4 - A influência dos e-zines - Análise de pesquisa objetiva
Durante
o período de um mês, entre dois de Abril e dois de Maio de 2001,
num universo estimado de três mil assinantes de pouco mais de uma dezena
de e-zines brasileiros editados em vários estados e lidos em diversos
países, obteve-se um número positivo de respostas, ou seja,
pessoas que declararam ler os e-zines, de 257 leitores.
Os e-zines pesquisados têm leitores espalhados
por quase todo o Brasil e, tratando-se de um meio virtual como a Internet,
têm suas "sedes" em muitas cidades, até mesmo em várias
ao mesmo tempo. Como a pesquisa tem por objetivo averiguar se os e-zines
exercem sobre seus leitores um efeito multiplicador que faz com que eles
também tenham vontade, sejam estimulados ou sintam o desejo de também
fazer um e-zine, os leitores pesquisados muitas vezes lêem, ou leram,
mais de um e-zine.
Entre os e-zines extintos encontram-se o Arcana, Tv Eye,
Arrrte!, Fly da Flumfa, Músculos, As Meninas da Caverna, sediados em
Porto Alegre, e o OgdenZine, sediado em Salvador. Entre os e-zines em atividade
que foram objeto da pesquisa estão o Cardosonline, Argumento, Cine8
e Tijolão, de Porto Alegre, Acompa de Cuiabá, 700KM de São
Paulo, e muitos outros os quais não foi possível detectar a
origem.
A Faixa Etária dos Leitores de E-Zines
No gráfico acima vemos que a coluna de número
2, dos leitores de 16 até os 25 anos, é a predominante entre
os leitores de e-zines atingindo 197 leitores, ou 76,7 % dos leitores pesquisados.
A outra única faixa etária com um número de respostas
estatisticamente aceitável é a da coluna número 3, dos
leitores de 26 até os 39 anos de idade, com 50 leitores, ou 19,5 %
dos leitores pesquisados. A pesquisa não constatou a existência
de leitores de e-zines com mais de 60 anos de idade.
Por estes dados pode-se concluir que o público
leitor de e-zines é essencialmente composto de adolescentes e jovens
até os 25 anos. O e-zine é, e podemos concluir assim, um meio
de comunicação recente e de fácil assimilação
para a juventude acostumada aos meios da informática e da Internet.
O Sexo dos Leitores de E-Zines
Pelo gráfico acima podemos constatar que a maioria
dos leitores de e-zines, 153 leitores ou 59,5 % do total, é formada
por pessoas do sexo masculino (coluna 1), em detrimento das leitoras, que
perfazem um número de 104, ou 40,5 % (coluna 2) do total. Não
que se caracterize como um meio nitidamente masculino. A pesquisa apenas aponta
uma tendência para um público leitor de maioria masculina. Mas
o percentual não nos permite "masculinizar" o e-zine como meio de
comunicação. A sua verdadeira identidade é a de ser um
veículo de comunicação adolescente e juvenil.
A pesquisa foi feita através da seguinte pergunta:
a leitura de e-zines influenciou-me a ler mais, escrever mais, fazer e-zines?
Ou não me influenciou em nada? Ou a ter outras atitudes?
Influência do E-Zine sobre seus Leitores
A partir das respostas, múltiplas, chegamos ao
gráfico acima. Dos 257 leitores pesquisados, 125 sentiram-se influenciados
a ler mais, 139 a escrever mais, 50 não sentiram-se influenciados e
33 tiveram outro tipo de influência, entre elas, as de buscar mais informação
e apenas diversão. Consideramos satisfatórios os índices
de 48,6 % dos leitores que sentiram-se estimulados a ler mais, não
interessando a qualidade dessa leitura, e de 54,1 % dos leitores que externaram
sua vontade de escrever mais, também não interessando nesse
quesito se o que escreveram a mais é ou não considerado cultura,
arte, literatura ou qualquer outra classificação. Esta pesquisa
destina-se a constatar se os e-zines exercem influências em seus leitores
ou são apenas e tão somente um passatempo como qualquer outro.
Exercer influência sobre os leitores significa
uma mudança de atitudes destes. Fazer com que saiam da passividade
de leitores e busquem comunicar-se. A essência do e-zine é a
interação. Ao contrário do fanzine original, muitas
vezes individualista e narcisista, o e-zine, pelas peculiariedades do meio,
a Internet, estimula muito mais a participação, principalmente
pela facilidade de comunicação e rapidez de resposta.
Partindo dessa característica singular do e-zine,
a pesquisa procurou constatar se o mesmo exerce sobre os seus leitores um
efeito multiplicador. Ou seja, se os leitores de e-zines sentiram-se estimulados
a fazerem seus próprios e-zines. De um total de 257 leitores, 49, 19,1
% do total, responderam que sim, sentiram-se influenciados a fazerem seus
próprios e-zines. Considera-se este índice muito satisfatório
para evoluir-se na questão principal deste trabalho: verificar o efeito
propagador do e-zine e, conseqüentemente, sua força qualitativa
como um meio de comunicação de grande influência sobre
seus leitores.
Ou como afirma Eugênio Trivinho:
"o conceito de indivíduo teleinteragente ciberespacial pressupõe
um traço participativo-interventor, cuja plenitude jamais foi verificada,
por exemplo, num receptor da comunicação de massa. Nesse sentido,
dizer 'receptor' parece realmente pouco. Este conceito equivale a um ente
que, desempenhando função de recepção e decodificação,
relaciona-se com o objeto de uma maneira que exclui qualquer experiência
compatível com a interatividade proporcionada pela tecnologia informatizada."
Este pressuposto equivale dizer que um leitor de e-zine
tem, e também sofre, uma influência muito maior que um leitor/ouvinte/espectador
de qualquer outro meio de comunicação de massa. O leitor do
e-zine sai da passiva relação emissor-receptor. O e-zine e seus
leitores confundem-se nessa relação. É o que Pierre Levy
chama de "uma comunicação conforme um dispositivo de todos para
todos". Antes de uma análise mais aprofundada dessa questão,
ainda é interessante observarmos outras características do público
leitor de e-zines.
Relação de Influência por Sexo
Dos 125 leitores que sentiram-se influenciados a ler
mais, 71, 56,8 %, são do sexo masculino, e 54, 43,2 % do sexo feminino.
Dos 139 que tiveram vontade de escrever mais, 91, 65,5 % do total, são
do sexo masculino e 34,5 % são do feminino. Dos 49 que sentiram-se
estimulados a fazer o seu próprio e-zine, 37, ou 75,5 %, são
homens e 12 , 24,5 % são mulheres. As mulheres têm 22 leitoras
entre o total que não sofreu nenhuma influência dos e-zines,
o que equivale a 44,0 % do total, e 18 entre o total de 33 leitores que sofreram
outros tipos de influência, 56,4 % do total. Já os homens tem
28 leitores do total de 50 que não sofreram nenhuma influência,
56,0 %, e 15 entre os 33 leitores que tiveram outros estímulos, 45,5
% do total.
Relação fazer E-Zine/Sexo
Destes dados podemos concluir que comparativamente ao
percentual de participação de cada sexo entre o total de leitores
e a influência que eles sofreram dos e-zines, as mulheres têm
uma leve tendência a serem mais indiferentes que os homens. Não
nos cabe aqui estudar o porquê desta atitude. A constatação
em cima dos dados pesquisados é que as mulheres não se sentem
estimuladas pelos e-zines ou tem outros tipos de influência totalmente
dispersas como respondido na pesquisa, desde "só leio quando estou
apaixonada por um dos autores" até simplesmente "passar o tempo".
Os leitores do sexo masculino, por sua vez, caracterizam-se
pelo grande estímulo que têm ao lerem os e-zines de fazerem seus
próprios e-zines. Conforme a pesquisa podemos notar que três
em cada quatro leitores que decidem editar um e-zine são homens. Comparativamente
este índice extrapola em mais de 50,0 % a participação
percentual dos leitores masculinos sobre o total de leitores de e-zines. Um
em cada quatro leitores (coluna 1), 24,2 %, sentem vontade de fazer um e-zine
enquanto entre as leitoras esta vontade cai para, aproximadamente, uma entre
cada oito leitoras (coluna 2), 11,5 %.
Logo, encerrando, o e-zine, apesar de não ser
essencialmente um meio de comunicação para o público
masculino, ainda é um meio de propagação utilizado principalmente
por pessoas do sexo masculino.
Relação Fazer E-Zine/Idade
Comparando os percentuais dos leitores por idade e por
influência chegamos a conclusão que os leitores entre os 16
e os 25 anos são basicamente aqueles que sofrem mais influência
dos e-zines. Um em cada cinco leitores dessa faixa etária (coluna
1), 21,8 %, sente-se influenciado a fazer um e-zine, enquanto na outra faixa,
entre os 26 e os 39 anos, que estatisticamente, deve ser considerada para
esta análise, esta tendência decresce para um entre cada oito
leitores (coluna 2), 12,0 %.
Relação de Influência por Idade
Dadas as circunstâncias do meio, o único
dado a ser ressaltado é a disparidade entre o número de leitores
entre os 16 e os 25 anos, 43, ou 87,8 %, que sente-se estimulado a fazer um
e-zine, e os que têm entre 26 e 39 anos, apenas 6, 12,2 % de um total
de 49. O e-zine, assim, comprova o seu posicionamento como um meio de divulgação
de literatura, música ou qualquer outra expressão cultural
e artística, essencialmente jovem. Essa "jovialidade" do e-zine decorre
da popularização muito recente da Internet, pouco mais de uma
década, e da falta de oportunidade que os jovens encontram nos meios
de comunicação social, não tirando destes o "mérito"
de serem basicamente voltados aos jovens, o público consumidor do
futuro, aquele que realmente vale a pena investir, quanto estes meios, por
muitas vezes utilizados de uma forma anacrônica, reproduzirem uma imagem
"envelhecida" da juventude. Mas este assunto deixaremos para o próximo
capítulo deste trabalho, o conclusivo "faça você mesmo