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Privacidade em jogo

Monitorar e-mails dos funcionários com o pretexto da segurança faz parte da rotina de muitas empresas. Como a maioria faz e não fala, o melhor é você saber se cuidar

Um técnico quando trabalhava há dois anos e meio na área de desenvolvimento e suporte de um provedor de Niterói, no Estado do Rio. Por não se sentir satisfeito com o ambiente no trabalho, já vinha procurando por um outro emprego. Certo dia, no fim do ano passado, recebeu o e-mail de um amigo seu, que já tinha trabalhado lá e havia saído justamente por causa do ambiente "carregado" de trabalho. Seu chefe, que passava naquele momento, viu a mensagem de relance, não gostou e pediu ao administrador da rede que lhe passasse uma cópia para dar uma olhada.

Esse é um exemplo extremo, mas verídico, de como uma política de monitoramento de e-mail numa empresa pode deixar de ser um problema de segurança para se tornar uma questão de privacidade.



" É como se o meu chefe tivesse
aberto uma carta endereçada a mim "




- Eu soube e fiquei muito chateado. Na época, meu chefe alegou que a idéia era resguardar os dados da empresa, por esse meu amigo já ter trabalhado lá. Mas isso não justifica nada. O que ele fez é que nem abrir uma carta endereçada para mim - reclama Bruno.

Teste anti-doping

Um banco em São Paulo monitora e-mails dos funcionários ao estilo dos testes anti-doping em atletas. Segundo uma auditora de sistemas da companhia, de tempos em tempos o departamento que gerencia a segurança de dados escolhe aleatoriamente as mensagens de alguém para checar se elas são de teor particular.

- A gente não sabe nem com quem nem quando eles fazem isso. A pessoa só fica sabendo quando recebe advertências por e-mail para que ela pare com tais e tais mensagens. Eu acredito que a escolha se baseia no volume de dados na caixa postal - diz a auditora, que prefere não se identificar (adivinha por quê!).

Se, depois desse aviso, o funcionário repreendido continua a enviar e receber mensagens particulares pela rede da empresa, é chamada ao departamento de Recursos Humanos. A partir daí, a exigência é a seguinte: ela tem de mandar um e-mail para o destinatário daquelas mensagens pessoais - dizendo que não pode manter esse tipo de comunicação – e ainda enviar uma cópia para o RH.

Agora, se o nosso amigo monitorado for teimoso e insistir em trocar mensagens pessoais, o próprio banco vai enviar uma carta de advertência para o destinatário dos e-mails.



Banco monitorava e-mails sem nunca ter avisado aos funcionários


- O problema é que não é de uma hora para a outra que você para com essas mensagens. Mesmo avisando os amigos sobre a proibição, demora um tempo para os e-mails pararem de chegar. Eu mesma já fui repreendida devido a isso.

Ainda de acordo com ela, foi em junho do ano passado que o banco resolveu esclarecer os funcionários sobre sua política de segurança. Enviou uma normativa a todos os departamentos, determinando que, a partir daquela data, seria feito o monitoramento "através de ferramentas de controle disponíveis no sistema", que seriam os logs dos funcionários.

Repare na curiosidade: a razão para isso foi o tráfego muito grande de mensagens particulares de funcionários pelas contas de e-mail corporativas. Mas, se o banco sabia desse tráfego, é porque já monitoravam antes, sem dizer nada, concorda?