista de qualidades pode até parecer conversa de um bom vendedor, mas é avalizada, desde o início da raça, não apenas por criadores, mas também por adestradores, proprietários e estudiosos de cães. O Labrador é um retriever por natureza, ou seja, um cão que atua em dupla com o homem nas caçadas, acompanhando-o em todo o percurso. Ele espera o dono atirar na ave e depois, sob comando, vai buscá-la com rapidez, entregando-a intacta ao caçador e enfrentando qualquer tipo de obstáculo para cumprir a missão, seja na terra ou na água. Simplesmente seria impossível um cão ter êxito em todas essas tarefas se não tivesse as qualidades descritas pelo padrão. "A inteligência instintiva do Labrador envolve não apenas a habilidade de buscar a caça e marcar posições, mas também a capacidade de prestar muita atenção ao dono", ressaltou em entrevista à Cães & Cia o canadense Stanley Coren, psicólogo e treinador, autor do livro A Inteligência dos Cães. "É esse instinto que fez dele um cão solícito e com grande capacidade de comunicação com o homem", diz.

Harmonia

...... Dedicação e apego são marcas registradas da raça. Até mesmo criadores que têm muitos Labradores, os mantêm soltos, com livre acesso ao interior da casa, a maior parte do tempo. Esse é o caso da maioria dos entrevistados, como Marisa Oliveira, proprietária do Canil Promissed Land - SP, dona de 13 exemplares. "Eles vivem atrás de mim, atentos aos meus passos", conta. "A raça tem grande necessidade da presença do dono", completa Romy Gottlieb, do Canil Zack's English Labrador - SP, que convive com nove. "É por isso que o Labrador exige um dono que o queira sempre perto e não o deixe abandonado no quintal, senão fica neurótico", completa.

...... O Labrador procura atenção e aprovação, está sempre disposto a brincadeiras, mas sem exageros. "Sabe quando solicitar atenção e quando ficar na dele. Adapta-se perfeitamente às nossas necessidades, o que é uma das principais vantagens como cão de companhia", diz Maria Cecília Gonzaga, do Canil Interagro, de São Paulo. Respeita as necessidades do dono e se contenta em estar ao lado dele. "Não precisa fazer carinho, jogar brinquedo e falar com ele o tempo todo."

...... Sua capacidade de viver em harmonia estende-se também a situações, locais e pessoas diferentes. Adora participar da rotina, mas não precisa dela. Viaja a qualquer lugar sem estranhar nada: comporta-se da mesma forma dentro ou longe da sua casa. Gosta de andar de carro: não passa mal nem incomoda o motorista. Romy conta que uma de suas fêmeas anda no banco da frente, com cinto de segurança e tudo! Na rua, também não dá trabalho. Acostumá-lo à guia não é problema, mesmo depois de adulto. "Basta que o dono o impeça de puxar nas primeiras saídas; e também não é de latir à toa", diz Cecília.

...... Extremamente sociável, o Labrador se dá bem mesmo com pessoas estranhas. "Pode até latir ao perceber a aproximação de alguém ao portão. Mas nunca ataca. E basta que a pessoa seja convidada a entrar para que a aceite como amiga", diz Cláudia Kneese Fidelis, do Canil Tokay, de São Paulo. "A maioria já recebe as visitas abanando o rabo", conta Cecília. Com gatos e tartarugas também costuma conviver bem. "A Labrador da minha amiga Jeni chegou a salvar uma tartaruga que caiu na piscina", lembra Romy. Já com aves a coisa muda de figura - persegui-las

...... faz parte do seu instinto. Mas é raro que as mate de propósito. A natureza amigável do Labrador facilita a convivência com cães do mesmo sexo: embora mantenha o instinto de disputa por território, comum a todas as raças, ele aprende a se controlar e dificilmente inicia algum confronto.

...... A "suavidade" da boca é outra qualidade muito valorizada na raça. Um bom Labrador nunca fere alguém intencionalmente e sequer deve destruir brinquedos - é claro que isso não se refere aos ossinhos e similares, feitos para serem roídos e até comidos. É calmo e paciente mesmo com crianças que fazem brincadeiras estabanadas. "As crianças pulam e rolam no chão com o Labrador e ele adora. Outras raças não estariam dispostas a essas brincadeiras", atesta Carole Coode, juíza internacional, membro e ex-presidente do British Council of Labrador Club (que reúne todos os 13 clubes da raça na Inglaterra) e autora do livro Labrador Retrievers Today.

...... O Labrador é a sétima raça mais obediente do mundo, segundo Coren. Ele pode aprender a acender a luz, trazer o jornal e abrir portas. É uma das poucas raças usadas como guia de cegos. Todos os entrevistados ressaltaram a rapidez com que um Labrador assimila ordens e o interesse em não repetir um erro.

...... É também muito inteligente. Tem facilidade para compreender a linguagem humana, senso de observação e excelente memória. Mas pode usar sua inteligência em causa própria. "É capaz de 'arquitetar' planos", diz Marisa. "Se quer passar por algum lugar fechado, consegue", revela. "Uma de minhas fêmeas já abriu uma maçaneta redonda", garante Romy.

...... Sai-se muito bem nadando ou acompanhando o dono em pedaladas e caminhadas. Marisa reservou uma parte de sua piscina só para eles se exercitarem. E quem tem piscina e Labrador pre-cisa estar disposto a compartilhá-la com ele. A atração que sente pela água é irresistível. Mas deve ser ensinado a sair de uma piscina por uma escada especial.

...... Os cães de Romy são treinados para agility e participam de apresentações. "O Labrador é excelente nesse esporte: tem porte atlético, boa musculatura e propulsão traseira, muita alegria, agilidade e facilidade de aprender", garante Elias Teixeira de Oliveira, dono da Alternativa's Dog Show, especializada em agility.

Desvios

...... O companheirismo da raça é, para muitos, seu maior patrimônio. "As pessoas precisam entender que o mais importante num Labrador é o seu bom temperamento", opina Trudy Sonenson, secretária do Labrador Retriever Club of Southern California - EUA. Mas como nem tudo são flores, nem todos os Labradores personificam o ideal da raça. O temperamento é, antes de mais nada, herança genética. Cruzamentos entre exemplares que não carreguem essa herança podem gerar filhotes atípicos. Como a raça ainda é pouco difundida no Brasil (em 1996, a Confederação Brasileira de Cinofilia registrou 919 filhotes), Labradores problemáticos ainda são uma minoria. Mas já preocupam os criadores. "A raça está deteriorando rápido demais", diz Romy. A única maneira de evitar a propagação de problemas é excluir da criação os maus exemplares.

...... Os principais defeitos identificados pela nossa reportagem foram Labradores agitados; agressivos; que danificam objetos e machucam pessoas, mesmo sem querer; e que latem exageradamente. Entre todos, o mais freqüente é o excesso de agitação. "Cerca de 35% dos cães que conheço são mais agitados do que deveriam", calcula Cecília, com o cuidado de dizer que se trata da sua experiência pessoal e que não há estatísticas oficiais a respeito. "Alguns nunca amadurecem", relata Irce Luz, veterinária que atendeu uns 50 Labradores nos últimos 15 anos. Outra veterinária, Márcia de Almeida Gonçalves - que tem contato com a raça há sete anos e cuidou de cerca de 20 exemplares - nota um aumento de cães "ansiosos".

...... Maria Isabel de Freitas Valle, proprietária de um Labrador amarelo, de dois anos, que o diga. Ela escolheu a raça atraída pela imagem de "cão de família" do Labrador, divulgada pelos filmes norte-americanos. Mas sofreu uma grande decepção. "Ele é um inferno", diz. "Já teve dois treinadores, passou até por psicólogo, mas ainda pega roupa do varal, rouba comida, tênis das crianças...", relata. E tem uma energia inesgotável: corre o tempo todo no jardim e ainda precisa passear três vezes por dia.

...... A agressividade é um problema menos comum na raça, mas é o pior defeito quando o cão é um Labrador. "Até em exposições, onde os cães deveriam ser bem selecionados, já vi exemplares bravos", conta Romy. Elias, da Alternativa's, treinou 20 Labradores até hoje e revela que quatro desses, todos amarelos, eram bravos e já haviam mordido pessoas em casa. O cão de Maria Isabel é ainda pior: se bobear, ele ataca crianças estranhas que entram na sua casa. Uma das suas vítimas teve de levar 20 pontos e fazer plástica no rosto.

...... Um Labrador que, mesmo manso, não tenha noção da força dos seus dentes não é o mais indicado como companheiro. "Além de destruir objetos, machuca a gente sem querer com suas brincadeiras", conta Maria Isabel. Latir sem motivo é outro problema apontado por Cláudia - e ilustrado, mais uma vez, por Maria Isabel. "O meu dorme fechado num banheiro, senão late a noite toda e não deixa ninguém dormir", relata.

...... Não existe argumento científico que comprove relação genética entre cor e temperamento no Labrador. "O padrão vale para pretos, chocolates e amarelos", lembra Romy. O fato é que a maioria dos problemas está ocorrendo com mais freqüência em cães amarelos e chocolates. Como amarelos vendem mais, muita gente passou a cruzá-los entre si sem se preocupar com o temperamento - o que causou o nascimento de Labradores como o de Maria Isabel. Quanto aos chocolates, existem menos exemplares. Mas a julgar pelos depoimentos dos entrevistados, proporcionalmente há mais chocolates atípicos do que amarelos.

...... Isso não significa que alguém deva desistir de ter um Labrador de uma dessas cores. Apenas a cautela na hora da compra deve ser maior.

Prevenido

...... O principal cuidado é não se guiar por impulso. Antes de mais nada, teste a experiência do criador. Aquele que está sintonizado com as recomendações da criação da raça jamais cruza um exemplar chocolate com amarelo. Criadores experientes, da Inglaterra (país de origem da raça), como a secretária do Midlands Counties Labrador Retriever Club e criadora há 22 anos, Sue Hill, recomenda também que não se cruzem dois chocolates por mais de três gerações sucessivas, ou dois amarelos por mais de quatro, sem introduzir um preto. Ainda que nada disso tenha a ver com temperamento, e sim com a despigmentação das mucosas, é um atestado de seriedade ou, pelo menos, de que o criador é bem informado. Cruzamentos de sucessivas gerações de amarelo ou de chocolate - cores mais 'comerciais' - podem significar apenas o desejo de obter cor e não o temperamento correto.

...... Títulos de beleza também não são garantia de qualidade. No Brasil, isso apenas mostra que os cães são bonitos. A experiência de Maria Isabel, dona do Labrador problemático, comprova: "Bonito ele é. Filho de campeão, também. Mas é fruto de chocolate com amarelo, e o pai era bravo", diz. Já na Inglaterra, um Labrador que apenas rosne para outro, em pista, pode ser desclassificado, garante Carole.

...... A próxima etapa é a escolha dos filhotes. Olhe os pais, verifique seus pedigrees. Não aceite um filhote vindo de um casal chocolate e amarelo. Nem um cujo pai ou mãe tenha comportamento inadequado - peça para ver os pais soltos e caso não estejam no local, tente agendar com o criador uma visita para conhecê-los. Analise o comportamento da mãe. Ainda que não seja recomendável a presença de estranhos quando o filhote tem menos de três semanas, Carole afirma que "mesmo que ela tenha acabado de dar à luz, não deve mostrar sinais de agressividade ao receber visitas". Observe os filhotes. "Procure escolher um alegre, mas não excitado", aconselha. Teste o "candidato" jogando um brinquedo: ele não deve se assustar, destruir o objeto ou recusar-se a devolvê-lo. Conforme lembram Maria Cecília e Cláudia, o ideal nesse teste é que o filhote esteja sozinho, pois com a concorrência dos irmãos ele talvez não devolva o objeto. Se você faz questão de cor, pode ter de esperar algum tempo até conseguir o filhote ideal. Se a urgência for grande, considere a possibilidade de escolher outra cor.

...... Filhote bem escolhido e de bom temperamento é meio caminho andado. Mas ele não nasce sabendo, precisa ser ensinado. E não esqueça que mesmo o Labrador típico é dono de uma grande energia. E precisa de companhia. Um Labrador criado preso no mínimo vai ficar deprimido, ansioso e muito agitado", diz Brasilina Maria Cruz, do Canil Newfoundlands Alpes, de São Paulo.

...... Preocupar-se em adquirir cães geneticamente saudáveis também é fundamental. Peça para ver o laudo de graduação de displasia coxo-femoral (mau encaixe entre a cabeça do fêmur e o acetábulo) dos pais, certificando-se de que possuem um grau no qual se permita o acasalamento. A osteocondrose (mal que compromete a cartilagem e o osso prejudicando a articulação) tem aparecido com pouca freqüência, causando a chamada displasia de ombro (a mais comum) e as de cotovelo, joelho e calcanhar. O problema ainda é pouco conhecido no Brasil. Há duas doenças genéticas que atacam a visão, causando perda progressiva até chegar à cegueira: a Catarata, que ocorre quando o cristalino - parte interna transparente do olho - torna-se opaco; e a Atrofia ou Displasia da Retina, uma degeneração das células da retina.

Padrão Oficial

CBKC nº 122b, de 30/4/94
FCI nº 122c, de 24/6/87
País de origem: Grã-Bretanha
Nome no Brasil: Retriever do Labrador
Nome no país de origem: Retriever (Labrador)
APARÊNCIA GERAL: muito ativo, de constituição robusta e tronco curto; o crânio é largo; o peito e as costelas são largos e profundos; lombo forte, assim como, os posteriores.
CARACTERÍSTICAS: bom temperamento, muito ágil; excelente faro, cuidadoso ao recolher a caça (boca macia); vidrada por água. Companheiro dedicado, de fácil adaptação ao meio.
TEMPERAMENTO: inteligente, perspicaz, obediente, com forte desejo de servir. De natureza gentil, sem qualquer indício de agressividade ou da indesejável timidez (falta de coragem).
CABEÇA E CRÂNIO: largo com stop bem definido. Contorno bem delineado, sem ser bochechudo. Maxilares de comprimento médio, poderosos e não afilados. Trufa larga, com narinas bem desenvolvidas.
OLHOS: tamanho médio, de cor marrom ou avelã, com expressão inteligente e bom temperamento.
ORELHAS: de tamanho médio, de inserção, preferivelmente, bem para trás, portadas caídas rente às faces, sem ser pesadas.
MAXILARES: os maxilares e os dentes são fortes, com a mordedura em tesoura perfeita, regular e completa, isto é, os incisivos superiores sobrepõem-se aos inferiores em contato justo e inseridos ortogonalmente aos maxilares.
PESCOÇO: forte, robusto e sem barbelas, inserido em ombros bem acoplados.
ANTERIORES: ombros inclinados e escápulas longas. De qualquer ângulo, os membros anteriores apresentam uma ossatura bem desenvolvida e reta, desde os cotovelos até o solo.
TRONCO: peito de boa largura e profundidade, com costelas arqueadas em barril. Linha superior nivelada. Lombo largo, curto e forte.
POSTERIORES: bem desenvolvidos. Garupa bem desenvolvida, sem inclinação em direção à cauda. Joelhos bem angulados. Jarretes de vaca são altamente indesejáveis.
PATAS: redondas, compactas; dígitos bem arqueados e almofadas plantares bem desenvolvidas.
CAUDA: característica da raça, conhecida por "cauda de lontra": muito grossa na raíz, adelgaçando gradualmente para a ponta, comprimento médio, sem franjas, completamente revestida por uma pelagem curta, espessa e densa, conferindo uma aparência roliça. Portada alta, mas sem enroscar sobre o dorso.
MOVIMENTAÇÃO: com desenvoltura e cobertura de solo adequada. Os anteriores e posteriores realmente alinhados.
PELAGEM: outro aspecto característico da raça. Curta e densa, com ligeira aspereza ao toque, sem ondulações ou franjas; subpêlo resistente às intempéries.
COR: totalmente preto, amarelo ou fígado/chocolate. A gama dos amarelos vai desde o creme claro ao vermelho (da raposa). Permitida pequena mancha branca no peito.
TALHE: altura ideal, na cernelha, de 56 a 57 cm, para os machos, e de 54 a 56 cm, para as fêmeas.
FALTAS: qualquer desvio, dos termos deste padrão, deve ser considerado como falta e penalizado na exata proporção da sua gravidade.
NOTA: os machos deverão apresentar os dois testículos, com aparência normal, completamente descidos e bem acomodados na bolsa escrotal.



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