Escultura

 

Ao contrário da arquitectura não houve para a escultura uma necessidade de elaborar uma série de regras, o que não quer dizer que faltassem técnicas e formas características.

Há um grande interesse pela forma do corpo humano, pelas suas capacidades, potencialidades expressivas.

Todas as estátuas que representavam humanos tinham como base o naturalismo (tentavam aproximar ao máximo as formas naturais). Há ainda um interesse em esculpir o "corpo nu".

São introduzidas técnicas completamente novas e um "esmagamento", em que as figuras principais são esculpidas em relevo, rejeitando para segundo plano (mais profundo) as personagens secundárias; a diferença entre estes planos é de apenas alguns milímetros dando ideias que os planos foram apertados, prensados; no entanto a noção de profundidade não deixa de se evidenciar.

A campanha artística que iniciou o concurso para as portas do Baptistério ficou limitado por certo tempo, aos projectos escultóricos.

O baixo-relevo apresentado por Ghiberti não se afastava muito do Gótico Internacional, e o mesmo aconteceu com as portas do Baptistério, apesar de levarem vinte anos a efectuar.

No painel submetido ao concurso, só o torso de Isaac manifesta a admiração de Ghiberti pela arte greco-romana, o que pode ser comparado com o classicismo dos Humanistas Florentinos de c. 1400.

Mas tudo isto repete o que Nicola Pisano tinha feito um século antes.

NANNI DI BANCO- Uma dezena após o concurso surgiu Nanni Di Banco. A escultura dos quatro coronati foram obra sua; foram executados para um nicho exterior à igreja de Or San Michele. As figuras são quase de tamanho natural e fazem lembrar a antiguidade clássica.

O artista Nanni foi sem dúvida impressionado pelo realismo clássico. As figuras vestem mantos leves e soltos, mas não tem movimento.

O movimento está presente no anjo de Nanni. Esta figura retracta bem o esforço que faz, pela posição dos seus pés, demostrando assim um grande realismo.

Nanni Di Banco- Os quattro coronati/ Anjo voando

 

 

 

MIGUEL ÂNGELO- foi escultor e talhador de mármore. Grande admirador de Giotto, Masaccio, Donatello e Jacopo della Quercia, Miguel Ângelo conseguiu criar corpos humanos libertados da dureza da mármore.

Em 1501 foi-lhe encomendado David; apenas com vinte e seis anos de idade teve de esculpir uma gigantesca figura destinada a ser colocada num dos contrafortes da Catedral. Mas os Edis deliberaram em lugar disso, colocá-la em frente do Palazzo Vechio, como um símbolo patriótico da república de Florença.

Sem a cabeça de Golias, David tem um ar de desafio e não um ar de vitorioso. Tem em comum com o David de Donatello a nudez, mas o seu estilo proclama um ideal diferente, contrariando a magreza do David de Donatello. Isto aconteceu porque Miguel Ângelo foi influenciado pelos corpos musculosos das estátuas vistas em Roma. No entanto David não pode ter tido em conta como uma estátua clássica, pois David está ao mesmo tempo calmo e tenso, características próprias de Miguel Ângelo.

Miguel Ângelo- David, mármore, museu da academia, florença

Os Médici contrataram mais tarde Miguel Ângelo para criar os seus túmulos em San Lourenzo.

Ele trabalhou neles durante catorze anos, mas nunca os chegou a acabar por ter sido chamado a Roma.

No túmulo de Julião de Médici encontram-se duas figuras que representam o dia e a noite. Ao centro surge Juliano com armadura romana, parecendo um Imperador. O defunto nada se parecia com a estátua, e a s figuras de dia e noite não parecem ter sido criadas para uma superfície curva. Estes aspectos demostram bem como Miguel Ângelo fez falta no final da obra.

 

 

 

O primeiro período de Donatello

Nascido a 1386, foi sem dúvida o maior escultor do seu tempo.

A enorme influência que Donatello exerceu na arte Italiana, contribuiu para que fosse sem sombra de dúvidas, o homem que mais alcançou um plano de transfiguração da realidade sensível.

Donatello, partiu de um novo conceito do Gótico para o entendimento clássico das formas.

Donatello, inclinou-se mais prudentemente e atentamente sobre o aspecto realista de uma obra de arte, atribuindo-lhe a pouco e pouco valores muito próprios (individualização das máscaras, aumento dos valores volumétricos), tanto em estátuas como em baixos-relevos.

Donatello, na primeira parte da sua carreira trabalhou em encomendas para a catedral e para Or San Michele. Muitas vezes enfrentaram os mesmos problemas artísticos, apesar de pouco terem em comum.

As suas maneiras diferentes, estão visivelmente definidas pelos Quattro Coronati de Nanni e pelo São Marcos de Donatello. Todos foram colocados em fundos nichos (isolados) góticos, mas as figuras de Nanni não podem desligar-se da sua ligação arquitectónica e até parecem fixadas, como estátuas de ombreiras, às pilastras detrás delas.

Donatello- São Marcos, mármore, Or San Michele, Florença

 

O São Marcos já não precisava de tal protecção, sendo perfeitamente equilibrado e sem qualquer auxílio, amparo, nada perdia a sua imensa autoridade se o privassem do sua cobertura. È a primeira estátua, desde a Antiguidade, dotada de autonomia, ou seja a primeira estátua que consegue captar de novo a definição do contraposto clássico.

Nesta obra que marca verdadeiramente e talvez heroicamente uma época, o jovem Donatello dominou , de um só golpe, o que constitui a realização principal da escultura antiga.

Donatello, trata o corpo humano como uma estrutura articulada, capaz de movimento, e as suas aparências como um elemento separado e secundário (atribuindo mais valor às formas que encobrem do que aos padrões externos).

Ao contrário dos Coronati São Marcos até podia ser despido das suas roupas. Contudo, a estátua nada tem de classicista, ou seja os motivos antigos são transcritos como nas figuras de Nanni (talvez definindo-se por clássico, seria o mais acertado).

Poucos anos mais tarde Donatello esculpiu outra estátua para Or San Michele, o famoso S. Jorge colocado noutro nicho, menos que o de S. Marcos e donde o jovem sobressai um pouco. Ao analisar notou-se que apesar de cobridos pela armadura, o tronco e os membros não são rígidos, duros, aparentando uma flexibilidade extrema e fantástica. A posição do corpo, com o peso a apoiar sobre a perna esquerda, exprime a agilidade do santo guerreiro para o combate; a energia é reflectida nos olhos, como quem sente o inimigo a aproximar-se.

Sob o nicho, um baixo-relevo apresenta a mais conhecida aventura do herói, a morte do dragão; a donzela; à direita é a princesa cativa que Santo vinha libertar).

Donatello- São Jorge, e São Jorge e o dragão, mármore, Florença.

Donatello produziu aqui outra obra revolucionária, ao criar um novo tipo de baixo-relevo pouco saliente, mas transmite uma ilusão de infinita profundidade pictórica.

Donatello rejeita esta modelação: a impressionante paisagem, atrás das figuras, compõem-se inteiramente de brandas harmoniosas da superfície de mármore onde a luz é captada sob muitos ângulos diferentes.

Cada ligeira ondulação está dotada de um poder descritivo largamente superior ao que se esperaria da sua profundidade real, e o cinzel, torna-se um instrumento capaz de criar gradações de claro-escuro. Contudo, ao que parece Donatello não foi encontrar a inspiração desta paisagem em qualquer obra pictural.

No campanário (no lugar) da Catedral (Duomo) de Florença, construído de 1334 a 1357, erguia-se, construía-se uma fila de altos nichos góticos destinados a acolher estátuas. Só metade estavam preenchidos quando, entre 1416 a 1435, Donatello executou cinco estátuas para os outros. A obra mais notável desta série é a imagem do profeta não identificado que teve como alcunha: Zoccone, ou "Cabeça de Abóbora", que goza de forma especial como exemplo marcante do realismo do Mestre, aqui, sem dúvida, muito superior, ao de qualquer estátua antiga ou ao das suas rivais mais próximas, os profetas do Poço de Moisés.

Donatello- Zuccone, catedral de Florença

Deste modo, poderíamos interrogarmo-nos, que espécie de realismo é este.

Donatello, não seguiu a imagem convencional, assente do profeta, pois inventou um tipo totalmente novo e é difícil justificar este desvio em termos de realismo.

O próprio Donatello parece ter considerado o Zuccone como uma realização especialmente difícil.

È o primeiro trabalho assinado que deixou, e diz-se que ele costumava jurar "pela Zuccone", sempre que queria reforçar uma afirmação, e que teria gritado a estátua, enquanto a esculpia: " fala, fala, ou que peste te leva!".

Perspectiva: Donatello aprendeu a técnica de esculpir em bronze quando era jovem e trabalhava sob direcção de Ghiberti nas portas do Baptistério. Mas c. 1420 já rivalizava nessa arte com o antigo mestre. O Festim de Herodes que faz c. 1425, para a pia baptismal de S. João (o Baptistério da Catedral de Siena) não só se revela o mesmo delicado acabamento de superfície dos painéis de Ghiberti como também, um tremendo poder de expressão.

Donatello- O festim de Herodes

 

 

 

Pelos padrões clássicos ou medievais, a cena principal e fraca de composição: fulcro (apoio) do drama situa-se no extremo esquerdo; Salomé a dançar e a maioria dos espectadores ficaram amontoados à direita: e o centro ficara vazio. E no entanto, compreendemos rapidamente o motivo por que Donatello criou este espaço vazio (e assim se percebe o espectáculo terrível)

Donatello executava o Festim de Herodes quando Ghiberti foi encarregado de fazer outras duas portas de bronze para o baptistério de Florença. Estas, tão belas que cedo lhes chamariam "Portas do Paraíso". As portas estão decoradas com dez grandes frescos em molduras quadradas. A influencia de Donatello está bem patente; a comparação da História de Jacob e Esaú com o Festim de Herodes é elucidativa.

Ghiberti- História de Jacob e Esaú

O cenário da narrativa de Ghiberti é uma espaçosa sala, onde é reflectida a arte de Brunelleschi, enquanto as figuras nos fazem lembrar no classicismo do Gótico internacional.

JACOPO- Apesar de não ter vivido em Florença, e não ter sido influenciado pela arte florentina, ele criou Adão. Pouco interesse pictorial, mas figuras impressionantes. A figura de Adão ergue-se chão mostrando a beleza do atleta clássico. O nu aqui representa poder, no entanto Adão não está liberto do pecado, pela forma como encara o senhor.

Sem dúvida que Jacobo foi influenciado por um díptico de marfim dos primeiros séculos do cristianismo.

Jocobo della Quercia- Criação de Adão; Adão no paraíso.

O Adão de Jacobo della Quercia encontra-se claramente nu, no pleno sentido clássico tal como David de Donatello.

Donatello- David, bronze, Museu nacional de Florença.

David de Donatello foi uma realização ainda mais revolucionária da escultura do proto-renascimento. Foi a primeira estátua nua de tamanho natural, desde a antiguidade, dotada de verdadeira autonomia.

David foi criado para ser visto de todos os ângulos, por isso deveria ter sido criado para estar em cima de uma coluna num espaço aberto. Esta estátua deve ter sido um monumento cívico e patriótico, que identifica David fraco mas protegido por Deus, com Florença, e Golias com Milão , visto as duas cidades estarem em guerra na altura.

A nudez de David é de origem clássica de Florença, e o chapéu laureado de David com o oposto do de Golias- paz versus guerra.

Donatello escolheu um modelo jovem para David para que os habitantes de Florença se identificassem com ele. A sua anatomia não expressa a cem por cento a antiguidade clássica.

Outra figura de Donatello é a Maria Madalena, de madeira, parece distante dos ideais do renascimento, mais parecendo uma figura gótica. Mas se olhar-mos com atenção, vimos que Maria Madalena demostra uma aproximação da experiência religiosa de Donatello que não se afasta muito das suas primeiras obras.

Donatello- Maria Madalena, madeira parcialmente dourada, Museu da catedral, Florença