UMA NOVA DIMENSÃO DE AMOR

 

           (...)Há três tipos de amor - eu os chamo de amor um, amor dois, amor três. O primeiro amor é orientado a um objeto; há um objeto de amor. Você vê uma mulher bela, realmente graciosa, com um corpo bem proporcionado. Você fica encantado. Pensa que está se apaixonando. O amor surgiu em você porque a mulher é bela, porque a mulher é gentil, porque a mulher é boa. Algo do objeto agitou o amor em você. Você não é realmente o mestre dele; o amor está vindo de fora. Pode ser que você não seja uma pessoa amorosa, pode ser que não tenha a qualidade, pode ser que não tenha aquela bênção, mas pelo fato da mulher ser bela você pensa que o amor está surgindo em você. Ele é orientado a um objeto.
           Esse é o amor comum. Isso é o que é conhecido como eros. É luxúria. Como possuir esse belo objeto? Como explorar esse belo objeto? Como torná-lo seu? Mas lembre-se, se a mulher é bela ela não é bela apenas para você, ela é bela para muitos. Assim haverá muitas pessoas se apaixonando por ela. E vai haver muito ciúme, competição, e todos os tipos de feiúra que surge no amor, no assim-chamado amor.
           Se você estiver se apaixonando por uma mulher bela ou um homem belo, você vai ficar em apuros. Vai haver ciúme, vai haver assassinato, vai haver algo. Você está em apuros. E desde o próprio início você começará a possuir para que não haja nenhuma possibilidade de qualquer coisa dar errado ou ir além do seu controle. Você começará a destruir a mulher ou o homem. Você vai parar de dar liberdade. Você cercará a mulher por todos os lados e fechará todas as portas.
          Agora, a mulher era bela porque era livre. A liberdade é um ingrediente tão essencial na beleza que quando você vê um pássaro voando no céu, ele é um tipo de pássaro, mas se você vê o mesmo pássaro numa gaiola, ele não é mais o mesmo. O pássaro voando no céu tem uma beleza própria. Ele é vivo. Ele é livre. O céu todo é seu. O mesmo pássaro numa gaiola é feio. A liberdade se foi, o céu se foi. Essas asas não têm sentido nenhum agora, são apenas um tipo de peso. Elas permanecem do passado e criam misérias. Agora esse não é o mesmo pássaro.
          Quando você se apaixonou pela mulher, ela era livre; você se apaixonou pela liberdade. Quando você a traz para casa, você destrói todas as possibilidades dela ser livre, mas nessa própria destruição você está destruindo a beleza. Então um dia, de repente, você descobre que não ama a mulher de modo algum - porque ela já não é bela. Isso acontece todas as vezes. Então você começa a procurar por uma outra mulher e você não vê o que aconteceu; você não olha para o mecanismo, para o modo como você destruiu a beleza da mulher.
          Esse é o primeiro tipo de amor - amor um. Tome cuidado com ele. Ele não tem muito valor, não é muito significativo, não tem valor nenhum. E se você não estiver atento, permanecerá preso no amor um.
          O amor dois é: o objeto não é importante, a sua subjetividade é. Você é amoroso, assim você dá o seu amor a alguém. Mas o amor é sua qualidade, ele não é orientado por um objeto. O sujeito está transbordando com a qualidade de amor, o próprio ser é amoroso. Mesmo que você esteja só, você está amando. O amor é um tipo de sabor ao seu ser.
          Quando você se apaixona, no segundo tipo de amor, vai haver uma alegria muito maior do que no primeiro. E você saberá - porque amor saberá - como manter o outro livre. Amor significa dar tudo o que é belo ao amado. Liberdade é a meta mais bela, mais nutritiva da consciência humana, como você pode tirá-la? Se você realmente amar uma mulher, ou um homem, o primeiro presente, a primeira dádiva, será a dádiva da liberdade. Como você pode tirá-la? Você não é o inimigo, você é o amigo.
           Esse segundo tipo de amor não será contra a liberdade, não será possessivo. E você não ficará muito preocupado que alguém mais também aprecie a sua mulher ou o seu homem. Na verdade, você ficará feliz por ter uma mulher que outros apreciam, por ter escolhido uma mulher que outros também desejam. O desejo deles simplesmente prova que você escolheu um diamante, um ser valioso, que tem valor intrínseco. Você não ficará com ciúme. Toda vez que você vir alguém olhando para a sua mulher com olhos amorosos você ficará encantado novamente. Você se apaixonará outra vez pela sua mulher através desses olhos.
           Esse segundo tipo de amor será mais uma amizade do que uma luxúria e será mais enriquecedor para a sua alma.
           E esse segundo tipo de amor terá mais uma diferença. No primeiro tipo de amor, o orientado por um objeto, haverá muitos amantes ao redor do objeto, e haverá medo. No segundo tipo de amor não haverá medo e você estará livre não para dar o seu amor só ao seu amado, você estará livre para dar o seu amor a outros também.
           No primeiro, o objeto será um e muitos serão os amantes. No segundo, o sujeito será um e estará fluindo em muitas direções, dando seu amor de muitas maneiras a muitas pessoas - porque quanto mais você ama, mais o amor cresce. Se você ama uma pessoa, então naturalmente o seu amor não é muito rico; se você ama duas, ele é duplamente rico; se você ama muitos, ou se puder amar toda a humanidade, ou se puder amar até mesmo o reino animal, ou se puder amar até mesmo as árvores, o reino vegetal - então o seu amor vai crescendo. E à medida em que o seu amor cresce, você cresce, você se expande. Essa é a expansão real de consciência. As drogas apenas lhe dão uma falsa idéia de expansão; o amor é a droga básica suprema que lhe dá a idéia real de expansão.
          O primeiro é bom, no sentido de que se você tem vivido uma vida sem amor, ele é melhor do que nenhum amor. Mas o segundo amor é muito melhor que o primeiro e terá menos ansiedade, menos angústia, menos perturbação, conflito, agressão, violência. O segundo tipo de amor será mais amor do que o primeiro tipo, será mais puro. No primeiro, a luxúria é demais e estraga o jogo todo - mas mesmo o segundo amor não é o último. Há o amor três - quando sujeito e objeto desaparecem. No primeiro, o objeto é importante, no segundo, o sujeito é importante, no terceiro há uma transcendência - a pessoa não é um sujeito nem um objeto e ela não está dividindo a realidade de nenhuma maneira: sujeito, objeto, conhecedor, conhecido, amante, amado. Toda divisão desapareceu. Ela é simplesmente amor.
             Até o segundo você é um amante. Quando você é um amante, algo pairará à sua volta como um limite, como uma definição. Com o terceiro, toda definição desaparece. Há apenas amor; você não é. Isso é o que Jesus quer dizer quando ele fala: "Deus é amor" - amor três. Se você interpretar mal o primeiro, nunca será capaz de interpretar corretamente qual é o significado de Jesus. Não é nem mesmo o segundo, é o terceiro. Deus é amor. A pessoa é simplesmente amor. Não é que ela ama, não é um ato, é a sua própria qualidade.(...)

 

Texto extraido do livro:

Relacionamento Amor e Liberdade - Osho - Editora Shanti - pg 201 a 204